domingo, 23 de agosto de 2009

PSOL: Impressões do congresso [Parte1]

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Desde sexta o PSOL vive em clima de congresso, de decisão e, como não poderia deixar de ser, em clima de franco sectarismo.

A antiga direção, formada pela aliança entre APS, MES e MTL rachou, dando lugar à formação de 3 chapas que concorreram pela direção do partido neste ano.

Antes de mais nada, deve-se deixar claro que o PSOL ainda tem MUITO caminho para percorrer.

Não é um partido, é uma federação de partidos concorrentes e sectários que se unem sob uma bandeira para poder ter acesso à "democracia burguesa". As bases são fragmentadas, na verdade ainda é preciso muito trabalho de base e para conseguir bases, pois se brincar o PSTU tem mais penetração nos Movimentos Sociais que o PSOL em si e é muito mais sólido.

A unidade entre as correntes só acontece em certos momentos, vejam como são as eleições de DCE's, dificilmente vemos uma chapa "PSOL" e sim uma do MES concorrendo com a da CST e daí em diante. Vejam, por exemplo, que existem correntes do PSOL na Conlutas e outras na Intersindical. Como pode um partido se dividir tanto?

Mas é o que acontece, o PSOL não é um partido ainda, é um PT parte 2 mas sem a mesma base e penetração.

Claro, não sejamos pessimistas, há muito espaço para crescer, para amadurecer e se criarem reais espaços de luta. O congresso de hoje mostrou que existe muita vontade, apesar do MES.

Mas, vamos ao congresso.

Foram apresentadas 9 teses, praticamente cada grupo resolveu apresentar a sua, o que já demonstra o caráter fragmentado do partido. Vale nota a Tese 1, independente, que contava com o endosso de personalidades como Chico Alencar, Milton Temer, Carlos coutinho, Marcelo Freixo dentre outros, a tese 5 do Enlace, a Tese 6, da APS de Ivan Valente, a 7, de Luciana genro e o MES, a 8 do CSOL de Plinio de Arruda Sampaio e a 9, do MTL.

Notem que cada uma destas tendências lançou a sua tese mas formaram chapa logo depois. Era engraçado,no primeiro dia, ouvir aos gritos de guerra e quase ódio de uma tendência pela outra e, no dia seguinte, vê-las se abraçando e xingando outras mais distantes. Meros acordos pontuais, sem real comprometimento.

O primeiro dia foi tranquilo, apresentação das teses, muita conversa, gritos de guerra e ótimos discursos. Nada digno de nota fora o exemplo de sectarismos que explodiram no segundo dia.

Neste primeiro dia, vale ainda lembrar, cada tendência deixou bem clara em quem apoiaria para candidato/a à presidência do Brasil. Todas, menos os independentes e o CSOL defenderam a Heloísa Helena, enquanto os demais ficaram com Plínio de Arruda Sampaio.

A APS e o ENLACE, posteriormente, revisaram suas posições e aparentemente fecharão com o CSOL e Plínio.

No segundo dia, então, foram os GT's.

Eis que, no meio da discussão sobre o aborto - todos sabem que a HH é contra e ela faz questão de deixar sua opinião pública - o MES resolve abandonar o congresso porque não achava que o tema era apropriado para ser debatido!
"Sou do PSOL, sou radical, eu não aceito o dinheiro da Gerdau"
Musiqunha da CSOL/APS para o MES
O MES é o grupo, hoje, mais próximo da HH, ainda que a CST idolatre de forma quase religiosa a ex-senadora, e em uma deturpada noção de solidariedade, resolveu que não iria discutir nada sobre o Aborto e pôs um ponto final na discussão quando ameaçou se retirar do congresso. Uma demonstração absurda de sectarismo e desrespeito.

Por ser um partido de tendências, ninguém pode impor ao MES absolutamente nada, porém, sendo minoria, cabia ao MES aceitar a opinião dos demais. A Heloísa Helena, aliás, deveria se colocar em sue lugar e, como Lula, acatar a posição do partido.

