sexta-feira, 27 de abril de 2012

Crise: O drama grego e os abutres

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Dimitris Christoulas, de 77 anos, se suicidou na praça Sytagma – principal de Atenas – com um tiro na cabeça no último dia 4 de abril, às 9 da manhã.

Poderia ter sido “apenas” um suicídio de um senhor em desespero pro alguma razão ignorada, obscura, se não estivesse a Grécia passando pela sua maior crise em décadas e se sua carta de despedida nãofosse tão explícita quanto às razões para seu suicídio.

Não apenas um suicídio, aliás, mas talvez a fagulha que faltava para a rebelião total e incondicional do povo grego.

No ponto máximo de seu desespero, Christoulas  escreveu um bilhete – encontrado em seu bolso – onde afirmava que ou morria ou teria de buscar comida no lixo.
“O governo de ocupação de ‘Tsolakoglou’ (referência ao primeiro ministro grego que durante a guerra, em 1941, colaborou com a ocupação nazista do país) aniquilou qualquer possibilidade de sobrevivência para mim, baseada em uma aposentadoria digna que paguei por minha conta sem nenhuma ajuda do Estado, durante 35 anos.
Dado que minha idade avançada não me permite recorrer à força – embora se um grego empunhasse um Kaláshnikov, eu seria o segundo a fazê-lo -, não me restou qualquer outra solução para um final digno, antes de ser obrigado a buscar comida no lixo.
Tenho fé que um dia os jovens sem futuro se erguerão em armas e na praça Sintagma pendurarão os traidores da nação, como os italianos fizeram com Mussolini em 1945.” (http://is.gd/YzDMy1)
Ele não faz parte de uma história isolada, na verdade é o retrato fiel do desespero que toma conta da população grega em um país que se encontra afundado em dívidas, governado por um grupo de tecnocratas que não foram sequer escolhidos pelo povo e sem soluções fáceis para escapar de uma crise que se espalha pela Europa de maneira devastadora.

Uma crise que também não é fato isolado, mas tão somente a cara mais cruel do capitalismo em crise.
Mesmo após este terrível episódio, o governo grego não dá mostras de ter se sensibilizado, nem irá afrouxar as medidas draconianas impostas ao povo, que resultaram em altíssimas taxas de desemprego, escalada de preços e revolta popular.

Há meses a população grega protesta de forma violenta, chegando a queimar diversos prédios públicos, por toda a Grécia enquanto uma parte considerável da população começa a ter de pedir dinheiro para se alimentar e a passar fome.

Os bancos europeus, assim como a Alemanha – país mais rico da União Européia e principal responsável pelas medidas de “austeridade” impostas ao povo grego - , não demonstram a menor preocupação com o destino do povo, pois estão mais interessados em garantir ao menos uma pequena parte de seus “investimentos” e chegam a cogitar até mesmo uma expulsão do país do grupo, o que seria semelhante ao ato de lavar as mãos e deixar a Grécia à própria sorte, depois de ser devidamente depauperada e sugada até o último centavo.

O que importa aos capitalistas europeus é reaver (parte de) “seu” dinheiro e não será agora que um pequeno empecilho – o povo – irá lhes causar problema ou sensibilizar.

A Grécia é o mais bem acabado exemplo do poder nocivo do capitalismo em sua versão financeira, em sua expansão quase cancerosa que não poupa nada, nem ninguém. A fome a o desespero que assolam os gregos não é nada para os abutres do capital.
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Artigo publicado na edição impressa do Jornalismo B nº 35 (2ª quinzena de abril)

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