Nos dias de hoje está cada vez mais difícil não ter a tal "fobia neopentecostal". Eu tento, mas é difícil respeitar quem acredita na IURD, quem acredita na Renascer, quem dá todo seu dinheiro a um grupo de criminosos travestidos de pastores.
Na verdade, muitos são apenas pobre coitados, o "não-respeitar" começa a partir do momento em que tentam me tornar um igual, quando tentam me convencer. Até lá, tenho apenas pena. Mas como levar a sério as opiniões de quem, por seu lado, leva um Edir Macedo a sério? Um R.R. Soares? Uma "Bispa" (cof, cof) Sônia?
Chamem os "fiéis" de vítimas de Síndrome de Estocolmo, de meros enganados, talvez, mas me questiono até que ponto não são cúmplices e coniventes? Veja o Kaká, por exemplo.
Não falo de todos, claro, muita gente - a maioria, penso - cai no conto do neopentecostalismo em momento de desespero e é capaz de acreditar em absolutamente tudo que lhe disserem. Outros são simplesmente incapazes de compreender a diferença entre ser roubado e de ter uma fé real. Mas uma parcela, sem dúvida, é simplesmente conivente e acaba por usufruir das benesses do dízimo alheio extorquido.
Vamos a um exemplo dos "porquês" da fobia.
Os vídeos divulgados semana passada pela Folha com o "bispo" Romualdo Panceiro ensinando outros bispos e pastores a roubar dos
Mas apenas mais um absurdo para a coleção extensa desta "igreja" e de suas semelhantes.
Sob o manto da liberdade religiosa, criminosos comuns roubam e coagem pobres e ricos a darem seu dinheiro para posterior lavagem e enriquecimento dos membros mais graduados destas "igrejas".
A reportagem completa da Folha:
Em vídeo, bispo da Universal ensina a arrecadar na crise Bispo Romualdo Panceiro diz que fiéis devem ser convencidos a "semear no altar'O preconceito que muitos evangélicos dizem sentir é facilmente explicado pelas ações de seus pastores e líderes. São criminosos comuns que deveriam passar suas vidas trancafiados por coação, extorsão, lavagem de dinheiro, danos morais e quaisquer outras contravenções e crimes que se possa encontrar no código penal.
"Por isso que a gente tem que perguntar: "Você crê mais na crise ou você crê em Deus?", explica o 2º nome na hierarquia da instituição
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Vídeo entregue ao Ministério Público de São Paulo por um ex-voluntário da Igreja Universal mostra bispos da cúpula da entidade combinando a pregação para obter dízimos dos fiéis na crise econômica de 2008.
As gravações obtidas pela Folha, que oferecem rara visão sobre práticas da igreja, são de duas reuniões feitas por videoconferência entre líderes na sede, em São Paulo, e outros nos Estados. Foram coordenadas pelo bispo Romualdo Panceiro. Ele é considerado o segundo nome mais importante na igreja e foi apontado pelo bispo Edir Macedo como o seu sucessor. Romualdo, que coordenou a igreja no Brasil por mais de 12 anos, hoje vive em Buenos Aires e é responsável pela instituição na América Latina.
Um dos vídeos começa com Romualdo tirando uma espada da cintura e colocando-a sobre uma mesa. Durante 15 minutos, ele aparece orientando outros bispos graduados da igreja, como Clodomir Santos, a recorrerem a trechos da Bíblia nos quais se narra que o personagem Isaac, para escapar de uma grande fome, recebeu orientação divina para semear no solo ruim, e foi agraciado.
Romualdo orienta que "semear" é dar dinheiro à igreja. Ele diz que a igreja deveria perguntar aos fiéis se eles "acreditam mais" na crise ou em Deus.
"Por isso que a gente tem que perguntar [ao fiel]: "Você crê mais na crise ou você crê em Deus? Porque se você crê na crise, então você vai guardar para ela, ela vai pegar o que você tem. Sem que você saiba, quando você acordar, já era. Mas se você crê em Deus, você vai pegar o que a crise pode pegar e você vai colocar onde? [...] Vai semear no altar!", diz.
Romualdo indaga se Clodomir compreendeu: "É ou não é, Clodomir? Entendeu? [...] Não é legal isso?". Clodomir concorda: "Arrebenta. Tá ligado".
Em seguida, o bispo diz que a ideia deve ser disseminada entre os pregadores: "Quer dizer, mais semente você vai ter, e quanto mais você tem semente, mais você vai colher. Pô, é muito forte, não é? Então, a gente tem que virar o jogo. Passar esse espírito para os pastores agora, como eu já passei".
