Guerra, morte e sujeira são sempre sinônimos. E nunca demora muito após um conflito como o da Faixa de Gaza, em janeiro passado, para que os detalhes mais desumanos de um combate venham à tona.
"Vou contar a vocês uma história característica. Um dos nossos comandantes, líder de uma companhia, viu alguém. Uma senhora passando por um corredor, numa longa distância, mas uma distância capaz de atingir e eliminar o alvo identificado. Se ela era suspeita, se não era, não sei qual era sua história... O que ele fez foi mandar que um grupo subisse ao telhado e que, juntos, "acabassem com ela". Essa descrição me fez sentir como num assassinato a sangue frio".
A história, publicada originalmente aqui, está causando uma verdadeira tempestade no país desde ontem. As palavras duras são do soldado Aviv (nome fictício), que participou do combate no território palestino. Denúncias como essa surgiram no mês passado durante um congresso realizado para discutir as ações do Exército durante a guerra. Várias acusações de matança indiscriminada de civis e destruição de propriedade privada surgiram entre os alunos da academia militar Oranim.
As denúncias foram feitas por pilotos de combate e soldados da infantaria, como podem ler aqui (em inglês), e contrariam todas as alegações das Forças de Defesa de Israel de que suas tropas seguiram à risca altas normas de comportamento e boa conduta durante as três semanas de ofensiva à Faixa de Gaza.
"Havia uma casa com uma família dentro. Nos os colocamos num quarto e, mais tarde, deixamos a residência. Um outro destacamento ocupou a casa e uns dias depois, havia uma ordem para libertar os membros da família. Havíamos criado uma posição no segundo andar e havia também um posto para atiradores de elite no telhado. O comandante do destacamento deixou que os palestinos fossem embora e disse a eles para seguir à direita. A mãe e duas crianças não compreenderam e viraram à esquerda. Esqueceram de avisar ao atirador que estava no telhado que as tropas haviam lhes dado permissão para sair, que estava tudo ok, que não deveria abrir fogo.
Pichação em hebraico numa casa palestina em Zaitoun.
"Morte aos árabes. Givati (uma unidade do Exército)". Foto: Associated Press
E ele... Fez o que deveria fazer, como se estivesse apenas cumprindo ordens. O atirador viu a mulher e as crianças se aproximando, chegando perto da linha imaginária que ninguém deveria ultrapassar e abriu fogo direto. E matou-os. Não acho que ele tenha se sentido tão mal com isso depois. Apesar de tudo, ele estava seguro de que estava apenas cumprindo as ordens de seus comandantes. O clima, do que eu entendi depois de conversar com vários soldados... Não sei explicar... As vidas dos palestinos, digamos assim, têm muito menos importância que as vidas de nossos soldados. Eles acreditam que podem justificar seus atos assim".
Os depoimentos abriram mais um crise na alta cúpula do Exército. Pressionado, o procurador-geral da IDF, brigadeiro-general Avichai Mandelblit, determinou a abertura de uma investigação sobre o ocorrido. Há algumas semanas, Danny Zamir, diretor do centro de preparação "Rabin", onde estudaram os soldados, enviou uma carta ao alto escalão do Exército dando conta das denúncias duras e das queixas feitas pelos militares durante a operação "Chumbo Fundido" na Faixa de Gaza. Somente depois de discutido, o assunto foi levado à Procuradoria-Geral militar.
Analistas locais acreditam que a divulgação do caso é apenas um "mea culpa" da forças armadas visando abrandar a opinião pública internacional frente às dezenas de investigações independentes internacionais realizadas sobre os combates na Faixa de Gaza. É esperar para ver.
A palavra do dia em hebraico é "bushá". (בושה) Em bom português, "vergonha".
Fonte: O Outro Lado da Terra Santa (O Globo Blogs)
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Nada que ninguém já não soubesse.
O Exército de Israel mata, tortura, destrói e acaba com a Palestina.
A novidade é a declaração de que o Exército irá investigar alguma coisa.
Alguém acredita?
Não eu.
Em meio ao isolamento imposto pela Comunidade internacional (nome tremendamente ridículo e impreciso, de "comunidade" não temos nada), daos inúmeros protestos pelo mundo, ao boicote imposto aos produtos israelenses por milhares de pessoas pelo mundo e ao ódio de Palestinos, Árabes e qualquer outro ser pensante, Israel tenta fazer, como dizem os analistas do texto acima, uma "mea culpa".
Não serve.
Se, por algum milagre, alguém for preso por ter cometido algum abuso contra os Palestinos - dos inúmeros só nesta última "guerra" - com certeza será algum soldado raso selecionado por não ter os contatos necessários para escapar.
Sharon foi preso pelo massacre de Sabra e Shatila? Algum "grande" foi preso ou sequer relegado ao ostracismo pelas constantes invasões à Faixa de Gaza, pelo cerco criminoso?
Alguém foi condenado por ter transformado Gaza em um Campo de Concentração?
Não.
E nem vai ser enquanto Israel não for colocada em seu lugar, punida pela ONU, pela opinião Internacional, pela força das armas e por toda e qualquer maneira possível.
Continuando, segundo Richard Falk, Relator Especial da ONU para Direitos Humanos na Palestina, Israel cometeu um "crime de guerra de grande magnitude sob o direito internacional" ao não distinguir entre alvos civis e militares - o que manda a convenção de Genebra - e por ter, então, lançado ataques sem a possiblidade de não atingir civis.
"De acordo com Falk, o bloqueio da Faixa de Gaza, ainda parcialmente em vigor, também viola as Convenções de Genebra, o que indica outro crime de guerra, além de possíveis crimes contra a humanidade.
A ofensiva militar não foi legalmente justificada e pode representar "um crime contra a paz", conceito estabelecido nos julgamentos de autoridades nazistas pelos tribunais de Nuremberg, após a 2ª Guerra Mundial, de acordo com Falk, um professor norte-americano de Direito que atua como investigador independente do Conselho de Direitos Humanos.
O relator especial sugeriu ainda que o Conselho de Segurança da ONU poderia criar um tribunal penal especial para estabelecer as responsabilidades pelos crimes de guerra em Gaza, e lembrou que Israel não assinou os estatutos de Roma, que criaram o Tribunal Penal Internacional, em Haya."
Via JB Online