A antiga direção, formada pela aliança entre APS, MES e MTL rachou, dando lugar à formação de 3 chapas que concorreram pela direção do partido neste ano.
Antes de mais nada, deve-se deixar claro que o PSOL ainda tem MUITO caminho para percorrer.
Não é um partido, é uma federação de partidos concorrentes e sectários que se unem sob uma bandeira para poder ter acesso à "democracia burguesa". As bases são fragmentadas, na verdade ainda é preciso muito trabalho de base e para conseguir bases, pois se brincar o PSTU tem mais penetração nos Movimentos Sociais que o PSOL em si e é muito mais sólido.
A unidade entre as correntes só acontece em certos momentos, vejam como são as eleições de DCE's, dificilmente vemos uma chapa "PSOL" e sim uma do MES concorrendo com a da CST e daí em diante. Vejam, por exemplo, que existem correntes do PSOL na Conlutas e outras na Intersindical. Como pode um partido se dividir tanto?
Mas é o que acontece, o PSOL não é um partido ainda, é um PT parte 2 mas sem a mesma base e penetração.
Claro, não sejamos pessimistas, há muito espaço para crescer, para amadurecer e se criarem reais espaços de luta. O congresso de hoje mostrou que existe muita vontade, apesar do MES.
Mas, vamos ao congresso.
Foram apresentadas 9 teses, praticamente cada grupo resolveu apresentar a sua, o que já demonstra o caráter fragmentado do partido. Vale nota a Tese 1, independente, que contava com o endosso de personalidades como Chico Alencar, Milton Temer, Carlos coutinho, Marcelo Freixo dentre outros, a tese 5 do Enlace, a Tese 6, da APS de Ivan Valente, a 7, de Luciana genro e o MES, a 8 do CSOL de Plinio de Arruda Sampaio e a 9, do MTL.
Notem que cada uma destas tendências lançou a sua tese mas formaram chapa logo depois. Era engraçado,no primeiro dia, ouvir aos gritos de guerra e quase ódio de uma tendência pela outra e, no dia seguinte, vê-las se abraçando e xingando outras mais distantes. Meros acordos pontuais, sem real comprometimento.
O primeiro dia foi tranquilo, apresentação das teses, muita conversa, gritos de guerra e ótimos discursos. Nada digno de nota fora o exemplo de sectarismos que explodiram no segundo dia.
Neste primeiro dia, vale ainda lembrar, cada tendência deixou bem clara em quem apoiaria para candidato/a à presidência do Brasil. Todas, menos os independentes e o CSOL defenderam a Heloísa Helena, enquanto os demais ficaram com Plínio de Arruda Sampaio.
A APS e o ENLACE, posteriormente, revisaram suas posições e aparentemente fecharão com o CSOL e Plínio.
No segundo dia, então, foram os GT's.
Eis que, no meio da discussão sobre o aborto - todos sabem que a HH é contra e ela faz questão de deixar sua opinião pública - o MES resolve abandonar o congresso porque não achava que o tema era apropriado para ser debatido!
"Sou do PSOL, sou radical, eu não aceito o dinheiro da Gerdau"O MES é o grupo, hoje, mais próximo da HH, ainda que a CST idolatre de forma quase religiosa a ex-senadora, e em uma deturpada noção de solidariedade, resolveu que não iria discutir nada sobre o Aborto e pôs um ponto final na discussão quando ameaçou se retirar do congresso. Uma demonstração absurda de sectarismo e desrespeito.
Musiqunha da CSOL/APS para o MES
Por ser um partido de tendências, ninguém pode impor ao MES absolutamente nada, porém, sendo minoria, cabia ao MES aceitar a opinião dos demais. A Heloísa Helena, aliás, deveria se colocar em sue lugar e, como Lula, acatar a posição do partido.
O grande problema do PSOL e de qualquer partido de tendências tão fragmentadas e auto-suficientes é a de que cada líder ou membro de tendência acha que pode falar o que lhe vem à telha, sem respeitar ou observar a posição unificada do partido. É o que a Heloísa Helena faz na questão do aborto e o MES resolveu aderir. Sem dúvida uma vergonha a posição do MES para Luciana Genro, sua principal representante.
O caso Gerdau é outro que teve ampla repercussão ao longo do congresso. Conta todas as demais tendências e a direção do partido, a candidatura de Luciana Genro no rio Grande do Sul aceitou doação da empresa Gerdau. Oras, se uma das maiores críticas ao PT era exatamente a aceitação de financiamento de empresas, na base do "uma mão lava a outra", que acabou por desvirtuar as bandeiras históricas e tornar o partido um jogo nas mãos do capital, então como aceitar financiamento empresarial dentro do PSOL?
