quarta-feira, 17 de junho de 2009

Acaba a obrigatoriedade do Diploma para Jornalista! [Update]

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Agora é oficial, acabou a exigência de diploma para exercer a função de jornalista!

Uma verdadeira vitória de todos!

Abaixo, a notícia vinda do blog do Noblat, informando que pelo menos 7 dos 11 ministros do STF presentes votaram a favor do fim desta lei criada pela Ditadura Militar que limitava o direito do povo de exercer a profissão.

Quem sabe, agora, pessoas realmente capazes irão escrever notícias relevantes e não mais o show de barbaridades e senso comum que lemos todos os dias nos jornais?!

É quase um sonho pensar em alguém que realmente entende de Relações Internacionais escrevendo sobre o assunto e não alguém que "sabe escrever bem" mas não entende nada do assunto, mas é jornalista, tem diploma! Alguém realmente capaz de fazer análises políticas, que seja da área e não um diplomado sem qualquer conhecimento.

É uma nova era para o jornalismo, de um lado poderemos ler notícias escritas por quem realmente entende do assunto e, por outro, os jornalistas vão ser obrigados a buscar especializações nas áres em que querem atuar. Todos sairão ganhando.

Maioria vota contra exigência de diploma para jornalista

Para sete dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federa (STF), o diploma não deve mais ser obrigatório para o exercício da profissão de jornalista.

Os ministros estão julgando desde as 15h30, uma ação protocolada pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal, que pedia o fim da obrigatoriedade do diploma.

Com a decisão de hoje, fica a cargo das faculdades e das empresas decidir se cobram ou não o diploma. Mas o Estado não poderá intervir em nenhum caso.

Por quase 1h, Gilmar Mendes, presidente do tribunal e relator do caso, votou contra a obrigatoriedade do diploma. Para ele, a profissão de jornalista não oferece perigo à coletividade, como outras profissões. O ministro Cezar Peluso seguiu o raciocínio:

- Não garante eliminação do mau exercício da profissão, à deficiência de caráter, ética, de cultura humanística e até de sentidos. Ou seja, não existe, no campo do Jornalismo, o risco que venha da ignorância de conhecimentos técnicos.

Os ministros seguiram os argumentos de Taís Borjas Gasparini, advogada do Sertesp. Ela defendeu que o Jornalismo não deve ser comparado às profissões de "médico, engenheiro ou piloto de avião":

- Ao contrário destas profissões, o Jornalismo é um exercício puramente intelectual. Depende talvez do domínio da linguagem e do vasto campo de conhecimentos humanos. Mas muito mais que qualificação, é a lealdade, curiosidade, sensibilidade e ética que o jornalista deve ter. A obtenção desses requisitos não se encontra nos bancos da faculdade.

João Roberto Fontes, advogado da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), contrapôs:

- O jornalismo já foi chamado de quarto poder da República. Como, então, não é necessário o conhecimento específico pra ter poder desta envergadura? É evidente o efeito devastador de uma notícia feita por um inepto. A divulgação de um balanço errado é uma catástrofe que se multiplica em segundos pelo mundo inteiro.

Os ministros Joquim Barbosa e Carlos Alberto Menezes Direito não estavam presentes na sessão.

Reposto um comentário antigo meu sobre a obrigatoriedade do diploma:

Li hoje n'O Globo que amanhã, provavelmente, haverá o julgamento definitivo sobre a necessidade ou não de diploma para exercer a profissão de jornalista.

Desde já digo minha posição: Sou totalmente a favor que QUALQUER um com capacidade exerça a profissão, não há sentido em exigir diploma para tal função.

A maior parte dos argumentos que ouvi, de jornalistas, é a de que o jornalista, na faculdade, aprende a escrever, a coletar dados e coisas do tipo. Oras, qualquer bípede com um mínimo de cultura e vontade sabe e pode fazer o mesmo!

Talvez o jornalista, de início, tenha mais estilo ou saiba como tratar suas fontes de uma maneira mais... correta (?) mas, me desculpem, afirmar que só jornalista forma pode exercer a profissão é desmerecer, por exemplo, um Nelson Rodrigues! Será que ele não tinha capacidade para exercer a profissão? Que levante a mão o corajoso!

Quem nunca se deparou, por outro lado, com absurdos vindos de jornalistas, formados, e cheios de si? Quantas vezes não fui obrigado a ler matérias extremamente rasas sobre política internacional, por exemplo, em um ou outro jornal, assinadas por jornalistas com diploma mas que sabem escrever bem, mas não sobre o objeto da matéria!

