sábado, 20 de junho de 2009

Irã: Revolução? [Update2]

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A situação no Irã vem se tornando cada vez mais tensa. Pela primeira vez alguém - em especial uma figura pública como Mousavi - teve a coragem de criticar o Aiatolá. Isso por si só demonstra o ânimo dos que foram fraudados e demonstra que tudo pode acontecer.
"Em uma mensagem publicada no site de sua campanha, Moussavi, um conservador moderado, acusa o líder religioso, sem citar o nome do aiatolá Ali Khamenei, de ameaçar o caráter republicano da República Islâmica e de ter como objetivo a imposição de um novo sistema político.

"Todas as contagens (de irregularidades), às quais se acrescentam as demais mencionadas em minhas cartas anteriores, são suficientes para anular a eleição", afirma Moussavi em uma mensagem enviada ao Conselho dos Guardiães.

Nenhum político iraniano jamais ousou fazer uma crítica de tal importância ao aiatolá Khamenei desde que ele assumiu a função de guia supremo em 1989."
Os tempos são incertos, o Conselho dos Guadiães resolveu contar ínfimos 10% dos votos, algo totalmente insuficiente e um insulto aos que protestam por justiça e contra a fraude e o nascimento de uma perigosa ditadura reacionária.

Perto do Mausoléu de Khomeini, que fica a 20km de Teerã um homem-bomba matou duas pessoas e deixou várias outras feridas e durante os protestos ao menos mais um foi morto pela milícia Basij e até 60 podem ter sido feridas e foram encaminhadas para hospitais da capital - em alguns casos manifestantes feridos depois de espancamentos foram presos enquanto tentavam ser atendidos nos hospitais.
"Testemunhas disseram à agência Associated Press (AP) que 50 a 60 manifestantes gravemente feridos pela polícia e por milícias pró-governo foram levados ao hospital. Alguns manifestantes aparentemente resistiam aos ataques e incendiavam as motocicletas dos milicianos. Helicópteros voavam sobre Teerã. Em todas as partes, ouviam-se sirenes de ambulâncias e viam-se colunas de fumaça negra. "





Neste link, o momento em que uma manifestante é baleada e morta. Conteúdo forte.

Segundo Huffington Post, o nome da mulher assassinada pela milícia é Neda, que em Farsi significa "chamada" ou "voz"
"From Twitter, via Chas: "Her name was ندا (#Neda), which means voice or call in Farsi. She is the voice of the people, a call to freedom - RIP, Neda""
Hoje, os reformistas derrotados - fraudados - Mousavi e Karoubi, deveriam comparecer à uma reunião convocada pelo Conselho dos Guardiães, porém não apareceram, em uma demonstração

Moussavi e Karubi não compareceram neste sábado a uma reunião com o Conselho dos Guardiães, órgão responsável por validar as eleições e analisar as denúncias de irregularidades, e demonstram que as instituições tradicionais iranianas começam a ser questionadas.

Apesar de tudo Mousavi disse expressamente que não defende a derrubada do regime islâmico e sim busca justiça.
"Iran's defeated presidential candidate Mirhossein Mousavi told his supporters on Saturday that he would always be at their side, he said in a statement, the semi-official Fars news agency reported. Mousavi also said in the statement, adressed to his supporters, that he was not confronting the Islamic state. He added that by not allowing legal rallies, the Islamic state may face "dangerous consequences"."

"We are not against the Islamic system and its laws but against lies and deviations and just want to reform it," he said on his website"
Ainda sobre Mousavi, o memso diss eque está pronto para o martírio.
"Opposition leader Mirhossein Mousavi said he was "ready for martyrdom", according to an ally, in leading protests that have shaken the Islamic Republic and brought warnings of bloodshed from Iran's Supreme Leader."
Durante a noite os manifestantes sobem aos telhados para gritar "Allah u Akbar", slogam da Revolução Iraniana, durante o dia os protestos são sileciosos mas ouvem-se gritos de "morte ao Ditador", em referência ao Ahmadinejad. Já são 8 dias de protestos, todos os dias, o dia todo, e os manifestantes não dão mostras de cansaço, de se intimidarem ou de perderem as esperanças, a cada dia aumenta a violência e aumenta a vontade de manifestar repúdio à fraude.



