A troca de comando do Jornal Nacional, da Rede Globo, foi
motivo de discussões não apenas nas redes sociais, mas de preciosos
minutos melodramáticos no próprio programa jornalístico da emissora e
com direito a espaço cativo nos sites ligados à empresa, desde aqueles
com vocação jornalística a outros exclusivamente voltados para a fofoca,
ou seja, para a cloaca do jornalismo do novo milênio. Umbiguismo é
pouco para explicar as carícias ao ego de jornalistas transformadas em
celebridades, como Fátima Bernardes e Patrícia Poeta (uma que sai do JN e a outra que deve assumir seu lugar), e as louvações mal disfarçadas à qualidade do jornalismo global.
É difícil levar o jornalismo da Rede Globo a sério quando uma troca de
apresentador de telejornal vira notícia – pior, vira a grande notícia de
toda a semana. Já foi o tempo em que bastavam algumas linhas bem
escritas, análises contundentes ou mesmo uma boa presença em frente às
câmeras, coroadas por uma dicção impecável e, por que não, por um faro
jornalístico, que faziam o jornalista ir além do feijão com arroz da
bancada para que fosse reconhecido.
Isto bastava.
Mediocridade midiática
Hoje é preciso torná-lo celebridade, vasculhar sua vida, postar fotos
em sites de fofoca e procurar analisar o significado do signo do
jornalista, agora celebridade. A qualidade em si do jornalista na
profissão pouco importa; o importante mesmo é sua capacidade de sair bem
em fotos em cenários cotidianos – fabricados ou não. Como a jornalista
estava vestida no shopping, com quem namora, qual sua dieta favorita...
Tudo isto se torna mais importante que os furos, as matérias de
qualidade ou mesmo a mera qualidade da jornalista enquanto profissional.
O jornalismo foi substituído pelo show da vida (com trocadilho
proposital), uma forma de entretenimento que busca criar uma
identificação fictícia entre o apresentador/jornalista e o
telespectador, mas que, ao mesmo tempo, serve como fator imbecilizador,
substituindo a notícia pela diversão acrítica. É a era do showrnalismo,
com direito à exaltação ou autoexaltação de jornalistas e da própria
rede de TV, uma concessão pública cada vez mais privada e distante de
seus propósitos iniciais.
A Rede Globo não é, obviamente, a única a abusar descaradamente de suas
prerrogativas enquanto concessão pública, mas a troca de comando do Jornal Nacional,
mobilizando toda uma gigantesca rede de apoio/suporte, desde a mídia
escrita ao online, sem dúvida nos leva a um novo patamar de mediocridade
midiática e de desrespeito até mesmo à profissão de jornalista.
Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa.
Blog de comentários sobre política, relações internacionais, direitos humanos, nacionalismo basco e divagações em geral... Nome descaradamente baseado no The Angry Arab
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Quando o jornalista é a própria notícia
2011-12-14T10:30:00-02:00
Raphael Tsavkko Garcia
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