quinta-feira, 20 de maio de 2010

O protesto contra a Lei da Anistia e o futuro do país.

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Cerca de 150 pessoas se reuniram no Pátio do Colégio na Terça, dia 18 de maio para repudiar a absurda e criminosa decisão do STF que manteve intacta a Lei da Anistia, reconhecendo desta maneira que as torturas do passado foram legais e legítimas - e dando espaço para que as torturas de hoje continuem e possam ser anistiadas em um futuro próximo.

A justiça brasileira passou a direta mensagem de que neste país a tortura é permitida, legal e até incentivada. O Estado tem carta branca para fazê-lo sempre que lhe convir, no passado torturava e tudo foi considerado legal, e, não à toa, a PM de hoje segue à risca esta permissão e continua a realizar seu trabalho sujo.
Com fotos de ex-presos políticos torturados e assassinados pela ditadura - por mais que o General Santa Rosa diga que tal coisa nunca existiu, em mais um espaço criminoso cedido pela Folha de São Paulo, como comentei em carta enviada ao jornal - e com a presença de ex-presos políticos, familiares e ativistas, o ato durou cerca de 2 horas e meia e foi permeado por discursos inflamados exigindo justiça, a abertura dos arquivos da ditadura, a condenação dos torturadores, críticas ao STF e ao ministro Nelson Jobim e carregado de emoção.
"A entrevista com o general Maynard Santa Rosa não é apenas ridícula, é criminosa. É desrespeitosa para com as vítimas --centenas-- de tortura nas mãos das Forças Armadas, que, ainda hoje, se recusam a admitir os crimes cometidos contra a humanidade.
A anistia foi e continua sendo a carta branca para a impunidade dos que torturaram antes e dos que torturam hoje. As denúncias contra a PM dos últimos dias são a prova viva de que o Brasil é a terra da impunidade." RAPHAEL TSAVKKO GARCIA (São Paulo, SP)

O número de presentes ao protesto demonstra duas coisas, uma que ainda existem militantes que não desistem jamais de buscar justiça - ainda que a direita e boa parte do que se convenciona chamar de Esquerda, personificada por Dilma, Marta e cia, confunda justiça com revanchismo - e outra a de que o brasileiro está mais interessado em novela que em tornar o Brasil um país mais justo. O brasileiro não sai de casa, não protesta, não se indigna, ao menos não o suficiente para ir às ruas e fazer sua voz ser ouvida. Ou concorda com a tortura ou simplesmente não se importa. No fim dá no mesmo.



Algo interessante e que merece ser lembrado, e que foi dito em mais de um discurso, é aquela velha idéia propagada pela mídia (como a Folha de São Paulo, que emprestava seus carros para que prisioneiros fossem torturados e mortos) e consumida pela classe mé(r)dia de que os "terroristas" deveriam ser processados caso os torturadores perdessem seu direito à impunidade. Ora, como bem colocaram e eu mesmo já comentei, os guerrilheiros, vulgo "terroristas" já foram processados e em muitos casos condenados.

Os Guerrilheiros e militantes em geral foram processados por tribunais militares, foram torturados, perseguidos, intimidados, muitos foram mortos. Que julgamento ainda se espera? Isto não seria exatamente o revanchismo de que tanto falam? Julgar novamente quem já foi julgado e condenado, ou até mesmo condenado sem qualquer tipo de julgamento?


Quanto à Lei da Anistia em si e impunidade - agora legal e referendada pelo Estado, conivência na verdade - dos militares torturadores e assassinos, corremos o risco de ver nosso país condenado pela OEA que hoje, dia 20, começa a julgar  os crimes da Ditadura Militar.

Pior de tudo é não só ver a direita, o PIG e os militares reunidos em grupo - não mais temerosos, mas regozijando-se da grande vitória -, mas a esquerda, ou o que deveria ser a esquerda, fazendo coro às mesmas sandices.

Presentes ao ato, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Soninha Francine (PPS), ao menos, discursaram pela punição dos torturadores e pelo fim desta prática tão comum ainda hoje. Plínio, aliás, é o único candidato à presidência que deixou clara sua posição contra a manutenção da Lei da Anistia e a favor da punição exemplar dos que torturaram e mataram.


