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domingo, 3 de outubro de 2010

Netinho de Paula, o espancador arrependido (?)

Eu não preciso de mais motivos para NÃO votar em Netinho, mas ele teima em sempre me arranjar mais e mais.

Não bastou ter espancado a mulher, nem mesmo ter espancado um apresentador do programa Pânico - Vesgo -, Netinho parece achar que eles mereceram. Pobre coitado, foi uma vítima. Aparentemente esta figura ainda bateu em outra mulher, uma funcionária da VASP, em 2001.

É este tipo que queremos no Senado?

Na época do espancamento de sua mulher, Netinho já havia se feito de vítima:
O apresentador do Domingo da Gente, da Record, Netinho de Paula, 34 anos, admitiu ter batido na mulher, Sandra Crunfi, 36, depois de uma discussão na quarta-feira 2 na casa onde vivem, em Alphaville. Os dois nunca foram casados, apesar de dividirem o mesmo teto há dois anos. Amigos contaram que Netinho queria a separação sem repartir bens.
Sandra, com vários hematomas nos olhos, registrou queixa na delegacia. “De repente, eu virei o pior homem do mundo”, disse ele.
Realmente, pobre coitado. Um homem maravilhoso que "apenas" espancou uma mulher, que merecia!

Aparentemente a mulher de Netinho, Sandra, o havia traído. Claro que esta é uma bela razão para um espancamento! Corrigir um erro com outro MUITO pior é realmente uma forma decente de resolver as coisas. Pena que isto seja crime.Infelizmente a Lei Maria da Penha só passou a valer um ano depois de seu crime (ele espancou a mulher em 2005 e a lei passou a valer em 2006) mas, por ser famoso, dificilmente sofreria qualquer coisa. Que o diga a vítima do goleiro Bruno, Eliza Samudio.

Mas a política é uma coisa engraçada. Interesses passam por cima de tudo. Vejam o que dizem as feministas do PCdoB, seu partido:
Netinho já fez profunda autocrítica de seu ato. Publicamente pediu “perdão a todas as mulheres brasileiras” por seu ato, que considerou injustificável. Reconheceu que cometeu um erro e que nada justifica a violência contra a mulher. Convidou para seu programa de estréia no SBT, o Show da Gente , em 9 de maio do ano passado, a companheira Maria da Penha, que deu nome à lei de combate à violência contra a mulher.[...] Nós, mulheres que temos uma longa trajetória de luta em defesa dos direitos femininos e contra a violência doméstica, votamos em Netinho porque ele teve coragem e dignidade para mudar. E com esta atitude clara e transparente presta um imenso serviço à causa do combate a violência contra a mulher.

Vamos então exigir apenas "autocrítica" dos espancadores. Pra que Maria da Penha se todos podem apenas se desculpar? "Apenas" metade dos que espancam suas mulheres são reincidentes, não é mesmo?

Alguns comentários que leio por aí são interessantes quando toco no assunto. Alguns me perguntam se ele terá de pagar eternamente pelo erro, se ele deve ser punido eternamente...

Me desulpem mas... punido? Pagar? O que ele pagou? Onde e quando ele foi punido? Uma vaga no Senado é punição? Só se for, porque não me recordo dele ter passado uma noite sequer na cadeia, lugar para onde TODOS os que espancam mulheres deveriam ir.

Depois que ele cumprir sua pena aí sim podemos falar em perdão.

Não importa se ele supostamente não reincidiu. Um assassino só vai preso se matar duas pessoas? A primeira não vale? E não me venham com "você está exagerando", porque espancar mulheres não é crime menor, não é uma besteira qualquer. É crime grave.

E graças à política, alguns tentam fingir que não é nada. Tentam diminuir a força do crime, o significado. Justificar o injustificável. "Pedir perdão" é parte do processo, é louvável .Reconhecer o erro é importante. Mas cumprir a pena também. O que Netinho pagou? Ele ganhou um programa de TV e agora uma cadeira no Senado.

