sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Revolução começa agora

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A Revolução no Egito começa efetivamente agora, com a resposta de Mubarak nas ruas, com manifestações pró-governo (ainda que composta por capangas, agentes de segurança e pessoas pagas); começa agora com a certeza de que não será fácil, sem sangue ou suave.

De fato, os 29 dias de protestos na Tunísia foram relativamente pacíficos e passaram a idéia - errada - de que seria igual em todo o oriente médio.

O exército vem se limitando a cercar e, vez ou outra, separar os manifestantes pró e anti-Mubarak, o que deixa dúvidas sobre seu papel e sobre o que pensa a cúpula militar.

Ao se recusarem a atacar o povo passaram a idéia de que não seriam assim tão pró-Mubarak (ou ao menos que estariam barganhando por mais poder), mas ao também pouco fazer contra as turbas raivosas pagas pelo governo, deixa espaço para maiores conjecturas. Não irão derramar o sangue do povo, mas pouco irão fazer para evitar que outros matem o povo. Parece casar com a tática atual de Mubarak.

Aliás, algo deve ficar claro, estes manifestantes pró-Mubarak são, em geral, agentes da polícia a paisana, pessoas ligadas aos ministérios egípcios e pessoas pagas para criar confusão e não uma parcela da população em protesto legítimo.

Foram vários dias em que a população disputava espaços com a polícia e o saldo foi de mais de 100 mortos, porém, um número ínfimo se formos pensar que a população lutava contra uma ditadura de 30 anos e fortemente repressora. Mubarak - e seus aliados imediatos - não poderiam se dar ao luxo de ter sangue de civis nas mãos em grandes proporções, especialmente quando a onda revolucionária se espalhava por toda a região.

O temor era um isolamento regional e uma péssima reação do ocidente (mesmo dos aliados) que, frente aos acontecimentos, poderiam fingir nunca terem apoiado o regime e adotarem um discurso condenatório.

Sendo mais claro, não haveria justificativa política aceitável (para o ocidente) frente à morte de milhares de civis que se limitavam a protestar contra o governo, algo que volta e meia acontece mesmo nos EUA. Por mais que se trate de uma Ditadura, o Egito sempre foi blindado pela mídia ocidental, sempre foi tratado como o Estado imperfeito que, porém, luta contra os terríveis muçulmanos radicais (por mais que a Irmandade Muçulmana esteja longe disto).

Ou seja, era a Ditadura amiga que deveria existir para que a "democracia" ocidental sobreviesse. Que importam 80 milhões de Árabes em uma Ditadura se temos nossos brancos americanos livres (Tea Party à parte)?

O Mirgon Kayser fez, aliás, uma excelente postagem sobre o assunto no Jornalismo B, sobre a "ditadura do bem" do Egito e a mídia brasileira que, como a dos EUA, parece só ter visto agora que o Egito é uma Ditadura e, mesmo assim, não vê problemas nisso. O que importa é assegurar o direito (divido) dos EUA de controlarem o mundo. O Destino Manifesto nunca morre ou sai de moda.
Causou-me estranheza o comportamento de grandes emissoras como a Rede Globo, sempre tão prestativa na defesa da democracia, em silenciar sobre o comportamento das grandes potencias mundiais no que diz respeito ao Egito. Pelo contrário, as primeiras noticias veiculadas na grande imprensa davam conta apenas de protestos relacionados à crise econômico que o Egito está mergulhado e sobre como Mubarak poderia “restabelecer a ordem e dar estabilidade ao governo”.

Claro que minha estranheza tinha algo de cínico, sarcástico, já que eu jamais esperaria que a nossa grande imprensa fosse pedir a cabeça de Mubarak com a mesma energia com que pede a queda de ditaduras como a cubana, a iraniana ou norte-coreana. No fundo, o que importa são os interesses. Fosse o regime cubano “queridinho da América”, e nossa grande imprensa o defenderia ao limite extremo da falta de argumentos.

Enfim, a estratégia de Mubarak é a de manter a repressão, mas usando um artifício inteligente: O de usar terceiros que não podem ser oficialmente ligados a ele.

Com a eterna conivência da mídia ocidental (e as tentativas de bloquear as transmissões da Al Jazeera, simpática aos manifestantes), a idéia é fazer com que seus capangas pagos sejam tratados por "manifestantes pró-governo", legítimos. Se eles irão conseguir reverter o processo ou ao menos dar tempo para que Mubarak pense em outras saídas, é incerto, mas não há dúvida de que Mubarak espera algum sucesso com sua nova tática.

Neste momento os manifestantes estão sendo testados em sua vontade de levar o processo adiante. E, apenas superando este obstáculo - o primeiro, o medo, já foi superado - a revolução terá possibilidade de triunfar.
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