quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Plínio, o que é isso companheiro? Sobre Repressão e Cooptação [Update]

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Eu havia questionado ha algum tempo a atitude legítima mas, na minha opinião, burra de Plínio de Arruda Sampaio em pedir o voto nulo no segundo turno, indo contra o grosso dos paramentares e da direção do PSOL e, obviamente, contra a vontade dos movimentos sociais que, em peso, se uniram à candidatura de Dilma, mesmo com todas as críticas feitas.
Frente à mídia manipuladora que temos, a posição do Plínio é, enfim, uma irresponsabilidade.

Eis que agora o velho Plínio foi ainda mais longe e, honestamente, começo a me preocupar com a situação, com o próprio PSOL, colado em sua imagem, ainda que Plínio, agora, esteja falando apenas por si e não pelo partido.

O que eu havia dito antes sobre o voto nulo na situação que se paresentava ao país, vale ainda para hoje:
Concordo com as análises feitas pelo Plínio, tanto sobre Serra quanto sobre Dilma, tenho talvez apenas alguma discordância quanto à questão da corrupção - tratada por demais de forma moralista - e do fato do Serra não ter sido denunciado com mais veemência.

Serra representa um retrocesso que tanscende o governo Lula, que transcende aquilo que Lula construíu, ele retrocede nas bases mais fundamentais da sociedade, ao se aliar com neonazistas e com a TFP, além de figuras como Silas Malafaia.
Mas, curiosamente, é este retrocesso que, parece, busca Plínio. Em teoria um recrudescimento da situação, uma maior criminalização dos movimentos sociais e uma piora nas condições de vida fariam, automaticamente, a população - ou os movimentos sociais - se levantarem em revolta.

É a tese do quanto pior, melhor. Nos livros, na teoria, pode até funcionar. Mas é preciso muito sangue frio - para dizer o mínimo - defender algo assim na prática.
E, também, infantilidade acreditar que um processo de organização dos movimentos sociais sob uma suposta vanguarda se daria de forma imediata, rápida.

Acredito que Plínio tenha TODO o direito de acreditar que o governo Dilma será ruim, de ser pessimista, de criticar e ser o mais incisivo que quiser. Mas isto é diferente de basicamente desejar que haja repressão em um governo de direita - de fato, esta repressão vem de qualquer forma.
"No (eventual governo) Serra, temos a repressão, em Lula a cooptação" [...] "Acho mais favorável (para a esquerda) a repressão, que aliás já enfrentei. Mas é melhor porque a repressão unifica, as pessoas se unem, vão para as ruas".

Perfeito em livros, péssimo na prática, na realidade.

É óbvio que Plínio deixou claro não querer um governo Serra, mas acreditar na mobilização automática das forças progressistas beira a infantilidade.

Repito, Plínio não disse preferir um hipotético governo Serra, senão lembrou que governos repressivos tendem a facilitar a mobilização das forças progressistas, enquanto o governo do PT se limitou a cooptar estas forças.

É o velho dilema entre cooptação e repressão, o que seria "melhor" para a união de forças de esquerda.

Plínio segue o receituário marxista clássico, ainda que eu, pessoalmente, não veja o Brasil como ambiente propício para aplicação desta cartilha que, na verdade, acaba afastando ainda mais as esquerdas.

Temos o PT no poder, em sua órbita um amálgama de partidos médios e pequenos de esquerda mas com diversos conflitos internos e mesmo séria crise de identidade e ideológica e, do outro lado, isolados, partidos de extrema-esquerda que apoiam a tese do Plínio, que olham para livros e não para a realidade.

Honestamente, não vi motivos para tanta gritaria no Twitter por causa desta entrevista, em que Plínio apenas reafirma o que já vinha dizendo desde o segundo turno. Ele não defendeu ou defende um governo Serra, mas comenta que em regimes repressivos, a esquerda costuma mobilizar e se mobilizar mais.

É uma leitura que ele faz, eu já tenho um entendimento diferente da realidade brasileira.
Existe ressentimento por parte do Plínio (e setores do PSOL) contra o PT? Sim, claro. E este ressentimento pode ser facilmente verificável, mas não acredito que a declaração que mais causou furor em sua entrevista seja reflexo deste ressentimento.

