sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobre discurso e ações, os protestos na Síria

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Alguns governos são incapazes de sustentar seus discursos não só frente às evidências, mas também frente a suas próprias atitudes.

Ao assistir uma coletiva de imprensa na BBC sobre os conflitos entre manifestantes e forças policiais na cidade de Deraa - em que mais de 25 podem ter morrido -, a porta-voz do governo anunciava de forma veemente que os manifestantes seriam, na verdade, gangues de marginais financiados por agentes estrangeiros para desestabilizar o governo.

De início, temos o discurso padrão de ditadores Árabes frente à protestos: Países ou agentes estrangeiros (ou mesmo grupos terroristas) financiando grupos para desestabilizar o governo. Um discurso que, mesmo que seja verdade em um ou outro lugar, não tem qualquer credibilidade - especialmente em ditaduras.

Fosse caso Sírio isolado - e toda a região não estivesse em convulsão - até poderíamos tentar acreditar que EUA ou Israel estariam tentando desestabilizar um regime inimigo, mas dificilmente este seria o caso atual.

A desculpa-padrão de ditaduras árabes, porém, é o menor dos problemas. A questão central, no entanto, é a disparidade entre o discurso destes governos e suas ações.

Se tomarmos as palavras da porta-voz como verdadeiras, que se tratam de gangues, logo, criminosos que não representam a vontade da população - pior, representam interesses estrangeiros - porque então o governo aceitou realizar reformas políticas no país?
Syria’s official news agency SANA continues to blame “armed gangs” for attacks against security forces, publishing pictures of weapons and ammunitions purportedly found inside the al-Omari Mosque.
For the news agency “Foreign circles” are to blame for the “lies about the situation in Daraa” (Deraa). In fact, “more than one million SMS were sent from outside Syria, most of which are from Israel inciting Syrians to use the mosques as launch pads for riots.” Likewise, “photographers and journalists in Daraa reported that they have been receiving death threats through SMS messages from abroad warning them against reporting the crimes committed by the criminals of the armed gangs against civilians.”
Oras, se as demandas dos manifestantes, ops, marginais, não representa a vontade do povo, porque então reformas para contentar o povo? Este não está feliz?

Como se vê, o discurso externo, para a imprensa, em meio a todas as ofensas e acusações de fabricação de notícias, de exageiro no número de mortos e etc, é um, mas as ações deste governo e mesmo o discurso para dentro, para a população, é outro completamente diferente.

Apenas em um funeral pelas vítimas da violência policial em Deraa, mais de 20 mil pessoas se reuniram e protestaram. Uma gangue realmente gigantesca!

Assim como as gangues no Egito e na tunísia - que derrubaram o governo - ou os terroristas da Al Qaeda que devem ser contados aos milhões em todo o leste e mesmo em parte do oeste da Líbia! Mais marcante, no caso da Líbia, e que os EUA e aliados estão infringindo até mesmo o disposto na resolução 1973 para ajudar os terroristas da Al Qaeda.

É compreensível este duplo discurso, esta tentativa de falsear a realidade, de esconder os fatos, mas sem dúvida o serviço poderia ser feito com um pouco mais de qualidade e comprometimento.

Isto é ainda mais válido quando representantes do mesmo governo discursam acusando os manifestantes de serem membros de gangue declaram que "As demandas do povo de Deraa estão sob estudo e análise. Elas são justas. Num período próximo testemunharemos decisões em todos os níveis".

Falta de capacidade de mentir ou simplesmente acham que todos comprarão a farsa?

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