quinta-feira, 7 de abril de 2011

A posição do Brasil frente ao Irã: A mudança da Política Externa

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Uma coisa que vem me incomodando há algum tempo é a insistência de alguns em tentar analisar aquilo que não conhecem ou, na melhor das hipóteses, analisar algo de forma enviesada, deixando transparecer claramente seu amor por um governo acima das evidências mais claras.

Falo da política externa brasileira, que vem dando sinais claros de mudança (algo explicitado até mesmo por Celso Amorim), apesar das tentativas de alguns de fingir que "não é bem assim".

Muitas das análises não tem qualquer método, confundem política interna com política externa, confundem elementos básicos de análise e transparecem uma paixão desmedida por toda e qualquer ação de Dilma, perdendo o fio da meada da análise.

Antes, nos primeiros dias do governo, o discurso era o de que não havia mudança alguma [na política externa]. Os mais entusiasmados com o governo se recusavam a aceitar que houvesse qualquer mudança, tentavam falsear a realidade a todo custo. Depois, com o mal estar causado pela entrevista de Celso Amorim à Folha e BBC Brasil, havia a tentativa de fechar os olhos, fingir que não era exatamente aquilo, que a entrevista era falha, deixava duvidas e etc, até, finalmente, o agora, em que está claro que existem sim mudanças no direcionamento da política externa. Mas para uns, isto é bom!

Oras, antes de mais nada, a discussão original não era sobre "bom" ou "ruim", mas sobre se havia mudanças.

A qualidade é um assunto que entra depois, pois, vamos nos lembrar, Dilma não foi eleita para mudar a política externa brasileira (nem vale citar a Cultura, pois é de bater desespero).

Dilma foi eleita como opção de continuísmo, logo, a idéia era a de MANTER a política externa brasileira, que vinha sendo um sucesso - algo que os Lulistas parecem ter esquecido, dada a defesa intransigente do novo modelo/direcionamento.

Aliás, é interessante ler no recente artigo de Amorim para a Carta Capital seu comentário sobre os que insistiam em dizer que não só não havia efetivamente uma condenação ao Irã, como o Brasil também estava sujeito à visita de relatores:
"Não procedem explicações que procuram minimizar a importância da decisão com comparações do tipo: “O Brasil também recebe relatores” ou “não houve condenação”.
Impecável. Pouco importa se, tecnicamente, o nome para a decisão do Conselho de Direitos humanos da ONU não seja "condenação", o que importa é a mensagem, é o sentimento de que, sim, houve condenação de alguma forma.
Não há como comparar os relatores temáticos que têm visitado o Brasil com a figura de um relator especial por país. Na semiologia política do Conselho de Direitos Humanos e de sua antecessora, a Comissão, a nomeação de um relator especial (ressalvados os casos de desastres naturais ou situações pós-guerras civis, em que o próprio país pede ou aceita o relator) é o que pode haver de mais grave. Se não se trata de uma condenação explícita, implica, na prática, colocar o país no banco dos réus.
Se o Brasil recebe relatores também não importa, o assunto não é o Brasil, mas o Irã, e a forma pela qual o país recebeu a decisão. Mais além, como reagirá. De início é improvável que o Irã aceite receber qualquer relator. Logo, a decisão torna-se meramente simbólica. E o Brasil não precisa de qualquer simbolismo deste tipo, pois tem atuado como negociador preferencial e efetivamente conseguido resultados.
Pode-se concordar ou não com ele, mas dizer que não afetará as nossas relações com Teerã ou a percepção que se tem da nossa postura internacional é tapar o sol com a peneira.
Quantos acordos os EUA e aliados conseguiram com suas condenações na ONU? Zero.

Quantos acordos (incluindo a libertação de prisioneiros e etc) conseguiu o Brasil SEM condenações, mas com NEGOCIAÇÃO e respeito? Nem preciso responder. Vejam o acordo Brasil-Irã-Turquia, a libertação da inglesa e etc.
Nos últimos meses e anos, o Brasil participou de várias ações ou empreendeu gestões que resultaram na libertação de pessoas detidas pelo governo iraniano, tanto estrangeiros quanto nacionais daquele país. É difícil determinar qual o peso exato que nossas démarches tiveram em situações como a da norte-americana Sarah Shroud ou do cineasta Abbas Kiarostami. No primeiro caso, a jovem alpinista veio nos agradecer em pessoa. Em outros casos, como a da francesa Clotilde Reiss, não hesito em afirmar que a ação brasileira foi absolutamente determinante. Mesmo no triste caso da mulher ameaçada de apedrejamento, Sakineh Ashtiani, os apelos do nosso presidente, seguidos de várias gestões no meu nível junto ao ministro do Exterior iraniano e ao próprio presidente Ahmadinejad, certamente contribuíram para que aquela pena bárbara não tenha se concretizado.
Sob Lula, a política externa se pautou pela negociação até as últimas consequências, buscou se afastar do discurso ideologizado dos Direitos Humanos - que só serve às potências e aos interessados em ampliar mercados - e adotar uma posição de negociação, de discussão. Aberto ao diálogo o Brasil passou a ser respeitado e a colher resultados carregados de simbolismo, mas também práticos.

É lamentável que, agora, tenham lulistas que parecem esquecer quem é Celso Amorim. No desespero de defender Dilma, dizem que a política externa deve mais ao Marco Aurélio Garcia e ao próprio Lula que ao Amorim, sequer recordando do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que bancou do Itamaraty as mudanças postas em curso. Chegam ao ponto de querer reduzir sua importância, ou mesmo a de colocá-o como deselegante por discordar do que vem sendo feito.

Um absurdo!

Mas, enfim, tudo mudou. E, admitido isto, passamos para um segundo estágio, o de analisar os desdobramentos (em artigo posterior, ainda que eu já tenha analisado exaustivamente a questão).

De início, fica claro. A mudança é péssima.

A quem serve esta mudança, ou melhor, QUEM patrocina, está por trás, desta mudança?

Só não vê, quem não quer, quem está cego demais na defesa de um governo que começou mal, muito mal, nas mais diversas áreas.

Concordo com o Amorim, mais uma vez, em sue desejo final, "Oxalá eu esteja errado." mas duvido muito.
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