sábado, 8 de maio de 2010

Os dois Chipres e o "xis" da questão

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Às vezes o sistema internacional me parece uma grande piada. Sempre que leio sobre o processo interminável de unificação do Chipre com o Chipre do Norte (Turco) eu penso que realmente alguém deve rir muito de tudo isto.

Longe de ser um especialista na questão, porém, enxergo toda a situação como uma confusão sem sentido em que os certos estão errados e os errados estão certos.

Vamos situar.

O Chipre é uma ilha dividida em duas. No sul, o Chipre propriamente dito, de maioria grega e parte da União Européia. No norte, o Chipre de maioria Turca, separada do resto da ilha depois de uma invasão do exército Turco em 1974, pobre e longe da UE.

Quem lê este parágrafo deve se perguntar: "Onde está o problema?"

Numa leitura superficial, de fato, aparentemente problema algum. Ao longo dos anos diversas conversações entre os lados foram feitas, diversas tentativas de um plano de reunificação foram postas em prática e muitos países condicionam a entrada da turquia na UE à um apoio incondicional no fim da separação na ilha (A turquia mantém cerca de 30 mil soldados por lá enquanto o Reino Unido possui importantes bases na porção sul), causada por ela.

Claro que, no caso da Turquia, esta seria só mais uma condição para uma (im)possível entrada, mas este é outro assunto.

Olhando sob este ângulo simplista e pouco aprofundado seria possível dizer que tudo não passa de birra Turca anti-Grega (conflito ancestral e milenar que, já no século XX, descambou para o Genocídio dos Gregos do Pôntico, junto com Armênios e Assírios)... Mas não é!

Acreditem ou não, de alguma forma, quem tem razão na disputa é tanto o povo Turco-Cipriota quanto a Turquia!

O detalhe que falta na equação é que a invasão Turca não se deu por razão, mas porque, em 1974, a maioria grega da ilha estava seriamente tencionando a se unir com a Grécia - então sob regime ditatorial/militar.

A Turquia invadiu o norte da ilha, onde sua população era majoritariamente Turca para proteger esta população de uma possível união com a Grécia. Cabe dizer ainda que o governo da época sofreu um golpe por parte destes unionistas gregos e da junta militar que dominava a Grécia e que, curiosamente, a Turquia agiu em prol da democracia, ou da maior democracia possível dadas as circunstâncias.

Sendo mais claro, os gregos-cipriotas e gregos propriamente ditos, deram um Golpe no Chipre e a Turquia reagiu para salvaguardar os interesses dos Turcos na ilha (e seus próprios, obviamente).

O interessante é que a ONU reclama da invasão Turca, mas não profere uma palavra quanto ao Golpe que tornou toda esta situação desagradável possível.

É possível opinar que o golpe teve vida curta, durou apenas alguns meses e que, após isto, a República do Norte poderia/deveria ter sido desmantelada, mas aí estaríamos caindo em um simplismo tosco e obtuso.

Mas, no fim, o que interessa é que, com golpe ou sem golpe, a turquia continuamente é pressionada a facilitar as negociações por uma reunificação e, nas eleições desta semana, viu seus esforços malograrem enquanto o candidato à eleição presidencial, pró-separação, venceu o pleito.

Não é de se estranhar, mas sim de se repudiar que a Comunidade Internacional não permita que a própria população Turco-Cipriota decida seus rumos, mas pressione a turquia a continuamente intervir naquela região e a mantenha à margem do cenário internacional.
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Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Robson Fernando de Souza disse...

Enquanto chamam de "revanchismo" o mero pedido de justiça no Brasil, Espanha investe contra quem investiga os crimes da ditadura de lá:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u735112.shtml

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