sábado, 20 de agosto de 2011

Zara, Belo Monte e a justificativa da escravidão por interesses

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Imagino que todos e todas que tenham assistido ao programa A Liga, que denunciou o trabalho escravo da Zara e outras formas de trabalho escravo no interior do país, ou que tenham ouvido falar depois do episódio, tenham repudiado econtinuem a repudiar a Zara.

Não acredito que ninguém apoie o trabalho escravo, a exploração insensata e desumana de outros, de nossos semelhantes, sejam eles brasileiros, bolivianos e até marcianos, se fosse o caso.

Quantos, agora, não pararão de comprar roupas na Zara e falarão com todos os conhecidos para fazer o mesmo?

A escravidão é a mesma desde os primórdios da história. Muda o grupo social e a aceitação popular, mas permanece sendo uma degradação social intolerável. A animalização do ser humano, a coisificação do ser humano que passa a ser uma mercadoria a ser negociada, explorada e mesmo destruída ao gosto do "dono".

O exemplo da educação falida, voltada à empresas e não ao ensino efetivo e o descaso com os direitos humanos podem ser entendidos em apenas uma frase:
“Há dois lados nessas histórias que envolvem o trabalho escravo. De um está a empresa, que não deveria ter como meta querer ganhar 100% de lucro em cima da exploração humana. Do outro, o empregado, que não deveria se deixar submeter a essa precariedade desde o início”.
A criminosa autora da frase acima é Denise Von Poser, professora de comunicação com o mercado do curso de pós-graduação da ESPM. Faculdade voltada para a empresa, curso voltada pra empresa em um modelo totalmente voltado apra... empresas! Escravidão é culpa da vítima. Vamos relativizar tudo.

Mas por vezes eu fico me perguntando se a revolta que muitos sentem do tratamento desumano e do desrespeito à dignidade humana (que vai além da escravidão, mas a engloba) é realmente genuína, ou só vai até onde se choca com seus interesses ou com os interesses imediatos de seu governo.

Sim, falo mais uma vez sobre Belo Monte. É justo se calar frnete ao desrespeito aos direitos humanos apenaspor interesses?

Se você quer comprar uma roupa da Zara, mas se revolta com o trabalho escravo, você não boicota a loja até que esta passe a respeitar integralmente os direitos humanos de seus funcionários dentro de toda sua cadeia de produção?

Você não se revolta quando descobre que uma marca usa trabalho escravo infantil para produzir roupas, tênis e etc? Ou você pensa que o problema é deles (dos explorados) e continua a usar o produto como se nada tivesse acontecido?

Ou, seguindo outra linha de argumentação, os fins justificam os meios?



Pois é. A questão passa de um problema pessoal de escolhas a um problema de governo, de apoio cego e irrestrito a um governo que prega um modelo de desenvolvimento ultrapassado, desumano e que nem em uma realidade alternativa poderia ser chamado de um modelo de esquerda.

Remoções forçadas, desrespeito aos direitos humanos, desrespeito a organismos e leis internacionais e a defesa do crescimento frente a dignidade humana são e sempre foram bandeiras da mais extremada direita neoliberal.

O que fazerquando quem se diz de esquerda manipula notícias igual faz o chamado PIG para justificar as ações assassinas de seu governo?
São só 200 índios, são só 180 índios... Mesmo que fossem 10 índios. É justificável, em nome do progresso ou de um suposto progresso, passar por cima da dignidade humana de uma pessoa sequer?

Vale lembrar, como adendo, que a própria constituião federal proíbe o deslocamento forçado de populações indígenas de suas terras e, em caso de máxima necessidade, os indígenas devem ser indenizados e tratados com respeito, o que sabemos que não acontece ou acontecerá:
Art. 231 - São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

§ - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.

§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.

§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

Art. 232 - Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.
Mas sejamos honestos, se nem os apelos ao repeito aos direitos humanos funciona, o que esperar do respeito a lei?

Apelos à razão e ao respeito a dignidade humana não funcionam com fanáticos que acreditam que um governo comandado pelo PMDB e que faz apelos desesperados para não perder o PR possa ser chamado de esquerda.

Alguns chegam ao ponto de reclamar do direito a greve - criminalizada por este governo! Institutos Federais estão em greve, professores estaduais estão em greve por todo o país (muitos em estados "aliados") e as Universidades Federais irão entrarem greve (algumas já estão) e o que se ouve por parte de muitos "progressistas" é estática. É o som do silêncio. Enquanto aind é possívle ouvir reclamações, como se professores não precisassem comer, não precisassem de condições decentes de trabalho.

