Em primeiro lugar, deixo claro, Alckmin e Haddad são responsáveis pelo massacre. A responsabilidade é dos dois, em igual peso e tamanho.
Poucas vezes na vida vi repressão como esta, e estive no Pinheirinho. Fui alvo de balas no Pinheirinho, assim como fui alvo de balas hoje e nos protestos anteriores do MPL. Absolutamente NADA justifica a violência de hoje (nem de qualquer outro dia, aliás), e hoje sequer houve provocação. Nenhuma. Nenhum "vandalismo", nada.
A Polícia antes mesmo da marcha começar já tinha prendido à rodo. Quem tinha vinagre junto era preso. Jornalistas forma presos por estarem apenas indo para o protesto, ainda no Teatro Municipal.
Vou tentar narrar cronologicamente o que vi, apesar da adrenalina estar nublando um pouco as coisas, fora o ódio tremendo pela brutalidade policial e pro estes governantes assassinos que temos.
Um começo tranquilo, mais de 20 mil pessoas reunidas e os primeiros gritos contra os militantes do PT que apareceram na marcha, só depois que a direção permitiu, claro. Apareceram também militantes de outros grupos próximos ao PT que estavam totalmente ausentes dos protestos anteriores. Foram recebidos com ofensas pela maioria que estava apanhando ha pelo menos três protestos.
Seguimos até a República sob imensa provocação da PM. Logo no caminho entraram no meio da marcha para agarrar um rapaz que nada fazia e o prenderam com imensa violência. Mas seguimos. Na esquina da São Luís com a Ipiranga um ônibus elétrico precisou da ajuda de alguns manifestantes para voltar a funcionar, o cabo tinha saído do "trilho" elétrico. Um manifestante que AJUDAVA o motorista foi preso. Mas, ainda assim, seguimos.
Eu estava no fim da marcha, junto com um rapaz do MPL, Matheus, acredito, que negociava com um grupo de PMs o roteiro a seguir. O PM dizia que era pra entrarmos na Rêgo Freitas e voltar à República, algo que Matheus disse ser impossível, já que a cabeça da Marcha estava já no Mackenzie. Nesta discussão de vai ou não vai um PM no meio do grupo começou a gritar que estavam jogando pedras. Mentira pura. Estava eu e dezenas de jornalistas do lado e ninguém jogava absolutamente nada.
A provocação continuava, com PMs atiçando uns aos outros e nos provocando e querendo atacar.
Do nada, o Choque surgiu também por trás, da República, e começou a atirar, assim como policiais que atiravam debaixo do Minhocão. Não havia outro caminho senão a Praça Roosevelt.
Mas do outro lado também tinha polícia. Estava armado um massacre.
As pessoas em desespero corriam pra praça e o Choque avançava com extrema brutalidade, atirando na imprensa do outro lado da rua, onde eu estava em dado momento, e nos jogando bombas - uma estourou quase na minha perna - sem dar mostras de que iria parar.
E não pararam.
O povo corria em desespero para a Rua Augusta, do outro lado da Praça, mas havia PM lá e os que estavam na Consolação os perseguiam com tiros, bombas e gás. Pessoas que nada tinham a ver foram atingidas e intoxicadas, e segundo relatos quem se escondia nos teatros da praça era preso, e pouco importava seque se eram manifestantes.
Na Guimarães Rosa, ainda na Roosevelt, motoristas em pânico viam os carros serem cobertos por gás, uma senhora com uma criança no carro chorava enquanto era sufocada pelo gás. Na esquina a PM jogou bombas até mesmo na radial, lotada de carros. E atirava para todos os lados.
Um professor, Daniel Keller de Almeida, foi preso por gravar a cena de um rapaz sendo agredido e preso com brutalidade pelo Choque. Outro que estava filmando também foi preso. Eu escapei pois disse ser do G1, pois o PM veio me prender. Foi a primeira prisão que escapei na noite. Um ônibus do Choque saiu LOTADO da Roosevelt.
Na Avanhandava conversei com várias pessoas revoltadas com a violência da PM, que neste momento apenas posava para fotos. E por todo o caminho que passei vi a população revoltada com a violência e apoiando a manifestação. Subindo a Augusta, atrás do Choque, uma senhora gritava de sua janela contra a PM fascista e armas foram apontadas para ela.
No caminho, uma senhora, professora, Maria Bernadete, revoltada, dava entrevista com a marca da bala de borracha em sua têmpora. Ela sequer fazia parte do protesto, mas foi, como muitos pelo caminho, alvejados pela gloriosa PM à serviço de Alckmin e Haddad.
Na Augusta o Choque subia, com direito a um desvio para aterrorizar na Oscar Freire. Ai foi minha segunda quase-prisão. Mas consegui correr de volta para a Augusta.
Subimos até próximo da Paulista, quando o Choque, ofendido pelos vários manifestantes que ficaram pra trás, e por quem simplesmente estava revoltado com a brutalidade, se virou bruscamente e vários jornalistas comigo tiveram de correr e se abrigar do lado da Kiss, onde fomos alvo de muito gás, mesmo gritando desesperados pra PM que éramos imprensa. Isso apenas os atiçou.
Resolvemos correr por uma brecha entre a PM e o prédio ao nosso lado e foi minha terceira quase prisão, mas a quantidade de jornalistas em volta (e um soco dado no pescoço dele ajudou) fez o PM largar meu braço, mas infelizmente prenderam uma professora que gritava no meio da rua, sem se intimidar pelo gás e pelas balas, que dava aula para os filhos deles. Seu nome é Regina Célia.
