terça-feira, 19 de outubro de 2010

Romeu Tuma, o Santo.

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Os "bons companheiros" Sérgio Fleury (1º, da esq. p/ a dir.) e Romeu Tuma (3º), no auge da ditadura, quando atuavam no Dops.
Romeu Tuma - pena - ainda não morreu. Mas há quem o considere um santo. E, infelizmente, esta idéia não vem de nenhum blog de direita ou saudosista da Ditadura.

Mas existem coisas inaceitáveis, uma delas é, em nome de uma eleição e de um suposto aliado, tripudiar sobre a memória histórica do país e sobre as vítimas da Ditadura e seus familiares.

Neste post, o Vi o Mundo reproduz uma mensagem do filho do Torturador, reclamando da barrigada da Folha de são Paulo que, para ajudar a candidatura de Aloysio Nunes (PSDB) anunciou que Tuma havia morrido (infelizmente está só quase). A atitude da Folha, como comentei aqui, é ridícula, abusiva, lamentável, criminosa. chamem como quiserem. Mas pra mim é igualmente repudiável abrir espaço para a família do torturador se mostrar ofendidinha.

Eis o que eu disse nos comentários:
A Folha matou o jornalismo, o Tuma matou militantes de esquerda. Matou, torturou... Vergonhoso o Vi o Mundo republicar uma carta do filho desse assassino, isso é um vale tudo vergonhoso.
E o que a Conceição me respondeu:
Raphael, para de falar besteira. O Tuma não matou militantes de esquerda. Quem matou foi o Sérgio Paranhos Fleury, quando dirigia o DEOPS de São Paulo, e gente da equipe dele. Para vc ter uma ideia na ante-sala dele (Fleury) no DEOPS ficavam dois policiais com duas poderosas metralhadoras. Outro lugar onde se matou militantes foi no DOI-CODI, na rua Tutóia. Lá morreram Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho. Naquela altura, quando o pessoal era transferido para o DEOPS era um alívio. Sabia que ia sobreviver. Na época em que o Lula esteve preso, o Tuma é quem chefiava o DEOPS. Teve um dia que o Lula teve um tremendo problema no dente, ele arrumou dentista para cuidar do Lula. A tua intervenção é tão sacana, inclusive conosco do Viomundo, que não merecia resposta. Mas em respeito à verdade dos fatos, aos leitores do Viomundo e ao senador Romeu Tuma, eu não podia deixar passar batido a sua estupidez.



Eis minha tréplica:
Conceição, me desculpa, mas o fato de Tuma ter virado amiguinho do PT não o torna decente. Tuma encobriu torturas, defendeu torturadores, assinava documentos dizendo que presos assassinados haviam se suicidado.

O fato dele ser, hoje, "aliado" não torna seu passado menos execrável e por ter ajudado o Lula muito menos. Um Minuto de lucidez - imaginando provavelmente que Lula seria alguém algum dia, mais do que o que ele já era - não o exime de ter sido quem foi.
http://correiodobrasil.com.br/dops-nao-escapara-d... http://dojival65788.blogspot.com/2010/09/depoimen...

Quem sofreu as consequências da invasão da PUCSP também sabe quem é Tuma.
http://flitparalisante.wordpress.com/2007/07/09/d...

Ocultação de cadáveres (junto com Maluf) também não é nada?
http://www.torturanuncamais-rj.org.br/noticias.as... http://www.prsp.mpf.gov.br/prdc/sala-de-imprensa/...

Querer colocar um delegado do DOPS, Tuma, como bonzinho é uma OFENSA à memória das famílias que perderamj seus entes queridos durante a ditadura. Uma eleição não vai mudar ou apagar o passado.

Romeu Tuma era um delegado do regime, que mandava matar e torturar. 

Tuma pode até não ter matado com as próprias mãos, pois se comportava como um político, não se sujava no sangue dos que MANDAVA torturar e matar, mas mandar matar é o mesmo que ser ele mesmo o assassino.

Me desculpem, mas alguém acredita que um homem chega a delegado do temível DEOPS sendo um santo? Em plena Ditadura Militar alguém tem coragem de dizer que Tuma era um santo?

O episódio com o Lula é tão único e emblemático que o próprio Tuma o usou em sua propaganda política, alguém duvida que ele tenha sentido cheiro de sucesso no Lula já naquela época e resolveu pegar leve esperando ganhos futuros?

Tuma era PFL, filhote da ARENA, Delegado da central de torturas da Ditadura. Só este currículo já basta.

