quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Polêmica sobre o PCdoB e o apoio ao Kassab: Reflexos nacionais e o papel do governo Dilma

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Um comentário do @eltonbcastro no post em que eu coloquei um vídeo com a declaração do vereador Jamil Murad (PCdoB) em que este defendia a aliança de seu partido com o Kassab - e que isto era bem visto pelo governo Dilma e o que, para mim, abriria as portas para aliança semelhante com o PT - me instigou a dar uma resposta maior, em formato também de post.

Eis o que o Elton disse:
O que o Murad diz:
- Que a saída do Kassab do DEM para a base do governo Dilma pode ser bom para o governo e que o governo e a Dilma estão apoiando isso. FATO.
- Que o Kassab tem conversado com os partidos da base do governo federal, como PDT, PSB e PCdoB. FATO.
- Que o Kassab convidou o PCdoB para comandar a secretaria da copa. FATO.
-Que o PCdoB ainda não terminou a discussão interna para se decidir sobre o convite do Kassab. FATO
Compreendo perfeitamente seu ponto de vista. Mas discordo de sua análise. A questão apenas é que, se tudo isto se confirmar, estaremos diante de uma das maiores traições que um partido já cometeu contra seus eleitores desde o apoio do PT à Roseana no Maranhão. Na verdade, trata-se também do suicídio, senão político, mas ideológico do partido.

Sim, em teoria é possível imaginar que Kassab, que tem não só força eleitoral, mas pode puxar em uma eventual troca de partido um número significativo de prefeitos e mesmo deputados estaduais/federais. Mas as "vantagens" param por aí. Kassab e a corja comandada por ele não deixarão de ter o mesmo pensamento e comportamento elitista, criminoso e higienista de hoje. Kassab não deixará de ser cria do Serra e nem deixará de admirá-lo ou de realizar política da mesma forma que seu mentor: De maneira suja, desonesta e criminosa.

Me assusta - mas não surpreende - que o governo Dilma esteja apoiando esta palhaçada. A intervenção em Minas e Maranhão para o PT apoiar respectivamente Hélio Costa e Roseana Sarney demonstram que vale sacrificar cidades e estados inteiros pela governabilidade nacional - ainda que seja engraçado pensar em que governabilidade é essa que entrega metade do país aos lobos.

Aliás, quanto a estes "sacrifícios" que a direção nacional e o governo impõem aos estados - sem se preocupar com as questões típicas de cada um - me intriga. De que vale governar o país e tentar realizar mudanças se nos estados você perpetua a mesma máfia, os mesmos crimes, os mesmos erros? Ao invés de promover uma política diferenciada, de tentar impor mudanças e novos valores, se aliam ao que há de pior e, de forma aparentemente contraditória, forçam o povo a viver nas mesmas condições precárias de sempre, vítimas do abuso dos mesmos governantes de outrora - mas hoje com chancela petista.

Sim, o Kassab tem conversado com partidos da "base aliada", base esta que consegue agregar todos os espectros políticos interessados em boquinhas, dinheiro fácil e proteção para continuar a fazer canalhices com chancela governamental em troca de "governabilidade".

A militância aceitou a contra-gosto Sarney, aceitou Collor e tantos outros, mas o governo insiste em testar limites, em esticar até o máximo a tolerância e a paciência de todos. Mas, desta vez, estamos falando da maior cidade do país, de onde está a mídia e de uma cidade/estado há décadas sob controle DemoTucano.

E não só controle, mas abusos, desmandos e absurdos DemoTucanos. Será que PT, PCdoB e afins acham que podem eternamente trair seus eleitores e, em especial, a militância engajada, eternamente?

Me desculpem, mas Kassab é o limite. E não há desculpas desta vez. Sozinho, o PT teve a capacidade de quase empurrar Alckmin para um segundo turno e se não cometer a máxima estupidez de dividir sua base tradicional e perder tempo com candidaturas de refugos como Netinho ou mesmo insistir com Marta e os nomes de sempre, talvez tenha chances de brigar nas próximas eleições municipais. E tudo isto sem se prostituir para o Kassab, coisa que o PCdoB está a caminho de fazer.

