quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quando o jornalista é a própria notícia

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A troca de comando do Jornal Nacional, da Rede Globo, foi motivo de discussões não apenas nas redes sociais, mas de preciosos minutos melodramáticos no próprio programa jornalístico da emissora e com direito a espaço cativo nos sites ligados à empresa, desde aqueles com vocação jornalística a outros exclusivamente voltados para a fofoca, ou seja, para a cloaca do jornalismo do novo milênio. Umbiguismo é pouco para explicar as carícias ao ego de jornalistas transformadas em celebridades, como Fátima Bernardes e Patrícia Poeta (uma que sai do JN e a outra que deve assumir seu lugar), e as louvações mal disfarçadas à qualidade do jornalismo global.

É difícil levar o jornalismo da Rede Globo a sério quando uma troca de apresentador de telejornal vira notícia – pior, vira a grande notícia de toda a semana. Já foi o tempo em que bastavam algumas linhas bem escritas, análises contundentes ou mesmo uma boa presença em frente às câmeras, coroadas por uma dicção impecável e, por que não, por um faro jornalístico, que faziam o jornalista ir além do feijão com arroz da bancada para que fosse reconhecido.
Isto bastava.

Mediocridade midiática

Hoje é preciso torná-lo celebridade, vasculhar sua vida, postar fotos em sites de fofoca e procurar analisar o significado do signo do jornalista, agora celebridade. A qualidade em si do jornalista na profissão pouco importa; o importante mesmo é sua capacidade de sair bem em fotos em cenários cotidianos – fabricados ou não. Como a jornalista estava vestida no shopping, com quem namora, qual sua dieta favorita... Tudo isto se torna mais importante que os furos, as matérias de qualidade ou mesmo a mera qualidade da jornalista enquanto profissional.

O jornalismo foi substituído pelo show da vida (com trocadilho proposital), uma forma de entretenimento que busca criar uma identificação fictícia entre o apresentador/jornalista e o telespectador, mas que, ao mesmo tempo, serve como fator imbecilizador, substituindo a notícia pela diversão acrítica. É a era do showrnalismo, com direito à exaltação ou autoexaltação de jornalistas e da própria rede de TV, uma concessão pública cada vez mais privada e distante de seus propósitos iniciais.

A Rede Globo não é, obviamente, a única a abusar descaradamente de suas prerrogativas enquanto concessão pública, mas a troca de comando do Jornal Nacional, mobilizando toda uma gigantesca rede de apoio/suporte, desde a mídia escrita ao online, sem dúvida nos leva a um novo patamar de mediocridade midiática e de desrespeito até mesmo à profissão de jornalista.

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa.
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