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terça-feira, 22 de março de 2011

Nota de protesto do Grupo Tortura Nunca Mais contra a visita de Obama

               GRUPO TORTURA NUNCA MAIS DE SÃO PAULO
                           R. Frei Caneca, 986 - São Paulo - SP
 
                                        NOTA DE PROTESTO
 
O Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo soma-se aos inúmeros protestos de todo o Brasil contra a violência policial carioca e a prisão dos manifestantes que protestavam contra as posições do governo norte-americano, aproveitando a visita do presidente Barak Obama ao nosso país. Eles pediam liberdade para os presos de Guantanamo e a  retirada das tropas do Afeganistão e do Iraque, no que somos inteiramente solidários. Exigimos sua soltura imediata, na medida em que as prisões podem ser consideradas políticas e ferem o direito à liberdade de opinião e expressão, garantido na Constituição.
 
Protestamos também contra o ataque, autorizado pela ONU, de mísseis a Trípoli, capital da  Líbia, lançados de navios americanos e ingleses que, em apenas algumas horas, matou dezenas de pessoas. O povo líbio neste momento trava uma dura batalha interna para decidir seu destino e já padece de grande sofrimento.  Infelizmente a decisão de atacar a Líbia foi tomada durante o primeiro dia de visita do governante americano ao Brasil. Nosso país, no nosso ponto-de-vista corretamente, se absteve de votar na ONU por qualquer sanção ou ataque à Líbia. 
 
Não queremos a guerra nem o banho de sangue em parte alguma do mundo. Reafirmamos nossa posição a favor da vida e do respeito integral aos Direitos Humanos.
 
Pela soltura imediata dos presos do Rio de Janeiro
 
Pelo cessar-fogo interno e externo na Líbia
 
Pela soberania e autodeterminação dos povos 
 
 
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS DE SÃO PAULO
Rose Nogueira
presidente
 
São Paulo, 19 de março de 2011.
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segunda-feira, 21 de março de 2011

Obama no Brasil? Guerra, Truculência e Desrespeito [Update - Presos Políticos libertados!]


O saldo da visita de Obama ao Brasil é nefasto.

13 presos políticos, constrangimento de ministros brasileiros, exigências descabidas.... Mas o saldo positivo (ou quase), pode ser o desmascaramento da mente colonizada da grande mídia. Sim, já sabíamos, mas agora está escancarado para quem quiser ver.

A Guerra do Brasil

De início, o mais aberrante, o lançamento da Operação Aurora da Odisséia, para derrubar Khadafi, foi no Brasil!

Isso mesmo, Obama, em visita ao Brasil, passou por cima de nossa posição não beligerante e de não-intervenção e declarou guerra à Líbia do solo brasileiro. Uma tremenda e absoluta falta de respeito com os anfitriões, que se abstiveram na votação do Conselho de Segurança que decidiu pelo uso da força contra o país.

Os pesados ataques aéreos contra forças de Khadafi em diversas cidades líbias começaram no sábado, com a participação de tropas americanas, francesas e inglesas.
Em suma, o Brasil foi usado como palco para o inicio da guerra, em meio a uma visita de cortesia em que uma das partes, nós, éramos CONTRA a intervenção. Trata-se de um desrespeito tremendo, típico da potência imperial em toda sua arrogância e prepotência.

Desrespeito e prepotência

Não nos esqueçamos da desistência de Obama em discursar na Cinelândia (discurso em si já um traço de arrogância) porque talvez fosse ser recebido com alguns protestos, mesmo depois da estrutura do palco estar quase pronta.

Em primeiro lugar, senhora cara de pau de Obama querer "discursar ao povo brasileiro", para trazer as boas novas do Império e uma mensagem de democracia - se todos nos comportarmos e respeitarmos o Líder!

A isto juntamos ainda os protestos de pessoas na Cidade de Deus contra sua visita depois deste querer exigir casas de moradores como pontos para atiradores de elite (inclusive com ameaças aos que se recusavam a permitir o uso de suas propriedades).

Obama age como se estivesse em casa. constrange os brasileiros, tenta nos humilhar, passa por cima de nossa boa vontade e hospitalidade... É assim que age o chefe-terrorista.

Mentalidade colonizada da mídia

>Mas, se esta visita serviu para alguma coisa, foi para desmascarar mesmo para os mais cegos a mentalidade colonizada da mídia. Nem com Bush, muito mais alinhado aos interesses da nossa querida mídia e do empresariado (ALCA era palavra de ordem ainda), a mídia nacional teve tantos orgasmos múltiplos, uma cobertura tão ampla e repetitiva e nunca se viu jornalistas (sic) tão felizes em noticiar aquilo que eles consideram fatos.

Cobertura quase totalmente voltada à visita de Obama. Reportagens especiais sobre os gostos de Michelle Obama, sobre a refeição da família real presidencial, sobre o degustador real oficial (século XV feelings) sobre roupas e, claro, sobre os incontáveis benefícios de todo e qualquer acordo, por mais subserviente que seja, assinado pelo Brasil com o Império.

A mídia brasileira conseguiu chegar a um nível ímpar de vergonha alheia e sem-vergonhice.

Pra completar a vergonha, o PT do Rio proibiu manifestações contra Obama, num ato de total subserviência e falta de vergonha na cara.

Exemplo máximo de mídia colonizada:





Ministros revistados e absurdo aparato de segurança


Como comentado, um aparato de segurança que incluiu varredura das redes sociais, uso de perfis falsos e monitoramento completo do que se dizia aqui no Brasil - daí o cancelamento do discurso na Cinelândia depois que viram que haveriam protestos. Um esquema de segurança que chegou ao absurdo de querer revistar Ministros de Estado brasileiros!
O forte aparato de segurança instituído pela equipe do presidente Barack Obama fez com que quatro ministros brasileiros, entre eles o da Fazenda, Guido Mantega, e do Comércio e Indústria, Fernando Pimentel, desistissem de comparecer ao evento do mandatário americano com empresários.
Segundo a Folha apurou, o episódio causou mal-estar entre as autoridades brasileiras.
Além de Mantega e Pimentel, os ministros Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Edison Lobão (Minas e Energia) também desistiram de comparecer ao encontro por se sentirem constrangidos.

Laerte Braga, por outro lado, informa que os ministros aceitaram a revista sem problemas, só se retirando quando viram que o evento seria totalmente em inglês:
A despeito de terem abandonado o encontro os ministros não reagiram à revista e só deixaram o local ao perceberem que a língua a ser usada no encontro seria a inglesa.
Absurda não só a idéia de revistar Ministros de Estado, mas também estes darem meia volta e desistirem de entrar! Oras, são Ministros! Deveriam ter simplesmente entrado, avisando que eram autoridades e que Obama é um estrangeiro que está em solo brasileiro por cortesia e não manda em nada.




Alguém deveria avisar para Obama que Celso Lafer não é mais ministro e que o Brasil não é mais quintal dos EUA.


Mas, a humilhação não parou por aí, até carros da Polícia Federal foram revistados por agentes dos EUA!

Presos Políticos


O maior absurdo de todos talvez seja a prisão de 13 militantes políticos por protestar contra Obama. Sem direito a fiança, foram encaminhados para presídios:
Um légítimo protesto contra a visita de Obama ao Brasil, em frente ao Consulado dos EUA no Rio acabou em pancadaria, com a polícia atirando bombas e balas de borracha nos manifestantes que, por seu lado, responderam atirando um coquetel molotov em direção ao consulado e acertando um segurança.

13 pessoas foram presas e, de forma inacreditável, encaminhadas sem julgamento para presídios da cidade, sem direito a habeas corpus ou fiança!


São 10 militantes do PSTU, um menor do PSOL e outro aparentemente do movimento MV Brasil, de direita. As mulheres (são 3) foram encaminhadas para o presídio de Bangu, os homens para o presídio de Água santa, já o menor foi para o Instituto Padre Severiano.
Os advogados do PSTU estão entrando na Justiça com um pedido de libertação dos presos, já que não há provas contra eles. Também questionam os artigos apontados pelo delegado, que torna o crime inafiançável. O partido fará um ato neste domingo, às 10h, contra a visita de Obama e pela liberdade dos presos políticos. Hoje, em Brasília, militantes do partido irão até a Praça dos Três Poderes, também para exigir a libertação

Estes são os presos políticos:
Gilberto Silva - eletricista
Rafael Rossi - professor de estado, dirigente sindical do SEPE
Pâmela Rossi - professora do estado e casada
Thiago Loureiro - estudante de Direito da UFRJ, funcionário do Sindjustiça
Yuri Proença da Costa - carteiro dos Correios
Gualberto Tinoco - servidor do estado e dirigente sindical do SEPE
Gabriela Proença da Costa - estudante de Artes da UERJ
Gabriel de Melo Souza Paulo - estudante de Letras da UFRJ, DCE UFRJ
José Eduardo BRAUNSCHWEIGER - advogado
Andriev Martins Santos - estudante UFF
João Paulo - estudante Colégio Pedro II (o nome correto seria João Pedro Accioly Teixeira)
Vagner Vasconcelos - Movimento MV Brasil
Maria de Lurdes Pereira da Silva - doméstica

O diretor cultural do DCE da UFRJ, Kenzo Soares, teme pela segurança do menor que encontra-se isolado dos demais presos políticos:
Tenho um amigo, membro do grêmio Estudantil do C.Pedro II São Cristóvão, João Pedro Accioly Teixeira,preso numa unidade prisional para menores a 24 horas sem direito a visita ou comunicação e com pedido de Habeas Corpus e liberdade condicional negados por ter participado de uma passeata em protesto frente a visita do Obama ao Brasil. Embora  11 outros militantes e mesmo uma senhora de 70 anos que passava pelo ato também estejam presos e na mesma situação pela mesma causa, ele é o único que se encontra isolado dos outros por ser menor de idade, ou seja, compartilhando uma cela com outros detentos sem nenhum companheiro presente.
São óbvios e grandes os riscos que sua integridade física e psicológica correm estando ele sozinho, como o de violência física e estupro,podendo ele permanecer nessa situação durante semanas pelo motivo de ter participado de uma passeata durante a qual alguém jogou um coquetel molotov na embaixada norte-americana  na ultima quinta-feira. Não há qualquer prova dele estar envolvido, e os videos das câmeras de segurança da Embaixada que registram o momento estão tendo seu acesso negado enquanto Obama permanecer no país,  até terça, sendo que a audiência que definirá sua liberdade ou encarceramento será amanhã as 11 horas. Ou seja, a única prova real sobre a autoria do coquetel molotov só será liberada após a sua audiência, e uma nova audiência necessária para sua liberação poderá ocorrer talvez somente em semanas.Seu pedido de habeas corpus foi negado textualmente pelo simples motivo de Obama permanecer no Brasil, motivo inclusive inconstitucional, mas assegurado pelo esquema "especial" de segurança que protege o Presidente do Estados Unidos.
Não sei porque, mas o Riocentro me vem logo à cabeça... Imaginem como será em 2014 e 1016!