A idéia de uma aliança com Kassab é tão repugnante que mesmo Murad teve como primeira reação negar qualquer acordo, até finalmente admitir a negociação e o provável acerto. E não se trata de garantir para o PCdoB ou mesmo para a população uma secretaria que faça a diferença, um cargo que possa mudar a situação da população - não que mesmo isto justificasse o apoio do PCdoB ao DEM ou ao Kassab, não importa onde -, mas se trata de uma secretaria que unicamente servirá para o PCdoB pôr a mão em muita grana, a que cuidará da Copa do Mundo.

Serão feitos estádios, mudanças estruturais na cidade para promover a copa, mas pouco alterará a vida ou a situação de abandono da população.

Para mim, o mero fato do PCdoB se dignar a aceitar o convite de um prefeito que perdeu boa parte de seu apoio - enfrenta oposição dos aliados tucanos e resistências mesmo dentro do partido - a fim de garantir sua sustentação (a sustentação de um criminoso), já é um erro tremendo. Aceitando afinal o cargo - lembrando que o partido já aceitou cargos na Câmara, Netinho é primeiro-secretário da mesma - será simplesmente traição.

O Elton ainda continua:
Evidentemente, para quem conhece o centralismo democrático do PCdoB, o Murad não dirá (para fora do partido) qual a sua opinião antes que a discussão interna se encerre e uma decisão seja tomada. E esta discussão está sendo travada levando em consideração o que é Kassab e seu governo mas também:
- que benefícios pode trazer para o campo da base aliada do governo Dilma.
- como pode afetar o problema da hegemonia demo-tucana em SP.
- como pode afetar o projeto político do partido de ampliar seu protagonismo e independência em relação ao PT, especialmente ao PT-SP que vive fazendo de tudo para sufocar o PCdoB e com um vício hegemonista que muito prejudica o surgimento de alternativas políticas para enfrentar o poder da direita.
Só se saberá a resposta depois que a discussão se encerrar. Mas note: esta discussão se dá em torno de questões concretas e estratégicas que visa o avanço no sentido que o programa partidário aponta (sim, para o PCdoB o programa do partido importa), não necessariamente no curto prazo. Por que é isso que importa para o PCdoB: programa, unidade e realizações concretas. Não espero que você concorde com essas prioridades ou entenda o valor de uma decisão tomada segundo considerações estratégicas concretas. É muito mais fácil se perder na discussão de valores abstratos, apoiar candidatos-café-com-leite, simpatizar com partidos em que é "cada um por si", divididos em sei lá quantas tendências internas.
Três pontos foram levantados. E, que benefícios Kassab pode trazer ao governo se isto significa manter São Paulo sob domínio de um criminoso? O Kassab que mandou a polícia bater na população alagada da Zona Leste continua o mesmo. O Kassab que deixou a cidade alagar sem se preocupar em realizar qualquer obra permanece o mesmo. Mudar de partido não muda a pessoa.

Falar em "hegemonia demo-tucana" quando se está às portas de se aliar com o Kassab só pode ser piada.

Usar um demotucano travestido de "Comunista" (ou do que quiser, em qualquer outro partido) não muda absolutamente nada. E, finalmente, "aumentar o protagonismo do partido (PCdoB)"? Tirá-lo do espectro do PT? Pra que? Para dar poder ao Kassab, para dar força à direita pintada de vermelho? Só rindo mesmo. O desespero para ser "protagonista" é capaz de tudo.

Dizer que aliança com a direita - Kassab - irá ajudar a fazer surgir uma alternativa de esquerda não é apenas um absurdo, mas chega a ser criminoso. Kassab é de direita, e da pior possível, e se aliar com a esquerda - ou com o que diz ser esquerda, afinal Aldo Rebelo e Netinho vem testando a paciência - não o torna aceitável, respeitável ou o possível caminho para o surgimento de um campo alternativo de esquerda.

Decisão estratégica é defender o povo e não engordar a conta bancária de uns ou partidária de outros.

Aliás, é preciso um mestre para condensar desta forma:

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