domingo, 13 de junho de 2010

Artigo na Fórum: Um olhar sobre o conflito basco

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Abaixo reproduzo o artigo "Um olhar sobre o conflito basco", publicado na Revista Fórum de Maio, ainda nas bancas. O artigo foi o meu primeiro publicado fora da blogosfera, na mídia impressa e espero que seja o primeiro de vários!=)

O espaço para a publicação de blogueiros na fórum está aberto. Meu artigo inaugurou um espaço exclusivo para nós. Blogueiros interessados em serem também publicados e em experimentarem "novos ares", enviem artigo para redacao@revistaforum.com.br.

Um olhar sobre o conflito basco

O País Basco (Euskal Herria), região histórica encravada no extremo norte da Espanha e com prolongamentos até o sudoeste da França, continua a ser sacudido por um conflito amplo e antigo. Após repetidos casos de repressão, prisões arbitrárias e ilegalizações de partidos políticos, a Esquerda Nacionalista se prontificou, mais uma vez, a abrir um processo de negociação sem exclusões, propiciando o debate franco e aberto entre todas as forças políticas e sociais.
 Poucos, no Brasil, têm o real conhecimento do conflito basco. O que se lê aqui se resume a pequenas notas em veículos online, normalmente acusando a ETA (Euskadi Ta Askatasuna ou Pátria Basca e Liberdade) de um ou outro ataque. Sobre a repressão espanhola, os casos de tortura e de censura contra os nacionalistas bascos (conhecidos como abertzales), nenhuma palavra ou citação, seja na grande mídia ou na mídia dita alternativa.
 Breve história de resistência Por mais de um século, o povo basco luta por sua independência e o movimento nacionalista tem se organizado e sido duramente combatido – seja pela violência, por fraudes ou por leis criadas especificamente para impedir sua ação – enquanto tenta angariar apoio para sua luta.
 Fato comum na Espanha de hoje são as prisões arbitrárias – e em muitos casos seguidas de tortura – de militantes nacionalistas acusados de pertencer à ETA. O grupo virou um bode expiatório em um processo irreversível e absurdo, no qual "tudo é ETA".
 A organização, criada tanto para lutar pela independência quanto contra Franco, de grupo admirado pela militância passou a figurar nas listas de terrorismo internacional como responsável por mais de 800 assassinatos políticos, e sofre um processo de revisionismo que visa acabar com sua história.
 Durante o regime de Franco (1939-1976), as torturas, execuções e prisões eram lugar-comum. Com a chegada da democracia acreditava-se em um novo tempo, um processo de debate democrático. Engano. O período posterior à ditadura, conhecido como Guerra Suja, patrocinado e financiado pelo governo do premiê socialista Felipe González (1982-1996), deixou dezenas de mortos em ações de grupos de extrema-direita cujo objetivo era o assassinato político de membros da ETA, de partidos nacionalistas bascos e da militância Abertzale. A repressão financiada pelo Estado, na Espanha, permanece inalterada até os dias de hoje.
 Ilegalizações e fechamentos Desde 2003, a repressão tem seguido um novo caminho, o da ilegalização de partidos políticos. Sob a acusação de pertencer ou de serem controladas pela ETA, diversas formações políticas de esquerda e nacionalistas foram ilegalizadas: Batasuna (primeiro a ser ilegalizado, em 2003), Aukera Guztiak, ANV-EAE (partido histórico fundado nos anos 30), PCTV-EHAK, D3M, Askatasuna...
 Hoje, o grupo que se denomina "Izquierda Abertzale", ou "Esquerda Nacionalista" é proibido, sob todas as formas, de votar e eleger representantes. Isto representa cerca de 20% da população basca que é marginalizada do processo democrático, em muitos casos, por meio de processos falhos e cheios de incorreções e confusões.
 No campo da liberdade de expressão, a Espanha não faz melhor. O diário Egin (“Fazer”) e o Egunkaria (literalmente “Diário”) foram fechados em 1998 e 2003, respectivamente, sob a acusação de fazer apologia ao terrorismo (ETA) e de serem controlados por esta organização. Em abril deste ano a Justiça reconheceu seu erro sem, porém, indenizar as vítimas tanto do fechamento quanto das posteriores prisões e torturas praticadas pelas forças de segurança espanholas, e sem um pedido de desculpas ou indenizações. Agora, discute-se a censura como instrumento de Estado para calar a voz nacionalista.
 Grandes manifestações Encontram-se presos, hoje 762 bascos detidos por suas atividades políticas em cadeias espanholas – política criticada por organismos de direitos humanos. Este número só é superado pelo de pessoas presas até 1969 em pleno Estado de Exceção decretado por Franco: 860.
 No fim de 2009, duas grandes marchas demonstraram o grau de insatisfação da população com as constantes prisões e repressão e reuniram, em 17 de outubro (Donostia-San Sebastian) e em 28 de novembro (Bilbao), mais de 45 mil manifestantes cada uma, e unificaram os diversos partidos nacionalistas ainda legais, como EA, Abertzaleen Batasuna, Aralar e os membros do ilegalizado Batasuna.
 Os protestos foram organizados em repúdio à prisão simultânea de 34 jovens militantes do grupo estudantil Segi, que foram detidos e mantidos sob estado de incomunicação (instrumento repetidas vezes condenado pela Anistia Internacional e pelos órgãos de Direitos Humanos da ONU) na maior operação policial desde o fim da ditadura de Franco e em solidariedade aos líderes do Batasuna, presos sob acusações de “enaltecimento ao terrorismo” e participação na luta armada.
 A discussão atual Atualmente discutem-se os efeitos do documento "Zutik Euskal Herria" ("Em Pé País Basco”, lançado em fevereiro pelos militantes do ilegalizado Batasuna e que prega um processo amplo e continuado de negociações, acumulação de forças, e buscando uma solução para o conflito.
 Em apoio ao processo de paz proposto nas páginas do Zutik Euskal Herria e tomando a frente no processo de negociação, a rede Lokarri convidou o sul-africano Brian Currin (mediador no desarmamento do IRA e no fim do apartheid de seu país) para apoiar e indicar caminhos para a resolução do conflito e, através da “Declaração de Bruxelas”, conseguiu o apoio de cerca de 20 líderes internacionais e especialistas em resolução de conflitos – dentre eles Nelson Mandela, Frederik de Klerk, David Hume e Desmond Tutu, todos agraciados com o Nobel da Paz – para pressionar por um processo de negociação com base nos chamados Princípios Mitchell.
 Diversas declarações e acordos foram feitos desde o fim do regime de Franco, como o Pacto de Ajuria Enea (1988) e de Estella ou Lizarra (1998), sem que nenhum deles tivesse obtido o sucesso esperado. O Estado já buscou negociar diversas vezes com a ETA e vice-versa, e as negociações sempre emperram num mesmo ponto: a ETA só aceita dialogar quando a opção da independência for uma via real. O Estado se nega a discutir termos sem o fim completo da violência. Neste jogo continuam a tortura, a intimidação e as prisões arbitrárias, ao mesmo tempo em que prossegue a violência da ETA com seus assassinatos seletivos e bombas que também vitimam inocentes.
 Apesar do otimismo atual com os recentes pactos e discussões, vê-se que ainda falta muito chão a ser percorrido no caminho da paz e do fim do conflito basco. É preciso acabar com a tortura e as ilegalizações para que, então, a ETA se esvazie de sentido.
 Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum 86. Nas bancas.
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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