O grande problema do PSOL e de qualquer partido de tendências tão fragmentadas e auto-suficientes é a de que cada líder ou membro de tendência acha que pode falar o que lhe vem à telha, sem respeitar ou observar a posição unificada do partido. É o que a Heloísa Helena faz na questão do aborto e o MES resolveu aderir. Sem dúvida uma vergonha a posição do MES para Luciana Genro, sua principal representante.

O caso Gerdau é outro que teve ampla repercussão ao longo do congresso. Conta todas as demais tendências e a direção do partido, a candidatura de Luciana Genro no rio Grande do Sul aceitou doação da empresa Gerdau. Oras, se uma das maiores críticas ao PT era exatamente a aceitação de financiamento de empresas, na base do "uma mão lava a outra", que acabou por desvirtuar as bandeiras históricas e tornar o partido um jogo nas mãos do capital, então como aceitar financiamento empresarial dentro do PSOL?

O partido não nasceu para combater exatamente isto? Ou existe alguma pureza desconhecida e gigantesca que impedirá o PSOL de se corromper, igual ao PT?

Passada a crise do sábado, no domingo era dia de votar.

As chapas formadas foram três:

Chapa 1: APS/CSOL/ENLACE/REVOLUTAS/Independentes
Chapa 2: CST/LSR/TLS/AS/ARS/CRS/Trotskystas
Chapa 3: MES/MTL

Durante os discursos de defesa das chapas surpreendeu o personalismo e o sectarismo. O discurso de Luciana Genro, Chapa 1, mais parecia uma oração à Heloísa Helena. Nenhuma discussão de propostas, idéias. Era HH no céu e o PSOL na terra para seguir sua palavra.

O discurso de Luciana Genro e do outro membro do MES (que não descobri o nome) se limitou a louvar HH, a chamar de traidores os que se opunham ao nome dela para concorrer à presidência do país.

A chapa do MES/MTL conseguiu ser mais sectária que a Chapa 2, capitaneada pela CST, próxima ao PSTU, o que diz tudo.

A Chapa 2, primeira a discursar, também demonstrou que apóia incondicionalmente - e até religiosamente - Heloísa Helena. Deixou claro de todas as formas que podia. O curioso é que declaravam ter diversas discordâncias, tinha sérios problemas e etc, mas o apóio era indiscutível. Babá deixou tudo muito claro.

A última chapa a discursar, a Chapa 1, formada por APS/CSOL/ENLACE e outros, discursou pregando a unidade. Se no primeiro dia a APQ deixou claro apoiar a Heloísa Helena, reviu sua posição e ao menos convocou um novo congresso para discutir exatamente e exclusivamente este tema.

O discurso de uma companheira que, infelizmente, não me recordo o nome, foi emocionante. Um chamado à unidade, à construção do PSOL enquanto alternativa viável à PT e DemoTucanos. A companheira fez um discurso inspirado, criticando o financiamento da Gerdau, o sectarismo, os personalismos e fechando com um pedido à unidade.

O ponto principal do discurso dos demais apoiadores da chapa 1 foi o do combate aos personalismos. O partido não é da Heloísa Helena, não é do Ivan Valente ou do Babá, muito menos da Luciana Genro, é de todos estes e da base, dos filiados e militantes. Este foi o ponto principal do discurso de Ivan Valente, o último a falar. E foi aplaudido pela maioria dos presentes ao congresso.

A votação iria começar quando do lado dos militantes do MES e do MTL estourou uma briga enquanto o resto do ginásio vaiava e gritava palavras de ordem dizendo que democracia não é porrada e lamentando as atitudes do MES ao longo de todo o congresso.

Vale ainda um adendo, ao longo de toda a apuração, enquanto as diversas tendências demonstravam seriedade, preocupação ou ao menos se juntavam para conversar, discutir o partido, rumos e possibilidades, os militantes do MES não pararam de batucar, vestidos em camisas fazendo referência ao grupo - e não ao PSOL, como seria de se esperar - e cantando músicas como "Ana Júlia", do Los Hermanos. Uma lamentável demonstração de descomprometimento com o Congresso. Uma festa, ao que se via, e não algo sério.