Os esforços do governo se dividem em duas frentes, em acabar com a miséria ao passo que garantem os lucros cada vez maiores do empresariado e dos bancos.

É uma política, como já tratei aqui, equivocada:
Não se constrói um país onde o povo passa fome e não tem condições de viver e não sabe se estará vivo no dia seguinte (claro que com a violência das polícias o favelado, em geral negro, continua vítima de sua condição, mas é outro assunto), mas da mesma forma, não se constrói um país APENAS com a bandeira do combate à miséria, deixando pra lá políticas de inclusão efetivas para quem SUPEROU a situação de miséria.
[...]
Políticas efetivas de combate à miséria mas que, no fim, acabam se voltando contra o próprio partido quando consideramos que a população agora come, mas continua conservadora, sem educação e refém de Marginais da Fé e enganadores semelhantes. Não se emancipou.

O caso do Salário Mínimo no começo do ano é emblemático. Amplia-se o Bolsa Família mas achata-se o salário de quem conseguiu caminhar para o patamar acima.

O ProUni, um bom programa, peca em aceitar toda e qualquer UniEsquina, formando profissionais de má qualidade que, muitas vezes, já chegaram nessas universidades em estado de quase analfabetismo funcional, pois não houve nenhum investimento sério em educação básica.

Os investimentos são feitos quase que exclusivamente na etapa final do processo educacional, abandonando as primeiras etapas onde o jovem, a criança, aprende a pensar, forma sua identidade e adquire pensamento crítica. A idéia é apenas formar para o mercado. Não é emancipar, não é efetivamente educar, mas formar mão de obra (nem tão) qualificada.
Enquanto o governo garante que as pessoas comam - o que está correto -, garante o direito do empresariado explorar ao máximo os demais. Greves em obras do PAC pipocam. Trabalhadores são tratados como gado em nome do "progresso". O govenro privatiza aeroportos, fazendo o que passou toda sua história criticando, invfeste pesado em ensino privado, enquanto contrata professores como temporários nas federais, tratando o professor como peça descartável e por aí vai.

E TUDO com a maior conivência de boa parte de uma militãncia fanática e fanatizada, incapaz de enxergar a realidade por detrás dos belos discursos da presidente de que irá tornar o Brasil um país de classe média.

Mas... classe média? qual? A conservadora, viciada em shopping e consumista ao extremo que votou em peso no Serra e na Marina?

E a reforma agrária? E a educação de qualidade? E a internet de qualidade? Estamos em um país em que o governo faz de tudo, mas NADA tem qualidade.


Nada disso importa aos fanáticos. Espero que fiquem felizes em ter energia gerada com o abuso aos direitos humanos. Estes podem, agora, usar roupas da Zara sem preocupação, consumir produtos vindos de trabalho escravo, pois não tem mais nada a oferecer além de suas cumplicidades criminosas.

Substitua o "ela" do comentário abaixo, de Rui Amaro Gil Marques, por "eles", por todos os fanáticos:
Ela não se considera um monstro por ser a favor de uma enorme violência contra o meio ambiente, a floresta e o rio xungú. Ela não se considera um monstro por concordar e defender a expulsão de tribos indígenas de suas terras e a destruição de suas culturas. Ela não se considera um monstro por defender os interesses escusos de políticos locais, empreiteiras e dos que se aproveitam de empreendimentos dessa magnitude para desviar verbas públicas para financiar negociatas e o enriquecimento ilícito. Hitler e os nazistas também não se consideravam monstros pelo assassinato de crianças, judeus, comunistas, ciganos, deficientes físicos e mentais. Parabéns para essa guria e a monstruosidade que ela comete, apesar dela não ser um monstro até porque o correto é monstra.

O engraçado ao ouvir defensores de Belo Monte, os mais ingênuos (mas que são tão responsáveis quanto os "cabeças" que estão por trás), dizendo que "ficaremos" sem energia. Nós quem, cara-pálida? A energia de Belo Monte será primordialmente enviada para indústrias de aluminio no Pará! Ah, mas é o desenvlvimento1 Pouco importa Belo Monte ou mesmo o quão poluidora é a indústria de alumínio e quão degradante pode ser para o país.

Quem defende Belo Monte é um monstro e direto responsável pelas mortes causadas direta ou indiretamente por esta obra criminosa que foi combatida pela esquerda por décadas.

"Desenvolvimento" é o novo Socialismo para alas fanatizadas de governistas. Mas "Socialismo" sem o social e banhado no sangue daqueles deixados pra trás.


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