Conclusão: Humilhação

O Brasil foi humilhado, submetido. Ministros foram revistados, cidadãos brasileiros foram presos e tratados como criminosos por protestar contra o chefe-terrorista, moradores da Cidade de Deus foram intimidados, líderes comunitários ficaram revoltados, mas a mídia e nossas elites se refestelaram: Um sucesso!

Como na época de FHC, aprendemos qual é o nosso lugar, à reboque dos interesses dos EUA, subservientes ao Império. Nem bem o Brasil ensaiou uma posição independente na ONU, ao não apoiar os EUA e a intervenção na Líbia, logo mostrou qual será efetivamente a cara deste governo: Submisso. Talvez a posição do Brasil tenha vindo apenas de um último lampejo de independência, mas a visita de Obama ao Brasil nos faz apenas ter preocupações com o futuro.

A Guerra contra a Líbia, que o Brasil se opôs, foi declarada de nosso território. A demonstração máxima de desrespeito e falta de apreço por parte dos EUA e um recado claro: Somos a potência e vocês nos devem obediência. Infelizmente, Dilma parece ter concordado.

Como discordar do Larte Braga?
No governo Dilma Roussef temos os primeiros presos políticos do país desde o fim da ditadura militar, na farsa do coquetel Molotov atirado contra o consulado norte-americano no Rio, numa manifestação promovida por um partido de esquerda. O PSTU.

A velha e requentada história do Riocentro. A quem interessa?
Este é o Brasil de Dilma? Lamentável!

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Sérgio Pacheco escreveu uma pequena carta a Obama, merece ser lida.
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Perdemos mesmo o respeito, até na Venezuela somos piada. Na Catalunha, destaque para o absurdos da segurança de Obama.

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Update: Os 13 Presos Políticos foram soltos, segundo informa o PSTU:
Durante o final de semana, uma grande campanha foi feita, com atos e milhares de assinaturas de apoio aos presos. "Estamos aliviados e agradecidos por toda a solidariedade. Foi o que garantiu a liberdade ao grupo. Agora é ver se todos estão bem", comemorou Cyro Garcia, presidente do PSTU, partido que tem 10 militantes presos. Cyro criticou o caráter político das prisões e até na libertação. "Nada vai apagar o que aconteceu. Foi um ataque sem precedentes aos direitos humanos. Obama discursou falando da democracia, comemorando não estarmos mais em uma ditadura, mas o governador deixou pessoas inocentes em presídios até que a viagem terminasse. O governo de Dilma, presa na ditadura, não fez absolutamente nada", afirmou.

O grupo ficou em celas isoladas nos presídios, mas ainda assim, os advogados irão averiguar indícios de maus tratos. "Todos os homens em Água Santa tiveram a cabeça raspada", conta Aderson Bussinger, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, que acompanha o caso. "Obama veio aqui e deixou um Guantánamo. E ninguém noticiou", completa Cyro.
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sábado, 19 de março de 2011

Presos Políticos para Obama! 13 brasileiros presos por protestar contra o chefe-terrorista!


Um légítimo protesto contra a visita de Obama ao Brasil, em frente ao Consulado dos EUA no Rio acabou em pancadaria, com a polícia atirando bombas e balas de borracha nos manifestantes que, por seu lado, responderam atirando um coquetel molotov em direção ao consulado e acertando um segurança - este indivíduo, responsável pela bomba não foi preso nem identificado.

13 pessoas foram presas e, de forma inacreditável, encaminhadas sem julgamento para presídios da cidade, sem direito a habeas corpus ou fiança!

São 10 militantes do PSTU, um menor do PSOL, um independente e outro aparentemente do movimento MV Brasil, de direita. As mulheres (são 3) foram encaminhadas para o presídio de Bangu, os homens para o presídio de Água santa, já o menor foi para o Instituto Padre Severiano.
Os advogados do PSTU estão entrando na Justiça com um pedido de libertação dos presos, já que não há provas contra eles. Também questionam os artigos apontados pelo delegado, que torna o crime inafiançável. O partido fará um ato neste domingo, às 10h, contra a visita de Obama e pela liberdade dos presos políticos. Hoje, em Brasília, militantes do partido irão até a Praça dos Três Poderes, também para exigir a libertação
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Aqui a lista de nomes divulgada pelo PSTU
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Os presos estão sendo chamados de Presos Políticos e circula uma petição exigindo a libertação deles.
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Não é compreensível que os presos políticos tenham sido enviados para presídios, sem direito a fiança ou revogação de prisão, enfim, sem direitos fundamentais, por protestar contra a visita do chefe-terrorista ao Brasil!

Deputados e Senadores foram ao tribunal de justiça tentar a libertação dos presos, segundo o PSTU, e não conseguiram nada.

O PSTU, apesar de costumeiramente exagerar, está corretíssimo, são prisioneiros políticos de Cabral e Dilma. O governo é responsável pela integridade física e mental deles, mas além disso, não é dever do Brasil prender seus próprios cidadãos para ficar bem na fita com um terrorista estrangeiro, seja ele o presidente da Namíbia ou dos EUA!

Novamente, ASSINEM A PETIÇÃO pela libertação dos presos políticos!

Sao eles:
Gilberto Silva - eletricista
Rafael Rossi - professor de estado, dirigente sindical do SEPE
Pâmela Rossi - professora do estado e casada
Thiago Loureiro - estudante de Direito da UFRJ, funcionário do Sindjustiça
Yuri Proença da Costa - carteiro dos Correios
Gualberto Tinoco - servidor do estado e dirigente sindical do SEPE
Gabriela Proença da Costa - estudante de Artes da UERJ
Gabriel de Melo Souza Paulo - estudante de Letras da UFRJ, DCE UFRJ
José Eduardo BRAUNSCHWEIGER - advogado
Andriev Martins Santos - estudante UFF
João Paulo - estudante Colégio Pedro II (o nome correto seria João Pedro Accioly Teixeira)
Vagner Vasconcelos - Movimento MV Brasil
Maria de Lurdes Pereira da Silva - doméstica

Enquanto Dilma se reúne com Obama, que mandou suas tropas bombardearem a Líbia, brasileiros são presos para agradar aos EUA!

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Update:
PELA IMEDIATA LIBERTAÇÃO DOS PRESOS DA PASSEATA DE PROTESTO DO RIO!
Nós, parlamentares e dirigentes políticos fluminenses, estamos empenhados na imediata libertação do(a)s cidadã(o)s - trabalhadores e estudantes - presos por estarem participando de manifestação democrática e pacífica, em 18/3, contra a política intervencionista dos governos dos EUA no mundo.
Em inquérito sumário e célere, 12 pessoas foram acusados de atirarem 'artefato incendiário' e 'causar lesões corporais' em funcionário do Consulado norte-americano no Rio e se encontram encarcerados. Os homens, inclusive, já tiveram suas cabeças raspadas!
Desafiamos as autoridades policiais do Rio de Janeiro e também o próprio Consulado estadunidense a provar o envolvimento de qualquer dos detidos no ato de vandalismo.
A continuada detenção desses militantes é arbitrária e injusta, e o Judiciário precisa acolher os pedidos de Habeas Corpus.
Liberdade para os presos já!
Assinam:
Senador Lindberg Farias (PT), Deputados Federais Chico Alencar (PSOL), Jean Wyllys (PSOL) e Stepan Nercessian (PPS), Deputados Estaduais Janira Rocha (PSOL) e Marcelo Freixo (PSOL), ex-Deputado Federal e Presidente Regional do PSTU, Cyro Garcia.
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Libertados os presos políticos detidos durante protesto contra Obama 
Após quase 70 horas detidos, finalmente foram libertados, na noite desse dia 20, os ativistas presos durante uma manifestação contra a vinda de Obama ao Brasil no Rio. Com grande emoção, os últimos presos políticos no presídio Ary Franco foram recebidos pelos próprios companheiros.

As prisões ocorreram na noite do dia 18, em frente ao consulado dos EUA. Acusados de “lesão corporal” e tentativa de incêndio, sem qualquer prova, os ativistas passaram a noite na delegacia e foram transferidos no dia seguinte para presídios. As mulheres foram transferidas para o presídio de Bangu 8, enquanto os homens foram para o presídio Ary Franco, em Água Santa, onde tiveram as cabeças raspadas. Um dos detidos era menor de idade e foi encaminhado ao Centro de Triagem da Ilha do Governador.
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segunda-feira, 14 de março de 2011

Obama no Brasil e a subserviência de sempre

Se aproxima a hora em que Obama chegará ao Brasil para uma visita que, segundo a mídia colonizada brasileira, é histórica. ia 19 e 20 deste mês Obama estará entre nós, trazendo o mesmo cheiro de enxofre que seu antecessor, como bem disse Hugo Chávez há alguns anos.

Mais histórico seria uma visita durante o governo Lula, em que a política externa brasileira foi independente e chegou a desafiar o império. A visita de agora apenas nos traz preocupações, pois nosso chanceler, carinhosamente apelidado pelo Laerte Braga de Anthony Patriot, dá sinais sobre sinais de que nossa política externa sofrará mais uma guinada, de volta para a subserviência fernandiana e laferiana.

Sobre a guinada, recomendo a leitura deste post, em que analiso as diferenças já perceptíveis entre o estilo de Celso Amorim e de Antônio Patriota.

Pois bem, ponto focal da nova diplomacia brasileira - que cheira a naftalina, aliás - é a questão dos Direitos Humanos, ou melhor, a seletividade dos Direitos Humanos, sempre a serviço dos interesses dos EUA.

Retomo o ponto:
Dilma resolveu adotar posição de militante dos DH, o que a coloca alinhada com os EUA. Alinhada pois casos sérios de abuso dos direitos humanos que chegam à ONU costumam se limitar aos do terceiro mundo, enquanto potências aliadas ou mais ou menos amigas dos EUA - vide China - jamais são constrangidas a tal ponto.

Isto significa basicamente um maior alinhamento com os EUA e um afastamento considerável do terceiro mundo, algo que foi a bandeira do governo Lula e um marco na nossa política externa.

Enfim, sabemos ser impossível, mas será que a Dilma não deveria criticar os EUA pelos seus sistemáticos abusos aos Direitos Humanos não só em seu próprio território, mas também em suas bases estrangeiras (como Guantánamo) e instalações secretas? Sem mencionar as ações criminosas no Iraque, no Afeganistão e em boa parte do mundo?

Se Dilma quer efetivamente levantar a bandeira dos direitos humanos, não deveria começar por criticar o maior responsável por violações de direitos humanos no mundo?

