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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Putin irá abandonar Assad pelas promessas sauditas?

Alguns notaram um "abrandamento" no discurso de Putin em relação a Síria que em poucos dias anunciava que estaria disposto a até atacar os Sauditas caso os EUA atacassem Assad e agora fala que poderia apoiar uma intervenção no país caso fosse provado o uso de armas químicas por parte do regime.

Este artigo [em inglês] que o Guga Chacra passou no Twitter ajuda a entender a aparente mudança.

Sutil, mas ainda assim significante em termos de discurso. E de desdobramentos. Por mais que no geral seu discurso pareça o mesmo - belicoso em defesa da Síria - há alguns pontos para o debate.

Em outras palavras (ou traduzindo e resumindo), os sauditas prometeram colaborar e cooperar com os projetos de gás e petróleo russo na região, garantiram a segurança da base russa na Síria e, mais importante ao meu ver - e também um ponto importante para outros tema e discussões - garantiram a segurança das olimpíadas de inverno de Sochi.

Como?

Controlando as milícias chechenas.
“I can give you a guarantee to protect the Winter Olympics next year. The Chechen groups that threaten the security of the games are controlled by us,”
escrevi diversas vezes sobre o tema, e é notável a mudança no foco da resistência chechena que inicialmente era absolutamente étnica, ou seja, tratava-se de uma minoria lutando pela independência da região tendo por base as diferenças culturas, étnicas e históricas dos chechenos em relação aos russos. Após a Primeira Guerra Chechena o foco foi mudado para uma luta com tons fundamentalistas islâmicos até que, após a Segunda Guerra Chechena a coisa degringolou e hoje fala-se mais em um "Califado do Cáucaso" que em uma República chechena.

Em outras palavras, hoje a resistência chechena é majoritariamente guiada por uma ideologia fundamentalista islâmica. E quem está por trás disso é a Arábia Saudita. É bom notar, no entanto, que ainda há representantes da "ala nacionalista" disputando espaço, porém são hoje minoritários frente a "ala islâmica".

Este é um dado conhecido, mas nunca publicamente declarado pelos Sauditas, que sempre preferiram negar e, por debaixo dos panos, financiar a Al Qaeda e outros grupos jihadistas semelhantes.

Para além da oferta generosa e tentadora à Rússia, fica o final reconhecimento de que quem está por trás da guerrilha chechena - e podemos assumir de outras também - é a Arábia Saudita.

A grande questão neste momento, porém, é entender o que move os sauditas. O mero fato de Assad ser laico e impor dificuldades à proliferação de grupos apoiados por sauditas na região não me parece, sozinho, motivo suficiente para tanta sede ao pote em sua derrubada.

Mas o fato é que a cada dia que passa vemos que o grande ator na região do Oriente Médio não é os EUA ou a Rússia, nem mesmo Israel ou o Irã, mas a Arábia Saudita. Seus interesses estão por trás de boa parte dos últimos acontecimentos relevantes na região, inclusive de intervenções americanas.

E a certeza que fica é: Caso estas propostas convençam Putin, Assad pode estar com os dias contados e, vale notar, hoje ele está vencendo a guerra.

É claro que, no fim das contas, Putin possa estar apenas buscando uma porta de saída para a crise Síria sem se comprometer, afinal provas contundentes de uso de armas químicas seriam um argumento válido politicamente para trocar de aliado(s).
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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Os EUA irão atacar a Síria?

"I have a dream". Martin Luther King
"I have drones". Barack Obama
Obama está em vias de atacar a Síria. Como Bush, baseado em premissas falsas ou, ao menos, sem informações suficientes para chegar à conclusão que chegou: a de que a síria teria armas de destruição em massa e que as teria usado - no caso, armas químicas - contra a população.

Não há confirmação sequer de que o ataque que custou, diz-se, a vida de ao menos mil pessoas na Síria tenha ocorrido. Algumas fontes apontam para a falsificação de fotos e de dados.

Mas, assumindo a veracidade do ataque, novamente temos um problema: Ninguém sabe a origem. É óbvio que o exército Sírio poderia ter sido responsável, mas tal movimentação teria sido burra. Assad está vencendo a guerra, não teria razões para um ataque que faria a "comunidade internacional" ter argumentos para atacá-lo. Claro, um ditador é sempre um ditador e, como tal, imprevisível.

Por outro lado, tal ataque poderia ter sido realizado pela "resistência", coalhada de membros da Al Qaeda e outros malucos do tipo (além de uma parcela que efetivamente luta por democracia, mas ainda pequena). Shoko Asahara e seu ataque de Sarin ao metrô de Toquio são a prova de que um grupo organizado teria capacidade de um ataque com armas químicas.

E, lembremos, a Al Qaeda e outros grupos não são conhecidos pela compaixão mesmo pelo seu próprio povo ou apoiadores e poderia ter usado armas químicas como forma de culpar a Síria e acelerar uma resposta por parte dos EUA.

E para quem está pensando "os EUA vão novamente se juntar contra a Al Qaeda e depois fingir que não sabiam de nada?", a resposta é "sim". Afeganistão 2.0.

Assim como Bush 2.0 na mentira sobre armas de destruição em massa e Iraque 2.0 na destituição de um ditador sob falsos pretextos.

Ainda que, no caso, os EUA jurem de pé junto que a intenção é "dar uma lição" e não derrubar Assad.

Fiquemos de olho.

O complicador na questão é a Rússia, que alertou que poderá atacar a Arábia Saudita em retaliação. A declaração é possivelmente uma bravata na tentativa de frear Obama, mas ainda assim uma bravata perigosa.

No fim das contas, os EUA estão agindo da única forma que conhecem, com violência insensata, com ignorância, abusando de informações falsas, manipulando a opinião pública e, enfim, fazendo o que querem, como querem e da forma que querem sem se preocupar com mais nada.

A opinião interna dos EUA não suportará outra guerra. Obama prometeu que sairia de lamaçais por onde Bush se embrenhou, prometeu que fecharia Guantánamo e, no fim, pode acabar enfiando os EUA em mais um lamaçal.

E em mais um lamaçal de mentiras e hipocrisia. Em declaração à CNN, Obama declarou que "quem contraria a legislação internacional deve ser punido". Oras, então os EUA deveriam ter sido punidos há décadas. Nunca serão.

E completou: "Os EUA querem impedir que a Síria volte a usar armas químicas...não tomei uma decisão, recebi alternativas das Forças Armadas e tive diversas reuniões com a equipe de Segurança."

Os EUA querem impedir uma vitória de Assad com base em informações falsas ou pelo menos inconclusivas. E farão o que for possível para tanto. É a mensagem.E nada mais que o modus operandi dos EUA desde sempre.

É possível que um ataque dos EUA não culmine com uma invasão/ocupação, mas a situação da Líbia acaba por mostrar que qualquer opção é ruim. Um ataque dos EUA poderia desequilibrar a situação síria, fazendo com que a balança que hoje pende para Assad, mude para dar vantagem aos rebeldes.

É impossível ter certeza se haverá ou não um ataque, mas conhecendo a história dos EUA, é provável.

E uma intervenção teria repercussão por todo o Oriente Médio, em especial se a Rússia cumprir sua ameaça, o que poderia incentivar ainda Israel a se juntar às animosidades, e mesmo complicar a situação interna libanesa e atiçar os ânimos iranianos.

Saddam era odiado, Kadaffi não era amado, mas Assad e a Síria tem posição importante no Oriente Médio e desperta muito mais paixões. Fosse outro país e não os EUA, tal atitude seria considerada puro terrorismo.
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Da Primavera Bérbere ao Outono Islâmico

O que começou como um movimento de libertação nacional da minoria Bérbere no norte do Mali e a posterior formação do Estado de Azawad acabou como uma queda de braços entre a França, com aval da ONU e do governo malinês, e grupos islâmicos radicais, como o Ansar Dine e o Movimento pela Unidade e pela Jihad, da África Ocidental (Mujao), e a Al Qaeda do Magreb, todos ligados à Al Qaeda.
Por detrás da queda de braço, interesses étnicos, religiosos e financeiros.

De um lado tribos bérberes organizadas no MNLA (Movimento Nacional de Libertação do Azawad) e seus ex-aliados pontuais ligados à Al Qaeda, e do outro os interesses comerciais franceses e internacionais em uma região rica em minerais como urânio disfarçados por preocupação humanitária.
Os Bérberes encontram-se espalhados por diversos países do norte da África, sendo os Curdos daquele continente, ou seja, uma população de tamanho considerável, sem Estado, e espalhada por diversos outros Estados onde, em muitos casos, é tratada como inferior, tem sua língua proibida ou sua veiculação dificultada.

No Mali, os Tuaregues, ramo local do povo Bérbere, já ensaiaram dezenas de revoltas contra o governo central malinês com maior ou menor sucesso e buscam a formação de um Estado que abarque todos os Tuaregues em países vizinhos. Parece que não foi desta vez.

Fortalecidos por armamento vindo da Líbia e com soldados treinados por Khaddafi, o MNLA pôde pela primeira vez realmente impor perigo real ao governo malinês.

Após um golpe de Estado no Mali, em 21 de março de 2012, cerca de 3 mil rebeldes do MNLA tomaram de assalto as três grandes cidades de Kidal, Gao e Timbuktu – capitais regionais do norte do Mali – em meio à completa fragilidade do governo central e declararam sua independência.