Deste ato e de todo o processo, debates e decisões podemos ter a certeza de que é preciso haver uma radicalização por parte dos militantes que exigem verdade e justiça. Não é mais possível contar com a boa vontade - inexistente - da justiça brasileira, de um Supremo Tribunal infestado de representantes da oligarquia mais retrógrada e reacionária, nem com uma suposta imprensa progressista de alcance limitado e pouca força política e muito menos com a boa vontade de políticos que se movem de acordo com o vento que sopra na ocasião e que de torturados passam a críticos de um passado heróico de luta.

A militância deve agir por sí própria, tomar a causa para si e ir às ruas, às escolas, conscientizar os jovens, debater, realizar julgamentos públicos, denunciar as torturas e os torturadores, colocar a cara dos culpados na rua e fazer muito barulho. Não podemos permitir que a memória de nossos heróis, dos homens e mulheres que lutaram por este país seja pisoteada e que a canalha prevaleça.

Entrevista de Marcelo Zelic à jornalista Lúcia rodrigues (Caros Amigos):


Outros vídeos do ato:
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Comentários
5 Comentários

5 comentários:

Anônimo disse...

Desculpe, Tsavkko! Mas você quer fazer julgamento da história com base somente nessa manifestação? Quem esteve na praça está a favor de revisão da Lei de Anistia, quem não esteve está contra? Que é isso rapaz! Acho até que você deveria respeitar mais a história de Dilma Roussef, em vez de resumir a posição dela como "revanchismo". É fácil montar um blog e tentar re-escreve a história sob num cantinho aquecido de casa. Difícil é se posicionar na hora que o tempo fecha e os covardes fogem como coelhos. Não confunda as coisas e nem faça esses julgamentos superficiais.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Não, me baseio em diversas manifestações, reuniões e similares em que a participação é sempre mínima.

E, a Dilma é que não respeita a própria história. Você leu o link? Quem disse que revisar a Anistia seria revanchismo não fui eu, foi ela, em seu blog e para a mídia toda ver.

E, triste de mim se eu ficasse no meu cantinho reclamando, eu vou às ruas, eu participo das reuniões, eu milito em diversas áreas e tenho coragem de pôr meu nome quando comento e escrevo.

Niara de Oliveira disse...

Como sempre a tua análise é muito lúcida, Raphael. O pior mesmo é saber que os torturadores foram apoiados pela população e seriam de novo. Afinal, se eles lutam contra esses "monstros-comunistas-terroristas-devoradores de criancinha" eles estão certos. Não vamos esquecer do Marco Aurélio Mello, ministro do STF, dizendo que a ditadura "foi necessária na luta contra a ameaça comunista". Isso em abril de 2010. Não nos enganemos. Essa luta é para poucos e ou radicalizamos as ações ou os critérios das polícias de RJ e SP de matar e torturar "pretos e pobres" irão se ampliar rapidamente. E com o aval do Estado. Tomara que o Brasil que seja condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA. O foi o STF que abriu espaço para essa condenação com sua decisão.

Alexandre Figueiredo disse...

Rafael, é lamentável que vítimas e algozes (torturadores ou traidores) sejam vistas igualmente por essa Lei de Anistia. Me lembro do caso do Cabo Anselmo, que traiu o país, entregou seus próprios parceiros para a repressão e tortura, mas disse que deseja ser anistiado. Enquanto isso, os desaparecidos políticos continuam desaparecidos, e os documentos da ditadura não foram reabertos.

Nelson Martinez disse...

Penso que tem muito papo e pouca objetividade.
Pergunto, o ato foi contra a decisão do tribunal, ou contra a anistia?
Se é contra a anistia é equivoco, pois é a unica que temos e precisamos é defende-la.
Se o ato foi contra a decisão do tribunal esta correto, precisamos sim de uma lei de anistia politica, essa nossa é de natureza trabalhista, e não anistia Torturador esse cometeu crime contra a humanidade, e ainda comete o crime de ocultação de cadaver. Crime continuado e permanente enquanto o corpo do desaparecido não for entregue aos familiares.

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