sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Marta, PT e o fundamentalismo no senado

Pin It
Marta deixou o senado para assumir a pasta da Cultura. Comemoremos a queda de Ana de Hollanda - ainda que talvez seja tarde para consertar o que ela destruíu -, mas não há o que comemorar com a chegada de Marta. E dou as razões.

Marta teve, em sua gestão como prefeita, uma política cultural elogiada, mas não pela capacidade dela na área e sim por ter um grupo de ótimos assessores. Sim, é fato que ela pode se cercar de gente certa no ministério, mas a gestão cultural de um país não é a mesma de uma cidade. Mas este primeiro ponto pode-  e espero - nem ser um grande problema.

Marta, porém, foi nomeada como um toma-lá-dá-cá pelo apoio dado ao Haddad, e não importa o quanto negue, não somos imbecis ao ponto de acreditar que ela tenha sido convencida a apoiar Haddad de graça e que nem uma semana depois de entrar na campanha o minsitério tenha ficado vago. Não nos esqueçamos que Marta foi chamada até de tucana (serrista, no caso) por petistas fanáticos quando se recusou a apoiar Haddad - mesmo destino de Erundina, que não aceitou ser vice numa chapa com Maluf.

Não bastasse essa nomeação que foi mais um prêmio que realente a tentativa de consertar o ministério, fica o restro da Marta no Senado: assume eu seu lugar o candidato do PR, Antônio Carlos rodrigues, um homofóbico de direita que pode destruir de vez o PLC122 (que jão não era grande coisa nas mãos da Marta) e que será mais um crápula a ser contentado pelas benesses do dinheiro público para votar com o governo (não que uma figura dessas precise de muito para votar por projetos ruralistas, religiosos e afins).

Oras, porque Marta, eleita senadora, pode dar feliz e alegre seu lugar a um suplente homofóbico de direita e fica por isso mesmo?
Mas claro, o problema em si não é deixar o cargo e sim deixar o cargo para quem possa ser ideologicamente oposto. Na política de alianças atual, ideologia não importa e sim poder.

A política de alianças do PT nos levou a chegar a um ponto em que o suplente de uma senadora que bem ou mal se diz de esquerda, é diametralmente oposto a ela em todos os sentidos.
Ligado a 22 paróquias da Igreja Católica na zona sul, o vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR), suplente que vai assumir a vaga de Marta Suplicy (PT) no Senado, é contra o casamento gay e o aborto. "Vou seguir sempre as posições da Igreja Católica nas votações. Para mim homem é homem e mulher é mulher. Também sou contrário ao aborto e à eutanásia", afirmou nesta quarta-feira o vereador paulistano, após uma sessão na Câmara Municipal marcada pelas homenagens dos colegas ao novo senador por São Paulo.

Para mim, político que diz que vai seguir posições de religião ou grupo religioso deveria perder imediatamente o cargo. Mas estamos no Brasil, onde o Estado Laico é apenas uma piada e uma "chateação" quase insignificante no caminho dos fundamentalistas - quase todos aliados do PT.

Para piorar o novo senador Rodrigues e seu PR apoiaram (apoiam) Serra na candidatura a prefeito contra o candidato do PT! Isso denunciar de forma claríssima não apenas o modelo político brasileiro que permite alianças sem absolutamente qualquer ideologia, mas especialmente o PT e sua política totalmente nonsense de alianças. Ou melhor, há um sentido, o do puro e simples poder, custe o que custar.
Não surpreende, por exemplo, os ataques de petistas à candidatura de Russomano que, aliado da Universal e da Record, é também aliado do governo federal (ele, a Record e a Universal). E, novamente, não surpreenderá a ninguém que, ganhando o PT ou o PRB, ambos estarão no governo da cidade de São Paulo - assim como provavelmente o PR que, hoje, apoia Serra e o PSD, do ex-neo-companheiro Kassab.

É possível que a Marta seja uma boa ministra? Sim. Mas é impossível que um homofóbico fundamentalista como o Rodrigues seja um bom senador. E, hoje, é (parece) impossível  ter esperanças na política brasileira.

------------
Atualização: Aparentemente o Rodrigues não assumirá a vaga no Senado. Felizmente. Por pior que seja sua ideologia, ao menos preferiu responder a seus eleitores que deixá-los por outro cargo.
------