segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Jornalismo, o Mal e a Imparcialidade

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É característica dos jornais e revistas estadunidenses e européias, onde, em nome da ética e da responsabilidade, assumir prontamente o lado em que estão no jogo político - tanto ao declarar claramente sua filiação ideológica quanto partidária. No Brasil, esta "moda" parece não ter ainda "pego".

A mídia dita alternativa - Fórum, Caros Amigos, Revista do Brasil, Brasil de Fato, Carta Maior, etc - deixa claro seu posicionamento ideológico e não esconde sua proximidade com os candidatos de esquerda. Podem até não declarar voto em um ou outro, apoio formal, mas jamais esconderam a que espectro político pertencem.

A Carta Capital, que destoa um pouco da mídia alternativa, mas se coloca à esquerda da tradicional, deu uma lição ao declarar oficialmente apoio à Dilma. Não engana seus leitores posando de imparcial mas, nas entrelinhas, agindo de forma absolutamente manipuladora e imparcial.

Em editorial, a Carta Capital diz "Por que apoiamos Dilma". A revista deixa claro, desta forma, seu posicionamento durante o período eleitoral.

Em se tratando de jornalismo sério, apoiar um ou outro candidato não significa fingir não ver seus erros, jogar a sujeira pra debaixo do tapete, mas é assumir uma responsabilidade ainda maior, a de fazer um jornalismo o mais isento possível, mas sem enganar que existe uma tendência, uma influência maior de uma determinada linha de pensamento, de raciocínio.

O apoio não significa anular o jornalismo, mas entender a linha editorial e a posição dos colunistas, do editorial.

A partir de seu editorial, a Carta Capital anunciou que sua linha é de esquerda, é coerente com (em tese) a crítica ao capital, às privatizações, ao liberalismo pregado pelo outro lado. Um jornalismo crítico.

Assumir sua posição, na verdade, é apenas ser responsável, é praticar um jornalismo com responsabilidade, não enganar o leitor afirmando-se totalmente isento enquanto, subterfugiosamente, faz-se campanha para um dos lados. E é isto que faz a grande mídia. Tenta passara imagem de isenta, de "independente" quando, na verdade, respeita os interesses do capital, os interesses de empresa.

Não é novidade que Estado, Folha, Veja, Uol, Globo e cia são partidários de Serra. Apenas não admitem.
Surpreendentemente, porém, foi o editorial do Estadão que, apesar das críticas deslocadas e até mentirosas, assumiu seu lado. Disse no sábado, 25, com todas as letras, que está do lado de Serra.
Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.
Ao menos agora as mentiras do Estadão terão um nome por trás. As calúnias e acusações infundadas (muitas vezes) contra o governo farão sentido. toda a invencionice da mídia terá uma razão de ser, um nome e um sobrenome.

Enfim, um jornalão saiu do armário. A canalhice agora tem patrão com nome e sobrenome. Quem tiver agora o desprazer de ler o Estadão saberá quem paga por suas matérias.

A partir deste momento os leitores do jornal saberão que a linha editorial adotada é pró-Serra, como sempre foi. É pró-capital, pró-privatizações e defende apenas os interesses de grupos e elites nacionais.

Quando Folha, Veja e tantos outros farão o mesmo?

Lula, enfim, conseguiu seu intento. Desmascarou ao menos um grande jornal.

A Folha de São Paulo fez um editorial igualmente contundente, mas, como de costume, refugou. Se refugiou na mesma mentira da isenção, da responsabilidade e de uma neutralidade inexistente.

Permanece o caráter da manipulação. Veja e Globo são farinha do mesmo saco.
Mas uma coisa é fato, algumas críticas à tomada de posição do Estadão são deslocadas. Por mais que concordemos com a premissa de que local de fazer política é no editorial (e nas colunas), e não nas matérias, é um passo a frente que, ao menos, se admita o apoio a um candidato.É óbvio que uma coisa é editorial e outra coisa são as matérias. Ideologia transparece no foco, não deveria influir no conteúdo ou, ao menos, na veracidade, mas ao menos agora estamos todos vacinados: As matérias do Estado tem objetivo e alvo.

Se for pra assumir posição que, ao menos, sejam claros e não enganem com afirmações de falsa imparcialidade.
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Aliás, o Serra agradeceu ao Estado pelo apoio. Uma obviedade, deveria agradecer também à Folha, Veja, Globo e cia que o apoiam igualmente, mas não admitem.

Mas as declarações do Serra tem algo de cômicas:
"Só tenho a agradecer o reconhecimento de meu trabalho na vida pública. Isso é o editorial, a opinião do jornal, embora o noticiário seja sempre equilibrado, como deve ser. Fico muito satisfeito e muito orgulhoso em ser reconhecido por um órgão tão responsável", afirmou Serra, defendendo a liberdade de imprensa e citando-a como "dever de todo democrata".
"Não há país democrático no mundo sem imprensa livre. A imprensa no Brasil tem sido assediada. E não só os jornais, mas todos aqueles que são democratas devem defender a liberdade de imprensa", afirmou o tucano. 
Mídia tem que ser livre, né Serra? Livre para te apoiar, fazer campanha para você. Se um jornal declarasse apoio ao Lula queria ver se essa figura nefasta acharia a mídia assim tão livre. Liberdade de Imprensa, Serra, não é Liberdade de Empresa.

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Vale ler a análise do João Villaverde para o Amálgama.


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