O partido não nasceu para combater exatamente isto? Ou existe alguma pureza desconhecida e gigantesca que impedirá o PSOL de se corromper, igual ao PT?
Passada a crise do sábado, no domingo era dia de votar.
As chapas formadas foram três:
Chapa 1: APS/CSOL/ENLACE/REVOLUTAS/Independentes
Chapa 2: CST/LSR/TLS/AS/ARS/CRS/Trotskystas
Chapa 3: MES/MTL
Durante os discursos de defesa das chapas surpreendeu o personalismo e o sectarismo. O discurso de Luciana Genro, Chapa 1, mais parecia uma oração à Heloísa Helena. Nenhuma discussão de propostas, idéias. Era HH no céu e o PSOL na terra para seguir sua palavra.
O discurso de Luciana Genro e do outro membro do MES (que não descobri o nome) se limitou a louvar HH, a chamar de traidores os que se opunham ao nome dela para concorrer à presidência do país.
A chapa do MES/MTL conseguiu ser mais sectária que a Chapa 2, capitaneada pela CST, próxima ao PSTU, o que diz tudo.
A Chapa 2, primeira a discursar, também demonstrou que apóia incondicionalmente - e até religiosamente - Heloísa Helena. Deixou claro de todas as formas que podia. O curioso é que declaravam ter diversas discordâncias, tinha sérios problemas e etc, mas o apóio era indiscutível. Babá deixou tudo muito claro.
A última chapa a discursar, a Chapa 1, formada por APS/CSOL/ENLACE e outros, discursou pregando a unidade. Se no primeiro dia a APQ deixou claro apoiar a Heloísa Helena, reviu sua posição e ao menos convocou um novo congresso para discutir exatamente e exclusivamente este tema.
O discurso de uma companheira que, infelizmente, não me recordo o nome, foi emocionante. Um chamado à unidade, à construção do PSOL enquanto alternativa viável à PT e DemoTucanos. A companheira fez um discurso inspirado, criticando o financiamento da Gerdau, o sectarismo, os personalismos e fechando com um pedido à unidade.
O ponto principal do discurso dos demais apoiadores da chapa 1 foi o do combate aos personalismos. O partido não é da Heloísa Helena, não é do Ivan Valente ou do Babá, muito menos da Luciana Genro, é de todos estes e da base, dos filiados e militantes. Este foi o ponto principal do discurso de Ivan Valente, o último a falar. E foi aplaudido pela maioria dos presentes ao congresso.
A votação iria começar quando do lado dos militantes do MES e do MTL estourou uma briga enquanto o resto do ginásio vaiava e gritava palavras de ordem dizendo que democracia não é porrada e lamentando as atitudes do MES ao longo de todo o congresso.
Vale ainda um adendo, ao longo de toda a apuração, enquanto as diversas tendências demonstravam seriedade, preocupação ou ao menos se juntavam para conversar, discutir o partido, rumos e possibilidades, os militantes do MES não pararam de batucar, vestidos em camisas fazendo referência ao grupo - e não ao PSOL, como seria de se esperar - e cantando músicas como "Ana Júlia", do Los Hermanos. Uma lamentável demonstração de descomprometimento com o Congresso. Uma festa, ao que se via, e não algo sério.
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Para não me antecipar ao próprio partido, amanhã posto o resultado final e mais impressões do terceiro e último dia do Congresso.
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Pequeno glossário de siglas:
APS: Ação Popular Socialista (Ivan Valente)
MES: Movimento de Esquerda Socialista (Luciana Genro)
CST: Corrente socialista dos Trabalhadores (Babá)
CSOL: Coletivo Socialismo e Liberdade (Plínio)
MTL: Movimento Terra Trabalho e Liberdade
TLS: Trabalhadores na Luta Socialista
LSR: Liberdade, Socialismo e Revolução (Unificação da Socialismo Revolucionário SR e Coletivo Liberdade Socialista CLS )
CRS: Corrente Renovação Socialista
AS: Alternativa Socialista
ARS: Alternativa Revolucionária Socialista
ENLACE: Coletivo formado por membros da Tendência Liberdade e Revolução, Movimento de Unidade Socialista, Dissidências da Democracia Socialista, da Articulação de Esquerda e do Fórum Socialista
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