Nos livros a mobilização da esquerda e da população sempre parece automática. Frente à repressão, há organização e reação. Mas os 8 anos de FHC mostraram que não é assim tão fácil. Além do que, um movimento facilmente cooptado não é exatamente o que ira se mobilizar mais rapidamente, o que sairá da apatia num estalar de dedos.

Sim, é verdade que o PT no poder não fez bem, em geral, a boa parte dos movimentos sociais. Mas também é verdade que o processo não vem de hoje. UNE, CUT e outras organizações/movimentos já estavam em processo de desmobilização desde o governo FHC, com Lula o processo apenas se completou.
O grande problema, talvez, seja a idéia de que o Plínio fale pelo PSOL. Ele não fala. O PSOL, acabado o primeiro turno, liberou seus filiados a votar como quisessem, desde que contra Serra: A Favor de Dilma ou Nulo.

A partir deste momento, Plínio deixou de falar pelo partido na condição de candidato, tanto que a maior parte dos cargos eleitos do PSOL lançaram manifesto em defesa do voto crítico em Dilma, enquanto ele e outros militantes defendiam o nulo.

Obviamente a mídia não se dá ao trabalho de diferenciar o Plínio militante do PSOL do Plínio porta-voz, candidato pelo PSOL. E, claro, é extrema falta de noção e infantilidade do Plínio dar entrevistas com o teor das que vem dando, arranhando até mesmo o bom relacionamento que o PSOL conseguiu com outras forças de esquerda pós-eleições.

Que fique claro que Plínio tem todo o direito de falar, de dar entrevistas, de questionar, mas é inegável sua inconsequência e o desserviço que vem prestando ao PSOL.

Leia a entrevista dada por Plínio ao JB e também a análise da Rede Brasil Atual.
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Update:
Como esperado, Plínio esclareceu alguns pontos de sua entrevista à Rede Brasil Atual. Como era óbvio, ele jamais disse preferir um governo Serra. Será que alguns fanáticos e sectários irão se retratar agora?
A propósito do meu posicionamento sobre o governo
Plínio Arruda Sampaio*
Dei uma entrevista telefônica para o “Jornal do Brasil” recentemente. Apesar da primeira frase da resposta à pergunta se eu preferia a eleição de José Serra ao invés de Dilma ter sido clara quanto à minha opinião de que as duas opções são ruins e que não preferiria José Serra, pessoas mal intencionadas agora acusam-me de estar fazendo jogo duplo. Especialmente a Rede Brasil Atual – que produziu matéria sobre o assunto afirmando, sem me ouvir, como diversas vezes fez sem nenhuma dificuldade, que eu preferiria um governo tucano ao petista. Por isso, sinto-me obrigado a esclarecer de uma vez por todas este assunto.
Sobre minha posição no segundo turno só pode ter dúvida quem estiver determinado a tê-la, porque está cristalinamente dito que anularia meu voto. Disse isto no Manifesto que publiquei e em todas as minhas aparições na televisão.
O que sempre declarei – e agora reitero – é o seguinte: Serra significaria maior repressão ao movimento popular e polícia mais truculenta contra o povo. Lula/Dilma não reprimem tanto, mas cooptam lideranças dos movimentos populares e, desse modo, corrompem tais movimentos, dividindo-os. Em nenhum momento afirmei preferir um governo Serra, pois o tucanato foi desde sempre no Brasil um governo nefasto. O governo Lula/Dilma foi frustrante.
Para os socialistas, os processos eleitorais são importantes como instrumentos de conscientização da massa popular. Tanto Serra como Dilma dificultam extremamente o trabalho de conscientização. Por isso, não prefiro nem um nem outro. Preferiria, isso sim, um governo verdadeiramente dos trabalhadores, que fizesse avançar a conscientização e a mobilização popular.
Inferir daí que eu estivesse sugerindo o voto em Serra só pode ser má fé.
Se há um traço que marcou minha vida política, e que até meus inimigos sempre reconheceram, foi a clareza das minhas atitudes. Os comentários maldosos que estão sendo feitos significam apenas ressentimento dos que ficaram indignados com as palavras que usei nos debates eleitorais.
Por isso, encaminho a nota acima à Rede Brasil Atual para publicação nos mesmos espaços onde foram veiculadas inverdades sobre minha postura política e militante, esperando não ser necessário tomar as medidas cabíveis para que minha real posição seja divulgada.
* Plínio Arruda Sampaio, dirigente nacional do PSOL e candidato à Presidência da República nas eleições 2010
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