"Qualquer pessoa minimamente sensata sabe que mandar batalhão de choque pra dentro de um campus universitário vai dar merda. É inevitável.Polícia é treinada para lidar com bandido. Não com bandido de colarinho branco, pois este ela não pode sequer algemar. Mas com bandido pobre, que na maioria absoluta das vezes abaixa a cabeça e apanha quieto, pois aprende desde cedo que só lhe resta esta opção.
Estudante universitário é contestador por natureza. Estão em pleno vigor da sua capacidade intelectual e crítica. Se o professor não se fizer respeitar no primeiro mês de aula, estará perdido. Nada o salvará do senso crítico de seus alunos.
Polícia obedece a ordens. Estudante desobedece aos pais, professores e, claro, à polícia. São tribos antípodas.
O campus universitário é a casa dos estudantes. O lar da crítica por excelência. O teatro das mais diversas reivindicações estudantis.
Quer criar uma tragédia garantida? Chame a polícia para organizar o evento. É tiro e queda! Porrada garantida ou sua bomba de gás lacrimogêneo de volta.
Sabe por quê? Porque você vai colocar a polícia na casa da molecada e vai dizer: “não batam, só organize”. E vai dizer pros estudantes: “a polícia só está aqui para garantir a ordem”.
Só que o barril de pólvora já está criado e a faísca pode ser qualquer olhar torto.
Alguma hora um estudante naquela centena fará uma provocação e algum daqueles policiais vai interpretar inevitavelmente como “desacato a autoridade” e vai descer o cacete, esquecendo-se de que aquele estudante não é o bandido pobre que está acostumado a apanhar calado e de cabeça baixa.
Este momento é inevitável. Vai acontecer sempre. E, se um estudante provocar e um policial assinar o recibo, a guerra começará inevitavelmente.
Claro que tudo isso é óbvio demais para qualquer pessoa de bom senso.
Somente um irresponsável, sem a mínima predisposição ao diálogo , optaria por mandar o batalhão de choque da polícia a um campus universitário para “apaziguar” os ânimos.
Deu no que deu."
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Vale ainda uma passada no blog do PHA:
“Nem na época do regime militar eu vi uma cena como essa”, disse ao Conversa Afiada o sindicalista Magno de Carvalho, diretor de base do Sintusp – sindicato que representa os funcionários administrativos da USP.
Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, Magno descreve a batalha de mais de uma hora, na qual estudantes, funcionários e docentes da universidade foram atacados por homens da tropa de choque da PM, que lançaram bombas de efeito moral contra eles. Duas pessoas foram hospitalizadas depois de receber tiros de balas de borracha.
“O governador José Serra faz isso por vingança. Ele não se conforma por termos derrubado, há dois anos, o decreto que ele tentou impor à universidade”, afirma Magno. Ele se refere uma tentativa frustrada do governo de mudar a execução orçamentária das universidades. Na ocasião, alunos, funcionários e professores se insurgiram contra a medida, vista como uma interferência na autonomia universitária.
No momento em que ocorria a entrevista por telefone, por volta das 20h40, o comando de greve promovia nova assembléia. Para o sindicalista, após o confronto com a polícia a tendência é de o movimento se radicalizar.
Ouça a íntegra da entrevista com Magno de Carvalho, do Sintusp