Ele se dirige ao bispo Sidney Marques, de Belo Horizonte: "Vai arrebentar, é muito forte! Hein, ô, Sidney?" "É o melhor investimento. O melhor investimento é esse", responde Sidney. "Momento propício para o uso da fé", arremata Romualdo.
O bispo diz que "combinou" com os pastores regionais de abrir três Bíblias, durante a oração do domingo, para "desafiar" as pessoas a trazerem dinheiro. "Eu combinei com os regionais aqui o seguinte, malandro. No domingo [esfrega as mãos], falar assim: "Olha, pessoal, em nome de Jesus, você que vai agora semear em cima dessa palavra aqui, com [R$] 10 mil para cima, vem aqui na frente, coloca, muito bem. Com [R$] 1.000 para cima, vem aqui pra frente. Com [R$] 500 para cima, vem aqui na frente, com [R$] 100 para cima, com dez reais para cima, com uma moeda para cima, coloca aqui". Porque aí a gente não está, como se diz, estipulando. Porque foi na hora da oferta, um desafio."
Vídeo de outra reunião indica que membros da igreja procuraram se aproximar de criminosos para evitar assaltos a carros-fortes que transportam dinheiro doado por fiéis.
Romualdo conta que um carro-forte com R$ 52 mil arrecadados pela igreja havia sido assaltado na Grande São Paulo. Ele atribui a autoria do crime a policiais e diz que pastores e bispos deveriam fazer contato com a criminalidade. "Nosso problema não é bandido, o nosso problema é polícia. Você não pode falar isso para ninguém. [...] A não ser que, no Brasil, vocês não tenham feito o que nós fizemos aqui com os chefes da comunidade, de bandidos etc etc. Eu já falei para vocês fazerem. Não falei, Sidney? [...] Todos já devem ter feito."
Os vídeos foram entregues ao Ministério Público pelo ex-voluntário da Universal e ourives Eduardo Cândido da Silva. Os promotores Everton Luiz Zanella, Fernanda Narezi, Luiz Henrique Cardoso Dal Poz e Roberto Porto denunciaram, em agosto passado, Edir Macedo e mais nove membros da igreja sob acusação de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. A denúncia foi acolhida pelo juiz Glaucio Roberto Brittes, da 9ª Vara Criminal, o que deu origem a ação penal.
Segundo os promotores, recursos obtidos pela igreja de fiéis eram enviados ao exterior por meio de empresas de fachada e retornavam ao Brasil com aparência legal, para a compra de emissores de rádio e TV.
Os promotores também pediram à Justiça dos Estados Unidos, por meio um acordo de cooperação bilateral, a quebra de sigilo das contas bancárias utilizadas pela igreja e por empresas a ela relacionadas.
O ourives Silva obteve os CDs de um ex-pastor regional que hoje atua em outra igreja. A Folha conversou com o pastor que tinha as gravações. Ele pediu para não ter o nome publicado, mas confirmou a história.
O ourives move uma ação para o ressarcimento de R$ 232 mil referentes a supostos cheques sem fundos passados por pastores pela venda de joias.
Mas, muitas vezes, o preconceito vem também das atitudes de muitos neopentecostais que costumam ser absolutamente intolerantes e fazem questão de impor seus valores à toda a sociedade. A crítica não fica só neste grupo, mas, sem dúvida, é a face mais visível.
E, honestamente, eu não acredito que este preconceito em particular seja nocivo. Na verdade, ele é defensivo, é uma forma de defesa da população consciente frente às quadrilhas da fé. De outro lado é também uma barreira contra a ignorância, contra a fé cega, contra o proselitismo estúpido. Ninguém tem tanta capacidade de incomodar e de impor sua fé como os neopentecostais, não é à toa o preconceito.
É inaceitável que o Estado permita que estas quadrilhas atuem livremente e se propaguem como fogo no cerrado sem que prestem contas a nada nem ninguém. É intolerável que enganem sem punição.
Muito radical? Talvez seja. Mas talvez estejamos em um momento em que o neopentecostalismo e a piada que chamam de Teologia da Prosperidade tenha chegado a um ponto em que ou combatemos ou perderemos a batalha. Estão gigantescos, tem deputados e senadores no bolso e se organizam de forma perigosa. É uma quadrilha que se institucionaliza e tenta pressionar o Estado - e pressiona!
Por mais que alguém que tenha cultura e estudo possa dizer que entrou para tal "igreja" por livre e espontânea vontade, não é aceitável que a população mais frágil, mais humilde seja vítima silenciosa das quadrilhas da fé. O Estado não pode permitir que os mais humildes "doem" tudo que tem, tudo que recebem de maneira suada para charlatões que realizam uma perfeita lavagem cerebral.
IURD, Renascer e demais neopentecostais agem como organizações criminosas que não podem ser toleradas por um Estado de direito que deve zelar pela sua população.