O Mali vinha passando há meses por um processo de deterioração de suas instituições, seguido por um golpe de Estado e pela imposição de um governo de transição que buscava agregar diferentes posições políticas e foi surpreendido por mais uma revolta Bérbere, desta vez bem sucedida - ao menos temporariamente.

A vizinha Argélia também enfrenta dificuldades no combate tanto aos Tuaregues quanto à minoria Cabile, também de origem bérbere, na região do Mediterrâneo. Desde 1980 e da chamada Primavera Bérbere (que tomou nova força a partir de 2011 junto à Primavera Árabe na vizinha Tunísia) e da Primavera Negra de 2001 (quando perto de uma centena de Béberes Cabiles foram assassinados e milhares ficaram feridos ou mutilados em ações violentas do governo argelino contra manifestações por autonomia em um cenário de revoltas populares locais) lutam por maior reconhecimento de sua língua e cultura no país usando métodos pacíficos de manifestação, que muitas vezes são reprimidas com violência.

Já em abril de 2012 o MNLA e demais grupos islâmicos "aliados" controlavam virtualmente todo o norte do Mali, porém tensões entre estes grupos acabaram por decretar a derrota do MNLA e a perda das principais cidades conquistadas.

Para tanto, o MNLA contou com o apoio de grupos islâmicos radicais, mais interessados na formação de um califado fundamentalista do que em uma pátria para os Bérberes que, em geral, tendem para o laicismo ou para um islamismo moderado.

Financiados muito provavelmente pela Arábia Saudita e por poderosos do Golfo Pérsico, os grupos islâmicos ligados à Al Qaeda buscam se apoderar de uma região que tradicionalmente professou e professa um islamismo moderado, de escola jurídica Malikita e onde o Sufismo, vertente mística e não-radical, impera.

Monumentos Sufis e tumbas de importantes líderes da corrente foram destruídos pelos radicais.
Contra diversos prognósticos, o MNLA foi derrotado por seus aliados pontuais e o sonho de um Azawad livre se tornou mais difícil, mas não o sonho dos islamitas radicais de controlar a região e buscar, por fim, o controle de todo o Mali e de usar este território como base para ataques aos países vizinhos.

Ainda é difícil compreender completamente o que levou o MNLA à derrota em tão pouco tempo, especialmente quando consideramos sua maioria numérica e mesmo superioridade em termos de equipamentos bélicos, mas o fato é que foram virtualmente neutralizados e expulsos das principais cidades conquistadas.

É possível apontar, ao menos em algumas cidades, para a fragilidade do controle do MNLA que não apenas tinha de manter controlados os islâmicos radicais como combater outros grupos locais ligados à etnias minoritárias ou mesmo majoritárias localmente.

Conflitos ainda acontecem em cidades do norte, onde se enfrentam grupos islamitas que agora se opõem a um Estado Bérbere (preferindo a conquista de todo o Mali e a fundação de um Estado islâmico onde impere a Sharia) e o MNLA enfraquecido. O MNLA ainda tem de enfrentar a resistência da população em cidades como Gao, onde a maioria da população pertence a minorias africanas, como Fulas e Songais, que contam com sua própria milícia, e Ganda Iso.

De uma Primavera Bérbere, aos moldes da Primavera Árabe que varreu o Oriente Médio e o norte da África em 2012 e aos moldes dos movimentos autonomistas Cabiles, a situação passou a ser um Inverno Islâmico e um pesadelo real para a França, antiga metrópole que conta com a presença de 2.500 soldados no país e parece ser a única esperança do governo central malinês e de sua população na resistência ao fundamentalismo - mas cujo apoio não virá de graça em uma região rica em minérios.
Esta esperança, porém, sepulta os sonhos da população Bérbere do norte.

O fato é que a ONU busca intervir na região e conta com o apoio do exército francês e do apoio logístico do Reino Unido e da Alemanha. O Conselho de Segurança das Nações Unidas já deu sua permissão para uma ação francesa na região, apesar da discordância pontual dos EUA, que preferia uma ação comandada pela CEDEAO/ECOWAS (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), possivelmente para poder depois negociar melhores contratos de exploração dos minérios locais sem ter de passar pela França.

É preciso ainda recordar que originalmente o MNLA encontrou forças e armamento para derrotar o exército malinês no norte do país devido à intervenção dos EUA na Líbia, que conta também com significativa minoria Bérbere (Tuaregues e outros) que integrava, dentre outras, as forças de elite do exército de Khaddafi.

A situação, ao menos do ponto de vista diplomático, parece mais simples do que a situação, por exemplo, da Líbia e da Síria, onde existia resistência a uma intervenção, no caso da Líbia, e onde ainda existe muita confusão sobre os diversos grupos que se degladiam, no caso da Síria, e cujo governo ainda conta com apoio da Rússia e da China, tornando uma decisão na ONU difícil.

No caso do Mali, nem os islâmicos radicais ligados à Al Qaeda nem os rebeldes Bérberes contam com apoio internacional, ao menos não declarado - ainda que seja provável o apoio de radicais e milionários sauditas aos guerrilheiros islâmicos. Uma intervenção militar estrangeira torna-se portanto, factível, apesar do pouco interesse que o governo francês ou qualquer outro possa ter em ir para a linha de frente em uma batalha que pode custar vidas e trazer perdas políticas em casa.

Apenas os minérios e a possibilidade de contratos vantajosos - a região do norte do Mali, Azawad, é rica em minérios - justificam uma intervenção, assim como, em menor parte, o temor do fortalecimento de guerrilhas islâmicas na região do Magreb, que poderia causar impactos em todo o norte da África
O líder do Mujao, Abou Dardar, chegou a ameaçar atacar "o coração da França" caso o país mantenha sua cooperação militar com o Mali no combate às milícias islâmicas. Em Paris, o nível de alerta terrorista foi elevado e a segurança de pontos turísticos e de interesse reforçada.

Por outro lado, lideranças no MNLA ofereceram-se para ajudar a França a derrotar os islâmicos, mas não se sabe qual é o preço de sua ajuda e, tampouco, se estão dispostos a abrir mão de sua independência efêmera (que durou apenas de abril a junho de 2012) para receber ajuda externa no combate aos islâmicos. De fato, é complicado saber se o MNLA receberá ou oferecerá ajuda nesta questão, tudo depende de complicados arranjos políticos.

Enquanto a situação do Mali piora, militantes islâmicos impõem a Sharia pelo norte do país e já há casos reportados de penas de amputação aplicadas a criminosos e penas a quem insiste em ouvir música ou mesmo a quem utiliza toques de celular considerados "não islâmicos".

Na vizinha Argélia, centenas de estrangeiros foram feitos reféns por um grupo islâmico solidário aos radicais islâmicos malineses, possivelmente o braço da Al Qaeda no país, e vários foram mortos após a intervenção do exército do país. Outros ataques de milícias islâmicas solidárias não podem ser descartados.

Quando da tomada de poder por parte dos Bérberes do MNLA e a fundação do Estado de Azawad, o temor era do espalhamento do conflito com a adesão de grupos Bérberes de países vizinhos.
Hoje, o temor não é mais o de uma nova Primavera Bérbere, mas de um levante islâmico na região do Magreb que coloque a segurança internacional em risco.

Publicado originalmente no Brasil de Fato.
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sábado, 28 de abril de 2012

1937-2012 - Nunca esqueceremos de Gernika

Nos 75 anos do bombardeio criminoso da cidade basca de Gernika, só consigo me lembrar da minha visita ao Gernikako Bakearen Museoa (Museu da Paz de Gernika) ano passado.

Em uma pequena sala, reproduzindo uma típica casa basca dos anos 30, ouvimos uma senhora falar sobre seu dia através do sistema de som. Na nossa frente, um espelho, atrás, a reprodução fiel da casa. Acolhedora, simples, típica.

A senhora conta sobre seu dia, sua vida, seu medo pelos dias de guerra, seu temor pela vida de seus filhos, amigos e vizinhos e à medida que conversa conosco, ouvimos sirenes alertando para a aproximação de aviões. Um ataque aéreo é iminente.

Poucos segundos depois ouvimos as bombas, os gritos, o desespero. A sala fica escura, com flashes de luz enquanto os gritos de desespero ecoam. Momentos depois - impossível precisar, aprecia quase uma hora, mas provavelmente forma apenas alguns segundos - enquanto compartilhamos da agonia e desespero sentidos pelos bascos de Gernika naquele dia, ha 75 anos, as luzes começam a voltar, e no espelho na nossa frente, dupla-face, vemos os escombros deixados pelo bombardeio.

O artigo completo pode ser lido na minha coluna "Defenderei a casa de meu pai", no Diário Liberdade.
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quinta-feira, 19 de maio de 2011

O "assassinato" de Osama Bin Laden

São várias as análises que podem ser feitas sobre o anúncio dos EUA de que teriam assassinado Bin Laden.
 
Mas, antes de mais nada, fica a incredulidade, especialmente em se considerando o timing, com o momento escolhido por Obama para realizar a operação e, claro, o local onde Bin Laden foi supostamente morto.
 
