sábado, 5 de fevereiro de 2011

A Palestina frente à crise egípcia e os Papéis Palestinos

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A revelação dos Papéis Palestinos pela Al Jazeera, no atual momento, parecem mais importantes para os Palestinos que a crise no Egito e a deposição de Ben Ali na Tunísia, mas, juntos, dificultam a vida de Abbas e da Autoridade Palestina como um todo.

Os Papéis Palestinos, divulgados pela Al Jazeera no melhor estilo WikiLeaks, revelam as negociações secretas entre a Autoridade Palestina e Israel, que incluía a negação ao Direito de Retorno (apenas poucos milhares teriam permissão de voltar), a entrega de quase todos os territórios ocupados por Israel e a entrega de Jerusalém
Hoje, o canal em inglpaês da Al Jazeera lançou o primeiro de mais de 1.600 documentos internos [en] de uma década do Processo de Paz Israel-Palestina, conhecidos como os “Papéis Palestinos”. Os documentos divulgados hoje tornam público um número de negociações secretas entre o negociador- chefe da OLP, Saeb Erekat, e os israelenses, incluindo o que a Al Jazeera chamou [en] de “compromisso sem precedentes sobre a divisão de Jerusalém e dos lugares sagrados”.
O jornalista baseado em Doha (Catar) Blake Hounshell (@blakehounshell), reagindo às primeiras publicações, declarou [en]: “Eu acho que hoje pode ser lembrado como o dia em que a solução de dois Estados morreu #papéispalestinos”. 
O governo palestino foi humilhado e desmascarado em suas negociações com Israel que entregariam todos os direitos da Palestina em bandeja de ouro para os Sionistas.

É claro, é possível também dizer que os Papéis Palestinos comprovam a falta de vontade de Israel em chegar a uma solução para o conflito, visto que a Autoridade Palestina - comandada por Abbas e pelo negociador Saeb Erekat - praticamente desistiu de todos os direitos dos palestinos garantidos pelo direito internacional e mesmo pela decência humana.

A certeza, porém, é a de que a Autoridade Palestina - e em especial a Fatah, partido majoritário - teve sua imagem manchada de forma permanente. A questão agora é, frente à eleições locais que se aproximam, se haverá uma reação popular contra seus líderes.

O grande problema para os palestinos, porém, é a falta de alternativas. Notadamente laicos, sobra apenas o religioso Hamas, que não possui grande representação ou penetração na Cisjordânia (ao tempo em que controla Gaza). Os demais partidos, em geral, fazem parte do guarda-chuva da OLP (como os esquerdistas FPLP e FDLP) e são, em geral pequenos e pouco relevantes. Outra opção seria a Jihad Islâmica, grupo ainda mais radical que o Hamas, o que desagrada a muitos.

A situação é realmente complicada. E piora, ao menos para a Fatah, com a queda de Mubarak. Não a toa a Autoridade Palestina proibiu protestos pró-manifestantes egípcios na Cisjordânia.

Mubarak era um "parceiro" na resolução do conflito com Israel e não seria errado supor que sabia e fazia fé dos acordos entreguistas da Autoridade Palestina. Mas com o enfraquecimento e possível quedado Ditador, o Hamas se fortalece, tanto por suas ligações com a Irmandade Muçulmana (sua inspiração) quanto por ser a "alternativa", ainda que seja incerto este apoio, visto que o movimento egípcio (e o tunisiano) carece de ligações partidárias - é um movimento popular por primazia.

O Hamas, no entanto, está se beneficiando de imediato com a passagem de Rafah aberta, e o Irã comemora a possibilidade de enviar armas e o que mais for preciso para o grupo através deste caminho, mas se tudo isto resultará em efetivo apoio popular é incerto.

Os Palestinos vem vivendo em um gueto - Gaza - e a abertura da passagem pode até mesmo revoltar os próprios palestinos que vem sendo forçados a aceitar a imposição da Sharia e outros retrocessos desde que o Hamas tornou-se governante absoluto da região.

A situação é de pura incerteza. A Palestina vem sendo sufocada por Israel e, agora, enfrenta a traição de suas autoridades, além de crises em suas fronteiras que modem mudar todo o cenário internacional e local.

Na Jordânia, o não muito amigo dos Palestinos rei Abdullah II enfrenta protestos que o enfraquecem, no Líbano o Hezbollah surge como grande vencedor e possível força dominante e, claro, o Egito está pegando fogo. Tudo isto contribui para fortalecer o Hamas que tem apenas um problema para resolver: conquistar os Palestinos de forma definitiva. Se serão capazes, é outra história.

Em geral, a situação não está boa para os Palestinos, que vêem suas lideranças tradicionais desacreditadas e o fortalecimento do islamismo radical (ainda que o grupo tenha se tornado mais pragmático em relação à Israel e suas ações) que, aparentemente, sobrou como alternativa, mas não como opção real.

Enfim, resta esperar. As futuras eleições podem  servir como termômetro para entendermos a quantas anda o prestígio de Abbas e da Fatah - fiquemos de olho na abstenção também - e o futuro do Egito pode também ditar o futuro sucesso do Hamas em Gaza.

É muito difícil, agora, prever o que pode vir a acontecer.
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Mais sobre os papéis palestinos e a reação nos territórios ocupados:

Israel/Palestina: Reagindo aos Papéis Palestinos 

Palestina: Internautas Reagem ao Primeiro Lote de “Papéis Palestinos”

Palestina: Raiva frente aos Papéis Palestinos

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