Mas Anthony Patriot estava mais preocupado em viajar pelos EUA fazendo jogo de cena, dando beijinho na Hillary e preparando a visita do nosso guia supremo ao país.

O mundo hoje discute acaloradamente o tratamento dispensado pelos EUA a Bradley Manning, o militar que vazou os dados sigilosos dos EUA para o WikiLeaks. Hoje ele encontra-se preso e é sistematicamente submetido à tortura, a mesma tortura a qual são submetidos centenas, quiçá milhares de presos políticos apenas em Guantánamo, em área roubada de Cuba. É impossível contar quantos homens, mulheres e crianças foram e são torturados pelos EUA nos países que ocupa, ou indiretamente através de seus cúmplices israelenses ou títeres pelo mundo inteiro.

Disse o Mello, em seu blog:
O que espanta na resposta de Obama é sua postura pusilânime. Ele que foi eleito sob tantas esperanças, com uma plataforma de mudanças, decepciona a cada dia os que acreditaram nele. Não muda nada e parece conformado com isso.

Quem via Obama como próximo a Lula percebe que ele na verdade é o FHC americano.
O que me surpreende não é isso, pois como presidente dos EUA, Obama nada mais é que um representante dos lobbies sionistas e da guerra. Nada mais é que um rosto dominado por uma máquina muito maior que ele, imparável, corrompida, suja.

O que surpreende, porém, é a política brasileira. A política de adotar o discurso igual ao do império do norte.

E, ainda assim, Dilma levanta a bandeira dos Direitos Humanos e recebe Obama no país como um decente e honesto chefe de Estado, com a mídia em polvorosa, pronta para receber o arauto da modernidade, o grande pai, o nosso guia no caminho do neoliberalismo e da democracia burguesa.
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terça-feira, 27 de julho de 2010

O caso WikiLeaks, Sex and the City e as moscas

A divulgação dos documentos sigilosos pelo site WikiLeaks apenas confirma o que todos sabiam - ou deveriam saber -, que os EUA, seus capachos ingleses e demais aliados não passam de criminosos.

Me surpreende, no entanto, que muita gente tenha sido pega de surpresa por tais revelações. Seria a propaganda yankee funcionando ou apenas uma tentativa de mascarar a realidade como forma de auto-defesa para a cruel realidade em que vivemos?

Qual a surpresa em saber que os EUA são criminosos de guerra? Vejam apenas a atuação de Israel, seu protegido. Será que os EUA não seriam capazes de cometer os mesmos atos? São capazes e os cometem.

O vazamento é providencial. Ao menos aqueles ainda iludidos podem finalmente abrir os olhos. Se tiverem coragem. Mas não acredito em efeitos práticos, ao menos não vejo um efeito imediato na ação das tropas dos EUA e aliados e nem uma mudança no comportamento belicoso do Império.

A invasão do Iraque foi e continua sendo um crime. A ONU jamais deu sua permissão para tal invasão, que aconteceu à revelia da comunidade internacional. Já o Afeganistão, bola da vez do WikiLeaks, foi invadido contando com algum apoio internacional, mas a longo prazo os EUA se viram frente ao mesmo dilema da URSS: O país foi invadido, e agora? Como efetivamente conquistar?

Com a típica ignorância e prepotência que lhe é de costume, os EUA se viram num atoleiro tremendo, sem saída, com promessas várias ditas à imprensa e ao povo afegão, mas frente à uma terrível impossibilidade de cumprí-las. As tropas foram ficando, foram se perdendo e, contra a violência do Talibã, usaram ainda mais violência, cometeram sérios e graves crimes de guerra e não dão mostras de cansar.

Os EUA impuseram um governante corrupto, um sistema político pré-fabricado, uma democracia falseada e passaram por cima não só dos modelos tradicionais locais de governo e poder, como, hoje, se limitam a impor uma paz armada. Apenas em Cabul, pois no resto do país há apenas armas, sangue e dor.

"Soluções" são impostas de cima ara baixo, sem que a população tenha real direito a opinar e propor alternativas. Os anseios da população forma pisoteados pelos interesses das grandes corporações e de Estados criminosos. são todos cúmplices em uma guerra sem fim.

Os EUA cada vez mais se aproximam de uma encruzilhada. Obama, que havia prometido retirar as tropas do atoleiro em que Bush as havia metido, se mostrou nada mais que um típico mentiroso, pré-requisito para assumir um cargo de tamanha importância quanto o de Presidente dos EUA. Suas promessas viraram fumaça tão logo assumiu, e o Prêmio Nobel, hoje, me parece ter sido apenas uma piada cruel que faz a função apenas de destacar o quão distante Obama está de suas promessas de um mundo melhor (sic).

Os EUA falharam miseravelmente.

E, no caso do Afeganistão em particular, falharam por não terem objetivos claros. O objetivo era o de derrotar o Tallibã? O de impor uma democracia? O de impor um líder que conseguisse unificar o país? Falharam em todas - ou sequer tinham real intenção de chegar a qualquer um destes objetivos. Ou o objetivo era o de colocar as mãos nas riquezas locais e de fortalecer sua indústria bélica?

É ilustrativo, porém, observar a reação de EUA e Reino Unido, seus capachos, ao vazamento.
"Os Estados Unidos condenam firmemente a divulgação de informações classificadas por parte de pessoas e organizações que poderão colocar as vidas de americanos e de nossos aliados em risco, e ameaçam nossa segurança nacional", disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, James Jones, em um comunicado de domingo.
A Grã-Bretanha indicou nesta segunda-feira que lamentava o vazamento, mas pediu ao Paquistão que desmantele todos os grupos militantes que operam em seu território.
"Lamentaríamos qualquer revelação não autorizada de material classificado", disse uma porta-voz de Downing Street. "A Casa Branca fez uma declaração. Não falaremos sobre documentos vazados".
Revolta para mascarar o medo de tantas informações terem caído em domínio público.

Vê-se o grau de manipulação dos principais governos envolvidos no conflito: A verdade apavora. O público não tem o direito de saber a verdade, deve ser eternamente mantido na mais completa ignorância.Outro ponto válido é o discurso. Para os ingleses, a Casa Branca fez uma declaração, logo, eles não precisam dizer nada. A subordinação de Londres chega a ser dolorosa!


É curioso saber como o público inglês recebeu a notícia. Os ingleses já não toleravam mais ser capachos sob o comando de Tony Blair, colocaram Gordon Brown para correr e, agora, mesmo com um novo premier, conservador, continuam juntos, de braços dados com os EUA, afundando na lama afegã.
Mas, de certa forma, o "vazamento" de informações não me surpreende da mesma forma que não me anima.

A máquina de propaganda dos EUA logo irá começar a funcionar para apagar o incêndio, jajá sairá do formo um novo "Sex and the City", desta vez gravado no Afeganistão, para mostrar como o consumismo salvou aquele país e as justiças (sic 500 vezes) dos EUA, Inglaterra ou qualquer outro país aliado irá fingir que nada aconteceu e ficará tudo como antes.

Obaa manterá firme e forte seu belo sorriso, enquanto promete mais e mais. Na irá cumprir nada, mas, felizes e cordatos, iremos retribuir o sorriso e propor outro prêmio ao nosso grande salvador.

A diferença entre um presidente republicano e um democrata - ao menos para o mundo -, é que o primeiro é feito, ignorante, de extrema direita. Ele te fode e você não gosta, afinal, que direito tem um caipira texano com diploma comprado de me dizer como viver? Mas os democratas são diferentes. Eles te fodem da mesma forma, mas seus diplomas de Harvard ou Yale e aquele sorriso típico de vencedores te derretem. Você retribui o sorriso e é enganado com gosto.

O Império está em guerra, o Imperador-eleito não passa de uma piada pronta e o mundo ainda é um quintal.

As moscas estão ficando mais agressivas, mas não passam de moscas.
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sábado, 12 de dezembro de 2009

Porque o Nobel para Obama [continua sendo] um crime contra a humanidade

Há quase dois meses escrevi um post intitulado "Porque o Nobel para Obama é um crime contra a humanidade" e, agora, vejo que estava mais do que certo. O Nobel nada mais foi que uma carta branca, um voto de confiança em quem não se pode/deve confiar. Estamos falando, afinal, de um presidente dos EUA, e o que se espera deles?

Guerra.

Obama anunciou dia primeiro de dezembro que enviará mais 30 mil soldados americanos ao Afeganistão, e ainda conquistou com seu sorriso o apóio da OTAN, da Itália e de outros países para que também enfiem mais jovens para a morte.

E a ONU? Bem, como é o costume da organização, endossou a vontade dos EUA e, como é mais ainda de costume aos seus secretários-gerais, elogiaram e quase agradeceram ao mandatário Yankee pelo grande favor de manter suas tropas pelo menos até 2011 no país.

São mais 30 mil soldados indo para o inferno, "pacificar" um país estrangeiro ao mesmo tempo em que sustentam um governo-farsa colocado lá por uma fraude eleitoral monumental e tentam conquistar corações e mentes afegãs. Se não conseguirem vai na base da bala mesmo. Não aprenderam a lição com a URSS. Se bem que os Yankees ainda acreditam que foram eles que derrotaram a URSS e não as contradições internas da própria...

Vietnã nunca foi tão atual!

A retirada, sempre debatida mas nunca real, ficou para julho de 2011.... o começo da retirada, que fique claro.

Eis o nosso prêmio Nobel da... PAZ!?

Mas calma, fica pior.

O Resistir.info nos traz interessante nota:
O NOBEL DA PAZ OBAMA QUER MINAS TERRESTRES O sr. Barack Obama, galardoado com o Prémio Nobel da Paz, decidiu não subscrever uma convenção internacional que proibe minas terrestres. Mais de 150 países concordaram com as cláusulas desta convenção. Tribunal Iraque As eleições farsa promovidas a 29 de Novembro pelos golpistas de Tegucigalpa & Washington tiveram uma resposta à altura do povo hondurenho: 70 por cento de abstenções. O povo recusou-se a participar da farsa montada pela oligarquia hondurenha e orquestrada/financiada pelo agente da CIA Simon Henshaw, o segundo homem da Embaixada dos EUA. Os hondurenhos atenderam assim ao apelo da Resistência e do presidente Manuel Zelaya em favor do boicote maciço.
Dispensa comentários, não?

Vamos apenas alencar alguns fatos curiosos:

Embargo sobre Cuba? Mantido.

Guerra no Afeganistão? Mantida e com direito a mais tropas.

Guantanamo? Aberta e funcional.

Honduras? Vão reconhecer o golpe e endossar o regime-fake.

Israel e Palestina? Todo poder à Israel!

