segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A eleição no Senado e as lições da conjuntura ou Textos que justificam tudo: O governismo de direita

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O artigo do mestrando da USP Antônio David, publicado pelo Vi o Mundo e do qual seleciono parte que posto a seguir é emblemático para entender como o PT abandonou todas as usas bandeiras históricas e hoje luta apenas para remediar algumas mazelas - e em muitos casos porcamente.

Não há ideologia mais por detrás, apenas a conformidade com o capitalismo em doses liberais e neoliberais. Tudo que diferencia o PT do PSDB, hoje, é o sucesso das medidas que, em muitos casos, são semelhantes. O PT apenas soube aplicar melhor medidas criadas e idealizadas pelo PSDB e se beneficiou da incapacidade da oposição se recriar, da incapacidade da oposição denunciar crimes que, afinal, cometia e comete quando consegue uma parte do poder.

O PT encontrou terreno livre para re-aplicar as teses do PSDB, mas não encontrou a oposição que, por exemplo, fazia.
Qual é o problema? O problema é que criticar a política de alianças do PT é fácil, sobretudo quando a crítica é no varejo. É fácil criticar o apoio a Renan na eleição. Qualquer um critica. O problema é que crítica séria tem de ser no atacado, ou seja, o problema não é apoio, eleição, mas a estratégia do PT. E aí a coisa complica. Porque a estratégia que prevê alianças com a direita, que fortalece o agronegócio, que financia a imprensa golpista com publicidade etc., é a mesma que está aumentando o emprego e a massa salarial, diminuindo a pobreza e a desigualdade, viabilizando a expansão do ensino, cotas nas universidades etc.
É possível jogar fora alianças com a direita, e seguir avançando? É possível jogar fora a “governabilidade”, e seguir avançando? É possível corrigir os erros, mudar tudo o que tem de atraso na política do governo, e seguir avançando no que tem de bom, sem “governabilidade”, sem maioria no Congresso?
Para a esquerda, essa é a questão central, ou uma das questões centrais. Não tenho resposta pronta no bolso. O que eu sei é que não dá para se acomodar, como se a estratégia de conciliação e de composição fosse boa, como também não dá para dar uma resposta simplista, como uma parte da esquerda faz.
Realmente, é fácil criticar o fato do PT apoiar um bandido e inimigo histórico do partido e dos trabalhadores com entusiasmo e pregando que ele "mudou", que é um cara legal, comprometido e decente. Manter a ética e a coerência é, de fato, fácil.

Mas mais fácil ainda é fechar os olhos, se embrenhar no fanatismo e chamar todos os picaretas inimigos históricos de "companheiros" se estes pagarem o preço correto.

Para alguns - em especial o NeoPT - caráter e ideologia são algo desimportante, mas para muitos, para a esquerda, ainda vale alguma coisa.

"a estratégia que prevê alianças com a direita, que fortalece o agronegócio, que financia a imprensa golpista com publicidade etc., é a mesma que está aumentando o emprego e a massa salarial, diminuindo a pobreza e a desigualdade, viabilizando a expansão do ensino, cotas nas universidades etc."
Pois é. Em suma, o PT está disposto a apoiar o agronegócio, apoiar a medievalização do país, defender o extermínio dos povos indígenas, abusar dos direitos humanos, privatizar tudo o que puderem em troca de... emprego?

Vamos garantir os maiores lucros históricos aos bancos e empresários em troca de salários e uma classe média que não chega a ganhar 300 reais? Vamos diminuir a pobreza e a desigualdade garantindo que os ricos ganhem mais? E, pior, falamos em "expansão" do ensino sem questionar a qualidade deste ensino?

 O PT e seus militantes entraram na fase do "é ruim, mas tem". E a isto chamam de "avanço".
Renan é sujo igual a todos os outros – inclusive o outro candidato – mas a diferença é que todo mundo (inclusive a classe média) sabe que Renan é sujo.
Como o candidato do governo foi um candidato descaradamente sujo, a oposição aproveitou a oportunidade para posar de preocupada com a Ética e a moralidade pública. A imprensa ajudou, e eles de certa forma conseguiram o que queriam. O que eles queriam não era ganhar a eleição. O objetivo era alimentar, na classe média, a ideia de que eles são éticos, preocupados com a moralidade. E de fato saíram com pontos positivos junto à classe média. Graças a Deus, o povo não se preocupa com eleição de presidente do Senado.
O argumento aqui é basicamente, "apoiamos um bandido sujo, mas... GRAÇAS A DEUS o povo não se preocupa com isso". Tudo podemos enquanto o povo continaur amortecido na TV que fingimos odiar, mas financiamos.

Há forma mais direta de justificar safadeza do que isso?

Não vou perder meu tempo com os ataques ao PSOL do fim do texto porque não me interessam, mas o texto além de ser uma defesa intransigente do "fazemos o que queremos porque o povo não se importa" denuncia claramente que o PT busca avidamente trocar suas bandeiras históricas por emprego, salários baixos, consumo e educação de qualidade duvidosa.

Tudo que pode para contentar as classes mais baixas com um "cala boca" paliativo enquanto administra e garante as riquezas do andar de cima. Não há nenhum teor emancipatório, apenas a justificativa de alianças com figuras sujas e nefastas através de migalhas dadas ao povo.

E sim, são migalhas, porque se o PT resolvesse governar com o povo, estatizar, realizar a reforma agrária, defendesse os direitos humanos e combatesse os corruptos dentro e fora de suas estruturas nós teríamos condições melhores no país como um todo. Mais emprego, mais salário, educação de qualidade...

Mas não interessa pois é mais difícil e poderia dificultar o culto perfeito à personalidade do deus Lula.

O texto, porém, tem um mérito. Ataca de graça o PSOL ao final porque sabe que, assim, irá angariar o apoio dos fanáticos governistas que passarão mais tempo xingando o partido do que raciocinando (sic) sobre o próprio PT e o conteúdo do texto. Coisa de gênio.
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