As primeiras denúncias sobre a procedência destas armas ditas "não-letais" veio pelo Twitter, através do cartunista Carlos Latuff e, logo depois, se espalhou, sendo notícia na Época, no Opera Mundi e na Al Jazeera.
Não é preciso nem dizer a vergonha que devemos sentir, nós, brasileiros, ao saber que uma fábrica de nosso país está contribuindo para o assassinato e a repressão de milhares de civis no Bahrein, país que, aliás, a franca maioria da população brasileira sequer já deve ter ouvido falar.
Me recordo ter escrito certa vez sobre estas armas não-letais:
Balas de borracha, bombas de gas lacrimogêneo eufemísticamente chamadas de "bombas de efeito moral", sprays de pimenta concentrada e mesmo armas de choque são armas potencialmente letais, usadas de forma indiscriminada por policiais sem qualquer tipo de treinamento, e pior, com vontade de causar o máximo de dano que puderem.As informações que chegam do Bahrein são as de que as bombas de gás são disparadas tendo os civis como mira e muitas vezes à queima-roupa, com a intenção clara de ferir e matar. Médicos que atendem os feridos são presos, enfermeiro(a)s são ameaçados e a população civil é morta. Revolucionários, da maioria xiita, contra um governo sunita bancado pela Arábia Saudita e, como não poderia deixar de ser, pelos EUA.
Caso matem a vítima com estas armas "não-letais", poderão dar a desculpa de que foi sem querer ou de que cumpriam ordens.
Estas armas são basicamente instrumentos de tortura em massa com selo de aprovação governamental.
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Explico melhor neste artigo para a Carta Capital a gênese do conflito no Bahrein e seus primeiros desdobramentos;
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Ainda mais grave que saber do uso de armas fabricadas no Brasil lá no Bahrein, que potencialmente matam, é saber que a revolta gerada será pequena. Oras, se nossa polícia usa as mesmas armas em nossos civis - em nós - qual o problema exportar?
Qual o problema em exportar terror, violência e dor?
Mas de fato, o problema em si sequer é a "exportação", mas a mera utilização de armas deste tipo, que matam sempre que o atirador tem a vontade de tirar uma vida e sabe mirar, contra uma população civil que tem total e absoluto direito de protestar.
É a internalização, a aceitação de uma pseudo-normalidade em se reprimir.
É inaceitável que civis desarmados sejam vítimas de tamanha brutalidade, como receberem balas de borracha e gás pelo mero fato de estarem pacificamente demonstrando insatisfação com alguma coisa.
E pensar que este mesmo modelo repressivo e assassino está sendo exportado com total conivência de nosso governo é ainda mais intolerável.
Não nos contentamos mais em reprimir com violência os nossos, agora ajudamos exércitos assassinos a reprimir outros povos.