quinta-feira, 19 de maio de 2011

O "assassinato" de Osama Bin Laden

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São várias as análises que podem ser feitas sobre o anúncio dos EUA de que teriam assassinado Bin Laden.
 
Mas, antes de mais nada, fica a incredulidade, especialmente em se considerando o timing, com o momento escolhido por Obama para realizar a operação e, claro, o local onde Bin Laden foi supostamente morto.
 
Em primeiro lugar, é interessante que a morte de Bin Laden tenha vindo exatamente no momento em que os EUA estão sendo bombardeados por críticas internacionais (e mesmo internas) contra a ação desastrosa na Líbia. Enquanto a França pressiona por uma invasão por terra, a Rússia ameaça agir contra a intervenção na ONU e os EUA se complicam ao assassinar o filho e três netos de Kadafi, que nem de longe são alvos militares ou mesmo legítimos.
 
Desde o início desta intervenção venho atentando para o fato de que a Resolução 1973 permitia ações para garantir uma no-fly zone, mas de forma alguma davam cartão verde para que se caçasse Kadafi ou sua família.
 
Pois bem, enfiados até o pescoço na lama, os EUA encontraram uma forma de desviar a atenção mundial - com a sempre conivente mídia internacional - e criar um factóide para fazer com que tudo mais fosse esquecido.
 
De quebra, Obama conseguiu dar um boost em sua popularidade, gravemente abalada pela crise mundial.
 
Como li no Twitter, Bin Laden foi criado por Bush para ajudá-lo e morto por Obama com a mesma finalidade.
 
E algo que não surpreende é que ele supostamente se escondia em uma cidade há pouco mais de 50 km de Islamabad, capital do Paquistão. País que se posiciona como aliado dos EUA, mas é um dos - senão "o" - principais celeiros de "terroristas".
 
É compreensível tal situação em um país que é vizinho do que foi duramente castigado por intervenções estrangeiras ao ponto de ficar completamente destruído e sem rumo. O próprio Paquistão está longe de ser uma república democrática.
 
Enfim, a morte de Bin Laden serve a múltiplos propósitos. Reforça a idéia de que a "Guerra ao Terror", continuada por Obama, foi um sucesso (ou vem sendo um sucesso), ajuda o presidente dos EUA a melhorar sua imagem no momento em que mesmo sua reeleição se encontra ameaçada e alivia a pressão internacional sobre o país depois das ações na Líbia.
 
Sempre que os EUA sentem necessidade de legitimar suas ações, normalmente invasões a países do Oriente Médio ou mesmo ameaças a países "párias" ressuscitam o espectro de Osama Bin Laden ou da "insurgência islâmica" onipresente.
 
A morte de Osama Bin Laden serve, ainda, como forma de alienar o Paquistão, um aliado tradicional e importante, mas incômodo aos EUA, e garantir à Índia - candidato preferencial dos EUA - a chance de pleitear uma vaga permanente do Conselho de Segurança da ONU, sem que haja substancial oposição paquistanesa ou, ao menos, sem que haja constrangimentos aos EUA pelo apoio.
 
Em condições normais os EUA encontrariam forte resistência paquistanesa a qualquer indicação de seu maior inimigo ao Conselho, mas, com o enfraquecimento de sua posição depois dos recentes episódios, a força para que o país se oponha à indicação diminui.
 
Porém, obviamente, se existem os prós, também existem os contras para os EUA e aliados.
 
O fato de Bin Laden ter sido pego em uma mansão no Paquistão - o que leva a questionar o porquê da continuidade das ações dos EUA nas montanhas da região - coloca em cheque o suposto aliado, ou ao menos seu serviço secreto, conhecido por seu jogo duplo. Potência nuclear, o Paquistão claramente demonstra não ser confiável.

Artigo completo no Correio da Cidadania. Publicado originalmente no dia 12 de maio de 2011.
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