terça-feira, 2 de agosto de 2011

Marina Silva e a "Natureza Humana": Teologia e extrema-direita

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Li e gostei muito do texto de @msfelippe sobre recente artigo de Marina Silva (que representa um perigo real de medievalização do Brasil) para a Folha (sempre ela!) em que esta coloca a responsabilidade pelos atos do Terrorista Cristão, na Noruega, na "Natureza Humana".

Segundo Marina, o Fascismo poderia ser explicado simplesmente pela natuerza humana, que nos torna a todos inerentemente ruins e, segundo leitura do autor do blog, isto carregaria um discurso fundamentalista cristão na idéia de que precisamos ser salvos ou adotar um discurso religioso - devemos aceitar deus, enfim - para escapar a esta condição ou natureza.
Por que Marina Silva fala de uma natureza humana contaminada pelo mal, inexorável? Minha opinião é que ela está traduzindo nesta expressão sua visão teológica do mundo. A natureza humana, sendo contaminada, determina que a única possibilidade de salvação reside em alguma confissão religiosa que tem a “chave do reino”. Então, em vez de dizer “combatamos o fascismo”, embute, disfarçadamente, um apelo religioso.
Não discordo, mas iria além.

Marina Silva é uma fundamentalista religiosa do bem, segundo o autor, quer dizer, não professa um fundamentalismo violento, que busca eliminar as diferenças pela força, mas ainda assim, possui uma visão de mundo pautada por uma religião medieval, com uma visão de mundo ultrapassada e incompatível com a modernidade.

Marina não escapa de tentar impor sua visão, mas tenta de forma simpática. E convence a muitos desavisados. Mas o fato de professar a não-violência não garante que seus seguidores sejam tão pacifistas quanto ela. Professar ideais de ódio (como se opor à criminalização da homofobia) é o mesmo para fundamentalistas do bem ou não.

Mas Marina vai além da mera teologia e desvela um pensamento tipicamente conservador, direitista. E, em muitos casos (quase todos), fundamentalismo religioso é o par perfeito de pensamentos políticos conservadores, pois ambos partem de uma mesma análise da sociedade, a de que somos todos reflexo de nossa natureza, que é a competição, é o tentar ser sempre superior e melhor que os demais.

A religião institucionalizada nada mais é que a hierarquização dos indivíduos em categorias, em grupos de mais ou menos poder. Em mandantes e ovelhas. E assim é o capitalismo.

E, mais ainda, vem da negação da influência das condições sociais, do ambiente, em que se inserem os indivíduos.

Não há nada mais comum no pensamento classe-mediano que a defesa da pena de morte pro "marginal e favelado" que assaltou a madame no sinal. A natureza humana nos torna ruins, então este 'marginal" tem que ser preso - ou morto - porque não tem jeito.

É o discurso que passa por cima da condição social do "favelado", adotado para dar uma "solução final" ao "problema". Apenas cria mais e novos problemas.

Na franca maioria dos casos (não digo em todos porque de fato existem psicopatas e pessoas irrecuperáveis), um assaltante que saiu da favela o é não por ser ruim, mas porque não conehce outra vida, porque foi humilhado por toda a vida. E, claro, estou sendo simplista pois o objetivo do texto não é o de tratar de condições sociais, mas mostrar que estas existem e são preponderantes.

Motivos para se cometer um crime são milhares, mas garanto que nenhum deles designado no nascimento, nenhum definido pela natureza humana ou por algum contrato social hobbesiano.

Enfim, não discordo do componente messiânico, fundamentalista, teológico colocado pelo autor do texto, mas vou além, colocando também a questão da natureza humana como uma arma usada pela direita (ou pelas direitas) para denunciar a inutilidade de políticas sociais, de inclusão...

E para justificar atos de fanáticos ligados ideologicamente a ela (ou elas) como se fosse apenas uma questão de natureza humana, logo, sem relação com a pregação fanática dos ideais de mercado.

Mas a questão vai muito além.

É o discurso típico de uma direita que luta com unhas e dentes contra qualquer tipo de políticas sociais, de inclusão, da busca por uma efetiva igualdade entre todos.

A natureza nos faz a todos desiguais, nos faz caçadores, lobos e cordeiros, logo, a própria natureza é contrária a qualquer tipo de inclusão, de política compensatória, cotas ou mesmo de acesso.

O pobre nasceu pobre e deve morrer pobre, pois assim diz a natureza. Se melhorar de vida foi porque lutou, porque soube aproveitar as oportunidades ou as fez aparecer. Qualqeur coisa além disso é ir contra a suposta natureza humana.

Egoísmo é a palavra de ordem.

Ou seja, sob a desculpa da Natureza Humana, a direita baseia sua ideologia. E Marina Silva faz coro, agregando teologia e medievalismo à seu já indigesto ideário. Porém ela o faz de forma palatável para uma classe média necessitada de uma corda de salvação.
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