disse...

Gora!

Nynaeve disse...

Quería puntualizar varias cosas de las que vienen en este escrito.

1.- No es que Brasil tenga poca información veraz de la situación, es que no la tenemos casi ninguno y eso gracias al Plan ZEN. Un plan que entre otras cosas, da un libro de estilo de comunicación que alimenta la estrategia del Todo es ETA (made in Garzón)...

Bajo el todo es ETA, son los jueces de la Audiencia Nacional quienes deciden si uno es integrante de ETA, ni la propia persona, ni la organización terrorista. Y por ello se están atropellando los DDHH de un montón de personas sólo por su ideología o posicionamiento como independentistas.

2.- ETA nunca luchó contra Franco, sino contra lo que supone que no puedan decidir su propio destino. Entendiendo este punto, se comprende que no dejaran las armas tras la muerte del dictador, siendo de los pocos que entonces se dieron caso de que era algo totalmente continuísta y bajo las mismas directrices. Con eso no quiero decir que sea lo mismo, pero desde luego no es una ruptura con lo que nos impusieron con un golpe de estado, una guerra y una gran represión posterior.

Otra cosa es que hubiera muchos por aquel entonces que agradecieron la muerte de Carrero Blanco, porque eso les sirvió en su momento.

3.- Y no es que haya que dejar de saltarse a la torera los DDHH para que ETA responda en el sentido de sí al desarme y el proceso de paz, es que hay que hacerlo porque un Estado de Derecho no puede saltárselos por "capricho".

Por otro lado ETA, debería hacer caso a sus bases y aceptar que ha de dar un paso de forma unilateral. De ese modo va a dejar sin posibilidades de negarse al gobierno español... y que no tengan más remedio que sacar su rédito electoral en pro y no en contra, cómo están ahora mismo.

P.D.: Por si acaso estoy repitiendo algo de lo que has dicho, discúlpame, será por aquello de no entender bien el portugués...

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