segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eleições Catalãs, Primeiras Impressões

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Com praticamente 100% de urnas apuradas e já sendo impossível uma mudança de panorama, é possível fazer uma análise preliminar do resultado das eleições catalãs, que acabaram por punir duramente os membros do Tripartido - forças de esquerda nacionalistas e não-nacionalistas - que governam a Catalunha há anos.

O Partido Socialista Catalão, filial do PSOE, perdeu 9 vagas, enquanto o grande derrotado da noite foi a Esquerra Republicana de Catalunya, que perdeu metade de seus deputados, caindo de 21 para dez, de terceira força para quinta (tem o mesmo número de deputados que a ICV, mas menos votos).

A Iniciativa Per Catalunya Verds-Eusquerda Unida perdeu dois deputados e, no total, o tripartido de 70 para 48 deputados, perdendo de longe a maioria absoluta, enquanto o PP acabou crescendo, passando de 14 para 18 votos o que para uns pode parecer uma tendência ou mesmo uma grande vitória mas na verdade foi apenas uma reorganização da direita e o crescimento do PP foi, em termos de votos, tímido.

O PP teve uma boa votação em Barcelona, mas apenas votação residual nas demais regiões da Catalunya. O significado é claro.

O grande vencedor, de forma incontestável, foi o partido, ou melhor, a coalizão, Convergencia i Unió, que roçou a maioria absoluta (conseguiu 62 votos, 6 a menos que a maioria) e, também, a Solidaritat Catalana per la Independència (SI) que, comandados pelo ex-presidente do Barcelona Joan Laporta, conseguiram mais de 100 mil votos e 4 deputados. O partido anti-nacionalista Ciudadanos-Ciutadans manteve seus 3 deputados.

Sobressaem três momentos, primeiro a alta abstenção (mais de 40%), segundo a derrota acachapante do Tripartido, cujos votos em sua maioria migraram para a CiU e para a SI (e também em pequena parte para o Reagrupament, que não conseguiu entrar no parlamento e foi formado por dissidentes do ERC) e, terceiro, o crescimento da CiU, que abocanhou mais 14 lugares no Parlament.

Mais que direita e esquerda, o resultado das eleições demonstra, porém, o crescimento do nacionalismo. Nas eleições passadas os nacionalistas eram representados por ERC e CiU (com a ICV, apesar de não reivindicar o nacionalismo de forma ampla) e contavam com 69 deputados (ou 81). Hoje, os nacionalistas somam 76 deputados ou 86 com a ICV, logo, maioria absoluta e com folga.


Não a toa, Laporta declarou que os resultados demonstram a vontade dos catalães em lutar por sua independência e a SI anunciou que a primeira lei a ser enviada ao parlamento será a declaração de independência da Catalnya.

Agora é o momento de negociações. Muitos esperam que a CiU se alie ao PP, como já fez no passado, apesar de outros acreditarem que não há mais espaço para tal aliança porque, apesar de ambos se colocarem à direita, os membros da CiU - como os do PNV no País Basco - sempre lutaram contra Franco, cujos ideais são defendidos até hoje pelo PP.

PP é um partido ferrenhamente nacionalista espanhol, cujos membros em grande parte são saudosos de Franco e do período em que os nacionalistas, sendo conservadores ou não, eram mortos. A CiU já sofreu pesadas derrotas eleitorais graças à ligação que mantinha com o PP.

Uma hipótese válida é a de uma aliança entre nacionalistas, idéia esta defendida com unhas e dentes pela SI e que encontra eco nos resultados eleitorais, com votos nacionalistas apenas migrando entre si.

Claro que, roçando a maioria absoluta, a CiU poderá governar sem alianças, um governo de minoria, mas que faria acordos pontuais, evitando assim se comprometer com propostas que possam divergir com suas diretrizes.
Uma coalizão CiU-PP seria extremamente maléfica para a Catalunya, pois não só impediria o avanço do ideal de independência, mas também fortaleceria o PP, dando ao partido uma força que ele não tem no país, como no País Basco, onde a aliança entre PSE e PP está levando o país a uma onda de perseguições sem precedente e um significativo retrocesso político e social.

Os resultados deixam clara a vontade dos catalães de lutar por sua independência, resta saber se os partidos irão respeitar esta vontade. Está claro que os votos da ERC migraram diretamente para SI e CiU, logo, restou a estes a responsabilidade de fazer jus à vontade do povo, que quer a independência e deixou muito clara a intenção depois da massiva manifestação às vésperas da final da Copa do Mundo.

A CiU é uma icógnita quando se trata da independência. Assim como o PNV, oscila entre um unionismo com regalias e a independência se, porém, posição fechada.

Logo de início, se a SI apresentar a declaração de independência, iremos saber o que os próximos anos aguardam. Os resultados foram ruins para a esquerda, mas excelentes para os nacionalistas como um todo, é questão de saber se a CiU saberá aproveitar.


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