Eis que agora o velho Plínio foi ainda mais longe e, honestamente, começo a me preocupar com a situação, com o próprio PSOL, colado em sua imagem, ainda que Plínio, agora, esteja falando apenas por si e não pelo partido.
O que eu havia dito antes sobre o voto nulo na situação que se paresentava ao país, vale ainda para hoje:
Perfeito em livros, péssimo na prática, na realidade.
É óbvio que Plínio deixou claro não querer um governo Serra, mas acreditar na mobilização automática das forças progressistas beira a infantilidade.
Repito, Plínio não disse preferir um hipotético governo Serra, senão lembrou que governos repressivos tendem a facilitar a mobilização das forças progressistas, enquanto o governo do PT se limitou a cooptar estas forças.
É o velho dilema entre cooptação e repressão, o que seria "melhor" para a união de forças de esquerda.
Plínio segue o receituário marxista clássico, ainda que eu, pessoalmente, não veja o Brasil como ambiente propício para aplicação desta cartilha que, na verdade, acaba afastando ainda mais as esquerdas.
Temos o PT no poder, em sua órbita um amálgama de partidos médios e pequenos de esquerda mas com diversos conflitos internos e mesmo séria crise de identidade e ideológica e, do outro lado, isolados, partidos de extrema-esquerda que apoiam a tese do Plínio, que olham para livros e não para a realidade.
Honestamente, não vi motivos para tanta gritaria no Twitter por causa desta entrevista, em que Plínio apenas reafirma o que já vinha dizendo desde o segundo turno. Ele não defendeu ou defende um governo Serra, mas comenta que em regimes repressivos, a esquerda costuma mobilizar e se mobilizar mais.
É uma leitura que ele faz, eu já tenho um entendimento diferente da realidade brasileira.
Existe ressentimento por parte do Plínio (e setores do PSOL) contra o PT? Sim, claro. E este ressentimento pode ser facilmente verificável, mas não acredito que a declaração que mais causou furor em sua entrevista seja reflexo deste ressentimento.
Nos livros a mobilização da esquerda e da população sempre parece automática. Frente à repressão, há organização e reação. Mas os 8 anos de FHC mostraram que não é assim tão fácil. Além do que, um movimento facilmente cooptado não é exatamente o que ira se mobilizar mais rapidamente, o que sairá da apatia num estalar de dedos.
Sim, é verdade que o PT no poder não fez bem, em geral, a boa parte dos movimentos sociais. Mas também é verdade que o processo não vem de hoje. UNE, CUT e outras organizações/movimentos já estavam em processo de desmobilização desde o governo FHC, com Lula o processo apenas se completou.
A partir deste momento, Plínio deixou de falar pelo partido na condição de candidato, tanto que a maior parte dos cargos eleitos do PSOL lançaram manifesto em defesa do voto crítico em Dilma, enquanto ele e outros militantes defendiam o nulo.
Obviamente a mídia não se dá ao trabalho de diferenciar o Plínio militante do PSOL do Plínio porta-voz, candidato pelo PSOL. E, claro, é extrema falta de noção e infantilidade do Plínio dar entrevistas com o teor das que vem dando, arranhando até mesmo o bom relacionamento que o PSOL conseguiu com outras forças de esquerda pós-eleições.
Que fique claro que Plínio tem todo o direito de falar, de dar entrevistas, de questionar, mas é inegável sua inconsequência e o desserviço que vem prestando ao PSOL.
Leia a entrevista dada por Plínio ao JB e também a análise da Rede Brasil Atual.
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Update:
Como esperado, Plínio esclareceu alguns pontos de sua entrevista à Rede Brasil Atual. Como era óbvio, ele jamais disse preferir um governo Serra. Será que alguns fanáticos e sectários irão se retratar agora?
A propósito do meu posicionamento sobre o governo
Plínio Arruda Sampaio*
Dei uma entrevista telefônica para o “Jornal do Brasil” recentemente. Apesar da primeira frase da resposta à pergunta se eu preferia a eleição de José Serra ao invés de Dilma ter sido clara quanto à minha opinião de que as duas opções são ruins e que não preferiria José Serra, pessoas mal intencionadas agora acusam-me de estar fazendo jogo duplo. Especialmente a Rede Brasil Atual – que produziu matéria sobre o assunto afirmando, sem me ouvir, como diversas vezes fez sem nenhuma dificuldade, que eu preferiria um governo tucano ao petista. Por isso, sinto-me obrigado a esclarecer de uma vez por todas este assunto.
Sobre minha posição no segundo turno só pode ter dúvida quem estiver determinado a tê-la, porque está cristalinamente dito que anularia meu voto. Disse isto no Manifesto que publiquei e em todas as minhas aparições na televisão.
O que sempre declarei – e agora reitero – é o seguinte: Serra significaria maior repressão ao movimento popular e polícia mais truculenta contra o povo. Lula/Dilma não reprimem tanto, mas cooptam lideranças dos movimentos populares e, desse modo, corrompem tais movimentos, dividindo-os. Em nenhum momento afirmei preferir um governo Serra, pois o tucanato foi desde sempre no Brasil um governo nefasto. O governo Lula/Dilma foi frustrante.
Para os socialistas, os processos eleitorais são importantes como instrumentos de conscientização da massa popular. Tanto Serra como Dilma dificultam extremamente o trabalho de conscientização. Por isso, não prefiro nem um nem outro. Preferiria, isso sim, um governo verdadeiramente dos trabalhadores, que fizesse avançar a conscientização e a mobilização popular.
Inferir daí que eu estivesse sugerindo o voto em Serra só pode ser má fé.
Se há um traço que marcou minha vida política, e que até meus inimigos sempre reconheceram, foi a clareza das minhas atitudes. Os comentários maldosos que estão sendo feitos significam apenas ressentimento dos que ficaram indignados com as palavras que usei nos debates eleitorais.
Por isso, encaminho a nota acima à Rede Brasil Atual para publicação nos mesmos espaços onde foram veiculadas inverdades sobre minha postura política e militante, esperando não ser necessário tomar as medidas cabíveis para que minha real posição seja divulgada.
* Plínio Arruda Sampaio, dirigente nacional do PSOL e candidato à Presidência da República nas eleições 2010