Guerras? Sempre que possível! E agora com mais minas terrestres ainda! Quando a guerra acabar que a população local se vire sem um membro ou dois...

Este é o "nosso" Nobel da Paz.
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Obama, ao receber o prêmio Nobel, esta semana declarou:
"- Os Estados Unidos nunca declaram guerra a uma democracia, os nossos amigos mais próximos são governos que protegem os direitos de seus cidadãos - disse Obama."
Mentira. Sem querer defender Slobodan Milosevic, sejamos sensatos, a Sérvia era uma democracia quando foi bombardeada pelos... EUA! Certos ou errados - não tinham aval da ONU - atacaram uma democracia.

Além disso o Iraque já foi um amigo muito próximo antes da Guerra do Golfo. E foi atacado.

- O objetivo não é ganhar um concurso de popularidade nem ganhar um prêmio, mesmo um prêmio tão prestigioso quanto o Nobel da Paz. O objetivo sempre foi avançar nos interesses dos Estados Unidos - afirmou Obama durante a entrevista, quando perguntado sobre a polêmica em torno de sua premiação.
Disso todos sabem, só interessam os interesses dos EUA e o mundo? Que se exploda. Literalmente.
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Fidel Castro, sempre lúcido, corrobora com minha análise:
""Por que Obama aceitou o Nobel quando já tinha decidido levar a guerra no Afeganistão até as últimas consequências? Não estava obrigado a um ato cínico", disse o ex-presidente de Cuba em um artigo publicado pela imprensa oficial da ilha.
"Agora deve-se esperar outro discurso teatral em Oslo, um novo compêndio de frases que ocultam a existência de uma superpotência imperial com centenas de bases militares espalhadas pelo mundo", declarou. Fidel também lembrou os "duzentos anos" de intervenções militares (dos EUA) no Hemisfério Sul, além de ações "genocidas" em outras partes do mundo.
"O problema de Obama e seus aliados mais ricos é que o planeta que dominam com punho de ferro está escapando de suas mãos. É provável que, em Copenhague, o máximo que consigam alcançar seja um mínimo de tempo para chegar a um acordo que sirva realmente para buscar soluções. Se isso acontecer, a cúpula do clima representaria, pelo menos, um modesto avanço. Veremos se isso vai ocorrer", acrescentou.
"O chefe principal da organização à qual são atribuídos os atentados terroristas de 11 de setembro foi recrutado e treinado pela CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) para combater tropas soviéticas e nem sequer era afegão. O presidente dos EUA não diz uma palavra sobre as centenas de milhares de pessoas, incluindo crianças e idosos inocentes, que morreram no Iraque e no Afeganistão e sobre os milhões de cidadãos desses países que sofrem as consequências da guerra, sem responsabilidade alguma com os fatos ocorridos em Nova York", completou Fidel Castro."
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sábado, 10 de outubro de 2009

Porque o Nobel para Obama é um crime contra a humanidade

Artigo necessário do André Kenji sobre o Nobel dado à Obama. Muitas das minhas percepções foram fielmente captadas pelo autor do artigo, o prêmio é um crime contra a humanidade, um tapa em antigos ganhadores que realmente representam e representaram algo no mundo e lutaram de fato pela paz.

Além disso, age enormemente para desacreditar o prêmio enquanto ferramenta eficaz na luta contra a tirania e pela paz. Virou um instrumento meramente político de agrado à presidentes estadunidenses e não a ferramenta de pressão e reconhecimento de lutas por dignidade.

Alguns deslizes podem até passar ao largo, como o prêmio dado à Gorbatchev ou à Menachen Begin, mas a constante mania de laurear presidentes americanos com o único intuito de provocar os Republicanos e tentar dar um ar de legalidade ao Imperialismo dos EUA pode acabar por destruir a imagem de um prêmio que, se bem usado, pode mudar realidades.

Voltando ao texto, o André se esquece, porém  do Embargo contra Cuba, novamente estendido, desta vez por Obama, que mantém esta violação contra o povo cubano e se alinha - como de costume - coma a extrema direita cubana em Miami.

Vale lembrar também do caso de Honduras, onde se Obama não é diretamente responsável pela preparação e sustentação do golpe, o são seus assessores e, de qualquer forma, Obama nada faz de concreto para resolver a situação, o que está em seu alcance.

O prêmio dado à Obama só tem sentido - se fizemos grande esforço - se o entendermos como uma carta branca para agir, ou melhor, como um incentivo para que este haja em prol da paz, destoando do que normalmente significa ser presidente dos EUA.

Incentivo, recomendação, voto de confiança, carta branca, não importa como chamemos, o fato é que, até o momento Obama se limitou a não ser Bush, não por ter desfeito ou revisto as ações do antigo presidente, mas por prometer rever e sorrir de forma convincente. Um jogo de aparências bem bolado mas que, na prática, apenas suaviza a violência que, porém, persiste.

O prêmio é político, decidido por políticos e, como tal, cobertos e cercados de interesses diversos, e isto fica claro com os prêmios dados à Al Gore, Obama e Carter que, enquanto presidentes - no caso de Gore, enquanto candidato e Vice - não fizeram absolutamente nada em prol da paz e sim apenas asseguraram interesses dos EUA no mundo.

Al Gore fez um vídeo bonitinho sobre meio-ambiente e ganha milhões dando palestras sobre o assunto e Carter, este sim, se tornou um ativista após a presidência, mas enquanto no Salão Oval não é lembrado pela humanidade e luta pela paz. Seu ativismo seria uma tentativa de apagar o passado e o Nobel veio para referendar esta tentativa?

Obama, enfim, ainda não fez nada, manteve o status quo mas com palavras bonitas, é como Clinton que invadia a Sérvia enquanto transava com a secretária e mantinha um sorriso lindo no rosto - e tudo sem a aprovação da ONU mas sob os olhos brilhantes do mundo frente à sua simpatia e carisma.

Obama até agora é isto, uma figura bonita, carismática e carregada de esperança. E fica nisso. Ele agora tem um Nobel para mostrar cada vez que for questionado sobre Guantánamo, sobre o Afeganistão ou sobre qualquer outra guerra que ele porventura resolva travar. É o "cala boca" ideal.


Quantas causas desconhecidas ou pouco conhecidas, mas de grande importância não poderiam ter ganho visibilidade e força se premiadas? Tudo isto em troca de um prêmio para alguém que ao defender Israel defende o Genocídio do povo Palestino?

Obama pode surpreender, não nego, mas não há sentido em ganhar um prêmio pelo potencial de fazê-lo. E, seguindo a história, dificilmente fará.

Enfim, faço minhas as palavras do André, o prêmio dado à Obama é um crime contra as gerações futuras.

Quando vi na caixa de emails o email do newsalert do Huffington Post dizendo que Obama havia ganho o Prêmio Nobel da Paz achei que fosse um tipo de piada ou pegadinha do site. Provavelmente é, embora não seja da turma de Ariana Huffington, mas do Comitê do prêmio. Obama, afinal de contas, foi senador federal por três anos(Sem uma atuação particularmente brilhante, pelo contrário, tendo votado firmemente para financiar as duas guerras) e presidente por cerca de nove meses em que nas ocasiões em que suas intenções caminhavam para a paz fracassou miseravelmente. Não conseguiu fechar Guantanamo, nem impedir a expansão de assentamentos na Palestina. E não só os soldados continuam no Iraque e no Afeganistão como neste último Obama pode aumentar em quarenta mil seu número.(Paul Craig Roberts disse que o prêmio transforma o refrão “Guerra é Paz” em realidade).

Aliás, foi bizarro ver Bill O´Reilly e Chris Wallace discutindo o assunto na Fox News. Ambos se perguntavam pela razão do prêmio, Wallace disse que a grande razão era de que Obama não era Bush. O´Reilly, surprendentemente, diz que Obama faz as mesmas coisas que Bush, e só faz “lip service” na direção contrário. Claro que há um joguinho aí. Como Jeff Jacoby lembra, o Nobel de Física, Química e Economia é escolhido pela Academia Real Sueca de Ciências, enquanto que o Instituto Karolinska, uma instituição médica, escolhe o de Medicina. O Nobel da Paz é escolhido por uma comissão de deputados noruegueses. E bem, políticos na Noruega como políticos em qualquer lugar se preocupam mais com o impacto a curto prazo que credibilidade a longo prazo.
Isso faz sentido. Os três últimos laureados com o prêmio parecem ter sido escolhidos a dedo pensando em ofender Bush e os republicanos em geral. Carter, talvez o presidente moderno mais odiado pelos conservadores mainstream dos EUA ganhou o prêmio em 2002(Quando os próprios noruegueses admitiram que aquilo “era um chute nas pernas de Bush”) Gore, que venceu Bush no voto popular, foi premiado em 2007. Talvez Al Franken, Nancy Pelosi ou Hillary Clinton sejam premiados nos próximos anos.

O problema é que há uma diferença com relação aos outros Premios Nobel. Quando os prêmios foram criados havia muito mais romantismo e menos dinheiro envolvido em pesquisa. Portanto, era muito mais crível que o Nobel pudesse de fato servir de incentivo para pesquisa que contribuisse para o bem da humanidade. Hoje, claro, é muito mais dificil um cientista iniciar uma pesquisa pensando no Nobel, e há incentivos muito mais interessantes. Por outro lado, o Nobel da Paz é um instrumento importante para atrair a atenção da opinião pública para causas importantes. Até 1996, quando o Bispo Carlos Filipe Ximenes Belo e José Ramos-Horta ganharam o Prêmio o Timor Leste era totalmente desconhecido. O prêmio para Jody Williams e a Campanha pelo Banimento de Minas Terrestres no ano seguinte seria fundamental para o banimento desta arma terrível (Imaginem o horror se estas armas estivessem a disposição das guerrilhas no Iraque e Afeganistão). O prêmio para Lech Wallesa em 1983 e Desmond Tutu em 1984 permitiram que estas importantes vozes de dissidência fossem ampliadas.

Toda vez que o prêmio vai para políticos de carreira amplamente conhecidos você tem uma causa importante a menos que perde chance de exposição, você tem vozes dissidentes que acabam silenciadas. Este ano, especulava-se que Hu Jia, um dissidente chinês pródemocracia seria o vencedor. Isso contribuiria para que a China fosse de fato pressionada a impor reformas democráticas. Mas não faltam ativistas em países como Egito e Irã. O jornal The Zimbabwean, uma voz eficiente contra a ditadura de Robert Mugabe, seria um laureado muito mais justo.

O prêmio para Obama, assim como prêmios para outros políticos americanos e conhecidos é um crime contra as causas esquecidas do mundo subdesenvolvido, é um crime contra as vozes que ousam lutar contra a tirania. E a perda de credibilidade do Nobel da Paz é um crime contra as gerações futuras.
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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Perigosos paralelos: Irã e Honduras ou quando palavras importam

Em diplomacia e política externa, uma vírgula pode fazer toda a diferença.