Mas sempre tem mais. O santo Tuma está sendo acusado, junto com outro santo, Maluf, do também aliado PP, de ocultação decadáver. Isso mesmo, de oculta cadáver de guerrilheiro de esquerda:
O Ministério Público Federal em São Paulo ingressou nesta quinta-feira na Justiça Federal com duas ações civis públicas para que sejam responsabilizados agentes públicos da União, Estado e prefeitura por ocultação de cadáveres nos cemitérios de Perus e Vila Formosa. Os cadáveres seriam de opositores do regime militar instaurado no País a partir de 1964.

Entre as autoridades, o MPF recomenda a responsabilização do delegado e hoje senador Romeu Tuma e do ex-prefeito da capital paulista Paulo Maluf. Além deles, do médico legista Harry Shibata, ex-chefe do necrotério do Instituto Médico Legal de São Paulo; , atualmente deputado federal, e Miguel Colasuonno (gestão 1973-1975), e de Fábio Pereira Bueno, diretor do Serviço Funerário Municipal entre 1970 e 1974.
Mas, realmente, hoje ele é "aliado", porque se importar com o passado? Porque respeitar as vítimas e suas famílias? É este o vale-tudo eleitoral, onde um canalha capacho da Ditadura é elogiado e defendido pela própria esquerda?

Ser mandante é crime menor, ou sequer crime?
O hábil Vice-Rei continuava o profissional de imagem ilibada — que trabalhara ao lado do truculento delegado Fleury, sem se contaminar pela péssima fama do colega E que estava ao lado do Coronel Erasmo Dias na invasão da PUC paulista, mas transferindo o peso da desastrada operação para cima do Secretário de Segurança. O episódio, aliás, demonstrou como um bom artista pode se sair bem em qualquer enredo. Enquanto o canastrão Erasmo Dias atropelava os estudantes, o habilidoso Tuma reservava para si o simpático papel de fazer a triagem dos prisioneiros — depositando os inocentes, a grande maioria, nos braços agradecidos dos pais. Virou herói. Com direito a reprise. Em 79, na greve dos jornalistas, foi esse herói quem delegou aos seus auxiliares a tarefa de prender, fichar e interrogar os presos, enquanto na outra sala consolava e tranqüilizava os parentes dos jornalistas
Podemos trazer o Marighella pra roda?
"Em 1969, ano em que Marighella foi assassinado, o chefe do serviço secreto era Romeu Tuma, hoje senador pelo PTB e corregedor da Casa", salienta Sacchetta para depois acrescentar que "os culpados pela morte de Marighella devem ser responsabilizados sem revanchismo".
Mas, talvez, assinar documentos falseando a realidade, colocando mortos sob tortura como suicidas não seja grande problema:
E meu professor de Direito na UPS, Gofredo da Silva Telles, falou assim para a Folha, em outubro de 2000:

Romeu Tuma assinava documentos comprometedores. Os papeis avalizariam versões policiais de que presos mortos sob tortura haviam de suicidado.
Felizmente eu não sou o único que se revolta contra Tuma "aliado" (recomendo a leitura completa do post linkado):
Outra coisa: quem tem um mínimo de conhecimento da história - e não perdeu a memória - jamais chamará Tuma de "meu mano". Meu mano, ele não é. Nunca será!
Que me desculpe o pessoa do Vi o Mundo, um dos melhores blogs brasileiros, mas Tuma é um criminoso, um torturador e assassino que defendeu o Regime Militar e foi um de seus cãos mais fiéis e não merece, aliás, não terá meu respeito, apenas meu mais profundo desprezo.

Para finalizar, fico com as palavras do grande Lungaretti, que dispensa apresentações, sobre quem é Romeu Tuma:
Para quem não se lembra, Tuma era superior hierárquico do pior assassino serial da Polícia Civil durante a ditadura militar, o delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Diretor-geral da Delegacia de Ordem Política e Social no auge do terrorismo de Estado, Tuma passou depois a chefiar o Serviço de Informações do seu sucessor, o Departamento Estadual de Ordem Política e Social -- função que ocupava durante o Caso Herzog.
[...]
Da mesma forma, Tuma sempre conseguiu manter "uma distância oceânica" das torturas e assassinatos cometidos por Sérgio Fleury. Nenhum ex-preso político se lembra dele como torturador, mas Ivan Seixas garante que ele analisava as informações arrancadas nas torturas e decidia quem (e quanto) seria torturado.
Aliás, ainda cabe mostrar (no vídeo que segue) quem é Ivan Seixas, militante do Movimento Revolucionário Tiradentes - e filho do grande Joaquim Seixas -, que tem total propriedade para acusar Romeu Tuma de ser responsável por torturas.



Ivan Seixas na USP from Raphael Tsavkko on Vimeo.
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