Em primeiro lugar, é interessante que a morte de Bin Laden tenha vindo exatamente no momento em que os EUA estão sendo bombardeados por críticas internacionais (e mesmo internas) contra a ação desastrosa na Líbia. Enquanto a França pressiona por uma invasão por terra, a Rússia ameaça agir contra a intervenção na ONU e os EUA se complicam ao assassinar o filho e três netos de Kadafi, que nem de longe são alvos militares ou mesmo legítimos.
 
Desde o início desta intervenção venho atentando para o fato de que a Resolução 1973 permitia ações para garantir uma no-fly zone, mas de forma alguma davam cartão verde para que se caçasse Kadafi ou sua família.
 
Pois bem, enfiados até o pescoço na lama, os EUA encontraram uma forma de desviar a atenção mundial - com a sempre conivente mídia internacional - e criar um factóide para fazer com que tudo mais fosse esquecido.
 
De quebra, Obama conseguiu dar um boost em sua popularidade, gravemente abalada pela crise mundial.
 
Como li no Twitter, Bin Laden foi criado por Bush para ajudá-lo e morto por Obama com a mesma finalidade.
 
E algo que não surpreende é que ele supostamente se escondia em uma cidade há pouco mais de 50 km de Islamabad, capital do Paquistão. País que se posiciona como aliado dos EUA, mas é um dos - senão "o" - principais celeiros de "terroristas".
 
É compreensível tal situação em um país que é vizinho do que foi duramente castigado por intervenções estrangeiras ao ponto de ficar completamente destruído e sem rumo. O próprio Paquistão está longe de ser uma república democrática.
 
Enfim, a morte de Bin Laden serve a múltiplos propósitos. Reforça a idéia de que a "Guerra ao Terror", continuada por Obama, foi um sucesso (ou vem sendo um sucesso), ajuda o presidente dos EUA a melhorar sua imagem no momento em que mesmo sua reeleição se encontra ameaçada e alivia a pressão internacional sobre o país depois das ações na Líbia.
 
Sempre que os EUA sentem necessidade de legitimar suas ações, normalmente invasões a países do Oriente Médio ou mesmo ameaças a países "párias" ressuscitam o espectro de Osama Bin Laden ou da "insurgência islâmica" onipresente.
 
A morte de Osama Bin Laden serve, ainda, como forma de alienar o Paquistão, um aliado tradicional e importante, mas incômodo aos EUA, e garantir à Índia - candidato preferencial dos EUA - a chance de pleitear uma vaga permanente do Conselho de Segurança da ONU, sem que haja substancial oposição paquistanesa ou, ao menos, sem que haja constrangimentos aos EUA pelo apoio.
 
Em condições normais os EUA encontrariam forte resistência paquistanesa a qualquer indicação de seu maior inimigo ao Conselho, mas, com o enfraquecimento de sua posição depois dos recentes episódios, a força para que o país se oponha à indicação diminui.
 
Porém, obviamente, se existem os prós, também existem os contras para os EUA e aliados.
 
O fato de Bin Laden ter sido pego em uma mansão no Paquistão - o que leva a questionar o porquê da continuidade das ações dos EUA nas montanhas da região - coloca em cheque o suposto aliado, ou ao menos seu serviço secreto, conhecido por seu jogo duplo. Potência nuclear, o Paquistão claramente demonstra não ser confiável.

Artigo completo no Correio da Cidadania. Publicado originalmente no dia 12 de maio de 2011.
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quarta-feira, 23 de março de 2011

Ilegalidade: Os dois momentos-chave da Intervenção na Líbia

Podemos dividir em dois momentos-chaves a intervenção dos EUA e aliados sobre a Líbia. Em primeiro lugar, o período imediatamente anterior à resolução 1973 e, depois a intervenção em si e a ilegalidade das ações "aliadas". Vale também explicar brevemente os pontos centrais da resolução, a título de interregno.

Pré-Resolução

Num primeiro momento, era clara a intenção dos EUA em intervir, mesmo invadir a Líbia. Os interesses são inúmeros, vão desde o petróleo até o interesse em garantir que mais um Estado Árabe não caia nas mãos de um governo não tão alinhado aos interesses Yankees.

Tunísia e Egito, com governos "aliados" caíram e agora os EUA esperam para ver o quanto irão perder em termos de apoio, que não será mais incondicional. O governo do Iêmen periga cair, e o Bahrein está em um clima de quase guerra civil. Marrocos e Arábia Saudita vem enfrentando protestos esparsos e, de todos, apenas os protestos na Síria interessam ao Império, ainda que, da mesma forma, não saibam que governo poderia emergir com a queda de Assad.

Ao intervir na Líbia, os EUA garantem que, ao menos, terão algum papel na transição e podem ditar algumas regras. Com o país destruído, com a infra-estrutura prejudicada, os EUA surgiriam rapidamente como fonte de financiamento e apoio ao país necessitando de investimentos e rumo.

O petróleo viria como bônus.

A intenção dos EUA era a de intervir de qualquer maneira, e já existia um precedente: O Kosovo.

Durante o conflito do Kosovo com a Sérvia os EUA interviram ilegalmente, junto com a OTAN, para defender o lado Kosovar. A ONU foi forçada a fingir que não via nada e a apoiar posteriormente, constrangida, se responsabilizando pela pacificação posterior e pelo processo de reconstrução do país.

A ilegalidade ficou patente com a falta de reconhecimento posterior por parte mesmo de tradicionais aliados dos EUA, como a Espanha - temerosa de que o reconhecimento pudesse incitar ainda mais o nacionalismo Basco e Catalão (e em menor parte, o Galego).

Enfim, em um cenário em que a intervenção parecia certa, a ONU entrou como um possível mediador, via Resolução 1973.

A Resolução

Como explicado em post anterior, a Resolução 1973 visava criar ou impor regras mínimas para a intervenção, proibindo ou ao menos dificultando um novo Iraque ou Afeganistão, ou seja, uma ocupação de fato.

Como estava claro na Resolução, os "aliados" deveriam, antes de mais nada, prestar contas não só a ONU, mas também à Liga Árabe (que vem repetidamente criticando a ação, apesar de ter apoiado inicialmente a intervenção) e o ponto focal das ações era a proteção de civis e, finalmente, a garantia da imposição de uma no-fly zone, ou seja, impedir que as forças de Khadafi usassem aviação para atacar os rebeldes e civis.

Ou seja, a idéia central era a de equilibrar o conflito, garantindo o respeito mínimo aos direitos humanos dos civis e restringindo as ações armadas aos grupos beligerantes devidamente identificados.
Os pontos seguintes dão espaço para intervenção militar, mas deixam claros os limites. Do ponto 6 ao 12, a descrição das atividades permitidas para garantir a no-fly zone (em tradução não-literal e parcial):

6. Decide estabelecer o banimento a todos os vôos no espaço aéreo da Líbia, com o objetivo de proteger os civis;
7. Decide que o parágrafo 6 não se aplica a vôos humantários ou que facilitem assistência, nem se aplica a Estados que atuem na garantia desta resolução ou que sejam necessários à proteção de civis;
8. Autoriza os Estados-Membro a agir nacionalmente ou através de organizações e acordos a tomar todas as medidas necessárias para garantir o cumprimento do banimento de vôos imposto pelo parágrafo 6;
9. Convoca todos os Estados-Membro a apoiar e prover toda assistência necessária ao cumprimento da resolução;
10. Pede aos Estados-Membro que que coordenem ações em conjunto com o Secretário-Geral;
11. Decide que os Estados-Membro envolvidos devem informar ao Secretário Geral (da ONU) e ao Secretário Geral da Liga Árabe todas as medidas tomadas;
12. Requisita ao Secretário Geral que informe ao Conselho imediatamente sobre todas as ações tomadas pelos Estados-Membro.
Como se vê, não cabe aos EUA e aliados a solução final ou mesmo dar um fim ao conflito, "vencendo" um dos lados, no caso, derrotando ou mesmo matando Khadafi. Sempre é bom lembrar, qualquer tipo de ação por terra está descartada e proibida pela resolução (até o momento, pelo menos).

Ilegalidade

Resolução aprovada e regras mínimas assinaladas, iniciou-se a intervenção. De início, vimos o uso desproporcional de mísseis contra alvos que, nem de longe, foram os designados pela resolução. Instalações militares aleatórias e mesmo um prédio do complexo onde vive Khadafi foram alvos de bombardeios.

É possível interpretar que, por "defesa da vida de civis", entenda-se tomar medidas para garantir sua segurança, mesmo militares, logo, seria legítimo o bombardeio de tropas em  vias de atacar áreas civis. Mas isto de forma alguma justifica o ataque a forças militares em Trípole ou em áreas que estão sendo defendidas contra os rebeldes.

A diferença pode parecer tênue, mas militarmente faz muito sentido. Uma coisa é o ataque justificado a tropas no leste do país, região sob controle ou maior controle rebelde, que se preparam para atacar civis ou mesmo tropas rebeldes, outra bem diferente é atacar tropas estacionadas no oeste do país, região majoritariamente sob controle de Khadafi, logo, tropas que visam defendem o governo.

Não a toa, a China, através de sua imprensa oficial, demonstrou mal estar com os ataques.