Numa notícia veiculada ontem pelos jornais os EUA reconheciam formalmente Ahmadinejad como presidente do Irã. 5 palavras carregadas de significado.
"'Ele é o líder eleito', respondeu o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, a um repórter que lhe perguntou se a Casa Branca reconhecia Ahmadinejad como o presidente legítimo do país."
Legitimidade não é exatamente a questão Ahmadinejad ou qualquer outro presidente não seriam reconhecidos como "legítimos" pelos EUA semque houvesse um desmantelamento do regime islâmico. A questão é mais profunda, os EUA reconheceram, enfim, que Ahmadinejad foi eleito, passando por cima da fraude, dos protestos e aceitando-o como possível interlocutor caso haja alguma vontade de diálogo futuro.

Se por um lado os EUA buscaram não se intrometer - ao menos no discurso - nos assuntos iranianos, inaugurando uma suposta nova era com Obama, por outro, com estas simples palavras, denunciaram que a não-intervenção dos EUA se tornou o apóio tácito à fraudes e golpes.

O apóio, ainda que tácito e sem entusiasmo dos EUA à Ahmadinejad, é emblemático. Por mais que não influencie, na prática, os protestos da oposição legítima, por outro, acaba tendo um efeito psicológico negativo. Os EUA jogaram a toalha, se antes se distanciavam, agora reconheceram como fato consumado que Ahmadinejad venceu, sem levar em consideração a forma.
Sob críticas da oposição, que pedia uma ação mais firme em favor dos manifestantes, Obama falou em favor do diálogo e do direito de manifestação no Irã, com cautela para não ser acusado de interferência pelo governo do Irã, como o líder supremo fez no sermão em que ordenou aos iranianos que aceitassem o resultado da eleição.
Em lugar da não-intervenção radical os EUA ultrapassaram a neutralidade e foram direto para a aceitação do "inevitável". Dois extremos indesejados e indesejáveis.

O paralelo que podemos traçar com Honduras é claro.

Tanto quanto no caso Iraniano quanto no caso Hondurenho - salvas as suspeitas dos EUA estarem envolvidos em ambos os casos - os EUA, ou ao menos Obama, adotaram uma posição mais próxima da neutralidade e da conciliação - por mais pernicioso que este posicionamento possa ser, especialmente no caso Hondurenho - mas sem reconhecer, felicitar ou fazer afirmações falsamente inocentes as carregadas de significado os governos golpistas de Micheletti ou Ahmadinejad.

O que vemos é uma mudança substancial, ainda que em tom quase neutro ou insuspeito.

Se hoje vimos o reconhecimento de Ahmadinejad como presidente legal e por direito do Irã, nada impede que amanhã o porta-voz da Casa Branca anuncie que "se esgotaram todas as vias de negociação em Honduras" ou ainda que "não existe clima para a volta de Zelaya".

Qualquer variação destas duas terríveis frases/possibilidades "inocentes" seria o mesmo que reconhecer: Micheletti venceu e perdeu o povo Hondurenho.

Especificamente em Honduras, os EUA não vem tendo um papel relevante - assim como o Brasil de Lula, suposto líder da América Latina -, mas é inegável a sua força e relevância, mesmo que sem muito interesse. Uma palavra dos EUA, uma frase mal colocada ou mal interpretada pode fazer a balança de poder se desequilibrar.

Todas as atenções estão voltadas aos EUA.
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terça-feira, 14 de julho de 2009

Honduras: Cenários [Updates]

Difícil encontrar dois ou três analistas que concordem entre si com o que surgirá deste golpe de Estado em Honduras. Podemos meramente analisar os possíveis cenários sem, porém, ter uma resposta final dada a complexidade da situação.

Longe de querer me colocar como grande especialista mas, ainda assim, dou meus pitacos como quem acompanha atentamente a situação e é formado (quase) em Relações Internacionais.

Se é fato que uma significativa parcela da população – em especial a mais pobre e mais beneficiada pelo governo Zelaya – e os movimentos sociais apóiam Zelaya e estão diariamente protestando – e morrendo – pela restauração da democracia, por outro é visível o apoio ao golpe por parte dos setores sociais mais abastados da sociedade Hondurenha, além do judiciário, da franca maioria dos partidos, do congresso em sua maioria e do exército.

Enfim, é uma verdadeira sinuca, um golpe que, apesar de totalmente ilegal, conta com amplo apóio e respaldo de diversos setores-chave de Honduras e o repúdio de outro, a parte da institucionalidade e marginalizado pelo Estado.

Temos, por fim, o lado que defende a democracia, o respeito à constituição e leis de Honduras, o povo, os movimentos sociais e, ainda, todos os demais países do mundo, a ONU, a OEA, a ALBA e etc.

Do outro temos a oligarquia Hondurenha, parte da elite, a maioria do Parlamento e Partidos políticos, além do exército. Mas nenhum apóio internacional.

Nesta questão em particular, as organizações internacionais e demais países podem apenas fazer pressão e esperar que funcione. É isso ou uma intervenção militar e imagino que ninguém esteja disposto a tanto, ao menos não agora.

A volta do Zelaya, como querem os movimentos sociais, povo e todo o mundo encontra a dificuldade suprema de não contar com o apóio da institucionalidade Hondurenha. Como governaria o Zelaya sem o apoio de nenhum partido, do exército ou da justiça?

Indo além, com a volta do Zelaya ao poder, o que fazer com os setores que apoiaram sua derrubada? Não é crível que ficariam no poder, em seus cargos e etc sem qualquer tipo de retaliação, sem punição.

Mas como punir os golpistas se até o judiciário apóia o golpe? Quem julgaria? Como se julgaria?

Os golpistas deram a opção - ou ainda estão analisando a possibilidade - de Zelaya retornar ao país, mas sem qualquer poder, como se anistiado. Esta possibilidade foi frontalmente rechaçada por Zelaya que não aceita voltar como criminoso, mesmo que anistiado.

Para Zelaya só existe a opção de regressar no poder e completar seu mandato. Opção esta que não existe para os golpistas.

Tentando resolver o impasse Micheletti surgiu com outra proposta, a de antecipar as eleições mas, daí, surge um novo problema, quem concorreria? Os mesmos partidos envolvidos no golpe? Os mesmos candidatos golpistas e tudo isso sob os olhos atentos da justiça que até agora tenta dar um ar de legalidade ao Golpe de Estado?

Enfim, vê-se quão complicada é a situação. Não temos - ao menos não de forma visível - setores da justiça, política e forças armadas críticos ao golpe, que poderiam servir de sustentação à uma possível volta de Zelaya e da normalidade constitucional. O que vemos é uma luta entre os "de baixo" e os "de cima", sendo que os primeiros não contam com qualquer apoio de nenhuma força ou setor político, judiciário ou militar.

Neste cenário calamitoso é compreensível o porque do afastamento de Obama ou Lula da situação, talvez chegasse num ponto em que só a intervenção militar seria viável para resgatar o poder tomado pelo golpe e nenhum dos dois países parece ter o interesse em fazê-lo apoiá-lo ou ao menos aventar a possibilidade. Os EUA já tem problemas demais no Afeganistão e o Brasil no Haiti para se aventurar a reconstruir uma Honduras do nada, depondo e destruindo basicamente toda a estrutura que existe hoje.

Como conclusão podemos apenas esperar para ver o que vai acontecer, os cenários possíveis são múltiplos, desde o reconhecimento do golpe e do atual governo, por cansaço, passando por uma volta de Zelaya ao país sem poder algum

1. Por cansaço e inação internacional, o reconhecimento do golpe e do governo golpista como legais, abandono de Zelaya;

2. Por cansaço e inação internacional, o reconhecimento do golpe e do governo golpista como legais, mas com a volta de Zelaya ao país sem qualquer poder;

3. Antecipação das eleições com todas as forças golpistas concorrendo. Zelaya pode ou não voltar ao país;

4. Volta de Zelaya ao país no poder, manutenção da estrutura golpista e quase impossibilidade de governar;

5. Volta de Zelaya ao país no poder poder, verdadeira "limpa" ou expurgo dos golpistas, uma verdadeira reforma na estrutura do país;

6. Guerra civil;

7. Invasão do país por uma aliança internacional para recolocar Zelaya no poder;


Sem dúvida a opção "1" é a mais provável enquanto a "2" e a "3" despontam como favoritas. Uma volta de Zelaya ao país no poder é algo remoto, assim como qualquer intervenção militar séria dos países da América Latina para recolocá-lo no poder. Por fim, a guerra civil é, ainda, uma possibilidade assustadora mas não irreal.

O que se sabe no momento, porém, é que líderes comunitários, lideranças de movimentos sociais e políticos de esquerda estão sendo assassinados. O setor crítico ao golpe vem sendo atacado dia após dia, seja durante protestos com tiros e bombas, seja na calada da noite, enquanto dormem ou na frente de suas casas, por esquadrões da morte.

A direita está seletivamente matando qualquer oposição viável ao seu golpe, o que torna viável a idéia da guerra civil no país.

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Aparentemente a opção bélica e até a guerra civil estão ganhando força.

"Jose Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, deu um ultimato: se as negociações não o levarem de volta ao poder, ele disse que vai considerar outros meios para retornar à presidência em Tegucigalpa. A próxima rodada de negociações está marcada para sábado, na Costa Rica."

Qual será a fórmula de Zelaya para conseguir retomar o poder por "outros meios" é uma incógnita, podemos esperar pela ajuda externa de algum país, mercenários, guerrilha interna...

As possibilidades são múltiplas e o resultado, se a via armada for a certa, será um banho de sangue numa região extremamente fragilizada, conservadora e afeita aos golpes de Estado e violência extrema ao longo de sua história.

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O clima esquentou de vez a opção da Guerra Civil toma corpo e se fortalece. O El País noticia que Zelaya convocou uma insurreição!

"La insurrección es un derecho del pueblo que está consignado en el artículo 3 de la Constitución de Honduras, y los hondureños deben hacer valer sus derechos constitucionales"
A declaração de Zelaya foi dada durante conferência de Imprensa na guatemala, na presença do presidente do país, Alvaro Colom, que o recebeu com honras de chefe de Estado

"No hay que dejar la lucha, hay que mantenerla hasta que los golpistas salgan del régimen de facto que han establecido en nuestro país"

"Yo no me he rendido ni me voy a rendir. Voy a regresar al país en el menor tiempo posible. No quiero avisar la hora ni el día para no alertar a las fuerzas opositoras, que sabemos que son criminales"

Enfim, vai se desenhando o cenário em Honduras, e um conflito armado, uma insurreição popular, desponta como principal opção de Zelaya para retornar ao poder.

