sábado, 10 de outubro de 2009

Porque o Nobel para Obama é um crime contra a humanidade

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Artigo necessário do André Kenji sobre o Nobel dado à Obama. Muitas das minhas percepções foram fielmente captadas pelo autor do artigo, o prêmio é um crime contra a humanidade, um tapa em antigos ganhadores que realmente representam e representaram algo no mundo e lutaram de fato pela paz.

Além disso, age enormemente para desacreditar o prêmio enquanto ferramenta eficaz na luta contra a tirania e pela paz. Virou um instrumento meramente político de agrado à presidentes estadunidenses e não a ferramenta de pressão e reconhecimento de lutas por dignidade.

Alguns deslizes podem até passar ao largo, como o prêmio dado à Gorbatchev ou à Menachen Begin, mas a constante mania de laurear presidentes americanos com o único intuito de provocar os Republicanos e tentar dar um ar de legalidade ao Imperialismo dos EUA pode acabar por destruir a imagem de um prêmio que, se bem usado, pode mudar realidades.

Voltando ao texto, o André se esquece, porém  do Embargo contra Cuba, novamente estendido, desta vez por Obama, que mantém esta violação contra o povo cubano e se alinha - como de costume - coma a extrema direita cubana em Miami.

Vale lembrar também do caso de Honduras, onde se Obama não é diretamente responsável pela preparação e sustentação do golpe, o são seus assessores e, de qualquer forma, Obama nada faz de concreto para resolver a situação, o que está em seu alcance.

O prêmio dado à Obama só tem sentido - se fizemos grande esforço - se o entendermos como uma carta branca para agir, ou melhor, como um incentivo para que este haja em prol da paz, destoando do que normalmente significa ser presidente dos EUA.

Incentivo, recomendação, voto de confiança, carta branca, não importa como chamemos, o fato é que, até o momento Obama se limitou a não ser Bush, não por ter desfeito ou revisto as ações do antigo presidente, mas por prometer rever e sorrir de forma convincente. Um jogo de aparências bem bolado mas que, na prática, apenas suaviza a violência que, porém, persiste.

O prêmio é político, decidido por políticos e, como tal, cobertos e cercados de interesses diversos, e isto fica claro com os prêmios dados à Al Gore, Obama e Carter que, enquanto presidentes - no caso de Gore, enquanto candidato e Vice - não fizeram absolutamente nada em prol da paz e sim apenas asseguraram interesses dos EUA no mundo.

Al Gore fez um vídeo bonitinho sobre meio-ambiente e ganha milhões dando palestras sobre o assunto e Carter, este sim, se tornou um ativista após a presidência, mas enquanto no Salão Oval não é lembrado pela humanidade e luta pela paz. Seu ativismo seria uma tentativa de apagar o passado e o Nobel veio para referendar esta tentativa?

Obama, enfim, ainda não fez nada, manteve o status quo mas com palavras bonitas, é como Clinton que invadia a Sérvia enquanto transava com a secretária e mantinha um sorriso lindo no rosto - e tudo sem a aprovação da ONU mas sob os olhos brilhantes do mundo frente à sua simpatia e carisma.

Obama até agora é isto, uma figura bonita, carismática e carregada de esperança. E fica nisso. Ele agora tem um Nobel para mostrar cada vez que for questionado sobre Guantánamo, sobre o Afeganistão ou sobre qualquer outra guerra que ele porventura resolva travar. É o "cala boca" ideal.


Quantas causas desconhecidas ou pouco conhecidas, mas de grande importância não poderiam ter ganho visibilidade e força se premiadas? Tudo isto em troca de um prêmio para alguém que ao defender Israel defende o Genocídio do povo Palestino?

Obama pode surpreender, não nego, mas não há sentido em ganhar um prêmio pelo potencial de fazê-lo. E, seguindo a história, dificilmente fará.

Enfim, faço minhas as palavras do André, o prêmio dado à Obama é um crime contra as gerações futuras.

Quando vi na caixa de emails o email do newsalert do Huffington Post dizendo que Obama havia ganho o Prêmio Nobel da Paz achei que fosse um tipo de piada ou pegadinha do site. Provavelmente é, embora não seja da turma de Ariana Huffington, mas do Comitê do prêmio. Obama, afinal de contas, foi senador federal por três anos(Sem uma atuação particularmente brilhante, pelo contrário, tendo votado firmemente para financiar as duas guerras) e presidente por cerca de nove meses em que nas ocasiões em que suas intenções caminhavam para a paz fracassou miseravelmente. Não conseguiu fechar Guantanamo, nem impedir a expansão de assentamentos na Palestina. E não só os soldados continuam no Iraque e no Afeganistão como neste último Obama pode aumentar em quarenta mil seu número.(Paul Craig Roberts disse que o prêmio transforma o refrão “Guerra é Paz” em realidade).

