Reconhecer conquistas não é apagar os retrocessos, e Dilma, infelizmente, praticamente não tem grandes conquistas, mas coleciona significativos retrocessos.
A partir de amanhã posto uma pequena série comentando diversos pontos negativos - retrocessos em relação à Lula ou mesmo em geral - do governo até agora mas, desde já, caberia analisar um aspecto que a blogosfera vem comentando bastante e que, até certo ponto, me surpreendeu.
Ao ler diversas análises do Rodrigo Vianna, Maurício Caleiro, Maria Frô, Azenha, Leandro Fortes e até mesmo do Eduardo Guimarães, governistas até a medula, me surpreendeu a amargura de alguns com acontecimentos recentes e também o temor de maiores retrocessos. Em geral o que vi foram críticas muito bem colocadas e temor.
Principal alvo das críticas - ou talvez o estopim - foi a presença da Dilma na festa de 90 anos da Folha, que descrevi como "Uma linda festa que reuniu saudosos da Ditadura, criminosos higienistas, produtores de jornalixo e... o PT.". Muitos blogueiros se revoltaram com a presença da presidenta Dilma (que, aliás, chamou a si de presidentE (tudo para agradar ao Otavinho) e o Eduardo Guimarães bem lembrou:
A única coisa que o artigo deixou de fora foi o fato eloqüente de que a edição de dez anos antes de uma comemoração que aquele jornal promove a cada dez anos – e que ocorreu em 2001, por conta de seus 80 anos – não contou com a presença do presidente da República de então, Fernando Henrique Cardoso, ou do governador Geraldo Alckmin, que recém-substituía o ex-governador Mario Covas, que faleceria um mês depois, em março daquele ano.Vale lembrar também que Lula jamais apareceu em nenhuma festa da Veja ou mesmo da Folha.
O engraçado foram alguns tentando justificar, que a presença de Dilma na Folha teria sido uma lição, um golpe duro na mídia... Mas ninguém comenta sobre os elogios rasgados feitos pela Folha neste semana? Qual foi o acordo? A presença de Dilma na Folha em troca de um abrandamento da oposição? Ou há algo mais, envolvendo a Ley de Medios, que a cada dia se torna mais e mais uma ilusão?
É de assustar a ingenuidade e a cegueira de alguns, incapazes de notar qualquer problema com o governo.
Mas Dilma não se contentou em apenas ir na Folha, ela também vai, agora, ao programa de Ana Maria
O que me assusta não é o retrocesso, ou retrocessos - eu já esperava por eles -, mas o fanatismo de parte da militância que é simplesmente incapaz de conviver com críticas.
A Frô foi por dias duramente atacada por reclamar da visita da Dilma à Folha. O Caleiro ganhou comentário e post do censurador André Lux (que logo depois postou em seu blog o texto do Rodrigo Vianna com críticas semelhantes às feitas pelo Caleiro, no mínimo queria aparecer e fazer média com grande blogueiro).
Mas qual é a raiz desta intolerância? Durante o governo Lula, qualquer tipo de crítica era vista como traição. Alianças com gente da estirpe de Sarney e companhia causaram desconforto e revolta em diversos setores, revolta esta completa com a entrega de diversas bandeiras históricas do partido. O racha do PSOL foi um momento singular e que até agora tem sérios reflexos entre a militância que se manteve no PT.
Esta idéia de "traição", a de que os Psolistas teriam traído o PT, permeia uma parte imensa da militância até hoje.
O Mensalão acirrou ainda mais os ânimos, especialmente com as tentativas torpes do governo e do PT negarem sua óbvia existência. Tudo isto culminou com a eleição de Dilma, escolhida sem qualquer consulta séria às bases, de maneira personalista e antidemocrática para continuar (em teoria) o projeto de Lula que, como explicou Rudá Ricci, estava longe de ser democrático ou de se importar com discussões internas relevantes.
Durante às eleições o PSOL se impôs com uma alternativa, mas não de disputa pelo poder, mas na disputa do discurso. Plínio e o PSOL não tinham a intenção de vencer a eleição presidencial, seria até ridícula a idéia, o que queriam era promover um debate, impor bandeiras e, até, tentar fazer a militância petista entender o que estava errado.
Sim, existe uma coisa chamada "governabilidade", mas é difícil saber até que ponto você pode vender bandeiras por apoio. E também quem aceitar na aliança.
A eleição, enfim, foi um momento de debates, mas também de imenso sectarismo e radicalismo. Finda a eleição era de se esperar que, após tanto debate, as coisas se assentassem e fosse possível manter debates mais construtivos, com menos pressão - sem eleições. Mas era engano. Até mesmo governistas, petistas históricos e afins, ao criticar certas características de um governo que representa um retrocesso assustador mesmo frente a Lula, acabaram apanhando feio nas últimas semanas.
Todo o fanatismo e radicalismo criados pelo personalismo e quase deificação de Lula acabaram por criar uma aura intocável em torno de Dilma que, como sua sucessora, tem status de filha de deus.
Enfim, o problema é grande. Muitos petistas, quando atacados com fatos, desconversam, citam coisas sem nenhuma relação ou simplesmente atacam. Se você pergunta pelas alianças, se elas não estariam fazendo o governo retroceder e abandonar bandeiras, logo te perguntam como o PSOL governaria. Mas não respondem a pergunta.
Sarney, Collor, PMDB, Kassab e até a Katia Abreu. Tudo se chama governabilidade. Votos. Só isso importa.
Se você questiona o PNBL não-estatal que vem sendo proposto, logo te cortam dizendo que o governo fez mais avanços que qualquer outro na história. Mas também não respondem nada.
Se você questiona a possibilidade de uma Ley de Medios séria mesmo com a amizade de Dilma com o chamado PIG, logo dizem que ela está usando uma estratégia maravilhosa e está dando lição na mídia.
Questionar é ser alvo. Não importa de que lado você esteja. Ou você é de direita ou "Psolista", o que, para a turba raivosa, dá no mesmo.
Enquanto isto a pressão necessária sobre o governo não existe, ele fica blindado de críticas - e agora elogiado até pela mídia!