segunda-feira, 24 de maio de 2010

A ética na política brasileira ou a dor de votar

Pin It
As eleições se aproximam e é cada vez mais difícil (impossível?) escolher um lado em uma eleição em que os candidatos ão mais iguais e próximos do que nunca. A linha que separa um tucano de um Petista é tênue e a cada dia vai se afinando mais. A terceira candidata, Marina Silva, é uma piada de si mesmo. Plínio é um excelente candidato, mas seu partido está longe de ter ou ser uma base confiável e os demais são arremedos de projetos falidos e vergonhosos, da esquerda ou da direita.

Impossível falar em ética na política brasileira de hoje. O PT, partido que sempre se identificou com a ética - ao menos até assumir o poder - se envolveu nos mesmos escândalos que acusava seus inimigos no passado, se rebaixou ao nível geral da política brasileira - e da pior forma!

Por mais que tentemos compreender sua política de alianças, não deixa de enojar acordos com o que há de pior na política nacional, como o PP de Maluf, Bolsonaro e cia, PR de crises e escândalos mil e, para coroar tudo, terá uma chapa formada com Michel Temer, que dispensa apresentações.

Mas a coisa ainda piora. Não basta engolir o Sarney no Senado e fazer acordo com a nefasta figura que domina e mantém na pobreza o Maranhão há décadas, ainda é preciso forçar o partido a formalmente apoiar sua filha, Roseana Sarney, no estado, indo contra não só as bandeiras históricas do partido local, mas como contra qualquer noção de decência e vergonha na cara.

Estas últimas denúncias de que a família Sarney estaria subornando petistas no estado do Maranhão são a cereja do bolo. Levando em conta que o PT nacional ordenou o apoio aos Sarney no estado, mas a base os desafiou, como ficamos? Até que ponto este suposto suborno é algo totalmente alheio ao PT em si?

Mas o buraco, na verdade, é mais embaixo. Estou me atendo às pequenas coisas, mas no fim das contas as crises de corrupção e denuncias mil enfrentadas pelo PT em nada diferem das crises DemoTucanas de outrora, longe de mim querer colocar o PT como criminoso frente à ética geral, muito pelo contrário, minha crítica vai exatamente em direção ao fato de que o PT que antes se colocava como paladino da justiça e moralidade se mostrou ser da mesma espécie dos que hoje estão na oposição. Em geral, são todos a escória.

Mas, não falei até aqui nenhuma novidade. O problema que venho enxergando, e que me fez escrever este artigo, é na verdade o da completa falta de opção, apesar da imensa quantidade de candidatos. Não apenas pela falta de ética geral, mas pelas características de candidatos, partidos, coligações e dos projetos, em geral, sem grandes diferenciais.

Do DemoTucanato pouco se pode dizer. Conhecemos FHC, Serra, Kassab e cia, é mais do mesmo: Criminalização dos movimentos sociais, violência, privatização, política de arrocho salarial, censura, perseguições... Nenhuma novidade.

O grande problema agora, porém, é que não só o PT tem seus Tucanos internos (Palocci, Vaccarezza, dentre outros), como os coloca em pedestais e os impõe à população como alternativas, quando na verdade são mais do mesmo.

Falando de Dilma especificamente, vemos que suas opiniões em muitos casos são vergonhosas: Revanchismo, defesa da manutenção da Lei da Anistia, defesa de Belo Monte, , falta de um programa real de Reforma Agrária....


A alardeada "alternativa", Marina Silva, soa como piada de mal gosto. Criacionista, evangélica, ligada a um partido de aluguel cercado por elementos conservadores, anti-aborto, anti-LGBTT e que, no fim, não passa de linha de transmissão do DemoTucanato.