Qualquer pessoa que estude política ou mais especificamente política internacional ou Relações Internacionais (como eu) fica abismado com a precariedade de algumas matérias de jornalistas diplomados.

Só para citar um exemplo, noto o constante uso de "militantes inslâmicos" para todo e qualquer grupo que cometa algum crime em um país muçulmano. Não importa a razão, se o grupo que reivindica for muçulmano ou o país do ataque for muçulmano então os perpetradores são, automaticamente, "militantes islâmicos".

Primeiro lugar, ser "militante" não infere crime.

Ser islâmico ou militante islâmico não quer dizer absolutamente nada! Quer dizer apenas que a pessoa é muçulmana e busca, de alguma maneira, transmitir sua crença.

Não sei se é estupidez, ignorância ou má fé simplesmente.

Me lembrei agora, mas me escapa o nome do autor, uma pesquisa feita com as famílias de vários homens bomba que morreram em atentados suicidas em nome do Hezbollah.

Qualquer jornalista com diploma diria que os ataques foram cometidos por militantes islâmicos, por fanáticos islâmicos ou ainda terroristas islâmicos sem, porém, qualquer tipo de análise crítica ou pesquisa.

Saibam, pois, que vários destes militantes islâmicos eram, na verdade, cristãos, e a franca maioria (até a data pesquisada pelo autor) de esquerda, ou seja, não eram "militantes fanáticos" como a mídia adora reproduzir e (des)informar o público.

Acabei de encontrar o artigo que trata sobre o assunto dos três últimos parágrafos. O autor em questão é Robert Pape que analisou - através das biografias e de entrevistas com familiares dos suicidas -, entre 1982 e 1986, 38 dos 41 "terroristas" suicidas do Hizbollah.

Qualquer jornalista formado (desculpem a generalização) , diria que foram todos ataques cometidos por "militantes islâmicos" quando, na verdade, apenas 8 eram fundamentalistas islâmicos, 27 eram de grupos de Esquerda (logo, não poderiam ser encarados como militantes islâmicos) e 3 eram, vejam só, cristãos!


Este pequeno exemplo serve apenas para ilustrar que ter diploma de jornalista torna a pessoa apta a escrever bem, sim, mas não a saber sobre o que escreve.

Confio muito mais em alguém da área de Ciência Política ou Relações Internacionais - em geral, óbvio - para escrever sobra uma crise na Tanzânia, que em um jornalista que passou pelos editoriais de moda, esportes e caiu de para-quedas na página internacional.

Acredito, por outro lado, que não seria ruim um curso - talvez uma pós de curta duração ou um mini-curso ou até uma pequena especialização - para àqueles de formação diversa que tem interesse em adentrar na área jornalística mas, exigir uma graduação completa e um diploma para ser jornalista é, na melhor das hipóteses, um disparate.

Trazendo o assunto para um campo ainda mais moderno, quantos são os blogueiros que jamais cursaram jornalismo mas que estão aí, noticiando o que acontece no mundo, opinando e informando o público? Serão todos eles incapazes de seguir sua veia jornalística por não terem diploma?

Não vejo um jornalista falando com maior propriedade sobre física nuclear em um jornal que um físico nuclear ou um jornalista falando sobre a situação política da Ingushétia que um cientista político especialista em Ingushétia.

Claro, não tenho a intenção de desmerecer qualquer jornalista e apenas ilustrar que, mesmo que muitos tenham a capacidade de tratar de diversos assuntos e sejam excelentes no que fazem - como Clovis Rossi, Azenha, PHA, Noblat, dentre outros -, ter um diploma não é tudo, é preciso, antes de mais nada, ter interesse, disponibilidade, honestidade, vontade e conhecimento.

imaginem só se Antônio Maria, Nelson rodrigues (como disse Miro Teixeira), ou Euclides da Cunha, Carlos Lacerda, Jaguar, dentro outros fossem proibidos de escrever porque não tinham diploma!

Jornalismo não é ciência!

Daqui ha pouco pedirão diploma para cartunista, para escritor. É algo que não tem sentido e nem fim.

Diploma é acessório. Um belo acessório mas, ainda assim, acessório.


