Quem lê o blog ha algum tempo notou que o post anterior sobre manipulação midiática foi "resubido". O objetivo foi fazer uma espécie de abertura para demonstrar outra manipulação clara e descarada do PIG, agora na questão da reeleição de Alvaro Uribe, narco-Presidente colombiano e terrorista nas horas vagas.
Por acaso algum desavisado encontrou a palavra "ditador" ou "ditadura"em qualquer notícia sobre a aprovação da lei - pelo Senado, falta ainda a Câmara dos Deputados - que garante ao Uribe o direito de se reeleger pela segunda vez?
Uribe foi eleito em 2002, reeleito em 2006 e agora finge "não saber" se irá tentar novamente a reeleição. A mídia é tão inocente! Os deputados e senadores governistas só falam disso há meses, estão unidos para permitir a reeleição mas o comandante em chefe não sabe de nada? Contem outra, por favor, que esta não cola! Aliás, retomarei este comentário mais para a frente.
A primeira reeleição de Uribe, aliás, já foi fruto de uma mudança na constituição! Mas ninguém ousou chamá-lo de ditador.
Aliás, porque chamariam?
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2. Questões
Ficam, então, algumas questões:
Uribe pode ser tudo - e é - mas ditador? Se ele tem maioria no congresso (vamos tentar acreditar que as eleições na Colômbia são limpas) e este mesmo congresso resolveu mudar a constituição, prerrogativa sua, então onde está o problema?
E se este mesmo congresso resolve convocar um referendo popular para permitir que o povo decida se quer ou não permitir outra reeleição, o que há de errado nisso?
não tem o povo o direito de decidir por si? O congresso não decidiu nada, apenas passou ao povo o direito de escolher, isto não é o mais moderno em democracia representativa?
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3. Uribe versus Chavez
Se você respondeu sim para todas as questões então eu então pergunto:
Porque, para a mídia, Uribe é o herói montado no cavalo branco que vai solucionar todos os problemas da Colômbia e esmagar os terroristas (sic) das FARC e ELN e, obiviamente tem o direito divino de se reeleger indefinidamente e Chavez é o capeta, o "radical" e, enfim, o ditador terrível e assustador que cometeu o crime de se reeleger mais de uma vez?
E, vejam bem, Chavez foi reeleito após aprovar referendo popular para tal! Em suma, o mecanismo usado por Uribe é semelhante (estou falando de mudanças na constituição) ao usado por Chavez, mas a midia trata um como herói e o outro como um ditador!
Uma breve pesquisa no Google evidencia a discrepância na cobertura da imprensa brasileira. Ao utilizar as palavras chave "reeleição Chávez" no buscador, são encontrados aproximadamente 1370 resultados só no ano de 2009; no mesmo período, e com as palavras chave "reeleição Uribe", são exibidos cerca de 598 - menos da metade.Um adendo, sobre Uribe conseguir "derrotar" as FARC e etc, claro que ninguém pergunta como, se por meios lícitos e diálogo ou se valendo de repressão, brutalidade e dos narcotraficantes da extrema-direta, como os das AUC. Na prática, vale a segunda opção. Mas isto o PIG não comenta!
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4. O caso de Honduras
Outro paralelo a ser traçado, em termos de posicionamento midiático, mas este ainda mais radical, é com Honduras. Zelaya foi deposto por sua tentativa de consultar o povo sobre a possibilidade de uma reeleição.
Na verdade, em Honduras a questão foi ainda mais estranha, Zelaya ia realizar uma consulta para saber se o povo aceitaria que ele fizesse um referendo para, então poder permitir a reeleição. E, mesmo que aprovada, Zelaya sequer poderia ser este candidato!
O caso concreto do Zelaya é que a notícia de que ele colocaria no plebiscito a possibilidade do terceiro mandato, coisa que não existia, foi dada pela France Press, não sei se unicamente por ela, mas foi reproduzida acriticamente aqui no Brasil por alguns veículos de comunicação. É um padrão nacional, mas que também tem vínculos com a grande mídia internacional.A mídia nem esperou para chamar Zelaya de Ditador, apoiaram logo sua retirada forçada do poder, um golpe de Estado clássico.
Mas o foco deste artigo não é Honduras, que já analisei exaustivamente em vários posts que podem ser encontrados sob a tag "Honduras" e, para um pouco mais, vale a leitura do mais novo artigo do Idelber Avelar para a Revista Fórum.
