domingo, 6 de fevereiro de 2011

Quando confunde-se religião com práticas

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É possível afirmar, como o fez Amâncio Siqueira em artigo recente no Amálgama, que o Irã é uma teocracia islâmica e, ao mesmo tempo, que é uma ditadura com diversos aspectos que merecem nosso franco repúdio.
Não há problema nisso.

Problema há quando ligam ditadura e repressão ao islamismo. Quando a ideia de “ditadura repressiva” passa a estar intimamente ligada ao islamismo, quando estamos diante não do islamismo, mas de uma leitura que, em geral, envergonha a maior parte daqueles que professam a religião.

Ditaduras independem de religião. São políticas. Feitas por homens que encontram uma desculpa para manter seu poder e perpetuar a repressão. Pode ser o Islamismo, Cristianismo ou até o Pastafarianismo – basta acreditar. Pessoas matam e morrem em nome de grandes ou de pequenas religiões. Entregam todo seu dinheiro para templos evangélicos. Trata-se de leituras deturpadas.

Obviamente a religião em si abre portas para o fanatismo, mas não pode ser totalmente responsável pelas leituras mais radicais que são feitas. Senão todos os crentes seriam fanáticos por princípio.

Imagino que nenhum cristão se vanglorie dos milhões de mortos durante as Cruzadas ou defenda a Inquisição, ou mesmo reconheça estes dois exemplos como base ou resultados do “Cristianismo”, mas apenas faces de uma igreja ou mesmo uma interpretação absurda da “palavra” de seu deus.

Quem já leu o Corão ou ao menos conhece muçulmanos o suficiente para ter uma ideia de seus costumes e práticas, vê que o suposto islamismo pregado por aqueles fanáticos nada mais é que uma versão fascista e deturpada de suas crenças. É a leitura crua, sem atualização ou interpretação honesta. É a politização de uma crença levada ao mundo estatocêntrico com o intuito de garantir a alguns o poder sobre os demais.

Seria, em paralelo, o mesmo que o Comunismo (sic) nas mãos de Stalin. O Comunismo seria naturalmente ruim pela interpretação genocida de alguns. Assim como as religiões, as teses marxistas foram usadas por milhões da pior forma possível. O problema não está na religião/ideologia, mas na prática desta, na apropriação e leituras feitas a posteriori por quem tinha claros interesses em desvirtuar aquilo que milhões seguem ou acreditam. Da mesma forma que você precisa interpretar e atualizar os escritos de Marx, que não têm nem 300 anos, você precisa interpretar e atualizar aquilo que foi escrito a 1500 ou 2 mil anos.

A própria gênese de muitas religiões se baseia apenas no interesse de um ou uns dominarem um grupo através do medo ou de promessas de benesses eternas. É bom ter isto em mente, porém: o neopentecostalismo, como tal, é nocivo desde seu princípio e por base.

Não estou aqui falando que o Islamismo ou mesmo o Cristianismo sejam “puros” — imagino já ter deixado isto claro –, que mesmo em seus ensinamentos não exista algo recriminável, longe disso, o problema na verdade são as interpretações ou, mais ainda, a insistência dos mais puristas em evoluir a si mesmos e à própria religião. No fim das contas, o problema surge quando, de apoio, religião passa a ser a razão da vida.

Post completo no Amálgama
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