quinta-feira, 14 de julho de 2011

The News of The world: E se não fosse na Inglaterra?

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Imagine a seguinte cena:

Em um país qualquer um grande jornal faz uma cagada inesquecível, tão grande e grotesca que a pressão pública torna quase insustentável a sobrevivência do jornal, e até mais, a pressão do governo - até certo ponto implicado com as falcatruas ou com gente ligada a elas - fazem com que o dono do jornal decida fechá-lo.

Como se não bastasse, o parlamento local decide pressionar ao ponto de quase vetar a compra de uma importante rede de TV a cabo por parte do dono do famigerado jornal.

E ainda tem mais! O líder deste país e vários parlamentares começam a discutir formas de ter um maior controle sobre a mídia, torná-la mais transparente, quiçá mais democrática. Estamos falando do embrião de um controle social da mídia.

Não faz diferença se este país tem já uma forte e grande rede de TV's e rádios que transmite programação de qualidade (neste ponto é sempre válido discutir) para o próprio país e para o mundo inteiro.

Enfim, uma crise na imprensa em que o governo do país intervém rapidamente e de forma dura, sobrando cadeia pra envolvidos no escândalo, demissões e prometendo grandes mudanças nas liberdades exageradas que tem a imprensa, confundindo liberdade de imprensa com de empresa (e mesmo ultrapanssado).

Este cenário, como todos já devem ter reparado, é inglês. O empresário canalha é Rupert Murdoch, magnata da mídia e o parlamento é o inglês e o líder é o Premier David Cameron, que teve seu assessor de imprensa implicado diretamente no caso e que agora pede reformas na legislação midiática.

Repito, é a Inglaterra (ou Reino Unido para os detalhistas).

Não há, no entanto, uma só voz dentre todas as organizações "democráticas" de mídia, de imprensa...

Nenhuma organização que diz defender jornalistas e jornais se insurgiu para gritar que impor qualquer tipo de controle à mídia é crime, é censura.

Nenhuma organização "democrática" reclamou ou deu um pio. Penso, então, que ou todas concordam com a necessidade de se aplicar medidas restritivas para assegurar que haja efetiva liberdade de imprensa - e não de empresa, de libertinagem - ou estão acovardadas. Acredito mais na primeira hipótese.

Agora uma pausa para reflexão: E se fosse na Venezuela? E se estivéssemos tratando da RCTV, fechada há alguns anos por defender e ajudar na execução de um golpe contra o presidente democraticamente eleito (gostem ou não dele) e o líder deste país fosse Hugo Chávez?

Ah, não precisamos conjecturar, pois o caso também é real. E SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) e outras organizações "democráticas" gritaram, espernearam, chamaram de censura...

Notem que na Inglaterra tivemos grampos ilegais, na Venezuela tivemos apoio logístico e midiático a um GOLPE DE ESTADO!

Ah, mas é a Venezuela...

Como imaginar um Premier e um parlamento agindo contra os interesses sagrados de empresas em plena expansão? Isto é censura! Não? Não.

Já no Brasil, bem, vejam o que Instituto Millenium, Veja, Globo, Folha e outros veículos de "comunicação" dizem sobre os planos (obviamente abortados por Dilma, que até vai pra festa da Folha) que o governo brasileiro tem (tinha) de impor um controle social da mídia, buscando democratizá-la.

Não me surpreenderia se houvesse uma insurreição midiática bancada pelas elites políticas desse país.

É engraçado, mas parece que democracia, controle social da mídia e democratização dos meios de comunicação são coisa permitida apenas aos do "andar de cima". Aqui embaixo temos de ser reféns do jornalismo (sic) marrom, golpista e criminoso calados, sorridentes e contentes.

Alex Haubrich, do Jornalismo B, finaliza:
Na Inglaterra, o órgão responsável pela regulação das comunicações já caiu em cima dos interesses de Murdoch no país. Aqui no Brasil seguimos carecendo de órgãos assim, e mesmo da regulamentação dos artigos constitucionais que versam sobre mídia. A libertinagem de empresa segue atropelando a verdadeira liberdade de imprensa, através das formas mais sujas de constituição legalizada de oligopólio e de ataque à liberdade de expressão.
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