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Para não me antecipar ao próprio partido, amanhã posto o resultado final e mais impressões do terceiro e último dia do Congresso.

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Pequeno glossário de siglas:

APS: Ação Popular Socialista (Ivan Valente)
MES: Movimento de Esquerda Socialista (Luciana Genro)
CST: Corrente socialista dos Trabalhadores (Babá)
CSOL: Coletivo Socialismo e Liberdade (Plínio)
MTL: Movimento Terra Trabalho e Liberdade
TLS: Trabalhadores na Luta Socialista
LSR: Liberdade, Socialismo e Revolução (Unificação da Socialismo Revolucionário SR e Coletivo Liberdade Socialista CLS )
CRS: Corrente Renovação Socialista
AS: Alternativa Socialista
ARS: Alternativa Revolucionária Socialista
ENLACE: Coletivo formado por membros da Tendência Liberdade e Revolução, Movimento de Unidade Socialista, Dissidências da Democracia Socialista, da Articulação de Esquerda e do Fórum Socialista
Revolutas
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Comentários
4 Comentários

4 comentários:

Cé S. disse...

Gostei do relato. Bem vívido, deu para imaginar as coisas acontecendo. E deu vontade de estar longe do local :)

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Cara, apesar de tudo, foi mt válido ter a experiência. aliás, fazia anos que não me metia em política partidária. Deu pra ver que ainda há espaço para crescer e para idéias mas é preciso isolar alguns setores mais sectários e tentar dialogar com quem quiser.

Unknown disse...

Muito divertido esse post, Tsavkko. Ri muito e me senti transportado no tempo, para aqueles congressos em que se discutia muito e não se chegava a conclusão alguma. Não foi esse o caso, é evidente...

Ainda bem que você colocou esse glossário ao final, pois já estava me sentindo num livro do Kafka (aquele que ele escreveu chapado de ópio e de absinto)... Faltou só uma sigla: IML...(isso porque Pinel não é uma sigla...).

Brincadeira, não me leve a mal. Respeito muito o Plínio e, com restrições, a HH e o Alencar. Apenas torço para que o PSOL deixe de atuar como linha-auxiliar da pior direita e faça oposição construtiva e com personalidade própria.

PSOL - Partido Socialismo e Liberdade de Blumenau disse...

Comparar o PSOL com o PT, sempre vai ser uma máxima. Não vejo problema nisso, enquanto que o PSOL surge na esperança de ser um guarda chuva que abriga a esquerda brasileira, para não se filiarem direto no PSTU e ou PCO de Jose Maria e Rui Pimenta.
O PT surgiu com 24 tendências internas e o PSOL surgiu com 16, o PT tenta demonstrar-se como tendo uma democracia interna, mas se consolidou-se um centralismo interno do governo sobre o partido. Tudo é aparelhado a partir do estado em um populismo, fisiologismo e patrimonialismo.
Já o PSOL está atualmente com nove tendências internas, perdeu praticamente a metade das tendências internas a partir da eleição de 2008 com alianças do tipo PV no Rio Grande do Sul e financiadas pela Gerdau. As dificuldades atuais que se vive no PSOL, são muito mais em construir um PSOL como partido necessário para a eleição de 2012 e 2014 do que enquanto esquerda brasileira. Se somos pouco mais de 60 mil filiados crescemos em número.
Precisamos crescer em conteúdo para ser de fato um partido de esquerda, para valer a pena por ter uma alma que não seja pequena. Como diria Drummond 'tudo vale a pena quando a alma não é pequena'.
E ser grande é ser de esquerda para se ter alianças verdadeiras com PSTU, PCB e até PCO.
Mas para isso todos que almejam ser de esquerda precisam querer, dispondo de uma vontade de construir um governo de esquerda de fato.

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