Não bastou ter espancado a mulher, nem mesmo ter espancado um apresentador do programa Pânico - Vesgo -, Netinho parece achar que eles mereceram. Pobre coitado, foi uma vítima. Aparentemente esta figura ainda bateu em outra mulher, uma funcionária da VASP, em 2001.
É este tipo que queremos no Senado?
Na época do espancamento de sua mulher, Netinho já havia se feito de vítima:
O apresentador do Domingo da Gente, da Record, Netinho de Paula, 34 anos, admitiu ter batido na mulher, Sandra Crunfi, 36, depois de uma discussão na quarta-feira 2 na casa onde vivem, em Alphaville. Os dois nunca foram casados, apesar de dividirem o mesmo teto há dois anos. Amigos contaram que Netinho queria a separação sem repartir bens.Realmente, pobre coitado. Um homem maravilhoso que "apenas" espancou uma mulher, que merecia!
Sandra, com vários hematomas nos olhos, registrou queixa na delegacia. “De repente, eu virei o pior homem do mundo”, disse ele.
Aparentemente a mulher de Netinho, Sandra, o havia traído. Claro que esta é uma bela razão para um espancamento! Corrigir um erro com outro MUITO pior é realmente uma forma decente de resolver as coisas. Pena que isto seja crime.Infelizmente a Lei Maria da Penha só passou a valer um ano depois de seu crime (ele espancou a mulher em 2005 e a lei passou a valer em 2006) mas, por ser famoso, dificilmente sofreria qualquer coisa. Que o diga a vítima do goleiro Bruno, Eliza Samudio.
Mas a política é uma coisa engraçada. Interesses passam por cima de tudo. Vejam o que dizem as feministas do PCdoB, seu partido:
Netinho já fez profunda autocrítica de seu ato. Publicamente pediu “perdão a todas as mulheres brasileiras” por seu ato, que considerou injustificável. Reconheceu que cometeu um erro e que nada justifica a violência contra a mulher. Convidou para seu programa de estréia no SBT, o Show da Gente , em 9 de maio do ano passado, a companheira Maria da Penha, que deu nome à lei de combate à violência contra a mulher.[...] Nós, mulheres que temos uma longa trajetória de luta em defesa dos direitos femininos e contra a violência doméstica, votamos em Netinho porque ele teve coragem e dignidade para mudar. E com esta atitude clara e transparente presta um imenso serviço à causa do combate a violência contra a mulher.
Vamos então exigir apenas "autocrítica" dos espancadores. Pra que Maria da Penha se todos podem apenas se desculpar? "Apenas" metade dos que espancam suas mulheres são reincidentes, não é mesmo?
Alguns comentários que leio por aí são interessantes quando toco no assunto. Alguns me perguntam se ele terá de pagar eternamente pelo erro, se ele deve ser punido eternamente...
Me desulpem mas... punido? Pagar? O que ele pagou? Onde e quando ele foi punido? Uma vaga no Senado é punição? Só se for, porque não me recordo dele ter passado uma noite sequer na cadeia, lugar para onde TODOS os que espancam mulheres deveriam ir.
Depois que ele cumprir sua pena aí sim podemos falar em perdão.
Não importa se ele supostamente não reincidiu. Um assassino só vai preso se matar duas pessoas? A primeira não vale? E não me venham com "você está exagerando", porque espancar mulheres não é crime menor, não é uma besteira qualquer. É crime grave.
E graças à política, alguns tentam fingir que não é nada. Tentam diminuir a força do crime, o significado. Justificar o injustificável. "Pedir perdão" é parte do processo, é louvável .Reconhecer o erro é importante. Mas cumprir a pena também. O que Netinho pagou? Ele ganhou um programa de TV e agora uma cadeira no Senado.
E, para os que falam que ele genuinamente se arrependeu, atenção:
O candidato do PCdoB ao Senado por São Paulo, Netinho de Paula, repetiu neste domingo (26) o mesmo discurso que fez há um mês durante um culto na igreja evangélica Assembleia de Deus, em que disse se arrepender de ter agredido sua ex-mulher em 2005.O que podemos tirar daí?
Acompanhado do candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, Netinho participou neste domingo de um encontro das mulheres evangélicas da Assembléia de Deus, na região central de São Paulo. Os candidatos foram apresentados aos membros da igreja pelo vereador Carlos Apolinário (DEM), que apoia as candidaturas.
Ao receber o microfone, Netinho disse que não iria aproveitar o espaço para falar de política. "Eu vivia uma vida de sucesso, dinheiro, glamour e em função de uma traição eu perdi a moral. Perdi a calma e agredi a minha mulher. Fui à TV, admiti o que fiz, pedi perdão e esse povo de Deus sempre dizia que orava por mim. Tudo o que eu for fazer daqui para a frente vou colocar Deus na frente", disse, antes de ser calorosamente aplaudido.