Por fim, um apanhado do Idelber sobre as diversas posições quanto à esta questão:

"Sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalista

É evidente que eu teria um texto bem incendiário para oferecer sobre este tema, mas acabo de chegar a Belo Horizonte, cansado pacas, e decidi fazer o que fazemos aqui de vez em quando. Eu ofereço os links e vocês conversam. O que achei de interessante por aí sobre a discussão que acontece hoje no Supremo Tribunal Federal, acerca da obrigatoriedade do diploma para jornalistas, vai abaixo:

Virando a folha, de Sergio Leo.
Sobre o diploma para jornalistas, do Rafael Galvão.
Ainda o diploma para jornalistas, também do Paraíba.
Diploma em tempos de crise do jornalismo?, do Jorge Rocha.
Pela exigência do diploma de jornalista para blogueiros brasileiros, do André Forastieri.
Sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalismo, de Túlio Vianna.
Uma decisão histórica sobre o diploma, de Elias Machado.
Jornalista, só com diploma, por Sérgio Murillo de Andrade.
Diploma é resquício da ditadura, de Laerte Braga.

E por falar em jornalista, o maior de todos, Leandro Fortes, está de casa nova."

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Update:
O resultado final da votação no STF foi 8x1 pelo fim do Diploma.


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Comentários
5 Comentários

5 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Raphael,

Bem, ouvi muita gente dizer que o jornalismo morreu, na realidade, ontem, simplesmente, foi publicitado o atestado de óbito. A morte da ideologia jornalística - e da jornalística em si - foi mesmo obra da Internet e já aconteceu há muito tempo.

Se eu fosse ministro do STF (cruzes), meu voto seria pelo fim da obrigatoriedade mesmo achando que o caso concreto submetido era de uma imbecilidade ímpar.

É uma questão de bom-senso mesmo: A jornalística é simplesmente o saber prático concernente à produção do meio de comunicação impresso chamado "jornal" e de congenêres - bem como, por interpretação extensiva, os demais meios de comunicação não-interativos. Se não é necessário o domínio de uma ciência para exercer tal função, então não se pode exigir diploma. Simples assim.

Enquanto muitos jornalistas resmungam sobre o que aconteceu, eles deveriam estar pensando na construção de um curso de comunicação social com substância teórica suficiente para encarar as demandas da era da Internet tendo em vista campos como a Semiótica, a Teoria da Comunicação e a Economia Política da Comunicação.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Não tenho nada a acrescentar, sua análise foi impecável.

Talvez os cursos de Comunicação social possam agora tem um melhor direcionamento, talvez um ou - máximo - dois anos de curso específico e o resto um direcionamento para a área de maior interesse dos alunos. Isso seria mais viável em grandes universidades, claro, mas seria bom já inicialmente por evitar que uniesquinas possam participar, todos ganham.

Eu sou de longa data admirador do modelo dos EUA, onde você tem um major e um minor, você se forma em Jornalismo como Major mas no minor em política internacional, ou seja, você pode mais que qualquer um exercer a profissão de jornalista com conhecimento específico na área de Pol. Int, o que é um "plus a mais" como dizem alguns amigos meus!=)

É uma coisa que o coordenador de RI queria implantar lá na PUC, 2 anos, no máximo 2 anos e meio de curso obrigatório e o resto de optativas, em várias áreas e em outros cursos, você faz sua formação secundária, você se especializa já na graduação.

O jornalismo pode caminhar para isso, e podem tentar algo até mesmo dentro da área de comunicação, com uma formação em jornalismo e em multimeios, em Rádio e TV e etc combinado...

Marcelo disse...

Oi, vim parar aqui pelo seu comentário no meu site. =)

Bom, assim como você respeitou meu post, vou respeitar sua opinião. =) E vou tentar te acrescentar algo:

Da mesma forma que uma pessoa que tem diploma deve correr por uma especialização para ter domínio sobre um tema, a pessoa que tem dominio por um tema deve procurar por uma especialização que lhe dara o direito de argumentar sobre tal tema.
=D
Sei lá... rsrs. o importante é que todos sejam felizes!

Mapher disse...

Oi Raphael!!!

kkkk to rindo aqui pq vc sacou a piada, mas não entendeu.

Eu coloquei o Casoy porque ele tem tudo a ver com o caso.

Veja bem, ele ia dizer que é uma vergonha não ser obrigatorio o diploma. Aí ele para e pensa, "O que foi mesmo que o Senhor disse?", em referência a ele não ter diploma e ser totalmente a favor da não obrigatoriedade do diploma para o exercicio da profissão de jornalista.

KKKk vc sacou a assência mas não entendeu a piada.. =)

abraços

Marcelo

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Bah, demorou pra explicar, haha!

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