sexta-feira, 25 de abril de 2014

Queima de arquivo? Assassinaram o coronel torturador e não faz a menor diferença

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Saddam Hussein brasileiro
Algo interessante sobre o assassinato do ex-coronel torturador Paulo Malhães é a desfaçatez dos prováveis envolvidos: Gente graúda do exército, ao menos comandando.

Queima de arquivo, imaginamos todos, mas uma queima de arquivo das mais mal feitas. Oras, se a ideia era encenar um assalto que "deu errado", porque a mulher do coronel e o caseiro não forma mortos? Ou mesmo porque ele foi morto?

Se ele flagrou os assaltantes, assumamos a tese, e foi morto, os demais deveriam ter ido pelo mesmo caminho. Por outro lado, se era só um assalto em que a mulher e o caseiro saíram ilesos, porque matar o coronel, um idoso que dificilmente teria condições de resistir?

Mas o surpreendente não é a queima de arquivo (que não é novidade e nem surpreende), e sim a falta de preocupação dos responsáveis em encobrir os rastros.

Mas porque deveriam?

Contanto que não cheguem aos mandantes, não faz diferença que se saiba que foi queima de arquivo ou não, porque NADA acontecerá com os envolvidos.

Alguém acha que o governo Dilma irá fazer mais do que soltar alguma nota lamentando ou mesmo com um tom um pouco acima e que, no fim, não fará diferença?

A inútil Maria do Rosário fez alguns comentários irrelevantes no Twitter, a ministra dos Direitos Humanos, a cobra da Ideli Salvati ainda não se manifestou (e não faz falta) e a DIlma, no máximo, demonstrará indignação e o assunto será esquecido cedo ou tarde.

E ninguém será punido.

Sim, podem acabar até prendendo os assassinos (não os mandantes), mas não fará diferença. Este crime é o menor dos problemas quando se olha para o quadro todo, para a ausência de uma Comissão da Verdade com mais poderes do que implorar para bandidos torturadores e assassinos que confessem seus crimes, mesmo sabendo que jamais serão punidos.

Este episódio apenas demonstra que as forças armadas possivelmente mantém ativo seus grupos de repressão e execução, como na Ditadura, e estão prontos para agir contra quem se recusa a manter silêncio e corroborar a farsa oficial.

Oras, nós vemos estes grupos em atividade diariamente nas ações da PM contra a população negra e pobre. Assassinatos, torturas e "desaparecimentos" de quem levanta a voz, olha torto ou simplesmente parece estar no caminho. O caráter (ou falta dele) das forças armadas, PM inclusa, não mudou. Mas temos um governo que fala em conciliação, que fala em fechar as feridas do passado.

Mas não são "do passado". São atuais. São as mesmas forças repressivas de ontem atuando hoje e pior, atuando em muitos casos sob o controle daqueles que, no passado, as combatiam.

O que aconteceu com DG, Claudia, Amarildo e MILHARES de outros não difere em nada dos crimes da Ditadura. Só mudou o nome do regime e que hoje alguns podem reclamar - até certo ponto, até a PM achar que acabou a brincadeira e começar a jogar bomba e usar balas de borracha, no caso do asfalto, ou começar a matar, no caso das favelas -, mas no geral a veia repressiva do Estado permanece a mesma.

Do governo teremos no máximo uma nota e alguns discursos e lamentações. E só (ou olhe lá!). Não teremos nem por um momento um debate sério sobre o fim da Lei da Anistia, lei esta defendida por Dilma. Os militares podem respirar aliviados, porque nem o Estado os forçará a contar seus podres (implorará através da CNV), e eles poderão continuar a queimar arquivo dos que forem convencidos a falar alguma coisa.

É um jogo de ganha-ganha para as forças armadas. Nós, por outro lado, apenas perdemos ao termos negado o direito a não apenas conhecer nosso passado, mas a julgar os criminosos que tentaram e tentam destruir nosso futuro.
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