A decisão de depor Khadafi não está nas mãos da coalizão que agora intervém na Líbia, logo, a destruição de toda a estrutura militar e da infra-estrutura Líbia não está na ordem do dia, ou ao menos não deveria. Isto - a destruição das defesas do governo - significariam abrir caminho para os rebeldes tomarem o poder, isto se os EUA não tomarem a iniciativa de, eles próprios, derrubarem Khadafi, intenção declarada pelo ministro da defesa inglês.

Segundo a resolução, os aliados devem "tomar todas as medidas necessárias (...) para proteger civis e áreas povoadas por civis sob ameaça de ataque". De fato, é extremamente amplo, mas à medida em que se analisa coletivamente todos os demais pontos da resolução, podemos pintar um quadro completo em que a mudança de regime não está na ordem do dia e que, por mera observação, entendemos que matar Khadafi teria exatamente o resultado não-previsto na resolução.

Se por um lado, pode-se interpretar que, a fim de evitar a morte de civis, Khadafi deva ser eliminado - afinal, é o alegado responsável -, por outro não há qualquer permissão para que a decisão de mudar o regime seja tomado por qualquer um a não ser o povo líbio.

Aliás, cabe ainda lembrar que não cabe ao Presidente, mas ao Congresso dos EU aprovar ações militares, o que, desde o início, coloca a intervenção na ilegalidade. Deputados Democratas contra a intervenção consideram até pedir o impeachment de Obama.
“Apesar de a ação ser considerada como a suposta proteção dos civis da Líbia, a proibição dos voos na zona de exclusão começou com um ataque à defesa aérea líbia e às forças de Kadafi. É um ato de guerra. O presidente fez declarações que tentam minimizar a ação dos EUA, mas aviões norte-americanos lançaram bombas e mísseis dos EUA. O país pode estar se envolvendo em um conflito com outra nação soberana. Nosso país não pode permitir outra guerra, econômica e diplomática.”
Como se vê, um show de erros e ilegalidade, de todos os lados e em todas as direções.

Leitura recomendada:
O império enquadra a revolução, de Bruno Cava 
Os perigos da intervenção humanitária na Líbia, de Robert Fisk
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terça-feira, 22 de março de 2011

Intervenção Militar na Líbia, Resolução 1973 e Ilegalidade

É complicado sequer saber por onde começar a analisar as ações conjuntas dos EUA, França e Reino Unido na Líbia. Mas, de início, podemos afirmar que estas são ilegais.

A Resolução 1973, aprovada em 17 de março, por 10 a 0, com 5 abstenções, deixa clara a permissão aos Estados-membro da ONU de criar uma no-fly zone, ou seja, a proibição a qualquer avião líbio de sair do solo sob pena de serem abatidos. A resolução pode também ser interpretada como permissão para o bombardeio de aeroportos e de infra-estrutura usada para guardar aviões ou pistas usadas para pouso e decolagem.

E só.

A resolução, em momento algum, permite às forças dos EUA e aliados atacar palácios de Khadafi ou buscar derrubá-lo, assim como não permite o bombardeio de caminhões, carros e tanques militares em trânsito em qualquer parte da Líbia. Caminhões não voam, tanques não voam.

Os ataques "seletivos" que EUA e aliados vem fazendo contra instalações militares sem qualquer relação com a imposição de uma no-fly zone são, enfim, totalmente ilegais.

Havia a certeza de que os EUA iriam intervir de uma forma ou de outra, logo, melhor que fosse sob os auspícios e limites da ONU, mas, mais uma vez, a ONU demonstrou sua inutilidade e em momento algum nem o secretário geral, nem qualquer outro oficial, repudiou a ilegalidade dos ataques dos EUA contra alvos sem qualquer relação com a resolução aprovada.

Novamente, a posição do Brasil de se abster, junto com China e Rússia, mostrou-se correta.

A resolução se divide entre alguns pontos-chave.

Primeiro, o costumeiro pedido por um cessar-fogo e o fim das hostilidades, passando pela necessidade de uma resolução pacífica para o conflito e abertura de negociações.

Khadafi anunciou por duas vezes que iria iniciar um cessar-fogo, mas foi sumariamente ignorado pelos EUA.

Ironicamente, os pontos 4 e 5 da resolução visam garantir a proteção dos civis, mas até o momento pelo menos 60 foram assassinados pelos ataques aéreos da "coalizão", segundo informações não verificadas.

Os pontos seguintes dão espaço para intervenção militar, mas deixam claros os limites. Do ponto 6 ao 12, a descrição das atividades permitidas para garantir a no-fly zone (em tradução não-literal e parcial):

6. Decide estabelecer o banimento a todos os vôos no espaço aéreo da Líbia, com o objetivo de proteger os civis;
7. Decide que o parágrafo 6 não se aplica a vôos humantários ou que facilitem assistência, nem se aplica a Estados que atuem na garantia desta resolução ou que sejam necessários à proteção de civis;
8. Autoriza os Estados-Membro a agir nacionalmente ou através de organizações e acordos a tomar todas as medidas necessárias para garantir o cumprimento do banimento de vôos imposto pelo parágrafo 6;
9. Convoca todos os Estados-Membro a apoiar e prover toda assistência necessária ao cumprimento da resolução;
10. Pede aos Estados-Membro que que coordenem ações em conjunto com o Secretário-Geral;
11. Decide que os Estados-Membro envolvidos devem informar ao Secretário Geral (da ONU) e ao Secretário Geral da Liga Árabe todas as medidas tomadas;
12. Requisita ao Secretário Geral que informe ao Conselho imediatamente sobre todas as ações tomadas pelos Estados-Membro.

Ou seja, há a clara permissão e obrigação de se manter o espaço-aéreo limpo, mas nenhuma permissão de se atacar alvos que não tenham relação com este objetivo. A idéia de que prédiosda administração pública ou mesmo o próprio Khadafi seriam alvos militares legítimos não é apenas uma loucura e uma deturpação, mas uma interpretação criminosa da resolução.

A resolução ainda continua, defendendo o aumento do embargo de armas à Líbia, reforça o banimento de vôos, proibindo que qualquer Estado-Membro de aceitar vôos vindos da Líbia e finalmente, defende o congelamento de contas e qualquer investimento líbio.

Enfim, as ações dos EUA com o objetivo de derrubar Khadafi são ILEGAIS. A intenção da resolução é clara, a de impedir a morte de civis e a de tentar equilibrar o conflito, mas não dá qualquer permissão ao "ocidente" de impor um resultado a este.

Agora, com a possibilidade de Khadafi armar civis, como fica a intervenção militar? Será que os civis líbios que efetivamente apoiem Khadafi não tem o direito de tomar armas e defender seu regime? Estamos em meio a uma guerra civil e a ONU, através de sua resolução, se mostrou pronta a equilibrar as forças, mas não de dar uma solução ao gosto das potências ocidentais.

Enquanto tudo isto acontece, a Arábia saudita continua sob território do Bahrein, invadindo a soberania alheia, e nenhuma resolução ou reclamação passou pela ONU.

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segunda-feira, 21 de março de 2011

Obama no Brasil? Guerra, Truculência e Desrespeito [Update - Presos Políticos libertados!]


O saldo da visita de Obama ao Brasil é nefasto.

13 presos políticos, constrangimento de ministros brasileiros, exigências descabidas.... Mas o saldo positivo (ou quase), pode ser o desmascaramento da mente colonizada da grande mídia. Sim, já sabíamos, mas agora está escancarado para quem quiser ver.

A Guerra do Brasil

De início, o mais aberrante, o lançamento da Operação Aurora da Odisséia, para derrubar Khadafi, foi no Brasil!

Isso mesmo, Obama, em visita ao Brasil, passou por cima de nossa posição não beligerante e de não-intervenção e declarou guerra à Líbia do solo brasileiro. Uma tremenda e absoluta falta de respeito com os anfitriões, que se abstiveram na votação do Conselho de Segurança que decidiu pelo uso da força contra o país.

Os pesados ataques aéreos contra forças de Khadafi em diversas cidades líbias começaram no sábado, com a participação de tropas americanas, francesas e inglesas.
Em suma, o Brasil foi usado como palco para o inicio da guerra, em meio a uma visita de cortesia em que uma das partes, nós, éramos CONTRA a intervenção. Trata-se de um desrespeito tremendo, típico da potência imperial em toda sua arrogância e prepotência.

Desrespeito e prepotência

Não nos esqueçamos da desistência de Obama em discursar na Cinelândia (discurso em si já um traço de arrogância) porque talvez fosse ser recebido com alguns protestos, mesmo depois da estrutura do palco estar quase pronta.

Em primeiro lugar, senhora cara de pau de Obama querer "discursar ao povo brasileiro", para trazer as boas novas do Império e uma mensagem de democracia - se todos nos comportarmos e respeitarmos o Líder!

A isto juntamos ainda os protestos de pessoas na Cidade de Deus contra sua visita depois deste querer exigir casas de moradores como pontos para atiradores de elite (inclusive com ameaças aos que se recusavam a permitir o uso de suas propriedades).

Obama age como se estivesse em casa. constrange os brasileiros, tenta nos humilhar, passa por cima de nossa boa vontade e hospitalidade... É assim que age o chefe-terrorista.

