terça-feira, 12 de junho de 2012

Apolinário: Os privilégios de um homofóbico e a bancada do ódio

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Mais uma vez a Folha publicou uma carta minha, novamente mutilada. Mas é melhor que nada.

Desta vez contestando a tosquice do vereador e homofóbico de plantão Carlos Apolinário (evangélico, obviamente, e autor do "Dia do Orgulho Hétero" e que já usou a bíblia para defender o nepotismo) que resolveu mais uma vez considerar que manfiestações legítimas de uma minoria perseguida e vítima de abusos como "privilégios" e, como não poderia deixar de ser, Apolinário resolveu ir mais além e perseguir casais gays que adotam crianças - talvez, para ele, fosse melhor deixar as crianças apodrecerem em orfanatos, nas ruas ou talvez serem molestadas por padres e pastores.

O Sakamoto foi direto:
“Algum psicólogo ou juiz já parou para pensar como esta criança se sentirá diante dos seus colegas na escola ou na rua da sua casa, quando ela tiver que enfrentar o mundo, para explicar que está registrada no nome de um casal formado por duas pessoas do mesmo sexo (…) O que acontecerá com uma criança que vai morar com duas pessoas do mesmo sexo que têm relacionamento sexual? Como estará a cabeça dela durante a infância ou a adolescência?”
Até uma ostra saudável em dia de maré baixa se perguntaria: “Ué? Mas não é ele mesmo, com suas posições, que ajuda a produzir e manter esse mundo preconceituoso?”
Ou seja, a velha tática de, uma vez questionado, usar o discurso de culpar a vítima.
- Ah, mas ela pediu. Ninguém bota uma saia curta dessas se não estava pedindo.
- Quem mandou esse reporterzinho ir fuçar os nossos negócios. Se ele tivesse ficado na dele, estaria vivo agora.
- O fazendeiro estava apenas se protegendo. Aqueles índios deveriam ter se mudado quando a fazenda foi aberta. Decidiram ficar, assumiram o risco.
- O trabalhador acaba entrando porque quer nessas condições de serviço e depois diz que é escravo só para que o Estado confisque a terra e lhe dê de presente na reforma agrária.
Adoraria que isso fosse engraçado. Ou ficção. Muita gente agarra argumentos como o do vereador e, sem pensar, o acolhem. Por quê? Porque é mais fácil viver assim e justifica o preconceito. Para quem não foi instigado a duvidar de tudo o que lê, ouve e vê – inclusive disto que escrevo agora – pode ser um porre ter que pensar no que há por trás das coisas.
Enfim, eis o que a Folha publicou do comentário que enviei:
O vereador Carlos Apolinário (DEM-SP) deveria parar de se preocupar com o que os gays fazem ou deixam de fazer ("Direitos ou privilégios?", Tendências/Debates, ontem). Políticos não são eleitos para legislar sobre a orientação sexual das pessoas ou sobre garantias constitucionais.
Raphael Tsavkko Garcia (São Paulo, SP)
E o que efetivamente enviei (em negrito o que foi omitido):
O vereador Carlos Apolinário deveria parar de se preocupar com o que fazem ou deixam de fazer os gays e cuidar não só de sua própria vida, como da cidade. Que me conste, políticos não são eleitos para legislar sobre a orientação sexual dos demais ou sobre garantias constitucionais. Advogado e empresário, como se define o vereador, não sei porque resolveu agir como psicólogo e juiz, colocando seus preconceitos religiosos frente a sua humanidade - ou seus deveres como legislador -, mas recomendaria que prestasse mais atenção à Marcha pra Jesus que constantemente prega o ódio e o preconceito do que à Parada Gay, que prega o amor e a tolerância, algo que falta ao nobre Apolinário.
Não mudo uma linha do que disse. E digo mais:

Apolinário é, como todos os demais políticos evangélicos que usam seu mandato para perseguir minorias e para pregar a ignorância e o ódio, um inútil que deveria ser proibido de exercer cargos públicos em um Estado Laico e signatário de diversos pactos sobre direitos humanos.

Estas figuras adoram falar dos supostos privilégios de grupos que são forçados a se manifestar para mostrar que existem, que são humanos, merecem respeito e dignidade - assim como proteção - e que protestam exatamente para confrontar o medievalismo das idéias (sic) dos grupos que o vereador Apolinário representa.

Apolinário e demais políticos evangélicos representam o que há de pior, de mais retrógrado e fascisa na sociedade brasileira. E o pior disso tudo é que este dsicurso de ódio encontra eco no governo, que não apenas se mantém impassível frente à violência crescente e às pregações odiosas, como SE ALIA com eles, dando-lhes verba e cargos.

O sangue de boa parte dos gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros derramado no país é de responsabilidade direta do discurso destes pregadores do ódio com bíblias na mão, destes Marginais da Fé - para desespero daqueles que efetivamente pregam o entendimento, a solidariedade e o amor ao próximo com o mesmo livro.

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Aliás, no mesmo "Painel do LEitor" da Folha vemos a seguinte carta de assessor de Haddad, candidato do PT à prefeitura de São Paulo e Ministro da Educação durtante a "crise" do Kit Anti-Homofobia:
O material anti-homofobia citado em reportagem da Folha ("Sem Serra e Haddad, Marta reina na Parada Gay em SP", "Poder", ontem) foi produzido pela ONG Pathfinder do Brasil com recursos de emenda parlamentar ao Orçamento da União aprovada pelo Congresso Nacional. A emenda foi proposta por um conjunto de deputados federais. Portanto, ao contrário do que diz a Folha, o ex-ministro Fernando Haddad não "tentou emplacar" o material, que não foi distribuído pelo MEC em razão da abordagem inadequada. Aproveitamos para reafirmar que durante visita à sede da APOGLBT, no dia 6/6/12, Fernando Haddad avisou que não iria à 16ª Parada Gay por motivo de viagem.
Everaldo Gouveia, assessor de imprensa de Fernando Haddad (São Paulo, SP) 
A subserviência do PT aos Marginais da Fé é tanta que numa mesma mensagem buscam desvincular Haddad de qualquer responsabilidade sobre o kit, ele não tentou emplacar nada, não teve NADA a ver e ainda dizem, cm orgulho, que ele preferiu viajar do que participar da Parada Gay. O público LGBT realmente pensa em votar nesta figura - não que haja outro candidato melhor, afinal, Serra, Chalita, Netinho, Russomano, Soninha (hahaha) não são melhores - que claramente não dá a mínima para sua cidadania?

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Atualização, 13/06:
No mesmo Painel do Leitor, um homofóbico de Ribeirão Preto, Luiz Antônio da Silva, defendeu o direito à "se expressar" com preconceito e ódio:
E ainda dizem que são os outros que são intolerantes! Segundo a carta do leitor Raphael Tsavkko Garcia (Painel do Leitor, ontem), um vereador democraticamente eleito pelo povo não pode sequer se manifestar sobre um assunto que diz respeito à sociedade brasileira? Isso é o mesmo que dizer: todos são livres para se manifestar, desde que falem a favor da "minha verdade". Muitos já estão perdendo a noção do razoável!
Luiz Antônio da Silva (Ribeirão Preto, SP) 
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