Nos
últimos oito anos, vários blogueiros e ativistas iranianos vem sendo
vítimas de perseguições e prisões por causa de seus trabalhos e opiniões
Por
Raphael Tsavkko Garcia
Os nomes Hossein
Derakhshan, Hussein Rongah Melki, Majid Tavakoli, Koohvar Godarzi ou
Omid Reza Mir Sayafi provavelmente não significam nada para os
brasileiros, mas são um símbolo de resistência para o povo iraniano.
Os
quatro primeiros encontram-se presos, em um regime de reclusão
sufocante. O último está morto. Em comum, o fato de serem blogueiros e
líderes estudantis, e também o de estarem ou terem sido presos,
torturados, terem passado por greves de fome e por humilhações. Tudo
pelo simples direito à liberdade. E estes cinco são apenas parte dos
blogueiros e ativistas presos por expressarem suas opiniões.
Derakhshan,
mais conhecido como Hoder, está preso desde 1 de novembro de 2008 e
apenas recentemente começou a ser julgado. Ele é um dos principais e
mais influentes blogueiros do Irã e, como tal, constantemente vigiado e
perseguido pela temida polícia local.
Majid cometeu o terrível
crime de lutar pelos direitos humanos e ser uma das principais
lideranças jovens nesta área. Godarzi foi preso por pedir aos leitores
de seu blog para o ajudarem a parar uma execução. Melki era uma das
principais lideranças do projeto Iran Proxy, que luta contra a censura e
filtragem de conteúdo no pais.
Sayafi tinha 29 anos de idade
morreu na prisão de Evin, em Teerã, em 18 de março de 2009. Era
blogueiro, jornalista e dissidente. Ousou levantar a voz contra a
opressão.
Tavakoli, preso em dezembro de 2009, foi fotografado em
roupas femininas pelas autoridades. Uma tentativa de humilhá-lo que,
como resposta, foi seguida por uma onda de blogueiros e ativistas
postando fotos vestidos de roupas femininas, num sinal claro de apoio.
Nos
últimos oito anos, vários blogueiros e ativistas vem sendo vítimas de
perseguições e prisões por causa de suas opiniões e trabalhos. Alguns
foram presos por poucos dias. Outros foram condenados a vários anos e,
ainda, alguns não aguentaram até o fim de suas sentenças e morreram nas
prisões sem sequer a chance de um julgamento justo.
As acusações
costumam ser as de fazer propaganda contra a República Islâmica, a de se
associar a elementos provocadores ou agentes estrangeiros ou a de
insultar líderes religiosos. Em praticamente todos os casos as acusações
não passam de farsas pessimamente apresentadas.
A onda de
prisões de blogueiros teve início em 2003, com a prisão de Sina Motalebi
– hoje exilado na Holanda -, ainda sob a presidência de Mohammad
Khatami, considerado por muitos como um reformista, e apenas cresceu
desde que Ahmadinejad assumiu o cargo, em 2005. De lá para cá, dezenas
de blogueiros foram interrogados, presos e mortos enquanto lutavam pro
uma ampla reforma na República Islâmica do Irã.
Há quase uma
década os governos conservadores vêm prestando bastante atenção na
internet e em seu potencial transformador. Durante o conturbado processo
eleitoral de 2009, em que Ahmadinejad foi acusado de fraudar as
eleições para vencer seu adversário reformista Mir Hossein Mussavi, o
Twitter e outras plataformas eleitorais foram o fio condutor da revolta.
Em
meados de junho, o blog jornalístico coletivo Huffington Post iniciou
sua cobertura em tempo real (liveblogging) dos protestos pós-eleitorais
do Irã. Desde então, uma forte censura foi baixada no país, contando com
a expulsão de jornalistas credenciados para cobrir o processo eleitoral
e, para os que puderam ficar, um cerco feroz contra suas atividades,
proibição de sair às ruas e de divulgar o que acontecia no país:
Protestos violentos entre manifestantes e a polícia e a famigerada
Milícia religiosa Basij.
Através de blogs, Twitter, Facebook,
Youtube e outras redes sociais, a população iraniana pôde expressar seu
descontentamento com a situação, não só eleitoral, mas social de um país
governado por milícias religiosas e constantemente sofrendo boicotes e
sanções
Aqueles blogueiros e ativistas engajados em divulgar as
manifestações e em encontrar formas de burlar a censura foram
brutalmente perseguidos e os que já estavam presos se viram em uma
situação ainda mais difícil.
Através de sites como o Global
Voices Online, e comunidades no Facebook, amigos, familiares e ativistas
buscam mostrar a o mundo o que acontece, na tentativa de angariam apoio
e pressionar a comunidade internacional a agir e intervir.
Hamed
Sabe, foto-blogueiro preso recentemente é um exemplo desta mobilização.
Preso sem qualquer tipo de acusação conhecida, seus familiares e amigos
iniciaram uma campanha mundial pela sua libertação e pedem, no mínimo,
um julgamento justo.
Outro caso emblemático é o de Sakineh
Mohammadi Ashtiani. Condenada a morte por apedrejamento por supostamente
ter cometido aldutério, esta iraniana de 43 anos encontrou salvação –
ao menos temporária – na pressão internacional tanto através da mídia
tradicional, quanto da mídia social e de ativistas espalhados por todo
mundo. Seus filhos e amigos criaram um site para dar visibilidade ao seu
caso e a notícia logo se espalhou. Da mesma forma que o Twitter serviu
para mobilizar as massas em apoio à Revolução Verde de Mussavi, a rede
serve agora para salvar a vida de uma mulher comum.
Apesar de
pequeno em termos de conquistas, o poder da internet no Irã vem sendo
sentido e começa a assustar seriamente os donos do poder. A mobilização
em prol dos direitos humanos e da liberdade de expressão no país vem
crescendo a olhos vistos e, se ainda não foi capaz de transformar
profundamente a sociedade, ao menos consegue espalhar a ideia de
democracia pelo mundo e denunciar os abusos e crimes cometidos contra o
povo.
Raphael Tsavkko Garcia é jornalista e
blogueiro: http://tsavkko.blogspot.com
Publicado originalmente no site da revista Caros Amigos, em 30 de julho de 2010.
Blog de comentários sobre política, relações internacionais, direitos humanos, nacionalismo basco e divagações em geral... Nome descaradamente baseado no The Angry Arab
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Blogs, Internet e democracia no Irã
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3 Comentários
3 comentários:
- AF Sturt Silva disse...
-
A oposição não é tão santinha como vc colocou.Espero que saiba que posição está divulgando!
- 3 de agosto de 2010 às 14:47
- Gelo disse...
-
Parabéns polo artigo, fai pensar.
- 3 de agosto de 2010 às 15:30
- Raphael Tsavkko Garcia disse...
-
AF: Sei sim. Tenho contato com iranianos e dissidentes e o Ahmadinejad é um ditador brutal.
- 3 de agosto de 2010 às 18:20
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