Em primeiro lugar tenho ainda mais certeza de que jamais darei meu voto ao Netinho pois não voto em quem "coloca deus na frente". O Estado é laico. "deus" não interessa para o Estado, não pode ter influências sobre o Estado.
E, em segundo lugar, Netinho realmente se arrependeu? "em função de uma traição eu perdi a moral. Perdi a calma e agredi a minha mulher." Então está tudo bem? Ele foi supostamente traído, perdeu a moral (sic) e tá valendo meter a mão na mulher?
Mas ele foi na TV e admitiu... Que graça, será que um zé ninguém, sem acesso aos meios de comunicação e sem dinheiro teria a mesma sorte?
Aparentemente Netinho entrou em acordo com a mulher, pagou alguma grana e pronto. Se fosse pobre o desfecho seria igual?
Mas independentemente disto tudo, Netinho realmente se arrependeu ou acredita que a "traição" e a perda de sua "moral" justificaram seus atos? O arrependimento da figura se deu pelo ato ou simplesmente por ter perdido a calma?
Engraçado como a mulher dele foi simplesmente esquecida em toda essa história, e como se pagar uma multa, pagar o valor de um acordo fosse o suficiente para tornar alguém decente. Belo capitalismo que acredita que o dinheiro pode comprar tudo, até mesmo a inocência. E Netinho, vejam só, é Comunista (sic)!
Mas de uma coisa apenas eu tenho certeza: Netinho jamais terá meu voto. Votar nele porque supostamente a alternativa é "pior" não cola. Fosse um assassino confesso, um pedófilo, seria ainda melhor que a opção? Há quem acredite que sim.
Uma figura que espancou duas mulheres, pagou às duas pelo silêncio e depois espancou um apresentador de programa humorístico não tem a capacidade de ser um Senador.
Pagar uma multa não muda o caráter de uma pessoa.
Termino com as sábias palavras de uma feminista:
Com o lance do Netinho. Saiu um manifesto feminista (?) apoiando o cara. Um manifesto de todo patético e que recoloca a maneira como temos tratado a questão. Em determinado momento, diz o seguinte. Ele se arrependeu, pediu desculpas, o que mais podemos querer? Eu não sei se podemos querer coisas. Mas eu queria, sinceramente, que ele não se tornasse senador com endosso do movimento. Desculpas, o Dado também pediu. Na esfera privada, ele pode tudo. Casar outra vez, fazer terapia e se tornar um novo homem. Na esfera pública, ele pode um monte de coisas também. Menos ser representante feminista. Ou melhor. Ele pode ser representante feminista. Mas desde que faça algo pra merecer isso. Pedir desculpa está longe de ser suficiente.A Zuleika Alembert relata algumas coisas sobre a dupla militância dela no partido comunista. Ela faz um retrato bastante sincero do que era debater feminismo dentro da organização. Conta coisas cotidianas. Tipo que às mulheres era designado passar um cafezinho mesmo no meio das discussões. Para mim, essas mulheres que assinaram o manifesto continuam passando cafezinho. Primeiro por endossar uma candidatura com base nesse argumento de "pediu desculpas". Fizemos uma lei, hein? Para evitar que pedidos de desculpas eliminassem a responsabilidade. Que era o grande problema dos processos referentes a violência doméstica. Os agressores serem perdoados. Pelas esposas, pelas filhas, pelas vizinhas e pelas feministas do PC do B. Mas antes, essas mulheres já tinham passado um cafezinho. Porque ele é o candidato, né? Quer dizer que não teve feminista porra nenhuma nas reuniões do partido que definem candidaturas. Ele é candidato porque as feministas se omitiram e deve ser eleito com o endosso delas. É de cagar, sinceramente. E pelo visto, muito mais gente está disposta a atropelar a nossa agenda em prol de interesses partidários. No caso, nem vejo como o PT se beneficia tanto. Quem mais se beneficia mesmo é o PC do B. Não faria grande falta pra base da Dilma e seria um grande feito pra um movimento que vê a sua bandeira (violência doméstica) ser continuamente menosprezada no plano simbólico. Então eu não acho que é somente escolher se é a hora do partido ou a hora do movimento. Acho que se trata de pensar no significado mesmo. Há muita sinalização recente de que agredir mulheres não seria tão grave e poderia ser revertido com arrependimento. Não é onde eu achei que estaríamos em 2010. Mas é onde estamos. Daí que temos que vigiar a bandeira ué.