Aliás, foi bizarro ver Bill O´Reilly e Chris Wallace discutindo o assunto na Fox News. Ambos se perguntavam pela razão do prêmio, Wallace disse que a grande razão era de que Obama não era Bush. O´Reilly, surprendentemente, diz que Obama faz as mesmas coisas que Bush, e só faz “lip service” na direção contrário. Claro que há um joguinho aí. Como Jeff Jacoby lembra, o Nobel de Física, Química e Economia é escolhido pela Academia Real Sueca de Ciências, enquanto que o Instituto Karolinska, uma instituição médica, escolhe o de Medicina. O Nobel da Paz é escolhido por uma comissão de deputados noruegueses. E bem, políticos na Noruega como políticos em qualquer lugar se preocupam mais com o impacto a curto prazo que credibilidade a longo prazo.
Isso faz sentido. Os três últimos laureados com o prêmio parecem ter sido escolhidos a dedo pensando em ofender Bush e os republicanos em geral. Carter, talvez o presidente moderno mais odiado pelos conservadores mainstream dos EUA ganhou o prêmio em 2002(Quando os próprios noruegueses admitiram que aquilo “era um chute nas pernas de Bush”) Gore, que venceu Bush no voto popular, foi premiado em 2007. Talvez Al Franken, Nancy Pelosi ou Hillary Clinton sejam premiados nos próximos anos.

O problema é que há uma diferença com relação aos outros Premios Nobel. Quando os prêmios foram criados havia muito mais romantismo e menos dinheiro envolvido em pesquisa. Portanto, era muito mais crível que o Nobel pudesse de fato servir de incentivo para pesquisa que contribuisse para o bem da humanidade. Hoje, claro, é muito mais dificil um cientista iniciar uma pesquisa pensando no Nobel, e há incentivos muito mais interessantes. Por outro lado, o Nobel da Paz é um instrumento importante para atrair a atenção da opinião pública para causas importantes. Até 1996, quando o Bispo Carlos Filipe Ximenes Belo e José Ramos-Horta ganharam o Prêmio o Timor Leste era totalmente desconhecido. O prêmio para Jody Williams e a Campanha pelo Banimento de Minas Terrestres no ano seguinte seria fundamental para o banimento desta arma terrível (Imaginem o horror se estas armas estivessem a disposição das guerrilhas no Iraque e Afeganistão). O prêmio para Lech Wallesa em 1983 e Desmond Tutu em 1984 permitiram que estas importantes vozes de dissidência fossem ampliadas.

Toda vez que o prêmio vai para políticos de carreira amplamente conhecidos você tem uma causa importante a menos que perde chance de exposição, você tem vozes dissidentes que acabam silenciadas. Este ano, especulava-se que Hu Jia, um dissidente chinês pródemocracia seria o vencedor. Isso contribuiria para que a China fosse de fato pressionada a impor reformas democráticas. Mas não faltam ativistas em países como Egito e Irã. O jornal The Zimbabwean, uma voz eficiente contra a ditadura de Robert Mugabe, seria um laureado muito mais justo.

O prêmio para Obama, assim como prêmios para outros políticos americanos e conhecidos é um crime contra as causas esquecidas do mundo subdesenvolvido, é um crime contra as vozes que ousam lutar contra a tirania. E a perda de credibilidade do Nobel da Paz é um crime contra as gerações futuras.
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Comentários
4 Comentários

4 comentários:

Marcelo Delfino disse...

A respeito do Nobel de Obama, não acredito ser correto dar carta branca à política imperialista do Partido Democrata só para provocar o Partido Republicano.

Parabéns por este blog. O meu blog Brasil, um País de Tolos tem agora um link direto para ele.

Felipe Aron disse...

"Clinton que invadia a Sérvia enquanto transava com a secretária e mantinha um sorriso lindo no rosto"

Belo texto, concordo com a maior parte, exceto com essa acima que se soma às críticas do moralistas e hipócritas conservadores. E daí que ele come a secretária? Colocar a invasão da Sérvia no mesmo patamar que sexo com a colega de trabalho é bem incoerente, essa frase nem devia estar aí. Mas sério mesmo, o resto do texto tá muito bom! Um abraço!

Anônimo disse...

concordo com o felipe

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Aron, meu camarada, meu objetivo ñ foi fazer nenhuma crítica moralista e apenas demonstrar o quanto Clinton realmente se preocupava com o mundo, com suas guerras e afins. A questão não é colocar no mesmo patamar - na época me lembro que era contra o impedimento dele por essa questão, era a vida privada dele.

Só ilustrei q ele invadia a Sérvia enquanto transava com a secretária, achava isto mais importante do que a guerra em si!=)

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