Já na Paulista, a porrada estancando. De todos os lados. No MASP manifestantes estavam cercados e sendo alvejados e se refugiando nas paralelas, como a alameda Santos.
De lá grupos saiam esporadicamente para atear fogo em lixo (ainda que a PM, segundo relatos, tenha tacado fogo no lixo também para culpar manifestantes) e para serem recebidos com violência.
Um jogo de gato e rato que durou várias horas. Detalhe era o sorriso no rosto da PM a cada tiro, quando acertavam alguém ou quando intimidavam a todos, incluindo imprensa.
Fui caminhando para a Cásper Líbero e estudantes do Objetivo estavam presos lá dentro e revoltados com a ação da PM, que chegou a atirar na Cásper. Pessoas eram revistadas, qualquer um carregando uma mochila, ao lado da Fnac. Por toda a Paulista pessoas aplaudiam a PM, ironicamente, e gritavam "Vergonha". Era a deixa para mais ataques e mais violência.
Em dado momento reverberava pela avenida os gritos de "Vergonha" e os aplausos, era lindo de se ver. Pessoas saíam dos prédios, engravatados, e aplaudiam. Toda a população estava contra a brutalidade policial. E eram recebidos com mais brutalidade.
A Polícia atirava a esmo, para todas as direções sem que fosse preciso qualquer provocação (palmas nunca foram provocação, sejamos honestos). Pessoas gritavam, sem ter nada a ver com o protesto. Crianças choravam, idosos passavam mal e pessoas eram atingidas e violentadas por uma ação criminosa perpetrada por milhares de BANDIDOS de farda, assassinos pagos pelo Estado.
De volta à região da Augusta/Consolação, ao lado do Center 3, dois grupos do choque, vindos dos dois lados da paulista atiravam e jogavam bomba, quase matando um senhor que corria em desespero. Ameaçaram atirar no grupo da imprensa que estava no local, ameaçaram repórter do CQC e seguiram com a barbaridade. A adrenalina era tanta que não me segurei e xinguei a PM, e acabei sendo filmado pelo CQC. Só depois reparei que tinha dado uma entrevista, mas de tanta raiva, nem reparei na hora.
E a coisa continuou, com jornalistas correndo pra todos os lados e a PM barbarizando. Só depois das 11 da noite que tudo se acalmou finalmente. Com direito ainda a pessoas encurraladas no MASP levando tiros por gritarem, a todo momento, por paz e "sem violência". A polícia parecia alimentar seu ódio do grito desesperado pelo fim da violência.
Qualquer grupo com mais de 10 pessoas era alvo de tiros, sem sequer a necessidade de perguntar quem eram.
Depois, via um jornalista da Globo e outros, soube que a PM também desceu a Angélica. Manifestantes fugiam e as bombas eram jogadas no meio de carros, de ônibus... A intenção era matar, estivesse o alvo na manifestação ou apenas tivesse tido a infelicidade de ser pego no meio dela. Vidros foram quebrados pela PM que aterrorizou Higienópolis.
Muitos vídeos foram gravados com denúncias da PM quebrando os vídeos dos próprios carros para acusar os manifestantes, dentre outros.
É importante lembrar: Não houve NENHUMA provocação por parte dos manifestantes, não houve qualquer vandalismo real ou imaginário. A PM espalhou boatos entre ela e para a mídia e começou a atirar por puro prazer e sadismo. O que vimos foi um massacre, em que PMs sorriam a cada tiro que davam e estavam felizes em ter alvos fáceis para tentar matar.
Eu estive no Pinheirinho, já participei de dezenas de manifestações em São Paulo e Recife, já fui banhado por pimenta, já atiraram em mim (nunca acertaram, felizmente) e já vi efetivos policiais absurdamente grandes, mas hoje São Paulo virou uma praça de guerra. Hoje é um dia para ser lembrado como o Massacre do Passe Livre, patrocinado por Alckmin e Haddad, dois bandidos no poder.
Comentei no Facebook e mantenho:
Acabei de voltar do protesto. Eu tô abismado. Eu raras vezes vi tamanha repressão. O que fotografei, gravei e os relatos que ouvi de colegas jornalistas são chocantes. O Choque atirava em quem aplaudia (ironicamente), atirava na imprensa, em qualquer coisa que se movesse.A violência foi tão grande que até a Folha e a Globo foram forçadas a destacar. Como você vai mentir quando jornalistas da empresa foram alvejados e poderiam ter sido mortos, e quando estavam eles próprios revoltados?
Foi um massacre e a intenção de Alckmin e Haddad era clara: Matar. Não adiantou os pelegos da Juventude do PT se juntarem à marcha, foi porrada pra todo lado. Não houve NENHUMA
provocação, NENHUMA violência do nosso lado. Fomos agredidos de graça, cercados, emboscados na consolação e na Augusta.
A violência durou horas e horas, correu a Paulista, a Angélica, a Consolação, Augusta e a porra da região toda.
Alckmin e Haddad são responsáveis!
Amanhã vai ser maior! Hoje fomos mais de 20 mil, pois vamos juntar 50 mil!
Segunda, 17h, no Largo da Batata!
---Fotos do ato de ontem, no Flickr
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Vídeos:
Início pacífico da Marcha, gritos e palavras de ordem e muitos gritos contra os pelegos do PT que resolveram dar as caras no protesto.