São várias as análises que podem ser feitas sobre o anúncio dos EUA de que teriam assassinado Bin Laden.
Mas, antes de mais nada, fica a incredulidade, especialmente em se
considerando o timing, com o momento escolhido por Obama para realizar a
operação e, claro, o local onde Bin Laden foi supostamente morto.
Em primeiro lugar, é interessante que a morte de Bin Laden tenha vindo
exatamente no momento em que os EUA estão sendo bombardeados por
críticas internacionais (e mesmo internas) contra a ação desastrosa na
Líbia. Enquanto a França pressiona por uma invasão por terra, a Rússia
ameaça agir contra a intervenção na ONU e os EUA se complicam ao
assassinar o filho e três netos de Kadafi, que nem de longe são alvos
militares ou mesmo legítimos.
Desde o início desta intervenção venho atentando para o fato de que a Resolução 1973 permitia ações para garantir uma no-fly zone, mas de forma alguma davam cartão verde para que se caçasse Kadafi ou sua família.
Pois bem, enfiados até o pescoço na lama, os EUA encontraram uma forma
de desviar a atenção mundial - com a sempre conivente mídia
internacional - e criar um factóide para fazer com que tudo mais fosse
esquecido.
De quebra, Obama conseguiu dar um boost em sua popularidade, gravemente abalada pela crise mundial.
Como li no Twitter, Bin Laden foi criado por Bush para ajudá-lo e morto por Obama com a mesma finalidade.
E algo que não surpreende é que ele supostamente se escondia em uma
cidade há pouco mais de 50 km de Islamabad, capital do Paquistão. País
que se posiciona como aliado dos EUA, mas é um dos - senão "o" -
principais celeiros de "terroristas".
É compreensível tal situação em um país que é vizinho do que foi
duramente castigado por intervenções estrangeiras ao ponto de ficar
completamente destruído e sem rumo. O próprio Paquistão está longe de
ser uma república democrática.
Enfim, a morte de Bin Laden serve a múltiplos propósitos. Reforça a
idéia de que a "Guerra ao Terror", continuada por Obama, foi um sucesso
(ou vem sendo um sucesso), ajuda o presidente dos EUA a melhorar sua
imagem no momento em que mesmo sua reeleição se encontra ameaçada e
alivia a pressão internacional sobre o país depois das ações na Líbia.
Sempre que os EUA sentem necessidade de legitimar suas ações,
normalmente invasões a países do Oriente Médio ou mesmo ameaças a países
"párias" ressuscitam o espectro de Osama Bin Laden ou da "insurgência
islâmica" onipresente.
A morte de Osama Bin Laden serve, ainda, como forma de alienar o
Paquistão, um aliado tradicional e importante, mas incômodo aos EUA, e
garantir à Índia - candidato preferencial dos EUA - a chance de pleitear
uma vaga permanente do Conselho de Segurança da ONU, sem que haja
substancial oposição paquistanesa ou, ao menos, sem que haja
constrangimentos aos EUA pelo apoio.
Em condições normais os EUA encontrariam forte resistência paquistanesa a
qualquer indicação de seu maior inimigo ao Conselho, mas, com o
enfraquecimento de sua posição depois dos recentes episódios, a força
para que o país se oponha à indicação diminui.
Porém, obviamente, se existem os prós, também existem os contras para os EUA e aliados.
O fato de Bin Laden ter sido pego em uma mansão no Paquistão - o que
leva a questionar o porquê da continuidade das ações dos EUA nas
montanhas da região - coloca em cheque o suposto aliado, ou ao menos seu
serviço secreto, conhecido por seu jogo duplo. Potência nuclear, o
Paquistão claramente demonstra não ser confiável.
Artigo completo no Correio da Cidadania. Publicado originalmente no dia 12 de maio de 2011.
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quinta-feira, 19 de maio de 2011
O "assassinato" de Osama Bin Laden
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O "assassinato" de Osama Bin Laden
2011-05-19T10:30:00-03:00
Raphael Tsavkko Garcia
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