E, para os que falam que ele genuinamente se arrependeu, atenção:
O candidato do PCdoB ao Senado por São Paulo, Netinho de Paula, repetiu neste domingo (26) o mesmo discurso que fez há um mês durante um culto na igreja evangélica Assembleia de Deus, em que disse se arrepender de ter agredido sua ex-mulher em 2005.
Acompanhado do candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, Netinho participou neste domingo de um encontro das mulheres evangélicas da Assembléia de Deus, na região central de São Paulo. Os candidatos foram apresentados aos membros da igreja pelo vereador Carlos Apolinário (DEM), que apoia as candidaturas.
Ao receber o microfone, Netinho disse que não iria aproveitar o espaço para falar de política. "Eu vivia uma vida de sucesso, dinheiro, glamour e em função de uma traição eu perdi a moral. Perdi a calma e agredi a minha mulher. Fui à TV, admiti o que fiz, pedi perdão e esse povo de Deus sempre dizia que orava por mim. Tudo o que eu for fazer daqui para a frente vou colocar Deus na frente", disse, antes de ser calorosamente aplaudido.
O que podemos tirar daí?

Em primeiro lugar tenho ainda mais certeza de que jamais darei meu voto ao Netinho pois não voto em quem "coloca deus na frente". O Estado é laico. "deus" não interessa para o Estado, não pode ter influências sobre o Estado.

E, em segundo lugar, Netinho realmente se arrependeu? "em função de uma traição eu perdi a moral. Perdi a calma e agredi a minha mulher." Então está tudo bem? Ele foi supostamente traído, perdeu a moral (sic) e tá valendo meter a mão na mulher?

Mas ele foi na TV e admitiu... Que graça, será que um zé ninguém, sem acesso aos meios de comunicação e sem dinheiro teria a mesma sorte?

Aparentemente Netinho entrou em acordo com a mulher, pagou alguma grana e pronto. Se fosse pobre o desfecho seria igual?

Mas independentemente disto tudo, Netinho realmente se arrependeu ou acredita que a "traição" e a perda de sua "moral" justificaram seus atos? O arrependimento da figura se deu pelo ato ou simplesmente por ter perdido a calma?

Engraçado como a mulher dele foi simplesmente esquecida em toda essa história, e como se pagar uma multa, pagar o valor de um acordo fosse o suficiente para tornar alguém decente. Belo capitalismo que acredita que o dinheiro pode comprar tudo, até mesmo a inocência. E Netinho, vejam só, é Comunista (sic)!


Mas de uma coisa apenas eu tenho certeza: Netinho jamais terá meu voto. Votar nele porque supostamente a alternativa é "pior" não cola. Fosse um assassino confesso, um pedófilo, seria ainda melhor que a opção? Há quem acredite que sim.

Uma figura que espancou duas mulheres, pagou às duas pelo silêncio e depois espancou um apresentador de programa humorístico não tem a capacidade de ser um Senador.

Pagar uma multa não muda o caráter de uma pessoa.

Termino com as sábias palavras de uma feminista:
Com o lance do Netinho. Saiu um manifesto feminista (?) apoiando o cara. Um manifesto de todo patético e que recoloca a maneira como temos tratado a questão. Em determinado momento, diz o seguinte. Ele se arrependeu, pediu desculpas, o que mais podemos querer? Eu não sei se podemos querer coisas. Mas eu queria, sinceramente, que ele não se tornasse senador com endosso do movimento. Desculpas, o Dado também pediu. Na esfera privada, ele pode tudo. Casar outra vez, fazer terapia e se tornar um novo homem. Na esfera pública, ele pode um monte de coisas também. Menos ser representante feminista. Ou melhor. Ele pode ser representante feminista. Mas desde que faça algo pra merecer isso. Pedir desculpa está longe de ser suficiente.A Zuleika Alembert relata algumas coisas sobre a dupla militância dela no partido comunista. Ela faz um retrato bastante sincero do que era debater feminismo dentro da organização. Conta coisas cotidianas. Tipo que às mulheres era designado passar um cafezinho mesmo no meio das discussões. Para mim, essas mulheres que assinaram o manifesto continuam passando cafezinho. Primeiro por endossar uma candidatura com base nesse argumento de "pediu desculpas". Fizemos uma lei, hein? Para evitar que pedidos de desculpas eliminassem a responsabilidade. Que era o grande problema dos processos referentes a violência doméstica. Os agressores serem perdoados. Pelas esposas, pelas filhas, pelas vizinhas e pelas feministas do PC do B. Mas antes, essas mulheres já tinham passado um cafezinho. Porque ele é o candidato, né? Quer dizer que não teve feminista porra nenhuma nas reuniões do partido que definem candidaturas. Ele é candidato porque as feministas se omitiram e deve ser eleito com o endosso delas. É de cagar, sinceramente. E pelo visto, muito mais gente está disposta a atropelar a nossa agenda em prol de interesses partidários. No caso, nem vejo como o PT se beneficia tanto. Quem mais se beneficia mesmo é o PC do B. Não faria grande falta pra base da Dilma e seria um grande feito pra um movimento que vê a sua bandeira (violência doméstica) ser continuamente menosprezada no plano simbólico. Então eu não acho que é somente escolher se é a hora do partido ou a hora do movimento. Acho que se trata de pensar no significado mesmo. Há muita sinalização recente de que agredir mulheres não seria tão grave e poderia ser revertido com arrependimento. Não é onde eu achei que estaríamos em 2010. Mas é onde estamos. Daí que temos que vigiar a bandeira ué.