Mentalidade colonizada da mídia

>Mas, se esta visita serviu para alguma coisa, foi para desmascarar mesmo para os mais cegos a mentalidade colonizada da mídia. Nem com Bush, muito mais alinhado aos interesses da nossa querida mídia e do empresariado (ALCA era palavra de ordem ainda), a mídia nacional teve tantos orgasmos múltiplos, uma cobertura tão ampla e repetitiva e nunca se viu jornalistas (sic) tão felizes em noticiar aquilo que eles consideram fatos.

Cobertura quase totalmente voltada à visita de Obama. Reportagens especiais sobre os gostos de Michelle Obama, sobre a refeição da família real presidencial, sobre o degustador real oficial (século XV feelings) sobre roupas e, claro, sobre os incontáveis benefícios de todo e qualquer acordo, por mais subserviente que seja, assinado pelo Brasil com o Império.

A mídia brasileira conseguiu chegar a um nível ímpar de vergonha alheia e sem-vergonhice.

Pra completar a vergonha, o PT do Rio proibiu manifestações contra Obama, num ato de total subserviência e falta de vergonha na cara.

Exemplo máximo de mídia colonizada:





Ministros revistados e absurdo aparato de segurança


Como comentado, um aparato de segurança que incluiu varredura das redes sociais, uso de perfis falsos e monitoramento completo do que se dizia aqui no Brasil - daí o cancelamento do discurso na Cinelândia depois que viram que haveriam protestos. Um esquema de segurança que chegou ao absurdo de querer revistar Ministros de Estado brasileiros!
O forte aparato de segurança instituído pela equipe do presidente Barack Obama fez com que quatro ministros brasileiros, entre eles o da Fazenda, Guido Mantega, e do Comércio e Indústria, Fernando Pimentel, desistissem de comparecer ao evento do mandatário americano com empresários.
Segundo a Folha apurou, o episódio causou mal-estar entre as autoridades brasileiras.
Além de Mantega e Pimentel, os ministros Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Edison Lobão (Minas e Energia) também desistiram de comparecer ao encontro por se sentirem constrangidos.

Laerte Braga, por outro lado, informa que os ministros aceitaram a revista sem problemas, só se retirando quando viram que o evento seria totalmente em inglês:
A despeito de terem abandonado o encontro os ministros não reagiram à revista e só deixaram o local ao perceberem que a língua a ser usada no encontro seria a inglesa.
Absurda não só a idéia de revistar Ministros de Estado, mas também estes darem meia volta e desistirem de entrar! Oras, são Ministros! Deveriam ter simplesmente entrado, avisando que eram autoridades e que Obama é um estrangeiro que está em solo brasileiro por cortesia e não manda em nada.




Alguém deveria avisar para Obama que Celso Lafer não é mais ministro e que o Brasil não é mais quintal dos EUA.


Mas, a humilhação não parou por aí, até carros da Polícia Federal foram revistados por agentes dos EUA!

Presos Políticos


O maior absurdo de todos talvez seja a prisão de 13 militantes políticos por protestar contra Obama. Sem direito a fiança, foram encaminhados para presídios:
Um légítimo protesto contra a visita de Obama ao Brasil, em frente ao Consulado dos EUA no Rio acabou em pancadaria, com a polícia atirando bombas e balas de borracha nos manifestantes que, por seu lado, responderam atirando um coquetel molotov em direção ao consulado e acertando um segurança.

13 pessoas foram presas e, de forma inacreditável, encaminhadas sem julgamento para presídios da cidade, sem direito a habeas corpus ou fiança!


São 10 militantes do PSTU, um menor do PSOL e outro aparentemente do movimento MV Brasil, de direita. As mulheres (são 3) foram encaminhadas para o presídio de Bangu, os homens para o presídio de Água santa, já o menor foi para o Instituto Padre Severiano.
Os advogados do PSTU estão entrando na Justiça com um pedido de libertação dos presos, já que não há provas contra eles. Também questionam os artigos apontados pelo delegado, que torna o crime inafiançável. O partido fará um ato neste domingo, às 10h, contra a visita de Obama e pela liberdade dos presos políticos. Hoje, em Brasília, militantes do partido irão até a Praça dos Três Poderes, também para exigir a libertação

Estes são os presos políticos:
Gilberto Silva - eletricista
Rafael Rossi - professor de estado, dirigente sindical do SEPE
Pâmela Rossi - professora do estado e casada
Thiago Loureiro - estudante de Direito da UFRJ, funcionário do Sindjustiça
Yuri Proença da Costa - carteiro dos Correios
Gualberto Tinoco - servidor do estado e dirigente sindical do SEPE
Gabriela Proença da Costa - estudante de Artes da UERJ
Gabriel de Melo Souza Paulo - estudante de Letras da UFRJ, DCE UFRJ
José Eduardo BRAUNSCHWEIGER - advogado
Andriev Martins Santos - estudante UFF
João Paulo - estudante Colégio Pedro II (o nome correto seria João Pedro Accioly Teixeira)
Vagner Vasconcelos - Movimento MV Brasil
Maria de Lurdes Pereira da Silva - doméstica

O diretor cultural do DCE da UFRJ, Kenzo Soares, teme pela segurança do menor que encontra-se isolado dos demais presos políticos:
Tenho um amigo, membro do grêmio Estudantil do C.Pedro II São Cristóvão, João Pedro Accioly Teixeira,preso numa unidade prisional para menores a 24 horas sem direito a visita ou comunicação e com pedido de Habeas Corpus e liberdade condicional negados por ter participado de uma passeata em protesto frente a visita do Obama ao Brasil. Embora  11 outros militantes e mesmo uma senhora de 70 anos que passava pelo ato também estejam presos e na mesma situação pela mesma causa, ele é o único que se encontra isolado dos outros por ser menor de idade, ou seja, compartilhando uma cela com outros detentos sem nenhum companheiro presente.
São óbvios e grandes os riscos que sua integridade física e psicológica correm estando ele sozinho, como o de violência física e estupro,podendo ele permanecer nessa situação durante semanas pelo motivo de ter participado de uma passeata durante a qual alguém jogou um coquetel molotov na embaixada norte-americana  na ultima quinta-feira. Não há qualquer prova dele estar envolvido, e os videos das câmeras de segurança da Embaixada que registram o momento estão tendo seu acesso negado enquanto Obama permanecer no país,  até terça, sendo que a audiência que definirá sua liberdade ou encarceramento será amanhã as 11 horas. Ou seja, a única prova real sobre a autoria do coquetel molotov só será liberada após a sua audiência, e uma nova audiência necessária para sua liberação poderá ocorrer talvez somente em semanas.Seu pedido de habeas corpus foi negado textualmente pelo simples motivo de Obama permanecer no Brasil, motivo inclusive inconstitucional, mas assegurado pelo esquema "especial" de segurança que protege o Presidente do Estados Unidos.
Não sei porque, mas o Riocentro me vem logo à cabeça... Imaginem como será em 2014 e 1016!

Conclusão: Humilhação

O Brasil foi humilhado, submetido. Ministros foram revistados, cidadãos brasileiros foram presos e tratados como criminosos por protestar contra o chefe-terrorista, moradores da Cidade de Deus foram intimidados, líderes comunitários ficaram revoltados, mas a mídia e nossas elites se refestelaram: Um sucesso!

Como na época de FHC, aprendemos qual é o nosso lugar, à reboque dos interesses dos EUA, subservientes ao Império. Nem bem o Brasil ensaiou uma posição independente na ONU, ao não apoiar os EUA e a intervenção na Líbia, logo mostrou qual será efetivamente a cara deste governo: Submisso. Talvez a posição do Brasil tenha vindo apenas de um último lampejo de independência, mas a visita de Obama ao Brasil nos faz apenas ter preocupações com o futuro.

A Guerra contra a Líbia, que o Brasil se opôs, foi declarada de nosso território. A demonstração máxima de desrespeito e falta de apreço por parte dos EUA e um recado claro: Somos a potência e vocês nos devem obediência. Infelizmente, Dilma parece ter concordado.

Como discordar do Larte Braga?
No governo Dilma Roussef temos os primeiros presos políticos do país desde o fim da ditadura militar, na farsa do coquetel Molotov atirado contra o consulado norte-americano no Rio, numa manifestação promovida por um partido de esquerda. O PSTU.

A velha e requentada história do Riocentro. A quem interessa?
Este é o Brasil de Dilma? Lamentável!

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Sérgio Pacheco escreveu uma pequena carta a Obama, merece ser lida.
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Perdemos mesmo o respeito, até na Venezuela somos piada. Na Catalunha, destaque para o absurdos da segurança de Obama.

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Update: Os 13 Presos Políticos foram soltos, segundo informa o PSTU:
Durante o final de semana, uma grande campanha foi feita, com atos e milhares de assinaturas de apoio aos presos. "Estamos aliviados e agradecidos por toda a solidariedade. Foi o que garantiu a liberdade ao grupo. Agora é ver se todos estão bem", comemorou Cyro Garcia, presidente do PSTU, partido que tem 10 militantes presos. Cyro criticou o caráter político das prisões e até na libertação. "Nada vai apagar o que aconteceu. Foi um ataque sem precedentes aos direitos humanos. Obama discursou falando da democracia, comemorando não estarmos mais em uma ditadura, mas o governador deixou pessoas inocentes em presídios até que a viagem terminasse. O governo de Dilma, presa na ditadura, não fez absolutamente nada", afirmou.

