sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Irã e Brasil: Mídia e Questão de Estado

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A mídia vem fazendo um excelente trabalho em confundir questões de Estado com questões de governo e, como consequência, conseguem embaralhar a opinião pública. Usam o Irã como arma para atacar o governo, mas escondem a realidade dos aliados do Império, logo, do patrão.

De uns tempos para cá pululam notícias relacionadas aos abusos cometidos pelo regime Iraniano e, sem dúvida, existe direta relação com os acordos que vem sendo feitos entre este país e o Brasil. Nenhum problema na divulgação do que acontece no Irã, que é efetivamente uma ditadura repressiva com sérios problemas de respeito aos direitos humanos, a questão é quando isto acaba por respingar na correta política externa do governo brasileiro para a região.

É curioso notar que raramente ouvimos uma voz dissidente entre a imprensa mundial quando os EUA fazem acordos com qualquer ditadura, ou mesmo há reclamação do relacionamento do Brasil com a China ou a Arábia Saudita.

Num mundo ideal, as Ditaduras seriam isoladas, no mundo real, algumas ditaduras são toleradas e, ainda, outras são repudiadas mas alguns interesses permanecem.

No caso do Brasil, a política externa vem tentando evitar uma guerra nuclear ou, pelo menos, uma guerra injusta e desigual. Os EUA e Israel não querem atacar o Irã por ele ser uma suposta ditadura, mas porque tem interesses claros na região. Não há qualquer interesse democrático, mas sim o de impor sua supremacia. Aliás, não cabe aos EUA nem a Israel ou qualquer aliado decidir "democratizar" país algum apenas por sua vontade, que fique claro.

O Brasil, neste ponto, vem se colocando como um mediador honesto e confiável que busca reduzir as tensões, muito distante do explícito apóio a uma ditadura, como gosta de pintar a imprensa.

A posição de Lula ao oferecer asilo à iraniana condenada a morrer por apredrejamento é louvável. A partir do momento em que tal condenação - ainda que brutal - faz parte do código penal iraniano, não cabe a nenhum país abertamente criticá-la sob pena de ter suas relações cortadas. Se a prática se configura como um abuso dos direitos humanos, existem meios para se conseguir conversar com o regime que impôs a pena.

Nunca vi qualquer país repudiando os EUA por condenarem à cadeira elétrica doentes mentais incapazes. Nem a imprensa grita de ódio quando isto acontece. E estamos falando de um atentado contra os direitos humanos da mesma monta.

O Brasil, ao escolher o caminho da negociação, manteve o padrão. Quando o presidente Lula se dirigiu ao presidente Ahmadinejad e pediu clemência e, depois, o Itamaraty ofereceu o asilo à iraniana, todos os trâmites forma seguidos corretamente. No mínimo a imprensa esperava uma invasão ao estilo dos EUA com marines indo resgatar a pobre coitada no melhor estilo Chuck Norris.

Ridicularizaram o presidente Lula quando este, se dizendo cristão, pediu clemência à iraniana. A atitude do presidente foi a correta. Ele fez um meio de campo considerável para, então, acionar o Itamaraty sem que nada parecesse uma imposição. Há todo um trâmite diplomático a ser seguido em vista de não melindrar o país a quem se pede clemência, uma forma específica de negociar com o objetivo de alcançar um objetivo humanitário sem que isto signifique ferir a soberania de outro Estado. são conceitos que o PIG dificilmente compreenderia.

O caso mais recente a figurar na imprensa é o do jovem acusado de ser gay  (é risível usar o termo "acusado", como se ser gay fosse crime, mas...) e, por isto, condenado à morte. É algo grotesco, fato, mas eu gostaria de saber da imprensa porque cabe ao Brasil e apenas ao Brasil, a condenação? Porque cabe apenas ao Brasil tomar alguma atitude sobre o caso?

Se existem violações dos DH no Irã - e existem - cabe à ONU condenar. O problema é que, palco das manipulações imperiais, a efetividade da condenação seria limitada. Outro grande problema é que, de que adianta condenar exclusivamente o Irã por práticas que são ainda mais cruéis e comuns em países aliados dos EUA e que, por isso, nada sofrem ou sofrerão?

Essa seletividade retira qualquer força de condenações morais. E sanções apenas se provam ineficazes quando seguem a mesma motivação.

O engraçado é que, caso recente de brasileira de 14 anos condenada nos Emirados Árabes por fazer sexo e que a mídia ainda não gritou que é um absurdo o Brasil ter relações com tal país bárbaro. A mídia não fará tal coisa, afinal, os Emirados Árabes Unidos são ricos e aliados de primeira hora dos patrões, os EUA.

Enfim, não cabe a um Estado, o Brasil, fazer críticas pontuais a ações ou decisões de governos ou de órgãos subsidiários, como a justiça do Irã. Seria o mesmo que o Estado Iraniano criticar o governo Lula pelo Mensalão ou FHC pelas privatizações.

Obviamente existem exceções, mas esta não é uma delas. O Brasil poderia ter condenado o golpe dado por Ahmadinejad para vencer as eleições, da mesma forma que condenou Honduras pelo golpe de Micheletti e até hoje se recusa a reatar relações, mas se não fez, passou o tempo, a história caminhou e a realidade hoje é outra. As ações de um governo contra sua população, amparadas pela Constituição e códigos legais do país não são assunto de outro Estado. No máximo pode haver uma intermediação, uma troca de mensagens e uma intenção de buscar solucionar algo que não parece certo ou correto para uma das partes. O resto é intervenção indevida em assuntos internos de outros países, algo que os EUa são mestres em fazer par,a depois, invadir os países que lhes desagrada.

Puro e simples crime.
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