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terça-feira, 9 de março de 2010

Luta das mulheres pelo mundo - Pequenos exemplos

Agora, dia 9 de março, podemos fazer um pequeno balanço do Dia Internacional da Mulher.

Na Palestina, o The Angry Arab nos informa que há pouco para comemorar:
"As the world celebrates International Women's Day, Iman Muhammad Hassan Ghazawwi marked her ninth year in Israeli custody on Monday. Ghazawwi, 33, was sentenced to 13 years, accused of planting an explosive device near an Israeli military patrol, said Detainees' Support Committee spokesman Riyad Al-Ashqar. He added that Ghazawwi is one of the longest-serving female prisoners in Israeli detention."

No Afeganistão, a situação das mulheres melhorou desde que o Talibã começou a ser combatido... Mas ainda há muito a se fazer.
On the occasion of International Women’s Day, it is apt to consider what progress has been made, and what challenges continue to hinder the efforts of well-intentioned parties.

The fall of the Taliban brought global attention to the plight of Afghan women -- from overzealous, ultrafeminist Western groups to former hippie do-gooders. Suddenly, it seemed like the entire world was scrambling to ameliorate the condition of the Afghan woman. But even with a sizeable amount of aid and scores of consultants and projects, palpable changes remain elusive.

Some critics find fault in the approach taken by many of the foreign organizations. They charge that many programs are rooted in a Western worldview and have not taken into account the social and cultural realities of an Islamic, underdeveloped, and postconflict society. As such, they have sought to impose foreign values that cannot be absorbed, and consequently, cannot bring effective change.

Others have taken an overly culturally sensitive approach, which has assumed a static view of Afghan society and has underestimated the abilities and aspirations of Afghan women.
Em primeiro lugar, uma verdadeira mudança na mentalidade conservadora. Não com noções puramente ocidentais, mas uma mudança de dentro, em homens e mulheres. A imposição de valores ocidentais, o velho orientalismo, de nada servirá para tirar o país - e as mulheres - da situação atual.
The Afghan Constitution of 2004 is arguably one of the most progressive legal documents in terms of women’s rights in the region and in the Islamic world generally. It guarantees women’s equality before the law (Article 22), women’s education (Articles 43 and 44), the right to work (Article 48), the right to health care (Article 52), support for women without a breadwinner (Article 53), the physical and mental wellbeing of mothers and the elimination of customary practices that are contrary to Islamic prescriptions (Article 54), and women’s representation in both houses of parliament (Articles 83 and 84). In addition, Article 7 stipulates that the state respects the UN Charter and the Universal Declaration of Human Rights.

Nevertheless, more than five years later, unchanged old laws and the state’s unwillingness to enforce laws indiscriminately have left the progressive constitution unfulfilled.
Em segundo lugar a saída das tropas invasoras e a capacitação do exército local para controlar a segurança do país. Acima de tudo, o combate à corrupção e ao clientelismo, típicos do país. às mulheres cabe conseguirem, através da luta, a igualdade.

Em Bilbao, no País Basco, milhares de pessoas marcharam pelos direitos das mulheres.
Miles de persona nos hemos dado cita un año más, para recorrer juntas las calles de Bilbo, y denunciar con nuestros gritos y canciones la falta de mejoras en los derechos de las mujeres.
Desde los distintos grupos feministas se denuncian estos tiempos actuales de neoliberalismo en los que nos ha tocado vivir y que no han conllevado ningún logro ni mejora en las condiciones de vida de las mujeres en las diferentes partes del mundo.
 La manifestación arrancó a las siete y media, de la plaza Arriaga al grito de “Alerta, alerta, alerta al que camina, mujeres feministas por las calles bilbaínas” portando pancartas de denuncia contra la precariedad en todos los ámbitos de la vida de las mujeres y la reivindicación para la construcción, de una vez por todas, de un nuevo modelo social.
 La manifestación transcurrió de forma multitudinaria bajo la emisión de múltiples consignas que afianzaban el carácter reivindicativo y de lucha desde el movimiento feminista en contra del falso estado de igualdad en el que nos quieren hacer creer que vivimos, finalizando en el Arriaga donde se dio lugar la lectura de los diferentes manifiestos. La convocatoria terminó con una gran nube de humo violeta.


