quarta-feira, 8 de agosto de 2012

De novo o diploma para jornalistas, ou "meu diploma é maior que o seu"

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Quantos países do mundo - fora o Brasil - não apenas exigem diploma para o exercício da profissão de jornalista, mas ainda incluem a regra na constituição? Em outras palavras, quantos países tornam constitucional o corporativismo de uma casta que se considera iluminada?

Eu respondo: NENHUM.

Posso parecer duro em meu questionamento, mas não há como não se revoltar ao saber que o Brasil caminha para proibir que pessoas que não sejam o Noblat, o PHA ou o Leandro Narloch possam escrever em jornais, "apurar" e serem "iluminados" que falam pelo povo, pelo país... Enfim, apenas quem tem um diploma poderá escrever em jornais como jornalistas, os demais reles mortais terão um espacinho cedido de má vontade em coluna de opinião no fim da página ou na imensa seção de cartas.

O que leva um jornalista a ter a capacidade - e a exclusividade - para falar sobre medicina, política, economia, política internacional, mas médicos, diplomados em relações internacionais e ciência política, economistas e afinss não terem esta "capacidade"? Aliás, não se trata de capacidade, pois se há reserva de mercado o problema é mais embaixo.

Trata-se de dar exclusividade aos jornalistas para escrever sobre as áreas de todos, mas ninguém poder se meter na sua.

Perdi a conta de quantas notícias falsas, mal contadas ou mesmo análises terríveis li em matérias e análises jornalísticas apenas na minha área, as relações internacionais. Um exemplo? Vejam meu artigo no Observatório da Imprensa sobre a larga pesquisa (sic) que os jornalistas brasileiros fazem sobre, por exemplo, o País Basco.

Mas apenas eles podem escrever sobre. Aos demais, cabe reclamar na seção de cartas. Quando muito!

Não dá sequer para explicar ao resto do mundo tal reserva de mercado. Não entendem. Não conseguem entender como algo tão estúpido possa ser lei, possa estar na constituição.

Cheguei a ouvir de jornalistas que a profissão se aprendia não na faculdade, mas na ativa, na redação. Onde estes caras foram parar? O que torna o jornalista este ser especial, dono da informação, da verdade?

Qual o objetivo da defesa do diploma? Qualidade? É falso. Leia os jornais.


Enquanto a profissão do jornalista é cotidianamente precarizada, a luta não é por melhorias de condições de trabalho, mas para garantir que a miséria fique restrita a uma casta.

Vale lembrar que a exigência do diploma de jornalismo data da Ditadura . Que melhor forma de controlar as notícias senão criar um grupo restrito que era "dono" dela? Aliás, a quantas anda a qualidade do jornalismo brasileiro? O diploma resolveu?

Fico abismado com gente de esquerda que defenda tal coisa, que ao invés de lutar por direitos, luta para separar, para criar classe/casta superior, diferenciada.

Ainda cabe acrescentar, ainda numa crítica à esquerda que, para se conseguir o diploma, não basta querer. É preciso passar por uma seleção duríssima, que é o vestibular/enem, algo tão criticado por setores da esquerda como uma exigência que impede a maior parte da população de chegar à faculdade.

Mas nesta hora, na do corporativismo, alguns se esquecem deste "detalhe". Jornalismo apenas para os diplomados, para aquela minoria da minoria. Os iluminados que falam pelo povo, mas jamais o povo fala por ele, ou fala, na seção de cartas.

Quando nos deparamos ainda com o fenômeno do jornalismo cidadão, a coisa complica. Como trabalhar com este conceito quando o jornalismo cidadão passa a ser marginal, indevido, intruso e, até, proibido?

Comunidades, grupos, minorias que denunciam situações, exclusão e afins, que estão escrevendo, terão de ser tutelados, re-lidos, "patrocinados" por "jornalistas graduados" para serem ouvidos? Morre o jornalismo cidadão e voltamos a ser todos meras "fontes" para os escolhidos.

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A partir deste momento retomo as postagens no blog, depois de um período de férias merecido pós-Mestrado! Por enquanto os posts não serão diários ou muito longos, mas sairão à medida em que eu tiver algum tempo, pois a vida ainda não está ganha.

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