Não falo necessariamente que veremos uma onda de golpes semelhantes - se bem que tentaram com Chávez, tentaram separar a Bolívia e por aí vai - mas moralmente o destino da América Latina enquanto uma unidade e em termos de solidariedade e até de futuros projetos de integração, está todo nas mãos dos líderes regionais e se centra no destino de Honduras, de sua democracia e integridade.
Depois da ALBA, do Mercosul e, finalmente, da Unasul, é esta a hora de demonstrar finalmente que falamos de uma única América Latina, unida, forte e pronta para resolver seus problemas. Seja com intervenção da OEA ou da ONU - com o consentimento explícito dos países da região -, é imprescindível que haja uma solução rápida e definitiva para o conflito sob pena de que este se alastre ou respingue ou, ainda, afete as tentativas promissoras de integração que, mesmo sob duras penas, sob Uribe e os olhos dos EUA, vem se firmando.
Este é o teste de fogo, a demonstração inicial e potencialmente final, de que a América Latina amadureceu, chegou até o ponto em que podemos realmente falar de UMA América Latina, não mais apenas o quintal dos EUA, a região das repúblicas bananeiras, não mais a terra de ninguém que sangra nas mãos dos golpistas e da direita entreguista.
A Mídia hondurenha esperneia, a mídia brasileira faz coro, todos querem ver o circo ser calcinado (fogo já pegou faz tempo!) e a integração em andamento retroceder, acabar. O golpismo descarado da imprensa internacional assusta, se acabaram aceitando que não chamar de "golpista" um governo que atende por este nome era abusar demais da boa vontade e do intelecto até dos mais incapazes, por outro lado dão demonstrações claras de que a palavra "golpista" não assusta às elites, não tem a conotação negativa que entende o povo como um todo e os democratas - enfim, pessoas decentes.
Usa-se a palavra, não se sente a palavra.
Este é o momento de mostrar unidade e força, de calar a mídia golpista e fazer valer a democracia, sob toda e qualquer pena, sob o poder das armas ou das negociações (já) falidas.
Os EUA começam a fraquejar e não duvido que em questão de dias apareçam com algum paliativo sem a volta de Zelaya e um reconhecimento do golpe. Árias continua no murismo, pendendo para o lado yankee e resta o Brasil, mas até quando? A pressão da imprensa se faz sentir, gente canalha como Reinaldos Azevedos da vida pedem o impeachment de Amorim e até do Lula, são inconsequêntes, calhordas e... perigosos!
Até quando o Brasil resistirá no apóio incondicional ao Zelaya? Até quando a OEA irá pressionar, fazendo algo inédito em sua história de comum atrelamento aos EUA? A ONU... bem, a ONU é a mesma ineficaz de sempre.
A solução deve ser rápida, final, o bate-boca atual não leva à nada, só à consolidação do golpe. Sem a solução armada ou a colocação de forma intransigente das opções na mesa - volta de Zelaya incondicionalmente ao poder e punição exemplar para os golpistas - a situação tende a piorar, ou melhor, a se consolidar. O que é de fato se tornará a única verdade.
O futuro da América Latina, repito, descansa sob Honduras.
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Update:
Micheletti, presidente golpista de Honduras, pelo menos, admitiu as razões para o golpe: Esquerdismo de Zelaya.
Por detrás disto, a intenção de Zelaya de integrar Honduras na ALBA e ligá-la definitivamente aos demais países da América Latina em uma aliança solidária incomodaram e incomodam a elite local e latina.
"“Tiramos Zelaya por seu esquerdismo e corrupção. Ele foi um presidente liberal, como eu, mas se tornou amigo de Daniel Ortega, (Hugo) Chávez, (Rafael) Correa e Evo Morales”, declarou Micheletti, referindo-se aos presidentes da Nicarágua, Venezuela, Equador e Bolívia. ”Se um presidente viola a lei e é corrupto, dá ao povo o direito de reclamar. Nós apenas lideramos este clamor popular”."Fica mais clara ainda a necessidade indiscutível de se fortalecer os laços de integração na América Latina e o combate constante às forças reacionárias, fascistas, direitistas referendadas pela mídia golpista.
O jornalista italiano Georgio Trucchi, que está em Honduras há mais de 50 dias, vai ainda mais longe e diz que a destituição de Zelaya também foi uma tentativa de interromper o processo de integração latino-americana, particularmente os avanços da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba).O que é mais do que claro. Clara tentativa de pôr uma pá de cal numa das alianças mais promissoras dos últimos anos na região.
Qualquer tipo de integração cuja base não seja o livre-mercado e a acumulação ainda maior e mais fácil para as elites, é vista como problemática, perigosa. Em Honduras estas agiram depondo o presidente, não é difícil pensar que haverá uma nova Honduras enquanto os ricos se sentirem incomodados com as reformas populares e a integração irreversível dos povos.