O grupo ficou em celas isoladas nos presídios, mas ainda assim, os advogados irão averiguar indícios de maus tratos. "Todos os homens em Água Santa tiveram a cabeça raspada", conta Aderson Bussinger, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, que acompanha o caso. "Obama veio aqui e deixou um Guantánamo. E ninguém noticiou", completa Cyro.
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sexta-feira, 18 de março de 2011

ONU, Líbia e a política do "Não tem tu, vai tu mesmo, esperando que não dê m*"

As Nações Unidas, através do seu antidemocrático Conselho de Segurança, por 10 votos a zero, com 5 abstenções (dentre as abstenções a do Brasil, que valerá post a parte)aprovou uma intervenção no conflito Líbio, mas o que isto significa?

De início, lembro que há alguns dias comentei sobre a possibilidade de intervenção e como esta deveria se dar, caso fosse inevitável. Passado isto, podemos apenas comemorar que, ao menos, talvez tenhamos a imposição de regras mínimas sob supervisão coletiva internacional.

Como eu havia comentado antes, a intervenção em si talvez não fosse a melhor saída, mas sem dúvida chegaria um momento em que esta se tornaria uma realidade seja pela base do acordo ou na base da imposição. Melhor por acordo.

Os interesses internacionaiss por detrás da intervenção eram por demais fortes, e nem um pouco humanitários.

EUA (e outras potências) com claros interesses não só no petróleo, mas na pacificação da região através do controle direto dos recursos do país, além da possibilidade de intervir na deposição de um líder que, apesar de aliado, é inconstante e perigoso e, para a França, a chance de sufocar as denúncias de que seria leniente demais com a Líbia (especialmente depois dos vazamentos de que a Líbia teria fiinanciado a campanha de Sarkozy).

A mídia informava ha todo tempo que os rebeldes vinham pedindo a intervenção estrangeira, enquanto Khadafi retomava as áreas previamente conquistadas e acuava os rebeldes à sua praça forte de Benghazi.

A veracidade ou o alcance de tais apelos não é sabida. A enxurrada de informações vindas da Líbia, inicialmente, durante o sucesso dos rebeldes, diziam que uma intervenção não era bem vinda, e mesmo importantes intelectuais de todo o mundo repudiaram em nota a possibilidade de intervenção. Durante os recuos mais recentes, a mídia passou a informar que os rebeldes pediam intervenção.

Não podemos descartar a manipulação midiática ligada aos interesses ocidentais, mas temos, enfim, de lidar com o fato consumado.

Sem dúvida sobressai a cobertura da Telesur, tão criticada inicialmente, mas que se mostrou correta ao apontar que Khadafi não era nem louco e nem estava perdido. Acusados de apoiar Khadafai, no fim apenas mostravam a realidade nua e crua, sem o tratamento sensacionalista das demais cadeias de TV internacional.

Mas, em se tratando da intervenção em si, a Resolução 1973 do Conselho de Segurança foi aprovada e, se é verdade que intervenções tem normalmente o objetivo de garantir a sobrevivência do Império, por outro é saudável e bem vindo que, ao menos, com supervisão da ONU, haja o respeito a regras mínimas e dispositivos legais consolidados.

Os EUA, ao invadirem o Kosovo, com apoio da OTAN, abriram um precedente negativo ao intervirem em um conflito sem o apoio da ONU, o que foi repetido no Iraque, resultando em uma ocupação assassina e prejudicial ao país. Agora, as regras impostas pela resolução - como a permissão apenas para ações aéreas, sem intervenção por solo - dão a esperança de que a crise possa ser mais facilmente contornável e que não termine em ocupação.

Muitos interlocutores compararam a situação da Líbia com os protestos e revoluções no Egito e Tunísia, mas a situação não poderia ser diferente. Trata-se, na Líbia, de uma Guerra Civil em formação (ou já consolidada), em que protestos pacíficos foram deixados de lado por uma confrontação armada e a possibilidade de um desequilíbrio regional com características próprias e que pode influenciar negativamente a região.

Podemos especular as intenções reais das potências nisso tudo, mas não podemos descartar a realidade, devemos, pois, analisar em cima dos fatos. Se a realidade é de intervenção, que a pressão seja feita para que as regras aprovadas pela ONU sejam seguidas e para que não seja uma ação unilateral dos EUA ou de qualquer potência européia, mas algo consensuado e discutido em foros internacionais.

A pposição de Rússia e China, de se absterem, foi coerente com suas últimas declarações e posições consagradas. A China tem amplos interesses e investimentos na região e costuma evitar o confronto direto e criar animosidades que considera desnecessárias, já a Rússia vem ha tempos anunciando que não apoiaria uma resolução que contivesse qualquer idéia de intervenção. Não é do interesse russo ser espectador implicado de mais uma demonstração bélica dos EUA, muito menos tomar parte e estar sob controle de algum general estadunidense.

Trata-se, talvez, de uma invasão branca, em que a ocupação está inicialmente descartada e apenas ações aéreas podem ser tomadas. À longo prazo devemos observar e fiscalizar.

Em um primeiro momento, podemos esperar, talvez, um cessar-fogo líbio, um recuo das forças de Khadafi, agora efetivamente ameaçadas. Difícil, porém, será prever as ações futuras do governo líbio, pois coloca-se um impasse: O governo dificilmente aceitará recuar e permitir a existência de focos rebeldes, mas se avançar, poderá ser vítima de ataques e desmoronar.

Os próximos dias serão cruciais.
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A resolução 1973 aprovada ontem, em inglês.
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O "Dia Internacional para Queimar o Alcorão" como representação dos EUA

Está marcado para 11 de setembro o chamado "Dia Internacional para Queimar o Alcorão", idéia estúpida que só poderia ter saído da cabeça de um pastor estadunidense fundamentalista.
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Ninguém sabe, aliás, se vai haver a queima ou não, o Pastor não se decide.
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Mas o que surpreende não é a data em si, não é a estupidez, a intolerância e a ignorância típica de evangélicos fundamentalistas - que se aproximam perigosamente do fundamentalismo islâmico -, mas a reação do governo dos EUA.

Obviamente, o governo censurou a idéia, comentou que era idiota e perigosa, se indignou... Mas, por detrás de todo este bom-mocismo se esconde o único e real motivo para que o governo tenha se "indignado": As tropas. A imagem sagradados EUA no mundo - algo que somente eles acreditam que tenham, claro.

Robert Gibbs, Pota-Voz da Casa Branca:
"O anúncio da queima do Alcorão coloca nossas tropas em um caminho perigoso, qualquer tipo de atividade como essa será uma preocupação para este governo."
General David Petraeus:
"Estou muito preocupado com as possíveis repercussões de queimar exemplares do Alcorão. Só o boato de que isso poderia acontecer já provocou manifestações. Se de fato ocorrer, a segurança dos nossos soldados e civis seria colocada em risco e cumprimento da missão seria muito mais difícil" "É justamente esse o tipo de ação que o Talibã usa e poderia causar problemas significativos. Não apenas aqui, mas em todo o mundo onde estamos comprometidos com a comunidade islâmica"
E mais:
As polícias locais e o FBI também levam a sério a atitude radical da igreja, que é uma potencial ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos.
Obama também resolveu apelar:
"Espero que ele entenda que este é um ato destrutivo", que pode colocar nossos jovens soldados em perigo. Se ele estiver ouvindo, espero que entenda que o que está propondo é completamente contrário aos valores americanos".

"Isso é uma fonte de recrutamento para a al-Qaeda. Você pode ter sérios problemas de violência em lugares como Paquistão ou Afeganistão. Isso pode aumentar o recrutamento de indivíduos que podem querer se explodir em cidades americanas ou europeias"

A preocupação não é com o absurdo de se aceitar as declarações ensandecidas de um fanático religioso que colocam todos os mais de 1 bilhão de muçulmanos no mesmo saco - quando na verdade os fundamentalistas são apenas uma pequena parcela, igualmente presente no seio das igrejas cristãs - mas, como sempre, apenas consigo, com os EUA e seus soldados assassinos e invasores.

A questão não passa pelos direitos humanos, pela tolerância religiosa ou mesmo pelo respeito aos próprios muçulmanos dos EUA - seria demais esperar que o governo dos EUA se preocupasse com alguém além de suas fronteiras - mas apenas pela hipocrisia egoísta estadunidense de que o ato deste fanático irá pôr suas tropas em perigo, irá fazer crescer o ódio - já imenso - contra os EUA nos países invadidos e brutalizados por este país amante da democracia (sim, ironia total).

O pior, aliás, é acreditar que esta atitude isolada -significativa, mas limitada - seria o único e decisivo fator de desestabilização no mundo muçulmano que comprometeria "todo o trabalho" dos EUA. Como se vê, a arrogância dos EUA permanece intacta. Não importa o quão atolados e desacreditados estejam, ainda se consideram acima do bem e do mal.