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terça-feira, 23 de junho de 2009

Irã: "Influência externa" e notícias do dia [Update]

Do governo iraniano surgiram várias críticas de que países estrangeiros estão tentando se meter nos assuntos internos do país. É uma acusação até pitoresca, vinda do país que financia o Hamas, o Hizbollah e que tem um histórico de estar sempre metido nos assuntos dos vizinhos, em especial do Líbano e da Palestina.

Obama, Neatanyahu, Sarkozy e Brown já comentaram sobre os lamentáveis enfrentamentos entre reformistas e milícia/polícia no Irã, porém, até o momento, sem denotar qualquer tipo claro de intenção intervencionista. Nos bastidores, porém, é a esquerda anacrônica e o governo Iraniano que denunciam intervenções sérias da CIA no processo eleitoral, claramente fraudado.



A fraude clara, por si só, implode qualquer tentativa de caracterizar os protestos como financiados e insulflados pelo exterior, em especial pelos EUA e Israel. Especialmente, aliás, por Israel, que encontra em Ahmadinejad um inimigo muito melhor e acreditam que sua "causa" torna-se muito mais defensável quando o inimigo é aparentemente mais perigoso e radical. Seria, para Israel, um tiro no pé.

A idéia de intervenção da CIA é popular, porém esbarra num ponto: Qual a razão? Mousavi não é a opção dos sonhos dos EUA, ainda que reformista, é um reformista com um "pé" no lado conservador. Enquanto primeiro-ministro não flertava sequer com o lado reformista e já deu mostras de que,l se no campo interno, das liberdades individuais e etc vai fazer uma reforma - ou tentar - no campo externo pouco diferirá de Ahmadinejad.

Talvez dialogue mais, seja mais cortês e não negue diretamente o Holocausto, como faz Ahmadinejad, mas já deu claras demonstrações de que não abandonará o plano nuclear - que ele, aliás, foi um dos criadores, quando Primeiro Ministro. E a questã onuclear é a principal hoje para os EUA.

Será que os EUA teriam todo este trabalho para trocar 6 por meia dúzia, ou ao menos 6 por... 5? Uma pequena "melhora" mas ainda confrontador?

As evidências mostram que, mesmo que em alguns setores haja infiltração da CIA, a juventude em peso está se manifestando, nos últimos meses os jovens já deram mostras de descontentamento com o regime, com a repressão, com o conservadorismo. A presença maciça nas urnas é prova. A Fraude eleitoral clara, admitida até - em parte - pelo Conselho dos Guardiães, demonstra que o regime estava preparado para uma derrota, que os reformistas teriam uma bela vitória e precisavam ser parados. Será que a CIA tem, realmente, toda esta influência? Ou realmente quer ter, nest asituação?



Hoje foi a primeira vez em que Obama elevou o tom das críticas à forma como o Irã vem tratando as manifestações: Com violência extrema.

Disse Obama que "os EUA respeitam a soberania da República Islâmica do Irã e não interferimos em seus assuntos internos, mas não podemos deixar de testemunhar a coragem e a dignidade do povo iraniano."

Sobre os espancamentos, prisões e ameaças, Obama disse condenar "firmemente estas ações", além de ter prestado uma homenagem à Neda: "Vimos esta mulher corajosa se opor à brutalidade e às ameaças e sangrar até a morte. Aqueles que se levantam pela justiça estão do lado certo da História".

Ao fim, porém, fez um alerta ao país, de que deve se engajar com a comunidade internacional e que eles devem decidir se aceitarão esta mão estendida.

O óbvio é que nenhuma mão foi estendida, a negociação emperra sempre que os EUA exigem o fim do programa nuclear, que é direito inalienável do país, mas ainda assim, o discursode Obama possui um tom muito mais baixo que qualquer outro de Bush e antecessores, é mais conciliador.

Claro, em alguns momentos soa absurdo o "ocidente" criticar os abusos aos direitos humanos do Irã, quando temos, só para ficar num exemplo, Guantanamo, mas nada disto muda o fato de que os abusos estão ocorrendo e devem ter um fim.

Ban Ki-Moon fez um apelo ao Irã pelo fim da violência e prisões arbitrárias no país contra os manifestantes e, por isso, foi acusado de intromissão nos assuntos internos do Irã
"Essas tomadas de posição são uma evidente contradição dos deveres do secretário-geral, do direito internacional e são uma aparente intromissão nos assuntos internos do país", protestou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hassan Ghashghavi.

Depis da expulsão de dois diplomatas britânicos do Irã, Gordon Brown respondeu expulsando dois diplomatas de posição equivalente do país, numa troca de gentilezas diplomáticas.

Ainda na questão da "intevenção externa", Lula deu mais uma declaração infeliz:
"Existem coisas quase inexplicáveis no Irã. Você tem uma eleição em que o cidadão tem 62 por cento dos votos, ou seja, é muito difícil que alguém com 62 por cento dos votos ... Aqui no Brasil a gente está acostumado com fraude eleitoral quando a diferença é 1 por cento ou 0,5 por cento",

"Mas quando a diferença é de 62 por cento a 30 e poucos (por cento), não é possível. É difícil ter (fraude)"
Celso Amorim deveria ter a decência de pedir a Lula para evitar falar de assuntos que não compreende e parar de envergonhar o Brasil;

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A onda de prisões de jornalistas continua no Irã, hoje um jornalista grego, à serviço do Washington Times, foi preso, acusado de "atividades ilegais" o que, hoje, significa que ele estava meramente cobrindo as manifestações e passando informações ao mundo.

Os jornalistas presos somam, até agora, 34.
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Quanto às eleições em si, o Aiatolá Ali Khamenei aceitou "a solicitação feita pela secretaria do Conselho dos Guardiães para estender (o prazo) em cinco dias para examinar as queixas dos candidatos," afirmou a TV estatal iraniana.

Isto ao mesmo tempo em que a data para a posse de Ahmadinejad foi fixada entre 26 de julho e 19 de agosto.

Quanto à repressão, parece não ter fim e os resultados serão sentidos à longo prazo:
""Lidaremos com aqueles que foram presos nos eventos recentes de maneira que aprendam uma lição", disse na segunda-feira Ebrahim Raisi, autoridade judiciária de primeiro escalão do país, à TV estatal segundo a agência de notícias oficial Irna. Ele acrescentou que tribunais especiais estão estudando os casos.

"Os desordeiros têm de ser tratados de forma exemplar, e o Judiciário fará isso", acrescentou."
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Update:

Lula não para!

É realmente uma vergonha ter um presidente tão cego.

Agora suas declarações são pedindo que a justiça do país tome uma atitude, oras, é exatamente isto que o governo iraniano quer, que os manifestantes enfrentem a justiça e que, obviamente, passem a vida na cadeia ou pior.
"Há uma oposição que não se conforma (com o resultado das eleições). O resultado desse conflito são inocentes morrendo, o que é lamentável e inaceitável por parte de qualquer democrata do mundo"
CAbe descobrir se é só ignorância, falta de bom senso ou ruindade esta declaração. Será que Lula não sabe QUEM está matando os inocentes?
"Agora, ou a justiça iraniana (intervém), ou o governo e a oposição se sentam e param o conflito, ou há novas eleições, ou se deixa como está, mas o povo não pode continuar sendo vítima da irresponsabilidade dos agentes políticos do Irã"
No fim, vê o óbvio. Lógico que os lados precisam sentar e conversar, bata o Aiatolá ordenar que parem as matanças e a violência contra o povo, é tão simples!
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domingo, 7 de junho de 2009

O Discurso de Obama: Opiniões

De Mauro Santayana, do JB:

O DISCURSO DO CAIRO

por Mauro Santayana

Pouco importa o que virá depois, porque nenhum homem, nenhum povo, tem em suas mãos as rédeas da História. A rota do homem na Eternidade é semelhante às estradas nos mapas antigos, nos quais as cidades eram marcadas sucessivamente em uma linha reta, com os dias de jornada entre uma e outra. Não podemos retificar o caminho da civilização, fazendo-o derivar para mais ao Norte ou mais ao Sul do tempo transcorrido. Só podemos nos situar no ponto em que nos encontramos, neste dia, nesta hora, neste minuto. O discurso de Obama, no Cairo, foi para este dia, esta hora, este minuto. Mas este dia é a soma dos milhões de dias passados.

Em razão disso, o presidente foi lá, nas marcas da rota do mapa antigo, para explicar que somos caminhantes de inúteis e ilusórias intolerâncias.

Obama falou aos muçulmanos, na Universidade do Cairo, que segue a tradição de um dos centros de cultura mais antigos do mundo, a universidade islâmica de Al Azhar, criada no século 10. O discurso de Obama foi importante para mostrar o que tem sido a banalidade da insensatez na história dos povos, e o seu interesse político legítimo se situou no falso confronto entre o islã e a cultura judaico-cristã. Ele poderia ter sido mais claro, na contrição que nos cabe, e se ter referido às Cruzadas e à expedição de Juan de Áustria contra os otomanos, vencidos em Lepanto (1571) pelas forças aliadas da Espanha de Filipe II, da República de Veneza e do papa Pio V.

O exame da História – e nisso Obama foi preciso – mostra que os muçulmanos sempre foram muito mais tolerantes diante de outras crenças do que os cristãos. Ele se referiu à Andaluzia, sob o Califato de Córdoba, que, durante sete séculos, não conheceu perseguição contra os cristãos, nem contra os judeus. As três culturas conviveram bem, como atesta, entre outros documentos, as conversações interreligiosas (Libre del Gentil e dels três Savis, de Ramon Lull, no século 13) entre muçulmanos, cristãos e judeus, quando concluem que têm o mesmo Deus.

As palavras do presidente, não obstante as necessárias e fundadas referências históricas, são ditadas pelos desafios da atualidade. Ele foi corajoso, ao dizer que a guerra contra o Iraque não nasceu da necessidade, mas foi escolha política equivocada. Foi ainda mais firme, quando assegurou que "nenhum sistema de governo pode ou deve ser imposto sobre uma nação, por qualquer outra". Mesmo amenizando o discurso – ao afirmar que os americanos têm relações mais fáceis com os países democráticos de modelo ocidental – trata-se de virada histórica na política externa dos Estados Unidos.

Embora cercado de todos os cuidados, Obama deixou claro que, sob seu governo, o Estado de Israel não contará com a carta branca de Washington para fazer o que desejar. Defendeu, de forma destacada, o direito do povo palestino à autodeterminação, dentro de fronteiras estatais seguras. Condenou, sem qualquer concessão, a existência dos assentamentos judaicos nos territórios atribuídos aos palestinos em 1948, bem como outras formas de violência sobre as populações da Cisjordânia e de Gaza. Não poderia deixar de reclamar também o reconhecimento do Estado de Israel pelos palestinos, mas não conseguiu ocultar a sua simpatia pelos menos poderosos, massacrados periodicamente pelo Exército de Israel.