Apesar de parecer uma surpresa para muitos, na Espanha - e no País Basco - é extremamente comum a violência doméstica e a violência contra as mulheres. Aos que se interessam por ler os jornais locais surpreende a quantidade de denúncias e prisões de homens que espancam suas mulheres, noivas, namoradas... A Europa, diferentemente do senso comum, não está livre - nem remotamente - de comportamentos bárbaros.

E no longínquo Quirguistão, cerca de 30 mulheres marcharam pela capital, Bishek, contra a violência doméstica.
The demonstrators gathered near a monument to Soviet-era female activist Urkiya Salieva and marched to the monument of Kurmanzhan Datka, the 19th-century female ruler of Kyrgyzstan's southern regions.

Former Foreign Minister Roza Otunbaeva, the leader of the opposition Social Democratic party faction in parliament, said during the march that although the government put up monuments to prominent female historical figures, there are currently thousands of women facing domestic violence and other problems in the country who do not receive any attention or government support.
Um problema comum em boa parte do mundo.

São apenas pequenos exemplos dispersos da luta das mulheres em todo o mundo contra problemas comuns a todas: Violência doméstica, liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, luta por reconhecimento, contra o patriarcalismo e machismo... Por mais que sejam todas de culturas diferentes, de vários lugares do mundo, de países com diferentes índices de desenvolvimento, TODAS enfrentam problemas semelhantes, em maior ou menor escala e fazem do dia 8 de março um dia unificado, mundial, de luta por seus direitos.

Às mulheres, uma saudação e meu comprometimento com a luta nobre de todas.
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Ainda no espírito, não poderia deixar de citar esta notícia pouco divulgada mas de imensa importância!
Quinze mulheres mulheres foram declaradas anistiadas políticas e receberam desculpas do governo brasileiro nesta segunda-feira, Dia Internacional da Mulher, na sessão especial da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça que julgou os processos. A sessão foi marcada por emoções fortes, lembranças das torturas, dos estupros e do terror sofrido pelas mulheres que se colocaram contrárias ao regime ditatorial no País (1964-1985).
Maria Alice Albuquerque Saboya também foi anistiada. Antes da proclamação, ela leu e entregou à Comissão de Anistia uma carta endereçada aos jovens, contando o que passou nos anos de ditadura e no exílio. Maria Alice foi presa aos 20 anos, junto com o marido, acusada de contribuir para formação de um partido político contrário ao regime. Foi torturada e viu colegas sendo torturados.
"É muito pior ver tortura que ser torturada. Tenho gravada em minha memória a vez de um prisioneiro que pedia: 'Pelo amor de Deus, me matem', disse Maria Alice. Ela divulgou uma carta aos jovens pedindo para que eles lutem em defesa do Plano Nacional de Direitos Humanos, proposta do governo que prevê a criação da Comissão da Verdade para apurar os crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura.
Essa história não é minha, essa história não é nossa. É a história de um País que precisa ser contada para que aprendamos com ela", afirmou.
Para a psicóloga fluminense Vitória Lúcia Martins Pamplona, sua anistia significou "uma vitória simbólica de todas as mulheres". "Que não se repita jamais o que aconteceu conosco durante a repressão", disse Vitória, que foi demitida da Infraero, presa e torturada na década de 1970.
Além de Vitória, Celeste e Maria Alice, mais 12 mulheres foram declaradas anistiadas políticas e receberam desculpas do governo brasileiro. Esta foi a terceira vez que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça homenageou as mulheres no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Também tiveram seus direitos de anistiadas reconhecidos pelo Estado: Ana Lima Carmo Montenegro, Celeste Fon, Maria Cândida Raizer Cardinalli Perez, Isa Mariano Macedo, Maria Beatriz de Albuquerque David, Maria da Glória Lung, Denise Fraenkel Kose, Vera Lúcia Marão Sandroni, Elizabel Maria da Paixão Couto,, Vera Lucia Carneiro Vital Brazil, Vitória Lúcia Martins Pamplona Monteiro, Maria Inêz da Silva, Maria Albertina Gomes Bernaccio e Helena Sumiko Hirata.

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