Texto de Laerte Braga sobre Dilma e 90 anos da Folha:
Eu
não sei o que Dilma (também não sei se permanece Roussef, ou já virou
Serra ou Neves) foi fazer na festa do jornal FOLHA DE SÃO PAULO. Mas sei
com certeza que as centenas de corpos de presos políticos assassinados
pela ditadura militar e desovados pelos caminhões da FOLHA para que os
militares pudessem simular atropelamentos, assaltos, etc, foram
pisoteados, picados e servidos no cinismo da presidente.
“Venho
aqui como presidente, está aqui a presidência da República”. A frase de
Dilma é típica de uma vingança infantil (o que a desqualifica para o
cargo que ocupa, mostra-se um conto do vigário eleitoral aplicado a Lula
e aos brasileiros que nela votaram). Se é que se trata disso, pode ser
apenas e tão somente a capitulação da presidente. O desejo ardente de
receber um diploma da baronesa do esquema FIESP/DASLU.
Em
toda a história das campanhas políticas desde o fim da ditadura nunca
se viu tanta podridão e mentira através da mídia privada como se fez em
relação à candidatura Dilma tentando eleger José Arruda Serra. É uma
constatação que não é minha, é de vários jornalistas estarrecidos com a
presença da presidente na festa de um dos veículos mais venais da mídia
privada brasileira, se é que existe algum mais venal.
Todos são.
É
incrível o que acontece ao Brasil e o que aconteceu aos EUA nas duas
últimas eleições presidenciais. Os brasileiros elegeram a sua primeira
presidente na presunção que os dias de Lula continuariam (programas,
política externa, avanços possíveis na ótica do ex-presidente, etc).
Dilma se mostra um embuste. A mulher brasileira tem páginas e páginas de
nossa história preenchidas com dignidade, coragem e determinação. Não
com síndrome de rainha Elizabeth dos trópicos.
Os
norte-americanos elegeram Barack Hussein Obama acreditando que votaram
num negro. É só um branco a mais, engraxado com graxa preta. Igualzinho a
qualquer Bush da vida, varia apenas o estilo, o jeito de ser.
Vão se encontrar na visita de Obama ao Brasil. Se merecem.
São
duas fraudes de um processo dito democrático, mas calcado na economia
neoliberal, toda a sua perversidade e toda a corrupção que traz
embutida.
Nem começou e já acabou, é o governo Dilma.
A
visita feita ao jornal FOLHA DE SÃO PAULO é imperdoável levando em
conta o passado de lutadora contra a ditadura da presidente Dilma.
O discurso de Dilma no evento é uma cusparada nos brasileiros, principalmente em seus eleitores.
Fomos servidos como salada mista com molho de gente picadinha.
Sem
falar que não pode pretender ser respeitado um governo que tem
ministros desqualificados como Moreira Franco, Nelson Jobim, Antônio
Palloci e Anthony Patriot, que dizem ocupar a pasta das Relações
Exteriores.
Para
variar o senador Collor de Mello foi eleito presidente da Comissão de
Relações Exteriores do Senado, o que é presidido por José Sarney.
Joaquim
Cardozo, ministro da Justiça, vê-se em denúncias públicas, nega os
documentos referentes à morte de Vladimir Herzog (torturado pelo coronel
Brilhante Ulstra, paladino da moral e dos bons costumes medievais da
Inquisição), nega acesso, ao jornalista Audálio Dantas, combatente
contra o regime militar e que escreve um livro sobre o fato.
O
baú repleto de sangue das vítimas da barbárie que foi o golpe de 1964
permanece intocado no governo da ex-guerrilheira Dilma, um dia Roussef,
hoje sabe-se lá o que.
A
“democracia” no Brasil está montada em estruturas herdadas da ditadura
militar e a constituição do País, a despeito de eventuais avanços, está
contida nos limites determinados pelos militares que deixavam o poder.
Aquela história de nem tão depressa que pareça covardia, nem tão devagar
que pareça provocação.
Não
tivemos uma Assembléia Nacional Constituinte lato senso. Participação
popular objetiva e direta (a despeito das emendas populares), como não
temos canais de presença no debate político, já que a mídia é podre e
venal, serve às elites e interesses de potências estrangeiras.
Não
há legitimidade no fundo desse processo, tão somente uma espécie de
tubo de oxigênio para que possamos respirar ao sairmos das cavernas da
barbárie militar.
Cedo ou tarde um ajuste há que ser feito, é a História.
Na
hora do pulo a presidente eleita para dar o pulo, medrou, sentou e
resolveu andar de costas para conviver com o passado e todos os seus
horrores. Deu as costas aos brasileiros.
A
visita à FOLHA DE SÃO PAULO pode ser classificada como um desses
horrores. Faltam ainda VEJA e GLOBO. Quem sabe a presidente não aparece
no BBB e ajuda os heróis de Pedro Bial a melhorar a audiência?
Só
falta agora o chanceler (Putz! Que esculhambação!) Anthony Patriot
proclamar que o Irã é o culpado enquanto Moreira Franco limpa os cofres
públicos e Jobim hasteia a bandeira norte-americana com a inscrição “in
Boeing we trust”. Palloci está procurando casa e caseiro de confiança em
Brasília.
Ou vai a Ana Maria Braga e mostra uma receita caseira dos tempos de luta armada? De sobrevivência.
A
mulher brasileira não é Dilma, não é assim. Pelo menos a que luta e se
esgoela no dia a dia das trabalhadoras. Mas preserva sua identidade e
como conseqüência, seu caráter.
A
presidente, desde que assumiu, não está fazendo outra coisa que não
servir uma salada mista de sabor amargo, indigesta e com molho de gente
picadinha. Data vencida, gosto de DEM, de banqueiros, latifundiários,
grandes empresários, sem sal como a comida nos EUA.
É grave. Pode causar uma gastrenterite na democracia brasileira.