Outro ponto importante foi o reconhecimento de que Washington derrubara um governo eleito democraticamente no Irã. Ele se referia ao golpe patrocinado pela CIA e pelos serviços britânicos, em 1953, contra Mohammed Mossadegh, que nacionalizara o petróleo e obrigara o xá Reza Pahlevi, aliado das empresas estrangeiras, a buscar o exílio.

Ontem mesmo, a direita norte-americana, acampada no Partido Republicano, insurgiu-se violentamente contra o discurso do presidente. O deputado republicano John Boehner, líder da minoria, disse que o pronunciamento do presidente revelava "fraqueza" dos Estados Unidos. Ao contrário: Obama confirmou velho adágio político, o de que só os fortes podem parecer fracos.

O discurso do Cairo foi o mais importante pronunciamento de um presidente dos Estados Unidos no exterior. A História, se ele conseguir torná-lo realidade, poderá registrá-lo como registrou o de Lincoln, em Gettysburg, em 19 de novembro de 1863, em que o estadista curvou-se diante de todos os mortos de uma guerra que a política não conseguira evitar. O Cairo está na linha histórica da velha cidade da Pensilvânia.

A opinião de Khaled Meshall, do Hamás (via Vi o Mundo):

Khaled Meshall, do Hamás, sobre 'recomeço' de Obama

4/6/2009, Joe Klein, Blog The New Republic - http://blogs.tnr.com/tnr/blogs/the_plank/archive/2009/06/04/insta-meshal.aspx

Joe Klein, 63, é jornalista. É autor de Primary Colors, roman à clef, publicado sob pseudônimo, no qual narra a primeira campanha eleitoral de Bill Clinton. Atualmente é membro do Council on Foreign Relations. Desde 2003 é colunista do grupo Time. Em abril de 2006, publicou Politics Lost, ensaio sobre o que denomina "o completo industrial das consultorias e empresas de pesquisa".

Publica regularmente em The New Republic, The New York Times, The Washington Post, LIFE e Rolling Stone

Wikipedia, http://en.wikipedia.org/wiki/Joe_Klein

Joe Klein entrevistou o líder do Hamás, uma hora depois do discurso de Obama no Cairo. Meshal não deu sinais de ter ficado muito impressionado:

"Não há dúvidas de que Obama fala outra linguagem" – disse Meshall. "Foi discurso cuidadosamente construído. O discurso visou, principalmente, a melhorar a imagem dos EUA e a aplacar os muçulmanos. Não nos preocupam os objetivos dos EUA, mas esperamos mais do que palavras. Se os EUA desejam abrir nova página, nós sem dúvida consideramos bem-vinda essa intenção. Estamos prontos para contribuir nesse esforço. Mas não acreditamos que alguma coisa aconteça só com palavras. É preciso que todos vejam atos, ações. Que os EUA mudem o que fazem, não só o que dizem.

Um palestino que tenha ouvido esse discurso só terá uma pergunta a fazer: e por que não falou sobre o que realmente torna nossa vida impossível? Os palestinos 'ouviram', do discurso, que não houve qualquer menção nem à guerra em Gaza nem aos crimes de guerra praticados por Israel." [Mencionou o uso de bombas de urânio e de fósforo.] "Por mais belo discurso que tenha sido, perdeu credibilidade, porque não fez referência à questão de Gaza."

Meshall recusou-se a fazer qualquer concessão ao discurso. Acha que não cabe a Obama opinar sobre o que o Hamás deva fazer (embora tenha dito que o Hamás está disposto a discutir um cessar-fogo formal), sobre ter de reconhecer o Estado de Israel ou sobre os compromissos assumidos pela Autoridade Palestina, em relação a um processo de paz.

Stein perguntou-lhe sobre essa parte do discurso: "Não é sinal nem de coragem nem de poder, disparar foguetes em quartos onde dormem crianças, ou explodir idosas em ônibus. Assim, nenhuma autoridade moral pode impor-se; assim, de fato, a autoridade moral rende-se." Disse Meshall:

"As ações dos palestinos são reações. Os palestinos só fazem resistir à ocupação. São ações de defesa, de autodefesa. Por que os norte-americanos apoiaram os Mujaheddin contra os soviéticos, no Afeganistão? Por que os ingleses apoiaram os franceses, contra os nazistas? Por que os EUA fizeram uma revolução contra os ingleses? Todos esses são movimentos de defesa. De autodefesa."

Stein respondeu que há diferença entre autodefesa e matar civis. "Em todas as guerras sempre morrem civis" – um dos assessores de Meshall intrometeu-se na entrevista. "Os EUA chamam de "dano colateral".


A opinião de Craig Roberts, do Counterpunch (via Vi o Mundo):

Craig Roberts: E agora?

Mas... e fazemos o quê, do discurso dele?

5-7/6/2009, Paul Craig Roberts, Counterpunch - http://www.counterpunch.org/roberts06052009.html

Paul Craig Roberts foi Secretário-assistente do Tesouro no governo Reagan.

É coautor de The Tyranny of Good Intentions. Recebe e-mails em PaulCraigRoberts@yahoo.com

O que fazemos, do discurso de Obama na Universidade do Cairo, no Egito?

Obama disse "Vim ao Cairo em busca de um recomeço, entre os EUA e os muçulmanos de todo o mundo; recomeço baseado em interesse mútuo e mútuo respeito."

Cairo é a capital do Egito, Estado-fantoche dos EUA, cujo governo reprime todas as aspirações dos muçulmanos egípcios e coopera com Israel no bloqueio de Gaza. Ao contrário da Universidade Islâmica de Al-Azhar, a Universidade do Cairo foi criada como universidade laica. A plateia que ouviu Obama na Universidade do Cairo foi plateia secular.

Seja como for, Obama disse palavras surpreendentes que soaram como palavras de esperança para muitos muçulmanos. Disse que o colonialismo e a Guerra Fria negaram direitos e oportunidades aos muçulmanos e resultaram em Estados muçulmanos serem tratados como fantoches, sem atenção às suas aspirações. Disso surgiram "extremistas violentos" que semearam medo e desconfiança entre os mundos ocidental e muçulmano. Falou do Corão, lembrou seu segundo nome e falou de conexões familiares com o Islam. Elogiou as contribuições do Islam para a civilização.

Também declarou sua "responsabilidade como presidente dos EUA, de lutar contra os estereótipos negativos do Islam, onde quer que apareçam.” Reconheceu a "responsabilidade que temos uns com os outros como seres humanos." Reconheceu o direito do Iran "de construir capacidade nuclear para fins pacíficos". Declarou que "nenhum sistema de governo pode ou deve ser imposto por uma nação a outra".

As palavras mais explosivas tiveram a ver com Israel e Palestina: "Os israelenses têm de reconhecer que, assim como não se pode negar o direito à existência de Israel, tampouco se pode negar o direito dos palestinos. Os EUA não aceitam a legitimidade da continuada construção de colônias israelenses."

Obama declarou que "a única solução possível para atender às aspirações dos dois lados é criarem-se dois Estados, nos quais israelenses e palestinos possam viver em paz e em segurança. Atende aos interesses de Israel e atende aos interesses dos palestinos; atende aos interesses dos EUA e atende aos interesses do mundo. Por isso me aplicarei pessoalmente para chegar a esse resultado, com a paciência que a tarefa exige. Os deveres acordados pelas duas partes no "Mapa do Caminho" são claros. Para que se faça a paz, é tempo de eles – e todos nós – fazermos o que é de nossa responsabilidade."

Para que se faça o que Obama se aplicará pessoalmente para que seja feito, Israel terá de devolver a terra roubada na Cisjordânia, derrubar o muro, aceitar o direito de retorno dos refugiados palestinos e libertar o 1,5 milhão de palestinos que vivem confinados no Ghetto de Gaza. Dado que essa é uma coleção de eventos todos altamente improváveis, a "Solução dos Dois Estados" que Obama endossa é solução que teremos de esperar para saber se algum dia acontecerá.

Depois que amainar a atenção eufórica à retórica idealista, Obama será criticado pelas palavras extravagantes que criam expectativas inalcançáveis.

Mas as palavras extravagantes terão sido alguma coisa além de um primeiro ato para engambelar os muçulmanos, para aquietar a Fraternidade Muçulmana no Egito, Estado-fantoche dos EUA, e para fazê-los engolir sem reclamar a agressão dos EUA ao Iraque, ao Afeganistão e ao Paquistão?

Obama prega mudança, mas continua a praticar o que diz que muda; invoca direitos humanos para ganhar a simpatia dos árabes seculares. Admite que o Iraque foi "guerra escolhida", mas que o 11/9 converteu o Afeganistão em guerra necessária.

Obama disse que "os eventos do 11/9" e a responsabilidade da Al Qaeda, não o desejo dos EUA de ter bases militares e de ser hegemônicos, são as razões pelas quais não diminuirá o empenho com que os EUA combatem o extremismo violento no Afeganistão.

Será que os muçulmanos não verão o quanto há de hipocrisia na defesa que Obama fez do extremismo violento dos EUA no Afeganistão e, agora, também no Paquistão?

Al Qaeda, diz Obama, "escolheu matar cruelmente" cerca de 3.000 pessoas no 11/9 "e mesmo hoje reafirma sua determinação para matar em escala massiva." Essas mortes são uma gota, no mar de sangue que as invasões norte-americanas criaram no mundo muçulmano. Mais: a esmagadora maioria dos muçulmanos que os EUA massacraram são civis, como são civis, também, os palestinos massacrados pelos israelenses que massacram com armas norte-americanas.

Contra a Al Qaeda, cujas "ações são irreconciliáveis com os direitos dos seres humanos", Obama invoca a proibição, no Corão, de matar um único inocente.

Obama não vê que as escrituras aplicam-se também aos EUA e à sua "coalizão de 46 países" em armas?

Todas as guerras dos EUA são guerras escolhidas. O mais de um milhão de mortos no Iraque não foram mortos pela Al Qaeda. Nem os quatro milhões de refugiados iraqueanos são refugiados por obra da Al Qaeda. Pois, para Obama, os iraqueanos estão em melhor situação hoje, com o país reduzido a ruínas e um quinto da população extraviada ou morta, porque se livraram de Saddam Hussein, governo secular.

Ninguém conhece o número exato dos mortos e refugiados produzidos pelos EUA no Afeganistão. Apesar disso, disse Obama, "a situação no Afeganistão comprova os objetivos dos EUA e a necessidade de trabalharmos juntos".

