segunda-feira, 21 de abril de 2014

PM da Bahia: Direito à greve?

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Eu não mudaria uma só palavra no artigo que escrevi durante a greve da PM em 2012. Continua valendo para hoje. O que eu mudaria no entanto é minha visão à época mais simpática à greve.

Hoje eu não a defendo.

Não porque haja um direito abstrato de fazê-la, eu não vejo mais como legítimo. Escrevi:
"Mas, mesmo sendo a favor do fim da PM, não posso dizer que não é legítimo, como trabalhadores, que façam greve. Se o Estado os emprega, os considera legítimos, então são legítimos seus direitos. Discutir a legalidade ou não da PM fazer greve  – à luz da constituição ou da legislação – não é o caso. Fato consumado."
Esta talvez tenha sido minha única mudança de percepção. A da legitimidade. Em 2012 eu pensava que esta greve poderia ser o estopim para a discussão da desmilitarização, inclusive me lembro de PMs na época comentando sobre, logo, havia uma abertura dentro da PM para tal debate. E havia a necessidade da sociedade tentar uma última vez.

Hoje não mais.

Não que minha visão de PM tenha mudado, que fique claro, sempre a vi como inimiga. O que mudou, no entanto, foi a percepção do momento. 

De fato, frente ao Estado, a greve atual poderia ser considerada legítima, dado que a PM serve ao Estado, trabalha para o Estado. Mas não é legítima na perspectiva do trabalhador, das vítimas. Não faz sentido que o trabalhador sempre reprimido pela PM defenda a PM hoje para, amanhã, voltar a apanhar.

Após os protestos de junho e a franca e absoluta repressão por parte de governos petistas, pmdbistas e tucanos com imenso entusiasmo por parte da PM, chego à conclusão de que se havia em 2012 um espaço para diálogo, esse se fechou, se extinguiu.

Não que a PM tenha se tornado mais violenta, ela continua a ser o que é. Mas havia, na época,a percepção de que seria possível conseguir um diálogo caso movimentos de trabalhadores e organizações sociais se colocassem ao lado das reivindicações da PM. Talvez fosse possível à PM (ao menos alguns PMs) enxergar que o inimigo não é ou não era o povo.

Infelizmente o momento passou e nada mudou.

A desmilitarização terá de vir por pressão popular e por decisão política, sem esperar que a própria PM concorde ou debata.  

A PM é inimiga do trabalhador, não tem legitimidade para agir como tal. Não merece ter apoio dos trabalhadores a quem espanca.
"Os próprios membros da PM, normalmente, não se veem como meros trabalhadores. São a arma na contenção das revoltas e das reivindicações de outros trabalhadores, o braço da “lei”, mesmo que eles nem saibam qual lei deveriam estar cumprindo e, claro, muitas vezes são os justiceiros que atiram na cabeça de “bandidos” para “limpar” a cidade e, em outras, são os próprios bandidos, complementando salário."
PM não pode ser considerado "trabalhador" em pé de igualdade com suas vítimas. Não quer dizer que não sejam em si trabalhadores, mas estamos tratando de categorias diferentes.

Se por um lado a greve é (foi) um fato consumado, não cabe a organizações de trabalhadores e partidos de esquerda defendê-la. Não se trata de criminalizar e sim de não apoiar. De não se esforçar para que suas demandas sejam atendidas, não se solidarizar.
 
Criminalizar é o que faz o petista contra qualquer grupo que não se submeta. A esquerda deve apenas se afastar e apontar onde estão os erros. É sem dúvida difícil, porém, não deixar transparecer a raiva que sentimos por esta instituição. Não é fácil ver a PM como uma classe trabalhadora, mesmo como humanos - visto que tratam o povo como se não fossem (fôssemos) humanos. No dia a dia são apenas animais prontos a realizar o trabalho sujo de governos com maestria.

Fica, porém uma questão:
Se a PM é tão terrível – e é -, por que Dilma, que tem MAIORIA no Congresso (fez alianças com deus e o diabo, especialmente o diabo, e hoje tem maioria) não põe um fim à PM?
Aí os petistas logo irão dizer que não dá, porque o apoio no Congresso não é automático, que é difícil e blablablá. Oras, eu me pergunto: mas, se o apoio não é automático, por que os cargos, benesses e caixinha são? PP, PMDB, PR e cia. têm ministérios, cargos, comissões, mas só apoiam o que querem? Que “apoio” é esse?
O PT fez greves a vida toda – ao menos até virar governo, porque hoje até a CUT é forçada a protestar contra privatização petista e o próprio PT vai esconder e enterrar a CPI da Privataria Tucana, talvez com medo que, em alguns anos, a sua privataria seja escancarada, afinal, uma mão lava a outra – e apanhou da PM, mas hoje onde governa sabe usar a PM e, por isso, não tem interesse em seu fim. Apenas fazem discursos ridículos quando são contrariados.
O papo da “herança maldita” não cola mais. O PT está há 9 anos no poder e não demonstrou interesse algum nem em reformar a PM nem em acabar com ela nem em sequer votar a PEC 300. Segurança pública não é de interesse do partido dos trabalhadores que criminaliza greves.
Muda apenas a data, mas as categorias submetidas à violência da PM pelo Estado permanecem as mesmas, a violência da PM permanece a mesma.
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