sábado, 13 de julho de 2013

Dia Nacional de Lutas: Da "Greve Geral" ao Fracasso.

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O termo "fracasso" talvez seja muito pesado, mas a verdade passa muito perto dele.

Algumas milhares de pessoas tomaram as ruas em várias cidades pelo país mas, em geral, eram poucas e não faltaram denúncias de "compra de manifestantes" (não surpreende que UGT e a até então desconhecida por mim CSB tenham precisado pagar para que pessoas fossem às ruas com suas bandeiras) e mesmo de manobras de direções sindicais (notadamente da pelega e governista CUT) para afastar a base das manifestações que, querendo ou não, prejudicam o PT no governo federal.

Se por um lado é fato que cidades como São Paulo e Rio pararam, por outro era fato que muita gente não saiu de casa já antecipando os efeitos da greve "geral" e não por participarem dela - enquanto em vários locais o comércio abriu normalmente e mal se sentiu os efeitos de tal greve.

Uma greve não se traduz apenas por uma cidade parada, mas por uma cidade mobilizada e parada por uma causa, não apenas porque acreditam que não chegarão ao trabalho.

Nas ruas um amontoado de pautas, e por parte da pelegada cutista e da CTB, governistas do PT e PSeudoB, a imposição de suas pautas em apoio ao governo federal, ao plebiscito que nem a base aliada aceita encampar e a reforma política.

Pautas estas que não foram acordadas com as demais centrais. Aliás, uma nota cabe aqui, parecia ter mais "Centrais" que sindicatos na Paulista! É impressionante como o movimento sindical é vergonhosamente fracionado.

Além de fracionado, pareceu fraco.

Diversas categorias não se somaram, umas com medo de serem massa de manobra nas mãos da CUT (caso dos Metroviários de São Paulo, cuja base não quis parar), outras manobradas pelas direções (caso dos Bancários de São Paulo e de Recife, segundo informações).

E ficou patente que manifestações do MPL convocadas pelo Facebook tem mais força de mobilização que todas as centrais sindicais brasileiras juntas.
Como se vê, o fracasso bateu às portas das centrais.

De geral a greve não tem nada, na verdade mal vimos uma greve de verdade. Em algumas cidades ônibus pararam ou o metrô, mas em geral não houve paralisações relevantes na maioria das capitais.

As mobilizações contavam com número ínfimo de participantes frente às manifestações do mês passado - que para alguns governistas foi o "junho negro" - e ao menos em São Paulo foi bem desanimada.

O movimento sindical não precisa apenas se reinventar e chegar ao século XXI, mas precisa olhar para sua imensa divisão e entender que da forma como as coisas estão, não adianta se mobilizar.

Simplesmente porque não conseguem.

Deixo claro que eu tenho simpatia e defendo a maior parte das propostas das sindicais nos protestos do dia 11, apenas vejo que as Centrais, divididas por um lado e pelegas por outro, não tem mais a capacidade (ou a vontade) de atrair milhões às ruas. Muito do que vimos foi um show para bases e direções.

Os maiores sindicatos, CUT e Força Sindical são risíveis. Um era aliado do governo até poucos dias, mas não devem ter recebido quanto queiram para alienar suas bases. Outro é pelego e vendido, subserviente aos interesses do PT. Já os demais passam de arremedos e de centrais de aluguel - CSB, UGT, etc - a entidades combativas, mas pequenas e infelizmente divididas - caso da Conlutas e Intersindical que, juntas, poderiam ter muito mais força e relevância.

Dava vontade de rir quando, na Paulista, avistei petistas empunhando bandeiras e com cartazes de apoio a Dilma... Oras, a ampla maioria dos pontos contidos na pauta ampla das Centrais era de combate a medidas adotadas e promovidas... pelo PT e por Dilma!
É o mesmo papo dos petistas aparecendo para "comemorar" a vitória do MPL - e a derrota de Alckmin e de Haddad - quando eles próprios foram derrotados. Hipocrisia, cara de pau e falta de capacidade de retornar às ruas depois de as terem abandonado pelos palácios e pelo poder.

Com esta divisão e comprometimento com bolsos da direção e com governos não tem carro de som que dê jeito. Continuarão perdendo para as mobilizações REALMENTE populares organizadas por movimentos sociais não-alinhados ao peleguismo institucional.

Como li no Twitter, mas infelizmente não me lembro a fonte, as Centrais vem do século XX tentar ocupar espaço no Século XXI sem, porém, entender o novo século. Eu acrescentaria que até TEMEM o novo século.

Termino o post com texto magistral do Cid Benjamin sobre a tosquice que é hoje a CUT e sua presença em manifestações que, no fim, são contra o PT e suas medidas direitistas, entreguistas e liberalizantes:

A CUT é alinhada com o PT e o governo federal. No entanto, quase todos os pontos que constam da pauta de reivindicações desse tal Dia Nacional de Luta (e que, portanto, no entender da central devem ser os mais importantes no momento) dependem do governo federal, que os obstaculiza. Vejamos a pauta:

• Redução da Jornada de Trabalho para 40h semanais, sem redução de salários –o governo é contrário.
• Fim do fator previdenciário – foi implantado pelo PT no governo federal.
• 10% do PIB para a Educação – o governo é contrário.
• 10% do Orçamento da União para a Saúde - o governo é contrário.
• Transporte público e de qualidade – é uma declaração genérica, mas é bom lembrar que, recentemente, com o apoio da CUT o governo federal deu isenção fiscal para as montadoras de automóvel, num gesto de estímulo ao transporte individual.
• Valorização das Aposentadorias – todos os atos dos governos do PT foram em direção contrária, ao fazer a reforma da Previdência que FHC não conseguiu aprovar (entre outros motivos, por resistência dos petistas, então na oposição).
• Reforma agrária – dispensa comentários. O desempenho dos governos do PT ficou aquém do dos governos FHC.
• Fim dos Leilões do Petróleo e todo tipo de privatização - o governo do PT manteve os leilões, que antes criticava.
• Contra o PL 4330, sobre Terceirização - o governo é contrário.
• Reforma política e realização de plebiscito popular – reforma política é um assunto, não uma proposta em si.
• Reforma urbana – idem.
• Democratização dos meios de comunicação – o governo Dilma já disse que não vai mexer no assunto. Seu comportamento é patético. Mantém como ministro das Comunicações Paulo Bernardo, vassalo dos grandes meios de comunicação.
• Pelos Direitos Humanos:
• Contra o genocídio da juventude negra e dos povos indígenas – é uma declaração genérica, mas se há algum genocídio, a Guarda Nacional tem sido acusada de participação nele;
• Contra a repressão e a criminalização das lutas e dos movimentos sociais – de novo, uma declaração genérica, mas governos estaduais, alguns apoiados pelo PT, estão processando por formação de quadrilha as pessoas presas nas recentes manifestações. Nem a ditadura militar fez isso.
• Contra a aprovação do Estatuto do Nascituro – aqui há uma coincidência, o governo Dilma e o PT também são contrários. Ufa!
• Pela punição dos torturadores da ditadura – o governo Dilma é contrário a se tentar reabrir o tema. Mais: determinou que a Procuradoria Geral da União defendesse o notório criminoso Brilhante Ustra em processo que tinha como objetivo apontá-lo como torturador.

Como se vê, diante dessa pauta fica uma dúvida: ou ela é pra inglês ver, e estamos diante de uma demonstração explícita de oportunismo, ou há um quadro de esquizofrenia aguda, em que as centrais sindicais (aí incluída a CUT) apoiam um governo que é contrário às suas principais reivindicações.
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