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5. Chávez em questão e Breve histórico
Para se observar melhor ainda o paralelo vejam que Chavez foi eleito em 1998 pela primeira vez, com amplo apoio político e em 1999 aprovou, por referendo popular, uma Assembléia constituinte. Ou seja, quem decidiu pela Assembléia foi o povo, através do voto e com maioria esmagadora de 70%.
Com maioria, graças ao voto popular, redige a constituição e a coloca em nova votação popular. Mais uma vez, mais de 70% de aprovação.
Em 2000, através do voto, se reelege.
Em 200 a oposição tenta retirar Chavez do poder com um referendo revogatório. Chavez vence com amplo apoio popular.
Em 2006 Chavez se reelege novamente, com maciço apoio popular.
Finalmente, no fim de 2008, o congresso aprova a reeleição indefinida de todos os cargos eleitos- e não só o do Presidente.
O que se vê, enfim, é que em todos os momentos Chavez teve amplo apoio popular e apoio do congresso, e que a oposição, em 2002, resolveu passar por cima da vontade popular e deu um golpe de Estado - de vida curta - e retirou Chavez do poder.
Vejamos se é possível compreender, Chavez sempre foi eleito, sempre teve maioria no congresso mas, enfim, é ditador. Além disso ainda sofreu um golpe e voltou nos braços do povo. Mas é um ditador.
Não percam a conta, Chavez foi eleito em 1998 e reeleito em 2000 (2 anos depois, a constituição mudou, o mandato foi "zerado") e em 2006. Ou seja, se reelegeu duas vezes e apenas aspira ao terceiro mandato. Assim como Uribe!
E todo o processo contou com uma maioria parlamentar e referendo(s)! Chavez e Uribe, enfim, agiram de forma semelhante, mas a mídia escolheu seu lado. A mídia, aliás, esqueceu de avisar que simplesmente escolheu o que lhe pareceu mais simpático, porque na prática não há qualquer diferença entre Chavez e Uribe no que tange os processos de eleição e reeleição, com a única diferença marcante sendo o fato de Chavez ter sido vítima de um golpe.
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6. Uribe em questão e Breve histórico
Ah sim, não nos esqueçamos de Alvaro Uribe, que foi eleito a primeira vez e 2002 e, em 2005 conseguiu que o congresso e a Corte Constitucional aprovassem sua reeleição, que se deu em 2006.
Vejam que, diferentemente de Chavez, Uribe não realizou qualquer consulta ou referendo, mas em momento algum foi chamado de Ditador. Contou apenas com a aprovação do legislativo e judiciário mas em momento algum se preocupou em consultar o povo.
Aliás, sobre este processo pairam até hoje denúncias de corrupção e suborno de parlamentares para aprovarem a mudança constitucional. E, cabe ainda notar, Uribe inicialmente se dizia contrário à reeleição. Chavez, por outro lado, sempre deixou claras suas intenções e, além disso, teve a decência de consultar o povo.
Neste meio tempo Uribe ainda passou por vários escândalos, como o de alianças com paramilitares, com narcotraficantes, corrupção, invasão do território Equatoriano e etc.
Como se vê, um verdadeiro democrata!
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7. ConclusãoO que se vê, enfim, é o posicionamento claramente ideológico e ideologizado da Mídia que, das duas uma, ou raramente dá publicidade ao fato - e quando o faz é sem qualquer crítica -, ou então se declara francamente favorável, feliz e satisfeita com a reeleição de Uribe.
Em ambos os casos é visível a falta de memória (memória seletiva?) e o mal-caratismo em louvar o acontecimento que contém mais do que esporádicos paralelos com os processos eleitorais e legislativos que levaram Chávez à se reeleger nos anos anteriores.
A diferença marcante, no entanto, é que Chavez submeteu todas as modificações constitucionais ao crivo popular, em referendos democráticos, enquanto Uribe tomou todas as decisões sem deixar seu palácio, nos escritórios parlamentares.
Chavéz é ditador, Uribe, mesmo copiando (e mal), não.
E porque a mídia se posiciona desta maneira?
Simples, porque Chavez é apenas um "caudillo", um esquerdista, até um comunista!
E, do outro lado, porque Uribe está alinhado com o sonho neoliberal, defende com unhas e dentes o livre mercado, interfere apenas nos negócios das FARC e ELN (corja comunista e narcotraficante) sem, porém, interferir nos negócios dos narcotraficantes da direita - seus aliados - e, acima de tudo, está alinhado com os EUA, sendo o seu braço mais visível na América do Sul, talvez o único ainda remanescente.