terça-feira, 17 de agosto de 2010

Genocídio: O Dia das Crianças Paraguaias

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Todo ano, em 16 de agosto, é comemorado o Dia das Crianças no Paraguai, ou melhor, o Día del Niño Paraguayo.

A data, longe de lembrar algum momento festivo, marca a Batalla de Campo Grande, também conhecida como Batalla Acosta Ñu ou de los Niños. Em 16 de agosto de 1869, em plena Guerra do Paraguai, um exército composto por 500 soldados veteranos e cerca de 3.500 crianças e adolescentes paraguaios enfrentaram o exército invasor de cerca de 20 mil soldados, a maioria brasileiros. Os números da vítimas paraguais podem ser bem maiores.
Conmemoramos la batalla de Acosta Ñu, considerada la más brutal de la Guerra Grande y sin precedentes en el mundo. Eran solo niños de entre 6 a 14 años, que aun no entendían la injusticia de la guerra y hasta dónde el ser humano era capaz de llegar. Con atuendos de soldados y barbas postizas, fueron cerca de 3 mil niños los que posibilitaron la huida de Francisco Solano López hacia Cerro Corá el 16 de agosto de 1869. Hecho que pagaron con sus vidas. La desigual batalla se libró en las cercanías de la cidad de Eusebio Ayala
Com a crueldade já conhecida, o exército da Triple Aliança eliminou praticamente todos os combatentes - e seguiria adianta, praticamente dizimando a população paraguaia que somente há alguns anos recuperou a população que tinha ainda no séc. XIX. Cerca de 2000 soldados-crianças foram mortos em batalha e 1200 prisioneiros foram posteriormente executados. A verdadeira face da política brasileira de eliminar o Paraguai do mapa.

A Guerra do Paraguai é, até hoje, lembrada com orgulho pelo Exército brasileiro e, mesmo nas escolas, é preciso um professor com um mínimo de consciência para extrair mais do que os livros de história nos mostram. Não se trata de uma vitória heróica, nem mesmo de uma simples vitória, mas de um genocídio que custou ao Paraguai mais da metade de sua população e seu futuro.

Neste ponto, pouco importam as razões para a guerra, se loucura e devaneios de Solano López, presidente paraguaio, ou pressão descarada inglesa e oportunismo brasileiro. Pouco importa se Solano López invadiu o Mato Grosso com intenções de conquistar efetivamente o território ou apenas garantir navegação segura pelos rios da fronteira, tampouco interessa saber dos interesses de Brasil, Argentina e do próprio Paraguai sobre o frágil Uruguai.

Solano Lópes, Conde d'Eu, Dom Pedro, Mitre, Flores e tantos outros nomes são apenas as figuras públicas respons´´abáveis direta ou indiretamente pelo sangue de milhares de paraguaios inocentes.

A verdade é que o Brasil foi o autor, ou no mínimo co-autor com ampla participação, num dos primeiros em mais terríveis genocídios modernos, algo que faria corar grandes genocidas da atualidade.

Apesar do tom um tanto quanto ufanista - não injustificado - o vídeo abaixo dá um bom panorama do que foi este gneocídio e de seus desdobramentos.


Fontes da época fizeram relatos assustadores, de gelar o sangue, mesmo daqueles mais corajosos ou mesmo acostumados a ler diariamente sobre as atrocidades cometidas pelos EUA ou por Israel:

“Los niños de seis a ocho años, en el fragor de la batalla, despavoridos, se agarraban a las piernas de los soldados brasileros, llorando que no los matasen. Y eran degollados en el acto. Escondidas en al selva próxima, las madres observaban el desarrollo de la lucha. No pocas agarraron lanzas y llegaban a comandar un grupo de niños en la resistencia”……. “El Conde D´Eu, un sádico en el comando de la guerra,“después de la insólita batalla de Acosta Nú, cuando estaba terminada, al caer la tarde, las madres de los niños paraguayos salían de la selva para rescatar los cadáveres de sus hijos y socorrer los pocos sobrevivientes, el Conde D´Eu mandó incendiar la maleza, matando quemados a los niños y sus madres.” Su orden era matar "hasta el feto del vientre de la mujer".

"As crianças de seis a oito anos, no calor da batalha, apavorados, agarrados às pernas dossoldados brasileiros, chorando para que os matassem. E eram degolados no ato. Escondidas no mato próximo, as mães observaram o desenvolvimento da luta. Não poucas agarraram lanças e chegaram a comandar um grupo de crianças na resistência"....... "O Conde D'Eu, um sadista no comando da guerra", após a insólita  Batalha de Acosta Nú, quando estava terminada, ao cair da tarde, as mães das crianças paraguaias saíam da selva para resgatar os cadáveres de seus filhos e ajudar os poucos sobreviventes, o Conde D'Eu mandou incendiar o mato, matando queimadas as crianças e suas mães." Sua ordem era matar "até o feto do ventre da mulher."

“Mandó a hacer cerco del hospital de Peribebuy, manteniendo en su interior los enfermos – en su mayoría jóvenes y niños – y lo incendió. El hospital en llamas quedó cercado por las tropas brasilera que, cumpliendo las órdenes de ese loco príncipe, empujaban a punta de bayoneta adentro de las llamas los enfermos que milagrosamente intentaban salir del la fogata. No se conoce en la historia de América del Sur por lo menos, ningún crimen de guerra más hediondo que ese.” 


"Ele mandou fazer cerco [em torno d] o hospital de Peribebuy, mantendo em seu interior os pacientes - a maioria crianças e jovens - e incendiá-lo. O hospital em chamas foi cercado pelas tropas brasileiras que, cumprindo as ordens deste príncipe louco, empurravam com a ponta da baioneta para dentro das chamas os doentes que milagrosamente tentavam sair da fogueira. Não se conhece na história da América do Sul, pelo menos, nenhum crime de guerra mais hediondo que este. "
Efetivamente, não se conhece nada mais hediondo que o genocídio planejado de toda uma nação, sem qualquer razão ou fundamento, apenas a loucura de lideranças que só se contentavamem esmaga um inimigo, no fim a guerra, já indefeso.

Difícil conseguir imaginar a cena desesperadora de crianças com armas em punho, a maioria sem saber o que fazer, sem entender o que acontecia, frente a um exército sedento de sangue que não iria parar até extirpar o último paraguaio da terra. Imaginem o pavor das mães, observando seus filhos sendo degolados, impotentes.

Infelizmente, apesar de ser história, fatos semelhantes ocorrem todos os dias. O Brasil, em particular, não é conhecido por reconhecer seus erros. Seus militares não reconhecem seus crimes. Os crimes da Guerra do Paraguai são, ainda hoje glorificados. Os crimes de Vargas nunca foram objeto de revisão. Os crimes da Ditadura foram enterrados, os militares comemoram, os torturados e parentes dos mortos e desaparecidos - um doloroso eufemismo - são tratados como se fossem eles os criminosos, elementos incômodos no pacto nacional imposto e aceito até pelos mais insuspeitos, em troca de favores políticos e governabilidade.

Dia 16 de agosto não marca apenas o "dia das crianças" do Paraguai, uma data mórbida em que, se resta algo para se comemorar, é o fato da nação paraguaia ter sobrevivido, ainda que repleta de cicatrizes e banhada de sangue, mas marca também uma página negra - mais uma - na história do Brasil e da humanidade.
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