segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Bahrein, a aceitação da repressão e o gás lacrimogêneo "made in Brazil"

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Passei parte significativa do domingo conversando com Árabes e Barenitas sobre o uso de bombas de gás lacrimogêneo feito no Brasil na repressão aos civis no pequeno país do Oriente Médio.

As primeiras denúncias sobre a procedência destas armas ditas "não-letais" veio pelo Twitter, através do cartunista Carlos Latuff e, logo depois, se espalhou, sendo notícia na Época, no Opera Mundi e na Al Jazeera.

Não é preciso nem dizer a vergonha que devemos sentir, nós, brasileiros, ao saber que uma fábrica de nosso país está contribuindo para o assassinato e a repressão de milhares de civis no Bahrein, país que, aliás, a franca maioria da população brasileira sequer já deve ter ouvido falar.

Me recordo ter escrito certa vez sobre estas armas não-letais:
Balas de borracha, bombas de gas lacrimogêneo eufemísticamente chamadas de "bombas de efeito moral", sprays de pimenta concentrada e mesmo armas de choque são armas potencialmente letais, usadas de forma indiscriminada por policiais sem qualquer tipo de treinamento, e pior, com vontade de causar o máximo de dano que puderem.

Caso matem a vítima com estas armas "não-letais", poderão dar a desculpa de que foi sem querer ou de que cumpriam ordens.

Estas armas são basicamente instrumentos de tortura em massa com selo de aprovação governamental.
As informações que chegam do Bahrein são as de que as bombas de gás são disparadas tendo os civis como mira e muitas vezes à queima-roupa, com a intenção clara de ferir e matar. Médicos que atendem os feridos são presos, enfermeiro(a)s são ameaçados e a população civil é morta. Revolucionários, da maioria xiita, contra um governo sunita bancado pela Arábia Saudita e, como não poderia deixar de ser, pelos EUA.
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Explico melhor neste artigo para a Carta Capital a gênese do conflito no Bahrein e seus primeiros desdobramentos;
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Ainda mais grave que saber do uso de armas fabricadas no Brasil lá no Bahrein, que potencialmente matam, é saber que a revolta gerada será pequena. Oras, se nossa polícia usa as mesmas armas em nossos civis - em nós - qual o problema exportar?

Qual o problema em exportar terror, violência e dor?

Mas de fato, o problema em si sequer é a "exportação", mas a mera utilização de armas deste tipo, que matam sempre que o atirador tem a vontade de tirar uma vida e sabe mirar, contra uma população civil que tem total e absoluto direito de protestar.

É a internalização, a aceitação de uma pseudo-normalidade em se reprimir.

É inaceitável que civis desarmados sejam vítimas de tamanha brutalidade, como receberem balas de borracha e gás pelo mero fato de estarem pacificamente demonstrando insatisfação com alguma coisa.

E pensar que este mesmo modelo repressivo e assassino está sendo exportado com total conivência de nosso governo é ainda mais intolerável.

Não nos contentamos mais em reprimir com violência os nossos, agora ajudamos exércitos assassinos a reprimir outros povos.
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