O medo dos manifestantes de que o Irã se torne uma ditadura não é de graça. Ao ler qualquer notícia sobre o país na Reuters vemos o informe do editor:
"EDITORS' NOTE: Reuters and other foreign media are subject to Iranian restrictions on their ability to report, film or take pictures in Tehran."
Ou seja, uma política de censura, intimidação da imprensa e contra-informação foi lançada e vem sendo mantida pelo governo iraniano que, além detudo, intimida e espanca os iranianos que tenta tirar fotos e mostrar ao mundo o que acontece no país.

A foto abaixo, do site Demotiximages (que ainda tem uma interessante galeria de fotos dos protestos), é de um fotógrafo que contribui com o site que foi espancado por tirar fotos em Teerã.

Informações do Huffington Post:
"I was beaten for taking photographs." That's Hanif, a contributor to the citizen photojournalism site Demotix, which has captured dozens of great images over the past week. (Check out Hanif's full gallery from today here.)

Hanif is the third person today who says they were targeted for carrying a camera or cell phone. The paramilitaries have found a new target now that the foreign media are off the streets.

Reformistas incendiaram um prédio em Teerã usado pelas milícias pró-Ahmadinejad e a escalada de violência parece não ter fim. Mousavi convocou o povo a realizar uma greve geral caso ele seja preso e, sem dúvida, o povo está disposto a seguí-lo até as últimas consequências.

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Update:

No blog do Noblat vejo que, segundo a CNN, os mortos, só hoje, são 19, já os jornais europeus falam em até 100 mortes.

"Um correspondente da BBC na praça Enghelab, em Teerã, disse ter visto uma pessoa tomar um tiro e outras pessoas ficarem feridas em um confronto entre manifestantes e o forte esquema de segurança que foi montado no local."

De certa forma, pode-se dizer que o país já está em guerra civil ou, ao menos e para os mais cautelosos, que falta muito pouco para chegar às vias de fato.

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Update 2:

Seguindo a corajosa atitude de Mousavi de criticar - veladamente - o Aiatolá Ali Khamenei, Ali Larijani, porta-voz do Parlamento Iraniano (Majlis) resolveu chutar o pau da barraca e num mesmo pronunciamento para a TV estatal iraniana (Islamic Republic of Iran Broadcasting [IRIB]) criticou o Conselho de Guardiães, também de forma velada o Aiatolá (ao afirmar que houve fraude) e o próprio canal de TV.

"a majority of people are of the opinion that the actual election results are different than what was officially announced."

"The opinion of this majority should be respected and a line should be drawn between them and rioters and miscreants,"

"Although the Guardian Council is made up of religious individuals I wish certain members would not side with a certain presidential candidate."

"The Guardian Council should use every possible means to build trust and convince the protesters that their complaints will be thoroughly looked into," the parliament speaker added.

"the IRIB should not act in a way that provokes people."

A clara desobediência de importantes figuras iranianas é um marco.

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A ONG Repórteres Sem Fronteira (RSF) criticou o Irã, chamando o país de "maior prisão do mundo para jornalistas", ao denunciar a prisão de pelo menos 30 jornalistas e ciberdissidentes, num visível aumento da repressão, censura e perseguilão contra membros da imprens aindependente.

"A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou neste sábado o aumento da repressão no Irã, país ao qual definiu como "a maior prisão do mundo para os jornalistas". "A repressão aumentou ainda mais" depois que o líder supremo da Revolução, o aiatolá Ali Khamenei, confirmou a surpreendente vitória do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, nas eleições presidenciais de 12 de junho, afirmou o comunicado divulgado neste sábado pela RSF.

Segundo a organização, já são 30 os "jornalistas e ciberdissidentes" que foram presos em território iraniano desde as eleições e "a violência das manifestações" que acontecem nestes dias em Teerã faz temer que aumente o número de detenções de iranianos e as expulsões de correspondentes estrangeiros.

O regime iraniano, acrescenta a nota, "não pode tolerar" que o mundo veja o que está acontecendo e, por isso, quer silenciar a imprensa. "A comunidade internacional não pode ignorar mais a situação", segundo a organização, que considera que deve haver "uma reação clara e unânime" que esteja à altura da gravidade dos eventos destes dias.

A RSF reiterou que vários locais sobre os quais não se tem notícias há dias e entre os quais alguns estão presos e foram vítimas de tortura. A organização denuncia que a televisão estatal está atribuindo informações falsas aos candidatos da oposição e que os jornalistas estrangeiros sofrem pressões para que não transmitam as opiniões dos opositores."

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