sexta-feira, 15 de julho de 2011

Revolução Francesa: Ideais repressivos e o que NÃO comemorar

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Ontem comemorou-se, na França, o 14 de julho (a Queda da Bastilha, em 14 de Julho de 1789), que marca o início da Revolução Francesa, cujos benefícios para a humanidade são conhecidos por todos.

Na França e, de certa forma, no mundo.


Mas o que muitos esquecem, ou simplesmente não sabem, são seus efeitos nefastos, que vão muito além da guilhotina (na verdade criada para acelerar a morte de condenados e evitar que sofressem demais), de toda violência consequente de evolução da revolução e, enfim, de Napoleão assumindo o poder posteriormente.


A Revolução Francesa, para muitos especialistas, não marca o início daquilo que conhecemos como Estado moderno. Este nasce da Paz de Westphália, mais de 100 anos antes. Porém, a Revolução Francesa nos traz como novidade a idéia de Estado-Nação (conceito que já existia desde a Paz de Westphália, mas sem os desdobramentos que trouxe a Rev. Francesa) ao impor a centralidade de governo aliada de um exército unificado e, acima de tudo, da escola na "lingua nacional", ou seja, em Francês. 

Exclusivamente em Francês.


Um dos motes da Revolução era que para ser considerado francês era preciso saber falar francês. Era preciso ser parte da nação francesa para ser reconhecido pelo Estado e ter direitos. Não precisa comentar COMO forçaram todas as minorias do país a adotar o Francês como língua. 


Nações como a Provençal (Occitana), Bretã, Franco-Provençal, Sarda e Basca foram forçadas a falar francês e abandonar suas línguas e identidade. Nas escolas, crianças apanhavam caso fossem apanhadas falando uma língua que não fosse a da "nação" artificialmente imposta à todas as demais.


Antes da Revolução Francesa tínhamos cada povo falando sua língua sem grandes problemas. Os exércitos em geral eram montados e divididos de acordo com a nacionalidade/língua e o francês era necessário apenas para aqueles que fossem assumir cargos de relevância ou mesmo viver em Paris e proximidades.


O Basco era falado pela quase totalidade da população de Iparralde (País Basco Norte ou Francês) na época da Revolução Francesa. Hoje mal chega aos 40%. Várias línguas foram praticamente dizimadas, como o Gallo ou o Champenois, o Savoiardo e dezenas de outras. Nenhuma possui qualquer status oficial.


As línguas do grupo "d'Oil", mais próximas ao Francês padrão foram, em geral, assimiladas e hoje existem mais como variações regionais do que como línguas efetivas. As línguas d'Oc, provençais, lutam para sobrevier e são até hoje reprimidas.


Ainda sob os ideais "Republicanos" de "Liberdade Igualdade e Fraternidade" (raramente aplicados na prática, vide as lambanças francesas pelo globo e mesmo no tratamento dado aos imigrantes), línguas como o Catalão, Basco e Provençal não podem ser ensinadas nas escolas e não possuem qualquer proteção legal que garanta sua sobrevivência.


Os ideais repressivos da Revolução, porém, não se resumiram à França. Pode-se notar o resultado da exportação deste modelo em dezenas, centenas de países, onde minorias são oprimidas em nome da "unidade nacional", uma idéia deslocada e virtualmente inexistente.

A França foi forjada com sangue, repressão e opressão.


Comemoremos a Revolução Francesa pelo que nos trouxe de bom, pelos ideais que mesmo pouco aplicados norteiam a muitos, pela idéia democracia que trouxe (ainda que burguesa, imperfeita e desigual) e, especialmente, pelo repúdio ao clericalismo e ao Estado Laico, uma noção que falta muito a este nosso país sulamericano, mas sem jamais criticar e repudiar os traços mais nefastos da Revolução Francesa, a idéia de uma inclusividade exclusivista, de uma unidade forçada, da idéia de um Estado-nação que não corresponde à realidade mundial.

Comemoremos, pois, lembrando e respeitando o direito a autodeterminação dos povos.
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