terça-feira, 15 de junho de 2010

O inferno da "experiência", ou a exigência impossível

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Imagino que todos já tenham passado por isto, especialmente quando se busca o primeiro emprego, um estágio ou simplesmente um emprego ao sair da faculdade (não necessariamente o primeiro, mas o definitivo, o relevante).

Falo da "Experiência", a maldita experiência que algumas empresas e ONGs adoram exigir e que muitas vezes não conseguimos acreditar que algum ser humano possa ter as qualificações desejadas.

Das duas uma, ou a empresa não quer contratar ninguém e abre a vaga só de pirraça, molecagem, ou então usa esta exigência absurda como filtro - apenas quem esteja perto do exigido se candidatará.

Em ambos os casos temos, pelo menos, uma tremenda falta de respeito, especialmente com quem está saindo da faculdade ou está me busca do primeiro emprego, de um bom estágio.

Vale, antes de mais nada, lembrar que exigir mais de 6 meses de experiência é ilegal! Mais uma das leis que não "pegam" no Brasil.

Como em tantos setores no Brasil, no mercado de trabalho existem leis que não pegam. A que proíbe exigir mais de seis meses de experiência é um exemplo.

“A empresa vai contratar a mesma pessoa que ela iria contratar anteriormente. Alguém que provavelmente tem cinco, seis ou sete anos de experiência”, diz Max Gehringer.
Aliás, o cúmulo da falta de noção e empresa oferecer estágio pedindo experiência! Gente, "comofas"? O objetivo do estágio não é exatamente o de aprender, de começar do zero, de dar chance à um universitário começar?

Eu não coloco aqui exemplos de empresas e suas esdrúxulas exigências para não ser processado mas já encontrei oferta de estágio exigindo 1 a 2 ano de experiência em determinada área.

Vejamos, o universitário então deveria ter trabalhado quando criança para conseguir chegar ao padrão exigido por esta magnífica e socialmente interessada companhia! Apologia do trabalho infantil, talvez?

Não é incomum encontrar exigências de até mais que 4 ou 5 anos de experiência em determinada áre, isto quando não pedem Doutorado, PhD e o escambau! Campeãs nestes tipos de exigências estão as agências da ONU, como Acnur e afins, que jamais sonhariam em exigir menos que meia vida de um indivíduo como experiência.

Neste ponto eu me pergunto, será que uma pessoa com 500 anos de experiência, mas uma cabeça feita, um padrão de ações, uma mentalidade formada e dificilmente maleável é realmente melhor para uma empresa - ou uma ONG - que alguém novo, recém-saído da Universidade, com novas idéias, uma nova cabeça e que será moldado por esta empresa (ONG), trabalhará exatamente como ela quer, pois não terá qualquer modelo anterior?

Qual é o grande problema em se tomar um mês, dois meses quiçá, ensinando alguém novo e entusiasmado numa função? Qual a grande dificuldade em ensinar, integrar, dar oportunidades?

Outra coisa que surpreende bastante é que boa parte das instituições mais exigentes, mais difíceis de se entrar e de se estar à altura do exigido para os cargos são as ONG's! Exatamente àquelas que lutam por igualdade, integração social e etc são as que mais discriminam na hora de contratar.

As ONG's, por si só, são difíceis de entrar, são uma panela, vale o "quem indica" mais do que a qualidade do candidato. É como um grupo fechado onde só os que tem bons contatos, amigos em comum ou indicação "de cima" são aceitos.

Chego a pensar que as exigências absurdas são apenas uma maneira de manter o grupo fechado, ou seja, entra quem é indicado, para os de fora valem as regras draconianas e quase sempre impossíveis.

Enfim, não surpreende que no mundo das ONG's muitos se conheçam, migrem de uma para outra e os mesmos rostos sejam frequentes. Difícil você lançar 5 nomes num grupo de ongueiros e estes não conhecerem pelo menos 2 ou 3... ou até todos!

Mas o problema da "experiência" é geral. As empresas, Ong's, enfim, o mercado de trabalho, prefere dar espaço para quem já está há anos e fecha as portas para quem está começando, não surpreende que a taxa de desemprego seja muito maior entre jovens que querem entrar no mercado de trabalho do que entre quem já está ha algum tempo na estrada, e a taxa continua a crescer!

Não seria hora de repensar o modelo? Não seria hora do governo começar a efetivamente fiscalizar esta exigência absurda de larga e longa experiência? Não seria hora, enfim, do governo incentivar, seja pelos meios que forem, a contratação de jovens que querem se inserir no mercado de trabalho mas encontram as portas fechadas até para simples estágios?

Aliás, é hora, sem sombra de dúvida, para as empresas repensarem sua maneira de contratar e agir. Não há qualquer sentido na constante troca de cadeiras entre as mesmas pessoas, o nomadismo de meia dúzia de indivíduos qualificados enquanto todo o resto do mercado de trabalho luta lá embaixo para conseguir ao menos se inserir.
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Comentários
4 Comentários

4 comentários:

Luciana Vaz disse...

Boa tarde! O seu blog foi contemplado com o selo Dardos. A escolha foi em clima de confraternização. Parabéns e faço votos que goste do presente. Segue o link referente ao prêmio: http://www.lucianavaz.net/2010/06/premio-dardos.html

Iberê disse...

pra mim um universitário no ápice da minha carreira estudantil o texto trouxe a luz uma questão q não se discute nas faculdades.
Enquanto temos de um lado os alunos q são esquerdalha e portanto só criticam o mercado em si, temos do outro os alienados conformistas que se matam para atingir essas exigencias, sem pensar nos reais beneficios dessas complementações.
os q não se encaixam nesse perfil ou optam pela carreira acadêmica, que apesar de mais lenta que outras reconhece mais as etapas que passamos, ou acabam "camelando" muito para um bom emprego.

D&R disse...

sempre que vejo seleções com mil exigência e 1 vaga apenas, sou levada a pensar: a vaga já tem dono! abrem a seleção pra mostrar uma pseudo transparência, mas os requisitos são requisitos de uma pessoa específica, uma dessas tantas indicações que todo mundo sabe que rola.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

@juliana (estranho usar esse nome, haha): É exatamente por aí e, pior, mesmo na academia é assim. Tenta bolsa pra fora! Você sabe bem como é! Ou você tem que ser rico e ter dedicado sua vida para ter a experiência que o curso exige, ou então desista.

@Iberê: NA faculdade vc é ensinado q, saindo, estará empregado, afinal, sua faculdade é "top". E também que se não conseguir é porque você é um fracasso.

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