Inegavalmente, este ato isolado pode ter consequências terríveis, dezenas de protestos já tiveram lugar no Paquistão e Afeganistão, contra a possível queima do Corão, mas é preciso analisar o quadro amplo: Esta pode ser a gota d'água., o ponto culminante de um processo que não é novo. Ou pode, também, ser apenas mais uma gota no mar de indignação - não só islâmica, mas mundial - às ações criminosas dos EUA, semelhantes aos atos de fanatismo fundamentalista de certas lideranças evangélicas.

A queima do Corão simboliza, pode-se dizer, as motivações dos EUA nos países islâmicos invadidos, o de mostrar o islamismo como um mal a ser exterminado. Ou, por outro lado, o de reforçar o papel dos EUA de nação cristã, numa cruzada para impor seus valores "democráticos" que, sem dúvida, vão em conjunto com a noção de "cristandade". O simbolismo, sem dúvida, é significativo. Uma representação crua daquilo que é os EUA no Oriente Médio.

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Genocídio: O Dia das Crianças Paraguaias


Todo ano, em 16 de agosto, é comemorado o Dia das Crianças no Paraguai, ou melhor, o Día del Niño Paraguayo.

A data, longe de lembrar algum momento festivo, marca a Batalla de Campo Grande, também conhecida como Batalla Acosta Ñu ou de los Niños. Em 16 de agosto de 1869, em plena Guerra do Paraguai, um exército composto por 500 soldados veteranos e cerca de 3.500 crianças e adolescentes paraguaios enfrentaram o exército invasor de cerca de 20 mil soldados, a maioria brasileiros. Os números da vítimas paraguais podem ser bem maiores.
Conmemoramos la batalla de Acosta Ñu, considerada la más brutal de la Guerra Grande y sin precedentes en el mundo. Eran solo niños de entre 6 a 14 años, que aun no entendían la injusticia de la guerra y hasta dónde el ser humano era capaz de llegar. Con atuendos de soldados y barbas postizas, fueron cerca de 3 mil niños los que posibilitaron la huida de Francisco Solano López hacia Cerro Corá el 16 de agosto de 1869. Hecho que pagaron con sus vidas. La desigual batalla se libró en las cercanías de la cidad de Eusebio Ayala
Com a crueldade já conhecida, o exército da Triple Aliança eliminou praticamente todos os combatentes - e seguiria adianta, praticamente dizimando a população paraguaia que somente há alguns anos recuperou a população que tinha ainda no séc. XIX. Cerca de 2000 soldados-crianças foram mortos em batalha e 1200 prisioneiros foram posteriormente executados. A verdadeira face da política brasileira de eliminar o Paraguai do mapa.

A Guerra do Paraguai é, até hoje, lembrada com orgulho pelo Exército brasileiro e, mesmo nas escolas, é preciso um professor com um mínimo de consciência para extrair mais do que os livros de história nos mostram. Não se trata de uma vitória heróica, nem mesmo de uma simples vitória, mas de um genocídio que custou ao Paraguai mais da metade de sua população e seu futuro.

Neste ponto, pouco importam as razões para a guerra, se loucura e devaneios de Solano López, presidente paraguaio, ou pressão descarada inglesa e oportunismo brasileiro. Pouco importa se Solano López invadiu o Mato Grosso com intenções de conquistar efetivamente o território ou apenas garantir navegação segura pelos rios da fronteira, tampouco interessa saber dos interesses de Brasil, Argentina e do próprio Paraguai sobre o frágil Uruguai.

Solano Lópes, Conde d'Eu, Dom Pedro, Mitre, Flores e tantos outros nomes são apenas as figuras públicas respons´´abáveis direta ou indiretamente pelo sangue de milhares de paraguaios inocentes.

A verdade é que o Brasil foi o autor, ou no mínimo co-autor com ampla participação, num dos primeiros em mais terríveis genocídios modernos, algo que faria corar grandes genocidas da atualidade.

Apesar do tom um tanto quanto ufanista - não injustificado - o vídeo abaixo dá um bom panorama do que foi este gneocídio e de seus desdobramentos.


Fontes da época fizeram relatos assustadores, de gelar o sangue, mesmo daqueles mais corajosos ou mesmo acostumados a ler diariamente sobre as atrocidades cometidas pelos EUA ou por Israel:

“Los niños de seis a ocho años, en el fragor de la batalla, despavoridos, se agarraban a las piernas de los soldados brasileros, llorando que no los matasen. Y eran degollados en el acto. Escondidas en al selva próxima, las madres observaban el desarrollo de la lucha. No pocas agarraron lanzas y llegaban a comandar un grupo de niños en la resistencia”……. “El Conde D´Eu, un sádico en el comando de la guerra,“después de la insólita batalla de Acosta Nú, cuando estaba terminada, al caer la tarde, las madres de los niños paraguayos salían de la selva para rescatar los cadáveres de sus hijos y socorrer los pocos sobrevivientes, el Conde D´Eu mandó incendiar la maleza, matando quemados a los niños y sus madres.” Su orden era matar "hasta el feto del vientre de la mujer".

"As crianças de seis a oito anos, no calor da batalha, apavorados, agarrados às pernas dossoldados brasileiros, chorando para que os matassem. E eram degolados no ato. Escondidas no mato próximo, as mães observaram o desenvolvimento da luta. Não poucas agarraram lanças e chegaram a comandar um grupo de crianças na resistência"....... "O Conde D'Eu, um sadista no comando da guerra", após a insólita  Batalha de Acosta Nú, quando estava terminada, ao cair da tarde, as mães das crianças paraguaias saíam da selva para resgatar os cadáveres de seus filhos e ajudar os poucos sobreviventes, o Conde D'Eu mandou incendiar o mato, matando queimadas as crianças e suas mães." Sua ordem era matar "até o feto do ventre da mulher."

“Mandó a hacer cerco del hospital de Peribebuy, manteniendo en su interior los enfermos – en su mayoría jóvenes y niños – y lo incendió. El hospital en llamas quedó cercado por las tropas brasilera que, cumpliendo las órdenes de ese loco príncipe, empujaban a punta de bayoneta adentro de las llamas los enfermos que milagrosamente intentaban salir del la fogata. No se conoce en la historia de América del Sur por lo menos, ningún crimen de guerra más hediondo que ese.” 


"Ele mandou fazer cerco [em torno d] o hospital de Peribebuy, mantendo em seu interior os pacientes - a maioria crianças e jovens - e incendiá-lo. O hospital em chamas foi cercado pelas tropas brasileiras que, cumprindo as ordens deste príncipe louco, empurravam com a ponta da baioneta para dentro das chamas os doentes que milagrosamente tentavam sair da fogueira. Não se conhece na história da América do Sul, pelo menos, nenhum crime de guerra mais hediondo que este. "
Efetivamente, não se conhece nada mais hediondo que o genocídio planejado de toda uma nação, sem qualquer razão ou fundamento, apenas a loucura de lideranças que só se contentavamem esmaga um inimigo, no fim a guerra, já indefeso.

Difícil conseguir imaginar a cena desesperadora de crianças com armas em punho, a maioria sem saber o que fazer, sem entender o que acontecia, frente a um exército sedento de sangue que não iria parar até extirpar o último paraguaio da terra. Imaginem o pavor das mães, observando seus filhos sendo degolados, impotentes.

Infelizmente, apesar de ser história, fatos semelhantes ocorrem todos os dias. O Brasil, em particular, não é conhecido por reconhecer seus erros. Seus militares não reconhecem seus crimes. Os crimes da Guerra do Paraguai são, ainda hoje glorificados. Os crimes de Vargas nunca foram objeto de revisão. Os crimes da Ditadura foram enterrados, os militares comemoram, os torturados e parentes dos mortos e desaparecidos - um doloroso eufemismo - são tratados como se fossem eles os criminosos, elementos incômodos no pacto nacional imposto e aceito até pelos mais insuspeitos, em troca de favores políticos e governabilidade.

Dia 16 de agosto não marca apenas o "dia das crianças" do Paraguai, uma data mórbida em que, se resta algo para se comemorar, é o fato da nação paraguaia ter sobrevivido, ainda que repleta de cicatrizes e banhada de sangue, mas marca também uma página negra - mais uma - na história do Brasil e da humanidade.
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terça-feira, 27 de julho de 2010

O caso WikiLeaks, Sex and the City e as moscas

A divulgação dos documentos sigilosos pelo site WikiLeaks apenas confirma o que todos sabiam - ou deveriam saber -, que os EUA, seus capachos ingleses e demais aliados não passam de criminosos.

Me surpreende, no entanto, que muita gente tenha sido pega de surpresa por tais revelações. Seria a propaganda yankee funcionando ou apenas uma tentativa de mascarar a realidade como forma de auto-defesa para a cruel realidade em que vivemos?

Qual a surpresa em saber que os EUA são criminosos de guerra? Vejam apenas a atuação de Israel, seu protegido. Será que os EUA não seriam capazes de cometer os mesmos atos? São capazes e os cometem.

O vazamento é providencial. Ao menos aqueles ainda iludidos podem finalmente abrir os olhos. Se tiverem coragem. Mas não acredito em efeitos práticos, ao menos não vejo um efeito imediato na ação das tropas dos EUA e aliados e nem uma mudança no comportamento belicoso do Império.