Na comparação de governos, nenhuma dúvida de que o PT trouxe mudanças reais, de que o movimento social não foi criminalizado como antes mas... É pouco. E o que vemos agora, daqui pra frente, é uma aproximação ainda maior do PT daquilo que sempre combateu. O que esperar daqui pra frente quando, apesar dos avanços, as práticas se aproximam tanto? Quando as alianças começam a descaracterizar as noções  mais básicas de luta por justiça social e contra as oligarquias? Quando até mesmo a cúpula dirigente adota discursos retrógrados e conservadores (Mercadante apoiando Azeredo, Dilma apoiando o STF no caso da Anistia, PT forçando aliança com Sarney no Maranhão, etc) que passou anos combatento - ou fingindo que o fazia até chegar ao poder e mostrar sua verdadeira face?

São dilemas terríveis que a militância or vezes passa por cima. sem analisar friamente os prós e contras do que faz.

Que fique claro, as diferenças entre PT e oposição são marcantes - em especial no que toca a política externa, uma das mais independentes de nossa história e que, apesar de alguns erros, como o apoio ao Sudão e outras questões em instituições internacionais, no geral somos um modelo para o mundo -, mas quero tentar fazer a militância enxergar que estamos LONGE do ideal ou na verdade longe até mesmo do aceitável.

------
Comentários
6 Comentários

6 comentários:

Iberê disse...

concordo com o seu questionamento quanto a em quem votar... também passo pelo mesmo dilema...
Devo discordar em alguns pontos específicos, que os vejo como falhas do sistema político e não de partidos específicos!
do jeito que é organizado o sistema induz a corrupção! para o governo funcionar são necessários diversos acordos e coligações. Como faze-las? infelizmente o jeito mais facil e mais usado é o da corrupção.
claro q sou contra isso... mas acho que criticar apenas os partidos não é o suficiente...
sabemos que implantar qualquer outro tipo de sistema eleitoral não funciona... mas projetos como o ficha limpa já ajudam muito a mudar a situação...

Anônimo disse...

Concordo com a crítica. Mas a crítica tão somente pela crítica pode paralisar um pouco. Sou petista, meus pais são petistas e eu sou ético e honesto. Meu pai participou do governo e já saiu e não tenho 1% de dúvida da idoneidade de seu caráter e da sua mudança e desejo de melhorar este país. Não generalize. Não foi o PT como um todo. Foram pessoas dentro do PT que não macham o partido inteiro. E mais, dentre a experiência tucana e petista, onde você acha que o país mais avançou? Quem atravanca uma reforma política? O PT? Essa é minha opinião. Abraço.

Roberto SP disse...

Sabe, Tsavkko, o que aconteceria se o Plínio (num milagre) ganhasse e tentasse colocar alguma coisa mais radical em prática?

Seria barrado no parlamento.

Se ele insistisse seria bloqueado no judiciário.

Se insistisse, seria derrubado depois de alguma crise forjada qualquer, estilo das revoluções coloridas que acontecem nas antigas repúblicas soviéticas, com os jovens servindo de massa de manobra pelos twitters da vida.

Bem-vindo à vida real.

Ou você é daqueles que acredita que na democracia capitalista se muda algo para valer?

Niara de Oliveira disse...

Concordo em gênero, número e "degrau". Obrigada por dar letras a minha indignação. :)

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Iberê: Meu objetivo, aqui, foi criticar apenas os partidos e não o modelo em si - do qual também discordo.=) Estamos às vésperas das eleições, querendo ou não, é este o nosso modelo e devemos viver com ele, pelo menos até outubro.

Anônimo: Longe de mim querer generalizar. Tenho amigos no PT e fui "criado" no PT e tem MUITA gente boa por lá ainda. Mas não dava pra colocar em todo o texto "partes do PT" ou "60% do PT" e por aí vai.

Roberto: Prefiro lutar pelo que eu acredito, mesmo que seja derrubado do que compactuar com a corja restante. Melhor um Allende que um FHC.

Niara: =D

Rodrigo Cardia disse...

Assino embaixo desse texto!

Postar um comentário