Nos 100 primeiros dias de governo, Obama já criou um milhão de refugiados paquistaneses. Israel precisou de 60 anos para criar 3,5 milhões de refugiados palestinos.

O que Obama realmente fez com seu discurso foi aceitar a responsabilidade por implantar a agenda dos neoconservadores, de ampliar a hegemonia ocidental mediante o extermínio dos "extremistas muçulmanos", quer dizer, muçulmanos que querem governar-se eles mesmos, seguindo o Islam como o entendem, não como alguma espécie secularizada e ocidentalizada de falso Islam.

Muçulmanos extremistas são criaturas criadas por décadas de colonização e secularização ocidentalizantes que criaram uma elite que só é muçulmana no nome, para governar povos religiosos e suprimir os saberes islâmicos. Todos os especialistas sabem disso, e a maioria deles saúda o projeto como meio para levar progresso e desenvolvimento ao mundo muçulmano.

Obama disse que "o progresso humano não pode ser negado", mas "não precisa haver contradição entre desenvolvimento e tradição.” Mas é o ocidente quem define desenvolvimento e educação. Essas palavras significam o que nelas lemos, só no ocidente. As mesmas palavras, para os muçulmanos extremistas, significam ameaça de extermínio do Islam.

De modo tipicamente norte-americano, Obama ofereceu dinheiro aos muçulmanos, "desenvolvimento tecnológico" e "centros de excelência científica".

Basta que os muçulmanos cooperem com os EUA e sejam pacíficos... e, então... os EUA respeitarão "a dignidade de todos os seres humanos".

A opinião de Uri Avnery (via Vi o Mundo):

Uri Avnery sobre o discurso de Obama

Discurso de Obama: o tom e a música*

Uri Avnery, 6/6/2009

Um homem falou ao mundo, e o mundo ouviu.

Subiu ao palco no Cairo, só, sem quem o recebesse e sem assessores, e pregou um sermão a uma platéia de bilhões. Egípcios e norte-americanos, israelenses e palestinos, judeus e árabes, sunitas e xiitas, coptas e maronitas – e todos o ouviram atentamente.

Desdobrou à frente de todos o mapa de um novo mundo, mundo diferente, sobre cujos valores e leis falou fala simples e clara – uma mistura de idealismo e política prática, visão e pragmatismo.

Barack Hussein Obama – como cuidou de dar-se nome, ele mesmo – é o homem de mais poder em toda a Terra. Cada palavra que diga é um fato político.

“Um discurso histórico", declararam comentadores, em uma centena de idiomas. Prefiro outro adjetivo.

O discurso foi correto.

Cada palavra em seu lugar, cada sentença, precisa; todos os tons em harmonia. A obra-prima de um homem trazendo nova mensagem ao mundo.

Desde a primeira palavra, todos os presentes na Universidade do Cairo e o resto do mundo sentiram a honestidade do homem; que coração e fala estavam em harmonia; que não é político à moda antiga – hipócrita, solene, calculista. A linguagem corporal e suas expressões faciais falavam claras.

Por isso o discurso foi tão importante. Uma nova integridade moral e um novo senso de honestidade aumentaram o impacto do conteúdo revolucionário. E não há dúvidas de que foi discurso revolucionário.

Em 55 minutos, não só varreu os oito anos de George W. Bush, mas também varreu boa parte de décadas anteriores, desde a II Guerra Mundial.

A nave norte-americana mudou de rota – não com o peso e a lentidão que se espera de um cargueiro, mas ágil como lancha a motor.

Isso implica muito mais que uma mudança política. Chega às raízes da consciência nacional norte-americana. O presidente falou a centenas de milhões de cidadãos norte-americanos, tanto quanto a um bilhão de muçulmanos.

A cultura norte-americana carrega o mito do Oeste Selvagem, com seus 'mocinhos' e seus 'bandidos', com justiça pela violência e duelos ao sol do meio-dia. Dado que a nação norte-americana é feita de imigrantes de todo o mundo, sua unidade parece sempre exigir um inimigo ameaçador que venha do mundo exterior – como os nazistas, os japoneses ou os comunistas. Depois do colapso do império soviético, o Islam assumiu o papel.

Cruel, fanático, sedento de sangue, aquele Islam; Islam como religião de morte e destruição; um Islam que quer o sangue de mulheres e crianças. Esse inimigo capturou a imaginação das massas e ofereceu material para a televisão e o cinema. Ofereceu temas para conferências e palestras de professores e letrados e inspiração renovada para autores mais populares. A Casa Branca foi ocupada por um néscio que declarou uma "Guerra ao Terror" em todo o planeta.

Agora, quando Obama destroi pela raiz esse mito, revoluciona a cultura norte-americana. Varre para o lixo o quadro do inimigo único, sem inventar outro inimigo que o substitua. Prega contra a própria atitude de adversário violento e trabalha para substituí-lo por uma cultura de parceria entre nações, civilizações e religiões.

Vejo Obama como o primeiro grande mensageiro do século 21. Filho de uma nova era, na qual a economia é global e toda a humanidade enfrenta risco de não sobreviver no planeta Terra. Uma era na qual a Internet conecta um rapaz na Nova Zelândia e uma moça na Namíbia, em tempo real; quando uma doença que surja numa vila mexicana espalha-se para todo o mundo em poucos dias.

Esse mundo exige uma lei mundial, uma ordem mundial, uma democracia mundial. Por isso o discurso foi realmente histórico: Obama traçou os contornos básicos de uma constituição mundial.

E enquanto Obama proclama o nascimento do século 21… o governo de Israel está voltando ao século 19.

O século 19 foi o século em que os nacionalismos mais estreitos, autocêntricos, agressivos, enraizaram-se em muitos países. Século que santificou a nação beligerante que oprime minorias e subjuga vizinhos. Século que fez nascer o moderno antissemitismo e a reação a ele: o moderno sionismo.

A visão de Obama não é antinacional. Ele fala com orgulho, da sua nação norte-americana. Mas o nacionalismo de Obama é de outro tipo: é nacionalismo inclusivo, multicultural e não-sexista; inclui todos os cidadãos de um país e respeita os demais países.

Esse é o nacionalismo do século 21, que inexoravelmente buscará estruturas supranacionais, regionais e mundiais.

Comparado a isso, como é miserável o mundo mental da direita israelense! Como é miserável o mundo violento, religioso-fanático dos colonizadores dos "assentamentos" – que são "colônias", não são "assentamentos" –, o ghetto chovinista de Netanyahu, Lieberman e Barak, o mundo racista-fascista fechado nele mesmo, de seus aliados Kahanistas!

É preciso entender a dimensão moral e espiritual do discurso de Obama, antes de considerar suas implicações políticas. Obama e Netanyahu estão em rota de colisão, sim, mas não só na esfera política. A colisão que está em processo é colisão entre dois mundos mentais, tão diferentes um do outro como o sol e a lua.

No mundo mental de Obama, não há lugar para a direita israelense, nem para seus equivalentes em outras partes do mundo. Nem para a terminologia da direita, nem para os "valores" da direita, nem, muito menos, para as ações da direita israelense.

Na esfera política, também, há uma ravina aberta a separar os governos de Israel e dos EUA.

Durante os últimos anos, sucessivos governos israelenses surfaram a onda da islamofobia que se espalhou pelo ocidente. O mundo islâmico foi posto como inimigo mortal, os EUA galopavam sombriamente rumo ao Choque de Civilizações; em cada muçulmano viu-se um terrorista potencial.

Os líderes da direita em Israel rejubilaram. Afinal, os palestinos são árabes; os árabes são muçulmanos; os muçulmanos são terroristas – e assim Israel garantia lugar de protagonista na guerra entre os Filhos da Luz contra os Filhos das Sombras.

Foi o Jardim do Éden dos demagogos racistas. Avigdor Lieberman pôde defender a expulsão dos árabes, de Israel; Ellie Yishai pôde propor leis para revogar a cidadania dos não-judeus. Membros obscuros do Parlamento chegaram às manchetes dos jornais, com leis que pareciam paridas em Nuremberg.

Esse Jardim do Éden acabou. As implicações disso apareçam logo, ou demorem mais para aparecer – têm direção óbvia. Se insistir no caminho em que está, Israel será convertida em colônia de leprosos.

O tom faz a música – o que se aplica também às palavras do presidente sobre Israel e Palestina. Falou longamente sobre o Holocausto – palavras sinceras e corajosas, cheias de empatia e compaixão, recebidas em silêncio pelos egípcios, mas com respeito. Destacou o direito de Israel à existência. E, sem pausa, falou sobre o sofrimento dos refugiados palestinos, a situação intolerável em que vivem os palestinos em Gaza, as aspirações dos palestinos, por um Estado deles.

Falou com respeito sobre o Hamás. Não mais uma "organização terrorista", mas parte do povo palestino. Exigiu que reconheçam Israel e parem a violência, mas também deixou claro que considerará bem-vindo um governo palestino de unidade nacional.

A mensagem política foi clara e inequívoca: a Solução dos Dois Estados tem de ser implantada. Obama pessoalmente se empenhará para que aconteça. A construção nas colônias tem de parar. Diferente dos antecessores, Obama não calou e pronunciou a palavra decisiva: "Palestina", nome de um território e de um Estado.

E não menos importante: a guerra do Iran foi excluída da agenda. O diálogo com Teeran, parte do novo mundo, não tem limite de tempo. De agora em diante, que ninguém, nem em sonho, espere algum "OK" dos EUA, para que Israel ataque o Iran.

COMO o governo de Israel respondeu? Primeiro, a reação foi de negação: "foi discurso sem importância". "Nada de novidade". Os comentaristas do establishment israelense selecionaram algumas poucas frases pró-Israel e ignoraram as demais. Afinal, "são só palavras. Ele fala. Nada acontecerá, de diferente."

Isso é nonsense. Palavras do presidente dos EUA jamais são "só palavras". São fatos políticos. Fazem mudar as percepções de centenas de milhões. O público muçulmano ouviu-as atentamente. O público norte-americano, também. É possível que a mensagem precise de algum tempo para reverberar.

Mas, depois desse discurso, o lobby pró-Israel jamais será o que foi antes do discurso. A era dos “foile shtik” (hídiche, "truques sujos") acabou. A desonestidade matreira de um Shimon Peres, o fingimento traiçoeiro de um Ehud Olmert, a conversa falsa de um Bibi Netanyahu – tudo isso é passado.

O povo de Israel, agora, tem de decidir: ou segue o governo de direita até a inevitável colisão com Washington – como os judeus fizeram há 1940 anos, quando seguiram os zelotes em guerra suicida contra Roma –, ou juntam-se à marcha de Obama rumo a um novo mundo.

* URI AVNERY, 6/6/2009, "The Tone and the Music", Gush Shalom [Grupo da Paz], Telavive, em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1244289868.

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