Se não é possível proibir ou criminalizar todo e qualquer protesto reivindicativo da classe trabalhadora, os patrões agora partem para tentar proibir o meio, o veículo de difusão e convocação dos protestos.
Li um interessante artigo sobre a tentativa das patronais de proibir protestos convocados, na Alemanha, via Flash Mob.
O crime não é mais o protesto em si e por si só, mas a forma como ele é convocado e seu resultado.
O sindicato alemão Verdi resolveu radicalizar, se as greves não surtem o efeito desejado, se os donos de grandes empresas não se sensibilizam ou são demovidos de sua eterna vontade de ferrar o máximo possível com o trabalhador, então a ação, a luta sindical deve partir para outro patamar, deve se valer do que há de mais eficaz e moderno para convencer, por bem ou por mal, aos patrões em ceder às reivindicações - sempre justas - dos trabalhadores.
A ideia para a flash mob de 2007 veio depois que as negociações salariais terminaram num impasse, disse Erika Ritter, responsável pelo setor de vendas em Berlim-Brandemburgo do sindicato Verdi, ao jornal Berliner Morgenpost. As greves não haviam ajudado - e foi por isso que eles tiveram a ideia de fazer uma ação no estilo das flash mob. Ela teve um efeito imediato em nossas negociações, disse Ritter, e o Verdi considerará fazer ações similares no futuro. "Mas só quando as conversações não tiverem nenhum efeito", observou ela.É um fenômeno interessante o do uso do Flash Mob como arma na luta por melhores salários e condições de trabalho. Tal instrumento exige apenas alguns minutos, pouco esforço na organização e, com as tecnologias móveis de hoje (Computadores Coletivos Móveis [CCm], no falar de André Lamos) a organização/convocação dos trabalhadores para ações de enfrentamento e desafio do patronato se torna mais fácil e ainda mais eficaz, certeira.
Não é mais necessária uma paralisação completa do trabalho, apenas ações pontuais e localizadas de "terrorismo sindical" com o uso de ferramentas modernas para aterrorizar o patronato incapaz de compreender desde as razões que levam os trabalhadores a protestar, até o que há de mais moderno em termos de tecnologia. Na verdade, a elite tem pavor da tecnologia nas mãos de seus subalternos, tudo pode e será usado como arma contra a dominação e a exploração.
Isto, aliás, resgata o post anterior sobre a neutralidade da e na internet, se esta seria progressista ou reacionária (post que, por sua vez, retoma idéia do Sakamoto). O que se pode afirmar com certeza é que a internet PODE e DEVE ser usada como ferramenta ao progresso, atacando as bases da elite em seu próprio jogo.
Se não podem interromper - ainda que tentem - as greves e as justas reivindicações dos trabalhadores, acabou sobrando apenas a tentativa de proibir os "flash mobs", como se existisse alguma forma de fazê-lo, sem que isto signifique a censura aberta à internet - e à toda ferramenta de comunicação móvel - e ao direito à livre manifestação - na verdade, à sua mera convocação!
"Não é surpresa que a Associação de Comércio de Berlim-Brandemburgo não esteja impressionada. "Essa forma de ação industrial é intolerável", disse o chefe da organização, Nils Busch-Petersen ao Berliner Morgenpost. Foi a Associação de Comércio de Berlim-Brandemburgo que levou o caso da flash mob de 2007 para os tribunais.O mais divertido das desculpas esdrúxulas dos patrões e das associações comerciais é a de que há desigualdade nas negociações quando os funcionários encontram meios além do controle dos patrões para se manifestar e exigir direitos! Como se o mero poder econômico não fosse desigualdade suficiente numa negociação! Como se o mero fato de serem patrões já não lhes dessem vantagem suficiente!
A Associação de Varejistas Alemães (HED) concorda. A decisão do tribunal trabalhista levaria a "desigualdades perigosas durante as negociações, que favoreceriam os sindicatos", disse Heribert Jöris, especialista em salários da HDE ao jornal Badische Zeitung."
Vale tudo na luta por direitos e garantias, por salário e trabalho. O recado é claro, os patrões devem se sujeitar às reivindicações vindas de seus funcionários sob penas tremendas, sob a pena de terem subvertidas suas estruturas de poder.