A invasão do Iraque foi e continua sendo um crime. A ONU jamais deu sua permissão para tal invasão, que aconteceu à revelia da comunidade internacional. Já o Afeganistão, bola da vez do WikiLeaks, foi invadido contando com algum apoio internacional, mas a longo prazo os EUA se viram frente ao mesmo dilema da URSS: O país foi invadido, e agora? Como efetivamente conquistar?

Com a típica ignorância e prepotência que lhe é de costume, os EUA se viram num atoleiro tremendo, sem saída, com promessas várias ditas à imprensa e ao povo afegão, mas frente à uma terrível impossibilidade de cumprí-las. As tropas foram ficando, foram se perdendo e, contra a violência do Talibã, usaram ainda mais violência, cometeram sérios e graves crimes de guerra e não dão mostras de cansar.

Os EUA impuseram um governante corrupto, um sistema político pré-fabricado, uma democracia falseada e passaram por cima não só dos modelos tradicionais locais de governo e poder, como, hoje, se limitam a impor uma paz armada. Apenas em Cabul, pois no resto do país há apenas armas, sangue e dor.

"Soluções" são impostas de cima ara baixo, sem que a população tenha real direito a opinar e propor alternativas. Os anseios da população forma pisoteados pelos interesses das grandes corporações e de Estados criminosos. são todos cúmplices em uma guerra sem fim.

Os EUA cada vez mais se aproximam de uma encruzilhada. Obama, que havia prometido retirar as tropas do atoleiro em que Bush as havia metido, se mostrou nada mais que um típico mentiroso, pré-requisito para assumir um cargo de tamanha importância quanto o de Presidente dos EUA. Suas promessas viraram fumaça tão logo assumiu, e o Prêmio Nobel, hoje, me parece ter sido apenas uma piada cruel que faz a função apenas de destacar o quão distante Obama está de suas promessas de um mundo melhor (sic).

Os EUA falharam miseravelmente.

E, no caso do Afeganistão em particular, falharam por não terem objetivos claros. O objetivo era o de derrotar o Tallibã? O de impor uma democracia? O de impor um líder que conseguisse unificar o país? Falharam em todas - ou sequer tinham real intenção de chegar a qualquer um destes objetivos. Ou o objetivo era o de colocar as mãos nas riquezas locais e de fortalecer sua indústria bélica?

É ilustrativo, porém, observar a reação de EUA e Reino Unido, seus capachos, ao vazamento.
"Os Estados Unidos condenam firmemente a divulgação de informações classificadas por parte de pessoas e organizações que poderão colocar as vidas de americanos e de nossos aliados em risco, e ameaçam nossa segurança nacional", disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, James Jones, em um comunicado de domingo.
A Grã-Bretanha indicou nesta segunda-feira que lamentava o vazamento, mas pediu ao Paquistão que desmantele todos os grupos militantes que operam em seu território.
"Lamentaríamos qualquer revelação não autorizada de material classificado", disse uma porta-voz de Downing Street. "A Casa Branca fez uma declaração. Não falaremos sobre documentos vazados".
Revolta para mascarar o medo de tantas informações terem caído em domínio público.

Vê-se o grau de manipulação dos principais governos envolvidos no conflito: A verdade apavora. O público não tem o direito de saber a verdade, deve ser eternamente mantido na mais completa ignorância.Outro ponto válido é o discurso. Para os ingleses, a Casa Branca fez uma declaração, logo, eles não precisam dizer nada. A subordinação de Londres chega a ser dolorosa!


É curioso saber como o público inglês recebeu a notícia. Os ingleses já não toleravam mais ser capachos sob o comando de Tony Blair, colocaram Gordon Brown para correr e, agora, mesmo com um novo premier, conservador, continuam juntos, de braços dados com os EUA, afundando na lama afegã.
Mas, de certa forma, o "vazamento" de informações não me surpreende da mesma forma que não me anima.

A máquina de propaganda dos EUA logo irá começar a funcionar para apagar o incêndio, jajá sairá do formo um novo "Sex and the City", desta vez gravado no Afeganistão, para mostrar como o consumismo salvou aquele país e as justiças (sic 500 vezes) dos EUA, Inglaterra ou qualquer outro país aliado irá fingir que nada aconteceu e ficará tudo como antes.

Obaa manterá firme e forte seu belo sorriso, enquanto promete mais e mais. Na irá cumprir nada, mas, felizes e cordatos, iremos retribuir o sorriso e propor outro prêmio ao nosso grande salvador.

A diferença entre um presidente republicano e um democrata - ao menos para o mundo -, é que o primeiro é feito, ignorante, de extrema direita. Ele te fode e você não gosta, afinal, que direito tem um caipira texano com diploma comprado de me dizer como viver? Mas os democratas são diferentes. Eles te fodem da mesma forma, mas seus diplomas de Harvard ou Yale e aquele sorriso típico de vencedores te derretem. Você retribui o sorriso e é enganado com gosto.

O Império está em guerra, o Imperador-eleito não passa de uma piada pronta e o mundo ainda é um quintal.

As moscas estão ficando mais agressivas, mas não passam de moscas.
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quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Acordo Brasil-Irã-Turquia

A celeuma em torno do acordo feito por Irã, Turquia e Brasil é simplesmente lamentável.

Longe de me colocar do lado dos patriotas e ultranacionalistas que bradam de alegria frente ao acordo, colocando o Brasil no céu, como nação da paz e etc, devo dizer que, querendo ou não,  a posição brasileira merece aplausos.

Ao contrário de metade do mundo, que simplesmente engole a cartilha dos EUA e que quer com unhas e dentes promover mais uma guerra e afogar o Irã em seu próprio petróleo, o Brasil soube ser ponderado, proativo e responsável. Celso Amorim é um estrategista e negociador de fazer inveja e o Brasil jogou as cartas certas e conseguiu convencer o Irã a aceitar um acordo nos mesmos moldes do proposto anteriormente pela ONU (via conselho de Segurança) e pelos EUA de que o urânio iraniano seria enriquecido fora de suas fronteiras - dentre outros detalhes.

Notem bem, o Brasil, junto com a Turquia, conseguiu convencer o Irã a aceitar praticamente o MESMO acordo proposto anteriormente e, mesmo assim, os EUA sentem falta de sangue e se recusam a aceitar este acordo.

Os EUA impuseram um acordo com armas na mão, queriam forçar o Irã a se ajoelhar. Como de costume, foram derrotados. O Brasil apresentou acordo semelhante, mas com diálogo, negociação, argumentos, e saiu-se vencedor. A força das armas comumente usada pelos EUA já há muito não vem surtindo efeito.

O Conselho de Segurança está disposto a passar por cima de todo o longo processo de negociação dos últimos meses e do acordo extremamente favorável do Brasil apenas para agradar ao Império.

Os EUA não conseguiram pressionar, assustar ou condenar o Irã, o Brasil, com boa vontade e conversa, conseguiu. O Império, então, se recusa a aceitar que um primo pobre tenha feito seu trabalho, e sem sujar as mãos.

Se o Irã irá efetivamente respeitará este acordo - e aqui sigo o mesmo raciocínio do ministro Celso Amorim - são outros quinhentos. Cabe à ONU e outros organismos zelarem pelo acordo, pela efetividade do que foi assinado ou ao menos acordado. O que interessa saber é que o acordo foi alcançado, com pressão diplomática e negociação, e não com a força das armas ou ameaças inconsequentes.

Infelizmente, vivemos em um mundo de cartas marcadas, enquanto o Brasil negociava, os países que compõem o CS já haviam escrito um documento exigindo que o Irã se ajoelhe, cortando financiamentos, fechando e bloqueando contas e tornando ainda mais difícil a vida dos habitantes do país.

Ao contrário do que se pensa, do senso comum, a aplicação de sanções serve apenas para radicalizar ainda mais a oposição, serve apenas para acirrar ainda mais os ânimos e inviabilizar qualquer tipo de negociação franca e justa. A aplicação de sanções, vale lembrar, prejudica a população, o povo iraniano, não só radicaliza os radicais, mas também aumenta o sofrimento dos que sentem na pele a escassez causada pelos cortes que se seguem à punição.

Talvez eu esteja me adiantando, mas o que vemos é, talvez, o ponto de ruptura do atual sistema internacional. Caminhamos para uma multipolaridade em que nem os EUA e nem a Europa detém o poder máximo de convencimento. De fato, o poder militar final é ainda dos EUA - vide o Iraque, invadido contra a vontade da ONU e da ampla maioria dos países do mundo -, mas o poder moral já não está nas mãos dos EUA ou mesmo da Europa que, em um período em que se esperava um crescimento de sua importância no cenário internacional com a União Européia, à ponto de enfrentar o poderio dos EUA em diversas áreas, se mostra nada mais que um capacho dócil das vontades dos EUA - e a Inglaterra que o diga!

Hoje, os EUA não tem mais o poder de estalar os dedos e ter sua vontade respeitada. Nem a ameaça das armas vem funcionando, vide o Irã ou a Coréia do Norte.

Contra o Iraque foram forçados a invadir o país, o mesmo vale para o Afeganistão em que suas armas não vem ganhando dos Talibãs e seu escolhido para governar, Hamid Karzai, é um fantoche inquieto e pouco confiável. Estamos diante, neste começo de século XXI, se me permitem profetizar, do fim do poderio americano como conhecemos durante boa parte do século XX.
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